2. A Revelação
O guiei entre as árvores para longe da clareira, meus pés seguindo uma trilha invisível aos olhos, enquanto vagava perdida no brilho sobrenatural que emoldurava a floresta. Tropecei duas vezes em algumas raízes, mas o homem ao meu lado me impediu que caísse, em todas as vezes, nunca me tocando mais que o necessário.
O mundo ainda girava, mas longe do brilho da fogueira, conseguia ver melhor.
Em poucos minutos, subimos um pequeno morro que tinha uma grande árvore de raizes grossas. Enquanto me aproximava do tronco sentir a brisa noturna passar por mim e balançar a trança em meu pescoço.
O vento era como uma música contando as histórias mais antigas do mundo, me inclinei em sua direção para sentir o frio sopro em meu rosto e levei os olhos ao céu, um quadro negro repleto de luzes brancas que pareciam se soltar e vim em minha direção.
Era a coisa mais linda que já havia visto.
Poderia ter ficado assim por muito tempo, se não tivesse ouvido o som de galhos quebrando enquanto meu acompanhante se aproximava.
Me virei para ele com os olhos sonolentos, como se tivesse acabado de acordar, e o observei.
Ele era lindo. Seu peito esculpido como pedra, era revestido por uma pele morena, bem bronzeada, onde possuíam marcas vermelhas iguais as minhas. Seu belo rosto de maçãs altas, era emoldurado por um cabelo castanho e ondulados...
- Você está bem? - ele disse chamando minha atenção. Sua voz rouca me causou arrepios.
Pisquei levemente para dispensar a névoa em meu cérebro.
Olhei para baixo e vi uma garrafa de barro contra o tronco da árvore. Sem pensar, a peguei e levei aos lábios antes que o homem próximo pudesse fazer qualquer coisa, e dei um bom gole.
O gosto era horrível, e queimava enquanto descia para o meu estômago... imediatamente me dobrei ao meio e botei todo o líquido do estômago para fora, quase vomitando as viceras junto.
Seu corpo quente se aproximou de mim e ele passou suas mãos por minha costa, me acalmando. Me confortei no toque enquanto lentamente, as nuvens da minha mente iam se dissipando. Ainda via as cores mais vivas, mas pelo menos conseguia pensa com clareza... se eu ignorasse a dor latejante que tomou conta da minha cabeça.
- Você está bem? - perguntou de novo o homem que me acompanhava, e percebi que ainda estava apoiada nele.
- Sim... muito melhor... - falei me levantando.
Quando olhei em seus olhos, eles não haviam qualquer emoção, não sabia se pelo que acabou de acontecer ou pelo que temos que fazer.
- Hum... desculpa... - começo sem jeito e ele me interrompe.
- Não. Você não precisa pedir desculpa - senti um quê de resignação na forma que falou, e imediatamente entendi o duplo sentido.
Me afastei dele e o encarei.
Devia ser uns poucos anos mais velho que eu. Seu rosto era maduro e não tinha resquício algum das delicadezas infantis. Ele era puramente masculino, seu corpo quase viril...
Aquela droga ainda estava em meu sistema fazendo ter esses pensamentos estranhos... com certeza, não quero saber o que tinha naquela coisa.
- Escuta, sinceramente, eu sinto muito por tudo... - começo de novo.
- Já disse você não tem...
- Eu preciso.
Ele ficou chocado com minhas palavras e observou meu rosto, talvez em busca de alguma coisa que denunciasse uma mentira ou brincadeira.
- Eu preciso pedir desculpas. Não porque eu vomitei, não só a você. Mas por tudo. Eu sinto muito - continuei sem desviar meus olhos dos seus.
Ficamos nos encarando por um tempo, e quando achei que ele não fosse responder, finalmente falou, me surpreendendo.
- Com todo o respeito, mas você ainda está muito drogada? - sua voz era levemente sarcástica.
A raiva preencheu meu peito, mas respirei fundo para me acalmar.
- Tenha certeza,se estivesse, não estaríamos conversando agora - respondi um pouco rude.
Conseguia ver seus olhos se estreitaram.
- Você não gostaria de terminar logo...
- Quero que você pare de me olhar como esse nojo! - Falei finalmente andando uns cinco passos para longe.
- E como você quer que eu te olhe? - ele perguntou com aquela voz rouca, que entendi ser a forma sútil de continuar sendo sarcástico, mas disfarçando.
Ainda o encarando, vi alí, no fundo de seus olhos, além do nojo, raiva pura. Queimando como labaredas de fogo infernal.
Ele estava sendo obrigado a servir sexualmente a herdeira da mulher que o controlava. Eu não culpei sua raiva.
Me aproximei novamente, e com as pontas dos dedos, rocei o anel de espinhos no lado direito de seu pescoço. Sua pele morena tremeu com o meu toque. Se fosse outra pessoa, uma igual, teria me divertindo, mas não com ele, ou qualquer outro homem. Não quando sabia que sua raiva era justificada, no fundo, compartilhada por mim.
- Você pode falar e fazer o que quiser... dês que seja sincero - seus olhos se arregalaram e me afastei dele novamente.
- O que você pensa que está fazendo?
Dei de ombros e me escorei contra o tronco da árvore, olhando para o céu.
- Coloque sua raiva pra fora. Fale tudo o que precisa falar. Sei que você tem raiva de mim.
- Sério? Pensei que tivesse escondido bem - sua voz não continha mais a raiva ou o sarcasmo disfarçado. Quase ri disso, mas não pude, graças a fúria em seus olhos, como lanças afiadas em minha direção.
Suspirei me voltando para ele.
- Eu não concordo com minhas irmãs. Não quero fazer o rito. Não quero que você seja forçado a isso, e muito menos gosto que sejam escravizados. Eu odeio essa situação quase tanto quanto você - expus com determinação.
- E acha que é suficiente? Eu vejo você, e sua determinação para ser a Herdeira. A futura Senhora de Cristalia! E vem me dizer que não que _isso_?
Me afastei da árvore em sua direção mais uma vez.
- E nunca disse que não queria o trono. Eu o quero e muito. Mas não por poder, mas por respeito e importância. Pois, quando se quer mudar o mundo, você precisa está numa posição em que te vejam e o respeitem, para que depois os siga. Se eu não estiver governando, quem garante que seus irmãos não sejam mais humilhados? Se eu não for a Senhora, quem garante que essa situação vai mudar? Ou se alguém se quer vai lutar? Não... elas não vão ter coragem de fazer o que eu quero fazer!
Seu rosto ficou fechado e a ira em seus olhos tinha diminuído. Em segundos estava tão próximo de mim que achei que poderia o beijar se me inclinasse apenas um pouco.
Minha cabeça ainda estava latejando por causa da raiva, mas era tão insignificante que não dei mais atenção, só fiquei encarando seus olhos dourados.
- E o que você quer? - seu tom era brutal, quase como se houvesse uma fera dentro dele.
- Meu sonho é um mundo igual para todos. Respeito e cortesia. Nós todos somos iguais, irmãos pela terra. Esse rito que temos que fazer, é prova disso. Nossas diferenças não são para nos separar, mas para nos unir. Não crescemos somente entre os iguais, necessitamos da diferença um do outro. Eu quero acabar com a segregação do meu povo. Quero uni-lod novamente - minha voz exaltava determinação quando terminei.
Minhas palavras não eram o bastante, eu via isso. Seu peito subia e descia como se tivesse corrido uma maratona, mas não se afastou.
- Como vou saber se posso confiar em você? - rugiu entre dentes me fuzilando com seu olhar.
- Me fale uma única vez em que tratei um irmão meu com desprezo, James - falei com um tom de voz presunçoso.
Ao ouviro seu nome sair de meus lábios, seu olhos se arregalaram imediatamente, dando um passo cambaleante para trás em surpresa.
Ele não esperava que eu me desse o trabalho de lembrar, ou se quer, saber seu nome, não quando todos os homens eram tão insignificantes para a maioria das mulheres.
Mas eu não sou como as outras.
Fazia muito tempo, mas me lembrava bem do dia que, acidentalmente, esbarrei nele. Ele saia de minha casa após ter deixado a lenha, quando entrei apressadamente e esbarrei em seu peito. Naquele dia, tinha começado a pedir desculpas quando Lisa apareceu brigado com ele por ter tido a ousadia de encostar em mim, como se ele o tivesse feito não eu. No dia seguinte, havia buscado saber quem ele era, mas não o procurei, não queria que sua situação ficasse pior.
Enquanto esperava por sua resposta, podia ver que ele também lembrava, afinal, não era sempre que se esbarrava com à Herdeira.
- Por que você está me falando isso? - falou com a voz baixa, mais para si mesmo do que para mim.
Soltei uma risadinha.
- Sinceramente, eu não sei.
Sentir que, apesar de tudo, o clima tinha ficado mais leve que antes entre nós dois. Não que ele confiasse de corpo e alma em mim, mas não queria me matar, o que já era algo.
Ficamos em silêncio por um tempo. Nossos corpos ainda próximos pela briga.
Mentalmente, eu desejava tê-lo beijado antes de encerrar a discussão, isso poderia nos levar direto a fazer sexo e pronto, missão da mamãe cumprida. Mas agora, depois de tudo, de saber a sua raiva, não conseguia simplesmente tocar nele novamente. Não queria tirar a escolha de ser tocado também.
Então ficamos em silêncio por um tempo até que ele falou quebrando o silêncio.
- Então, vamos transar ou não?
Olá, pessoas!
Mais um capítulo para vocês espero que gostem!
Votem e comentem o que estão achando...
O próximo capítulo talvez saia amanhã, então aguardem e não me matem...
Beijinhos das sombras 😘
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