Tubulações

   Era humilhante toda aquela situação.

   A cada passo apressado que dava para longe da salas de pesquisas, mais sentia que estavam zombando do seu poder ali dentro. Porém, não tivera outra escolha senão escapar. Ficar naquela sala, ouvindo seus soldados sendo atacados e sabendo que em poucos segundos a porta se abriria e ele seria o próximo alvo, não era uma opção esperta. Conhecia o gênio de seus adaptados; Alex e Guilherme eram capazes de matá-lo sem remorsos.

   — Doutor Paulo! Doutor Paulo! — um membro de sua pesquisa gritou, tremendo as pernas diante da espreita da morte. — O que vamos fazer?!

   Ao lado dos dois homens, mais de dez pesquisadores também seguiam para as saídas do prédio. Os criadores fugindo da criação, não poderia ser mais humilhante para o geneticista. Paulo não estava com ânimos para acalmar marmanjos.

   — Cale a boca e continua andando! Para de choro! — cuspiu amargamente. O doutor olhou para os lados, depois para trás, em busca de Andréia, mas a amiga não estava ali; não havia saído antes que a porta fosse escancarada por aquelas crianças insuportáveis. — Idiota… — xingou, baixo, e prosseguiu para a saída. Se Andréia não queria se salvar, não seria ele a bancar o herói.

   Seguiu, subindo as escadas que levavam até o térreo do prédio; precisava sair do subsolo urgente. Tentou ignorar os resmungos dos companheiros de trabalho, as perguntas desnecessárias e os comentários que, ele sabia, tinham como objetivo pôr em prova a sua capacidade de gerir a pesquisa. Ele já esperava que aquele momento chegaria, que precisaria de todas as forças para não perder as rédeas do jogo.

   A cada comentário, sua raiva ganhava mais espaço. As coisas iam de mal a pior desde o aparecimento do garoto Leonardo para a mídia. Se o prédio estava desprotegido, era porque seus guardas estavam na missão de capturar a meia dúzia de maçãs podres que insistia em dar trabalho. Todos os seus problemas pareciam ter a mesma origem.

    Chegou ao térreo depois de muito remoer aqueles pensamentos no caminho. Cerca de quinze guardas sempre faziam a segurança ali, para que ninguém saísse ou entrasse sem permissão. Sentiu-se mais seguro; mais vivo. Aproximou-se de um dos soldados, inflando o peito, para que as palavras saíssem com imponência:

   — Onde está Manoel? Precisamos de todos os homens aqui na porta, imediatamente!

   — Senhor, o comandante Manoel ainda não voltou da missão. Nenhum dos homens deu notícias até o momento — o homem respondeu, para seu descontentamento. — O helicóptero está a caminho, senhor. Chegará a qualquer momento para removê-lo da área de risco.

   Paulo encarou as escadas pelas quais tinha acabado de subir, imaginando como estaria os outros pesquisadores, que não haviam se debandado a tempo. Andréia seria a primeira a morrer, ele tinha certeza.

   — Eles vão tentar fugir a qualquer momento, soldado.

   — E quais são as ordens, senhor?

   Seriam oito a menos.

   — Preciso de todos mortos.




   O estranhamento não veio apenas dos garotos. Era como se todos em volta de Andréia carregassem um ponto de interrogação sobre suas cabeças, contrastando com a certeza que a pesquisadora carregava em suas palavras. O que significava para Amélia que, caso se tratasse de alguma armadilha, nem mesmo os colegas de pesquisa tinham noção disso.

   — Vocês realmente são seres espetaculares… — ela prosseguiu, com os olhos cintilando em um orgulho que Amélia não conseguia encontrar motivos para existir. — Eu sabia… eu sabia! Não é atoa que foram criados para serem os melhores soldados. Esse centro de pesquisas não iria segurá-los. — Virou-se para os colegas, esperando encontrar neles a mesma animação. Contudo, não obteve a resposta desejada. — Ora, vamos, meus amigos. Todos nós sabemos que já é passada a hora de tirar o Paulo do comando. E esse é o melhor momento, está tudo indo por água abaixo! Essa pesquisa não é só dele. Não mesmo! Gastamos mais de uma década de nossas vidas para chegarmos até aqui. — Retornou a fitar os garotos, fixando o olhar em Alex. — Não precisa ser assim… O Projeto não precisa ser essa carnificina!

    Amélia não sabia o que pensar. Andréia falava como alguém que tinha convicção, apesar de que sempre estivera ao lado do doutor Paulo durante os testes, alegrando-se com cada nova descoberta que era feita às custas do sofrimento alheio. Nunca aparentara à menina que a mulher alimentava o desejo de apossar-se do comando da pesquisa, por mais que não conhecesse em quase nada a doutora a sua frente. Andréia não era confiável, ela conseguia enxergar segundas intenções em suas palavras. Entretanto, alguém que se colocava contra Paulo Ricardo era alguém que merecia ser ouvido.

   Nem todo mundo concordava com seus devaneios, contudo.

   — O Projeto Gênesis acaba hoje, minha senhora — Guilherme declarou.

   — O doutor Paulo não está aqui — Graziela pontuou para o amigos. — Onde ele tá?

   Andréia sorriu.

   — O Projeto não acaba hoje, paciente 12. Hoje começa uma nova era. — Encarou Amélia e sorriu, forçando uma simpatia que não possuía. — Mas pra que isso aconteça, vocês precisam fugir daqui. Eu sei como devem fazer.

   — Não precisamos da sua ajuda e da ajuda de nenhum de vocês! — Alex alterou-se. — Sairemos daqui de qualquer forma.

   — Estamos no subsolo de um grande edifício do governo e só há uma saída daqui — a cientista continuou, sem se deixar abalar pela rispidez do gigante. Apontou para uma das portas, pela qual, minutos antes, vários pesquisadores saíram desesperados. — Podem prosseguir, devem até encontrar o doutor Paulo no fim do caminho. Mas saibam que também irão encontrar guardas fortemente armados e que, sob o comando do Paulo, sabem muito bem o que eles são capazes de fazer. Não querem terminar como a garota vampira, querem?

   Amélia sentiu o peito ficar miúdo diante daquela indagação mórbida. Entretanto, permaneceu calada, com o nariz erguido e a mandíbula travada, buscando manter a postura mais inabalável que conseguia. Não houve respostas a mulher, como se seus colegas também segurassem os nervos.

   Andréia prosseguiu, aproveitando o momento:

    — Por estarmos no subsolo, tudo que precisamos é trazido até aqui através de cabos e tubulações.  Água, eletricidade, ar… Mas, o que importa para vocês são as tubulações de gás. Há um grande tanque de armazenamento de gás no térreo, do qual desce para os andares inferiores. — Por mais que nenhum dos garotos estivesse pendendo para o lado de acatar aos pedidos da pesquisadora, não podiam negar que ouvir o que ela tinha a dizer era tentador. E, por um instante, ignoraram os cochichos que se formavam dos outros cientistas acuados e deram a inteira atenção à Andreia, que continuou: — Não sei se conseguiriam lutar contra os soldados que os esperam, mas se tivessem o elemento surpresa… Algo que tirasse, nem que momentaneamente, o foco deles de vocês. Uma explosão​ ajudaria, tenho certeza — a mulher dizia com grande entusiasmo, como se estivesse organizando uma simples confraternização de amigos; uma festa surpresa para alguém querido.

   Alex, por sua vez, não achou graça nas intenções da mulher de maquiagem intensa. Entretanto, riu, repleto de ironia.

   — Vamos dar o fora daqui, pessoal.

   — Espere — Graziela interveio. — Talvez seja uma boa ideia ter uma carta  na manga. Ela não está mentindo, eu consigo sentir.

   Com um resmungo, o gigante demonstrou todo o seu descontentamento. Era estranho para Amélia encarar o rapaz daquela forma; não conseguia deixar de temer a raiva do loiro gordinho mesmo sabendo que não era má pessoa. Alex tornava-se imponente com o tamanho aumentado.

   — Cêis realmente vai cair nessa?!

   — Se a Grazi tá falando que devemos parar pra pensar, então eu acho prudente fazer isso — Matheus declarou, colocando-se, sem surpresas, a favor da amiga. Não demorou muito para que Ariel e Élida fizessem o mesmo.

   Amélia entendia Alex. O rapaz não queria mostrar fraqueza diante dos seus algozes. Contudo​, fazia parte da habilidades de Graziela perceber coisas que poucas pessoas perceberiam, e, dessa forma, escolher sempre a melhor estratégia de combate; o que a botava em uma posição de vantagem naquela discussão. Alex fitou Amélia, que concordou com a cabeça, como se dissesse para o amigo que ouvir Andréia era o melhor a se fazer. Com outro resmungo, o loiro volveu-se para a cientista.

   — Bem… — Andréia não conseguiu esconder a alegria. — Pode parecer estranha a minha forma de pensar, mas garanto que não é. A minha amizade com o doutor Paulo não é maior que a minha paixão pelo Projeto. Precisamos dar um fim nessa gestão caótica e… Bem, e pra isso precisamos dar a última derrota a ele: a fuga de vocês daqui. Depois disso, duvido que ele consiga se manter no poder.

   Andréia começou a explicar a localização das tubulações com o máximo de informações relevantes. Aquele discurso parecia ter sido treinado várias vezes, Amélia reparou, para que não houvesse erros, nem má interpretação. Não era um plano feito de última hora, mas alimentado e bem sedimentado; as segundas intenções ficando evidentes mais uma vez.

   — Paciente 04…  Élida, não é? — ela chamou. — Você é crucial para isso. Após acharem as tubulações, precisamos da combustão. O sua adaptação seria o ativador ideal do processo.

   — Eu vou com você — Graziela afirmou, aproximando-se da amiga. — O restante pode seguir para a saída.  Esperem pela explosão.

   Porém, havia mais coisas para se preocupar ali dentro. Amélia tomou a frente, abeirando-se da doutora.

   — Onde tá a Clara? — questionou, torcendo para que a resposta fosse a melhor possível. — E a Camila?

   A mulher pareceu refletir sobre o assunto, fixando o olhar nos olhos cheios de medo e esperança da menina, que quase imploravam por uma resposta. Cerrou os lábios, como se analisasse se era prudente dar aqueles esclarecimentos, que, Amélia sabia, não faziam parte dos seus planos. Por fim, falou:

   — Estamos no segundo andar do subsolo. Acima de nós, um andar de pesquisas, e, embaixo, existem mais dois andares. No primeiro, funciona uma enfermaria, onde você irá encontrar a garota curandeira. No segundo, uma espécie de departamento restrito, de difícil acesso, onde provavelmente estará presa a garota metamorfa — elucidou, séria. Não estava contente em dar aquelas informações, por um motivo que Amélia não conseguiu captar. — Vocês precisam ser rápidos.

   Amélia concordou.

   — Vou com você — disse Alex.

   Andréia sorriu; um sorriso quase mecânico, artificial. Depois, deu três passos para trás, deixando claro que era hora deles agirem.

   E então, os grupos se separaram. Amélia e Alex seguiram para os andares inferiores, enquanto Élida e Graziela foram em direção às tubulações e Guilherme guiava o restante para próximo a saída, onde aguardariam o momento certo para finalmente escaparem daquele prédio. Não era um plano complicado, Amélia concluiu; agiriam com rapidez e, em poucos minutos, estariam do lado de fora. Todos eles, sem ninguém ser esquecido.

   Saíram, deixando para trás Andréia e os outros pesquisadores.

   — Salvem todos os arquivos. Precisamos sair daqui agora — ela ordenou para os colegas, quando teve a certeza de que nenhum adaptado poderia ouvi-la. Não estava feliz com o que aconteceria nos próximos minutos, mas não tinha outra escolha. Havia um bem maior. — Me desculpem, garotos…

   Ela tinha certeza: a permanência do Projeto era mais importante que qualquer um deles.






   Graziela corria sem parar. O corredor passava por sua vista como a paisagem diante de um viajante de trem; tudo se movendo sob seus olhos, sem que ela focasse em nada. O que importava estava a frente, no fim de todos aqueles corredores abandonados.

   Andréia tinha sido clara nas suas explicações. Os canos, fiações e todas as tubulações que levavam os materiais indispensáveis para o funcionamento do centro de pesquisas ficavam naquela direção, seguindo constantemente aquele mesmo corredor, até que se findasse. Depois, precisaria procurar o local exato em umas das portas e, então, Élida cumpriria o seu papel no plano. A mente trabalhava, lembrando-se repetidamente das instruções da cientista, enquanto as pernas mantinham a velocidade e o peito inflava em busca de ar fresco. Os cachos em um tom castanho, quase caramelo, balançavam com o ritmo da corrida. Os olhos estavam atentos a qualquer indício de movimentação ao seu redor; os dons de luta, prontos para serem ativados quando necessitasse.

   De todos os seus momentos de fuga, aquele estava sendo o mais especial. Nunca sua adaptação tinha ficado tão evidente, nem mesmo para ela própria. Sempre soube que conseguia usar a sua intuição, uma espécie de percepção sensorial superior ao que as pessoas normais eram capazes de ter, para fazer escolhas certeiras e sensatas. Naquele local, contudo, ela conseguia sentir o seu dom trabalhar, como se finalmente​ tivesse deixado de ser algo abstrato para seu corpo. Conseguia sentir os impulsos nervosos, tão como quando ativava suas garras de felino e sua agilidade na luta. Era uma sensação magnífica.

   Em meio a novidade sensorial, que parecia pedir para que recebesse toda a atenção do mundo, Grazi mantinha a concentração fiel ao plano. Não havia dificuldades; tinha, somente, que alcançar o lugar correto, e a sua intuição dizia que aquele era o caminho.

   Há muito, haviam, ela e Élida, se separado do restante dos adaptados. Não sabia como a negra que corria ao seu lado estava se sentindo, mas podia afirmar que o seu nervosismo bastava para as duas. O peso da situação a sufocava, ao imaginar que, caso falhasse, poderia levar a uma luta sangrenta contra os blacks — como sua amiga Camila gostava de chamá-los. Aquela distração era importante para evitar um confronto; para impedir que mais alguém morresse.

   Nas mãos das duas amigas, estava o futuro de todos eles.

   Um frio subiu por sua barriga quando se deparou com o fim do corredor. Era ali. Cinco portas se dispunham nas três paredes; um beco sem saída. De imediato, seu corpo foi tomado por uma enchente de sensações. Cada porta emanava uma espécie de áurea diferente, que eriçava seus pelos quando tocava a pele. Pegou-se aproveitando aquele momento, como se apreciasse pela primeira vez o efeito de uma droga.

   E, em meio aquele torpor momentâneo, encarou a terceira porta, que se colocava no centro das demais. Ela estava certa de que nenhuma outra porta tinha a mesma energia, forte o suficiente para ofuscar as outras durante alguns segundos. Era quase visível aos olhos.

   — E então? — quis saber Élida, prostrada ao seu lado sem poder enxergar o que estava diante de seus olhos.

   Graziela simplesmente apontou para a porta, embriagada demais para proferir alguma palavra.

  Élida tomou a dianteira, aproximando-se da porta e girando a maçaneta com cautela, como se temesse o que poderia estar do outro lado. Do outro lado, entretanto, o que havia era uma sala praticamente vazia e escura, apenas com a luz do corredor entrando pela passagem recém-aberta. O feixe de luz se prolongou pelo piso, formando uma passarela até a parede oposta. O cheiro de poeira cobriu suas narinas e um ar gélido tocou-lhe os tornozelos. Élida entrou primeiro, seguida pela amiga, que, ainda aérea, forçou-se a voltar para a realidade.

   No fundo da sala, como Andréia tinha narrado, existiam dezenas de canos grossos, de diversos diâmetros e cores, que saiam do teto e continuavam o caminho para o andar inferior. Cada um possuía uma válvula, por onde podia-se abri-los. Alguns se bifurcavam em outros menores, caminhando pelas laterais e indo para outras salas do mesmo andar; uma espécie de feixe vásculo-nervoso que alimentava a vida do centro de pesquisas.

   — O prata — Grazi recordou-se das instruções da pesquisadora, afirmando que o cano prateado era o que importava.

   E dentre encanações negras, amareladas e de cor de ferrugem, lá estava a tubulação principal, de um prateado sutil, empoeirado. Élida encarou a estrutura, mais nervosa que quando precisara enfrentar a tornozeleira que a prendia. Porém, Graziela sabia, ali era diferente; o medo tinha seus motivos.

   — Vamos? — Grazi tentou encorajá-la, ignorando o medo que também a consumia.

   — Espere… — Élida observou a própria mão, por onde a descarga elétrica iria sair nos instantes seguintes. — Tem certeza que devemos fazer isso?

    Como se precisasse daquela pergunta para voltar a prestar atenção na sua adaptação, Grazi sentiu a energia que emanava da tubulação. Percebeu que não se tratava de uma energia qualquer​, que havia algo errado em toda aquela situação. Não se tratava de algo ruim, contudo; ela saberia identificar caso Andréia estivesse mentindo. A energia era confusa, cheia de ambiguidades. Mais uma sensação nova.

    — Eu não sei — confessou, por fim.  

   Não tratava-se da resposta que a negra desejava ouvir. Élida apertou os lábios carnudos contra os dentes, à medida que também apertava uma mão sobre a outra, e disse:

   — Mas… Cê tá disposta a tentar? — Grazi balançou a cabeça, confirmando. — Então eu também tô. — Respirou fundo. — Vamos.

   Com um sorriso tímido, Graziela chegou mais perto do cano prateado. Apoiou suas mãos na válvula de metal e começou a girá-la, abrindo, abrindo, até que um pequeno chiado começou a ser escutado pelas duas. O cheiro forte de gás veio logo em seguida, ganhando, no olfato, o espaço antes ocupado pela densa poeira.

   — Mais um pouco — pediu Élida, que foi rapidamente obedecida; Grazi girou a válvula mais um pouco, aumentando a quantidade de gás que vazava para o ambiente.

   E antes que a amiga precisasse incentivá-la a seguir​ em frente, Élida aproximou a mão do vazamento. Concentrou-se e, então, uma pequena faísca elétrica emergiu de seus dedos, caminhando sem rumo certo pela palma de sua mão.

   Antes que pudessem reagir, veio a explosão, jogando-as novamente para o corredor com a força de dez gigantes. Em seguida, outra, não muito longe. E mais outra, um pouco mais longe. E mais outra. O prédio tremeu, a iluminação caiu, deixando apenas as luzes de emergência acesas, e as sirenes começaram a tocar.

   Caída no chão, Grazi viu o fogo surgir, ganhando força aos poucos. Um pequeno zumbido vagueava por seu cérebro, turvando a sua audição e visão.

   — Depósitos de gás​… — ela ouviu a voz de Élida. — Tem depósitos de gás em todos os andares!

   Só então ela reconheceu aquela nova energia que sentira. Não era mentira. Era omissão.

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