Inumano

  
     – Se protejam! — Comandante Amir ordenou, enquanto o escorpião gigante se lançava contra o esquadrão com um guincho estridente e o ferrão em rifle. 

    E no átimo seguinte, toda a conformação no centro da clareira havia desaparecido, com cada indivíduo se esquivando do ataque como podia, espalhados pelo ambiente feito baratas sob o acender de uma lâmpada. Léo rolou para longe do animal tempo o suficiente para assistí-lo em pleno ataque por alguns segundos. Era rápido, as oito pernas se moviam de forma ansiosa, buscando não ficar parado no mesmo lugar por muito tempo. O corpo, agora mais perto da luz tênue das barracas, se assemelhava muito ao de escorpiões comuns, contudo algumas características deixavam claro que havia uma pessoa por debaixo daquela carapaça negra. O ferrão bailava em posição de ataque acima do corpo robusto, pronto para que pudesse ser lançado num alvo, mesmo que a metros de distância. 

    Antes que Léo conseguisse se recuperar do choque e se levantasse, viu quando o ser se lançou em direção a um grupo de blacks. Pegos de surpresa, os homens tiveram tempo somente de tentarem se proteger com uma sequência afobada de disparos, que, para o desespero deles, acertavam o exoesqueleto do animal e ricocheteavam sem rumo certo. E ao perceberem o perigo que se aproximava sem lhes dar chances de defesa, entregavam-se ao medo; os gritos de pavor ecoaram pela reserva, enquanto o escorpião fincava sua lança no peito do primeiro, depois no segundo, terceiro… O veneno, como Léo sabia, não era capaz de matar. Dos poucos conhecimentos que guardava sobre a adaptação de João, recordava bem que o garoto possuía uma toxina paralisante. Contudo, com o tamanho do corpo aumentado, o ferrão agora tinha comprimento suficiente para perfurar de forma letal seus adversários. Os blacks atingidos caiam de um por um, com pontos sangrantes que jamais cicatrizariam; perfurações no abdômen, sangue encharcando o pulmão, corações dilacerados. João era uma arma sem controles. 

    Léo olhou em volta, procurando por seus amigos, e correu em direção a eles assim que os encontrou entre as barracas. Um aperto no peito já começava a incomodá-lo, mas o sentiu diminuir à medida que avistava os rostos de quem ele não queria perder de forma alguma. Pedro e Camila mantinham-se unidos, e ao redor do casal, os outros também assistiam ao avanço suicida dos soldados contra o mutante. 

    — Cê tá bem? — Camila perguntou, assim que o loiro se posicionou ao seu lado. 

    Ele respondeu afirmativamente com a cabeça, arfando com a adrenalina que o corpo despejava nas veias. Estava mais seguro agora, com uma boa distância até onde João se ocupava em derrubar todos os guardas que seu metassoma alcançava. 

    — O que a gente faz? — perguntou, sem tirar os olhos da cena. 

    — Precisamos encontrar um jeito de feri-lo — Comandante Amir respondeu, aproximando-se do grupo. Seu olhar era de puro ódio, de uma indignação inconsolável, crescente a cada vez que um de seus soldados era apunhalado pelo bicho. — Tem que existir um ponto fraco nessa coisa. 

    O escorpião acabava de derrotar mais dois guardas e, hiperativo, girava o corpo em busca de mais o que atacar. 

    — Os olhos — apontou Alex. 

    — Mas se acertarem a cabeça… — Amélia fitou Léo, como se pedisse para que não deixassem fazer aquilo. — Ele vai morrer! 

    — Ou é ele ou somos nós — o comandante retorquiu. E antes que houvesse outras rejeições, partiu em direção aos homens que procuravam uma forma de atacar, pronto para dar as novas ordens. 

    — Cêis vão deixar ele fazer isso?! — A menina voltou a questionar, com um olhar que quase implorava para ser compreendida. 

    Sentindo o peso da situação comprimindo seu corpo, Léo abaixou a cabeça. No entanto, para seu alívio, não precisou dizer nada; Camila fez as honras: 

    — O João não tá mais aqui, Amélia. Independente do que tinha naquela injeção, acabou de vez com a parte humana dele. E temos que ajudar, ou senão não vai sobrar ninguém para o Centro de Pesquisas. 

    Amélia se encolheu, vencida pela brutalidade das circunstâncias. A menina guardava a empatia de quando ainda era uma garota normal, o que não deixava de ser algo belo, refletiu Léo. Porém aqueles tempos eram outros, e as necessidades, às vezes, eram mais fortes que as vontades. Aquilo diante deles não deixava de ser consequência das escolhas do próprio João, que tinha se deixado levar pelas palavras peçonhentas do Doutor Paulo, pelo rancor insolúvel do melhor amigo, Lucas, e que agora se via tragado por quem jurou protegê-lo. Não deixava de ser parte da sina do rapaz, a colheita do que ele havia plantado, e Léo tinha certeza que Amélia sabia disso. 

    — Acho que consigo acertar ele — Pedro se voluntariou, depois de mais um guarda perfurado pelo aguilhão do animal. — Mas vou precisar que ele fique ocupado, pra que eu possa mirar. 

    — Deixa isso com a gente — disse Alex, socando uma mão na outra e despindo-se do uniforme preto. 

    Léo fez o mesmo; descalçou os coturnos, desafivelou o colete, tirou a camiseta preta, ficando apenas com a calça — mas estava pronto para fazê-la em frangalhos. A sua frente, mais um soldado era chicoteado para longe, caindo de forma perigosa sobre os troncos das árvores. Todavia, antes que ele pudesse partir para a luta, sentiu um toque no ombro. Fernando estava ao seu lado; a face assustada diante do palco sangrento, o pavor diante das bizarrices produzidas pela sua própria pesquisa. 

    — Tome cuidado, filho — disse, apenas, ciente de que era o máximo que poderia pedir. 

    Léo concordou com um aceno e, sem mais delongas, foi em direção ao confronto. A adrenalina já tomava seu corpo por inteiro, por isso a transformação veio da maneira mais natural possível. Fazia alguns dias que a fera implorava para ter um momento de controle, e ali, dentro da mata e diante de um inimigo desafiador, o garoto sabia que poderia deixar seu dom fluir por inteiro. No minuto seguinte, o felino caminhava com o corpo rente ao capim, velhaco, preparando o bote. Alex, também na sua forma gigante, arrancou uma pequena árvore do chão e a segurou como se fosse um taco de bete. Na retaguarda dos dois, Pedro se esgueirava atrás de uma posição ideal; as mãos abrindo e fechando, como se as aquecesse para a saída dos espinhos. 

    Alex assobiou, chamando a atenção do animal imediatamente. 

    — Hora da diversão! — O gigante apoiou os dois pés no chão, ao passo que o escorpião guinchava ferozmente e partia para o ataque. 

    E um segundo depois, o som da madeira recém-colhida se chocando com a carapaça cascuda do animal estourou no ar. Com a força do impacto, João foi jogado para o lado, perdendo o equilíbrio, porém o corpo octópode rapidamente se endireitou e lançou o ferrão em direção ao gigante. Num ato quase reflexo, Alex segurou o membro do animal e o agarrou de modo a imobilizá-lo, mas, extremamente irritado ao se ver preso, o escorpião voltou a guinchar de ódio e a se contorcer, na busca incessante de uma escapatória. 

    Léo estava ao lado dos dois, agachado e pronto para fazer parte da contenda; e ao vislumbrar a chance de um ataque certeiro, se atirou sobre as costas do escorpião, se agarrando como podia nas reentrâncias do exoesqueleto e procurando uma forma de manter o ser ocupado. João, ao sentir mais um adversário segurá-lo, não exitou em colocar todas as suas energias na missão de se soltar. O corpo insetóide girava em seu próprio eixo, fazendo com que a fera se chocasse vez ou outra com o solo e fosse arrastado pelo movimento. Léo era capaz de sentir os pedregulhos afiados agindo sobre seu couro, arrancando tufos de pelo amarelo e, como se estivesse sobre um ralo, talhando a pele até que a carne fosse exposta. 

    Não demorou muito para que a dor sobre o felino se tornasse insuportável, nem que o cansaço sobre o gigante o fizesse fraquejar, deixando que o ferrão voltasse a ter mobilidade. Assim que João percebeu que estava livre, preparou-se para contra-atacar; o aguilhão cortou a noite como um borrão e então se fincou no primeiro ponto que encontrou: o braço de Alex. Gritando de dor, o menino gigante não teve outra alternativa senão se afastar, o que, para contento do animal, fez com que Léo ficasse completamente exposto. Léo sentiu o perigo crescente no momento em que distinguiu o escorpião  a se aprontar para a desferida final. O ferrão reluziu diante de seus olhos, antes de descer em sua direção, ávido como a boca de uma serpente. 

    O felino saltou para longe ciente de que sua vida dependia daquele ato. Sequer viu quando o bote do animal passou rente ao seu corpo e ficou cravado no chão; só teve certeza de que estava salvo quando percebeu, em meio a adrenalina, que apenas os arranhões faziam seu corpo doer. 

    Léo olhou para Pedro, que estava preparado para atacar, mas que o encarava de volta com a feição de quem dizia que não iria acertar se João continuasse inquieto daquele forma. 

    — Não vamos conseguir sozinhos… — Alex constatou, com a mão sobre o ombro ferido. O corte era profundo e fazia o sangue escorrer pelo braço nu, mas o que incomodava mais o garoto era o veneno paralisante que não tardaria em fazer efeito. — Precisamos de ajuda! 

    Incansável, o escorpião logo se jogou na direção dos dois adaptados. Alguns blacks continuavam com a tola intenção de perfurar o casco com as balas, no entanto o animal sequer se incomodava com os pequenos pontos de luz que batiam em seu corpo. O que interessava a ele estava na sua frente. Os soldados humanos eram peixe pequeno e mesmo de forma tão irracional, João ainda tinha ciência disso. Queria vencer quem o tinha ferido de verdade. 

    João estava a um passo de peitar seus adversários, quando foi barrado por uma onda de som excruciante em sua cabeça. Pego de surpresa, Léo observou Amélia em ação depois de muito tempo sem presenciar aquela cena. Ela parecia mais forte, o som que saia de sua boca era capaz de modular o ar por onde passava, acertando em cheio o alvo à sua frente; um grito estridente e que incomodava mesmo àqueles que assistiam fora da zona de ataque. Seus cabelos esvoaçavam, dançando de forma ondulante a melodia cantada por ela. O escorpião, por sua vez, parou imediatamente o ataque e, pelo que pareceu uma eternidade, ficou imóvel, buscando entender o que acontecia ali. O corpo vibrava com as ondas sonoras, deixando a entender que o barulho incomum afetava, de uma forma desconhecida por Léo e pelos outros, os seus sentidos. 

    Antes que os adaptados pudessem contar vantagem, o animal começou a entender a direção de onde partia o ataque. Os movimentos começaram a ficar maiores novamente, o corpo saindo da inércia à medida que ele planejava uma  maneira de acabar com aquela perturbação. Léo olhou de forma amedrontada para Amélia e, entendendo que a menina não estava totalmente protegida pelo seu dom, tomou uma atitude. 

    — Pedro! — a fera rugiu. — Agora! 

    Pedro concordou com a cabeça, esticou totalmente os braços e, com um grito potente, fez com que os espinhos negros deslizassem punho afora. O esforço do amigo, Léo entendeu, era para criar estacas maiores que as normalmente expelidas por sua adaptação. Pedro sabia que um espinho comum, que nem sempre era capaz de matar os blacks apesar de muito afiado, não surtiria o efeito esperado sobre o corpo robusto do bicho. Os espinhos que saíram, então, eram ainda maiores; negros, lisos e brilhantes, como se feitos de um mineral orgânico sem precedentes. Cruzaram o ar como se alheios às forças da gravidade, aerodinâmicos feito jatos militares. O primeiro acertou o palpo direito e ricocheteou para longe. O segundo, seguindo um caminho mais correto, acertou próximo a cabeça, em uma região onde conseguiu se firmar, mas superficialmente demais para ser considerado um acerto. 

    João ganiu com a dor súbita e se moveu para se proteger, o que acabou por tirá-lo da mira de Pedro. Os outros dois espinhos, que já estavam em percurso, bateram na carapaça sem chances nenhumas de sucesso. 

    — Mas que droga! — protestou Pedro. 

    Ainda assim, mesmo com a dor da puntura, o escorpião, observou Léo, continuava meio paralisado diante do grito super-humano obstinado de Amélia. 

    — Ele não vai ficar quieto por muito tempo… — ele pensou em voz alta. — Ele tá analisando o que precisa fazer. 

    Com um salto, o felino deixou Alex a se preparar para uma possível defesa e alcançou a posição onde Amélia e as outras meninas estavam em prontidão. 

    — O que aconteceu? — Camila perguntou assim que viu a fera chegando.  

    — Ele tá se preparando pra voltar a atacar, a gente precisa mudar de plano — ele informou e, então, voltou-se para Amélia. — Vem comigo! 

    Sem entender o que acontecia, Amélia encerrou o seu ataque. 

    — O quê? Mas por quê? 

    — Ele já descobriu a sua posição, a gente tem que te manter em movimento. — A fera colocou as quatro patas no chão e abaixou o dorso, convidativa. — Vem comigo! 

    Enquanto o escorpião voltava à agitação comum e se sentia livre de novo, colocando outra vez o ferrão acima da cabeça e indo em direção ao menino-gigante, Amélia aceitou o plano de Léo. Com um salto, montou sobre as costas machucadas do felino — os cortes feitos pelas pedras tingia o pelo amarelo, dando a impressão de um carpete velho e manchado — e segurou bem; agarrou o máximo do pelo macio em suas mãos. E no minuto posterior, Léo estava em ação: começou a circular o aracnídeo, que se atrelava outra vez a Alex e, ágil, tinha conseguido desferir outra picada, daquela vez na perna do rapaz. A fera manteve uma distância segura, mas se aproximou o necessário para que Amélia pudesse trabalhar. 

    A menina retomou a carga supersônica, que atingiu em cheio o escorpião e voltou a fazer efeito sobre os sentidos do animal. Alex se afastou; já sentia o braço imóvel e a perna começava a não responder aos comandos, por isso aproveitou a imobilização causada por Amélia para tomar fôlego. Vendo sua ideia dar certo, Léo se manteve concentrado, pata sobre pata, um passo de cada vez, fazendo o contorno em volta do animal, ao passo que Amélia exprimia sua voz. Aos demais, restou apenas assistir ao desenrolar da estratégia; até mesmo o comandante e seus soldados pararam, admirados com a investida arquitetada pelos jovens. 

    João, sem poder agora identificar o local exato de onde partia a estranha onda que fazia seu exoesqueleto vibrar e embaçava a sua percepção de espaço, contraiu os músculos, buscando uma forma de se proteger. Era como se o animal se visse em uma emboscada, pensou Léo; como se sentisse o perigo e soubesse que um predador havia conseguido capturá-lo. Restava apenas o golpe final. 

    Não muito distante, Pedro permanecia pronto para cumprir a sua parte da tarefa. Colocou-se mais perto de João, de modo que fatalmente o acertaria, e respirou fundo, comprimindo os dedos e ativando os seus poderes. O rapaz olhou uma última vez para o escorpião, como se estivesse, analisou o felino, refletindo sobre o que estava prestes a fazer. Léo compreendia bem o remorso do amigo; era fácil tentar matar um monstro desvairado e sanguinário, no entanto, observando-o parado, apenas com movimentos acuados de quem tenta se proteger de um perigo desconhecido, era inevitável que João não viesse à mente. Porém, se havia salvação ou não para o garoto, não importava mais. João precisava ser derrotado e Pedro levaria o fardo da decisão por toda a vida. 

    Esticou os braços novamente, travou todos os músculos da face, apertou os dentes e, sem respirar, soltou os espinhos. As lanças negras saíram belas como as suas antecessoras, mas ainda maiores. Pedro gritou, como se sentisse parte de seu corpo ser arrancado no processo ou como se os espinhos percorressem dolorosamente entre os músculos do antebraço. E no piscar de olho seguinte, estava feito. Os espinhos entraram no corpo do escorpião sem nenhuma dificuldade, encontrando espaço na casca dura, fincando o mastro meio aos olhos. 

    Com um guincho de dor, o animal tentou em vão se desvencilhar. Amélia encerrou o seu ataque e, abismada, deixou que a criatura fosse a única a gritar na noite; um som de sofrimento, enquanto a confusão aos poucos ia embora e o entendimento de que tinha sido atingido de forma grave tomava seu lugar. O animal foi se aquietando, e durante o tempo que ao seu redor se formava uma roda de blacks, adaptados e luzes de lanternas, as oito patas foram perdendo a sustentação e o corpo robusto despencou em meio ao capim alto. O imponente ferrão balançou uma última vez no ar se recusando a aceitar a derrota, mas não se contrapôs por muito tempo e também caiu. 

    Por mais que alguns soldados gritassem de dor, machucados e jogados clareira dentro, parecia que a quietude havia trazido consigo um silêncio depois de tudo. Todos acompanhavam os últimos movimentos do escorpião solenemente, e quando parecia que ele estava prestes a dar o suspiro final, o corpo foi então diminuindo de tamanho, tão rápido quanto tinha sido a transformação. Léo deixou Amélia em meio ao círculo de pessoas e se aproximou do rapaz com um pulo ágil. Encontrou, deitado sobre a relva natural, um João a respirar com dificuldade; o sangue entupia seus pulmões e transbordava pela boca e nariz. Os espinhos haviam caído em algum lugar, deixando para trás cortes profundos no rosto e pescoço, que certamente adentravam por lugares que Léo sequer conseguia imaginar. No entanto, acima de qualquer papa sanguinolenta que tingia a face do garoto, apesar da fraca luz, o que Léo conseguiu ver com clareza foram os olhos marejados de João e uma lágrima solitária que escorreu rumo às têmporas. 

    — Obrigado… — João disse com dificuldade, antes de voltar a se engasgar. 

    O que veio depois foi uma sequência de arfadas fortes, até que os olhos se fecharam e o peito se acalmou definitivamente. 

    Léo voltou a sua forma humana e olhou ao redor, tentando não refletir sobre o significado daquele agradecimento. Deixou seu foco sobre a grande destruição que espalhava pela clareira; árvores e galhos quebrados se misturavam a soldados mortos, feridos e a algumas barracas que tinham sido atingidas. Alex também havia diminuído de tamanho e, com o corpo paralisado por completo, era carregado por Sandro e Pedro. Comandante Amir averiguava suas perdas com os olhos ardendo em chamas. E Fernando, seu pai, o fitava com um misto de felicidade por vê-lo bem e de tristeza por tudo que tinha acontecido. 

    — Eles sabem onde estamos — Léo chegou a conclusão, chamando a atenção de todo mundo. — Temos que atacar agora. 

    Camila se aproximou. 

    — É precipitado, estamos cansados… 

    — E vamos ficar ainda mais cansados se eles resolverem mandar outro adaptado — ele a interrompeu. — Lucas… Tomás… Olha o que aquela injeção fez com o João! Jamais conseguiremos vencer se perdermos mais pessoas. 

    — Efetuador de Transformação Constante — o pesquisador anunciou. 

    — O quê? 

    — A injeção — explicou ele. — Efetuador de Transformação Constante. Era apenas uma ideia quando eu fui dado como morto e preso no Centro de Pesquisas. Teoricamente, seria um coquetel de ação rápida, capaz de ativar os poderes de forma involuntária nos pacientes, o que nos ajudaria em estudos mais aprofundados e de longa duração. 

    Léo suspirou. 

    — Usaram em mim — ele disse, lembrando-se do primeiro Centro de Pesquisas, quando Mirna injetara algo desconhecido nele, que o fizera se transformar na fera mesmo sem a sua vontade. Lembrou da ameaça de ter seu corpo aberto para ser estudado e de ter sido jogado numa câmara congelante para morrer, o que teria acontecido não fosse a ajuda de Janaína.  — Mas não me transformei nesse monstro gigante, nem perdi o controle sobre a fera. 

    — Paulo deve ter aprimorado a receita. — O cientista franziu o cenho. — Ele ultrapassou todos os limites. 

    Aquilo, pensou Léo, não o surpreendia. Esperava qualquer coisa do geneticista e sabia que nenhuma ética era capaz de barrá-lo. 

    — Se a gente for pego — Sandro falou. — isso vai acontecer com todo mundo? Vamos todos virar bichos e ficar presos em jaulas? 

    — Isso, se não morrermos — completou Graziela. 

    Fitando o comandante, Léo afirmou: 

    — Não vamos esperar para saber, vamos atacar antes. — Esperou por uma resposta do superior, mas ele permaneceu reflexivo, analisando a destruição. — Podem ficar aí se quiserem, mas não vou ficar esperando mais deles aparecerem aqui. 

    — A gente vai contigo, cara — Pedro garantiu. 

    Léo observou todos os adaptados concordarem com a cabeça, mesmo que de forma receosa. Tinha chegado o instante decisivo e, ao entender aquilo, um arrepio não deixou de percorrer a espinha. Mas não podia desistir. De certa forma, aquele ataque de João era a prova de que Doutor Paulo tinha medo do que estava por vir, que sabia que seus planos corriam perigo de verdade daquela vez. Tinha que manter a confiança. 

    Intimamente, o agradecimento de João ainda pairava sobre seus pensamentos. 

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top