Vênus: privação e medo
Você está totalmente entregue a mim, você me ama, porque eu não te amo... você sangra para a minha salvação, um pequeno corte e você está excitado... (Ich Tu Dir Weh, Rammstein) - Trecho da música acima.
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Confesso que tentei evitar uma reaproximação com esse homem. Até meus familiares torceram o nariz para essa minha "escolha". Eu voltara, para eles, a ser o anormal, o estranho e meu pai estava esquivo, sem dar-me muita atenção num dos momentos que busquei estreitar novamente nossos laços.
Eu relacionava-me com Xavier novamente, mas com receios, todos os receios de fazer papel de besta outra vez. Ele insistiu numa segunda chance e eu me sentia atraído por suas características físicas. Intimamente, estranhamente, passei a amar esse seu lado revelado em cada novo encontro. Sua doçura a fim de reconquistar Joaquim, trazia a tona aquele meu EU jovem que gostava de ordenar aquelas mulheres e homens de programa a pousarem vulgarmente, escancarando suas intimidades e brincando com seus corpos.
Vênus obediência. Júpiter autoridade.
Encontrávamos geralmente em sua casa, onde eu me habituara fácil. Ele a mantinha asseada e isso, para eu, era muito confortável. Antes de deitar-me ao seu lado banhei-me com vigor, mas tão logo acordei, achei necessário outro banho quente, sabonete sempre separado, pele avermelhada indicando que eu estava devidamente limpo. Para dormir fora, eu tinha meus rituais, e um deles era levar minhas coisas, roupas toalhas, produtos pessoais e até meu papel higiênico, mesmo que não fosse dormir no local, eu me precavia, ou minha atenção era desviada para isso o tempo todo, com receio de não poder me assear ou vestir roupas limpas. Isso parecia a maior das frescuras às pessoas em geral, eu sofria tanto com isso que jamais soube me explicar direito.
— Hummm, que homem para cheirar bem. — Xavier me diz com voz sonolenta, ainda estando nu e descoberto sobre os lençóis, espreguiçando-se e virando seu corpo de bruços, dando-me a visão de seu traseiro bem marcado pelos golpes implorados. Ainda são aparentes. Sento-me na cama e com as costas dos dedos, acaricio aquela bela elevação de pele muito clara.
São apenas brincadeiras. É o que parece.
Algumas horas antes... Era o nosso sétimo encontro, apenas eu conto como se fosse importante enumerar os eventos da minha vida. Não sei se extrapolei, quando espanquei as nádegas dele ao ponto de carmesim. Ele se pôs de bruços em minhas coxas, oferecendo-me a bunda para uma punição que hesitante, iniciei.
— Bate com mais força, para que doa um pouco. — Ele ri quando dou-lhe umas palmadas mais fortes, um riso vagabundo e provocativo. Escuto-o puxar o ar entre os dentes e me empolgo. Desço um tapa mais forte, mais dois e mais dez golpes, cansa-me o braço.
— Pegue o meu cinto, puxe minha calça, ali. — Ordeno-o, já que ele consegue alcançar. Ele me entrega e tenta se levantar.
— Vai imobilizar meus pulsos?
— Sem gemer, apenas conte dez cintadas. — Lhe tapo a boca e ele assente com a cabeça.
Golpe!
A ponta da cinta oposta àquela onde a fivela está, marca com precisão as duas nádegas ao mesmo tempo. Ele apenas conta os golpes. Um. Dois. Três. Remexe-se um pouco, a bunda que já está febril é acarinhada por meus dedos que sentem levíssimos vergões.
Golpe!
Sem querer, ele deixa escapar um gemido quando tira a mão da boca para contar o quarto, quinto e sexto golpes. Algo molhado roça-me as coxas nuas, é seu pau. Penso que ele esteja a urinar outra vez, ele apenas parece excitado, tanto quanto eu me sinto em lhe castigar, meu pulsar me tortura...
Golpe!
—Hum... — Ele geme um tanto dolente. Sete e oito. Empina a bunda, afasta um tanto suas nádegas, implora que eu lhe morda, não faço, somente empurro seu quadril contra o meu e nossos membros roçam um no outro. Ele rebola, eu me descontrolo e faço descer as cintadas sem controle ou contagem. Ele choraminga, ergue o quadril repetidas vezes, não pede misericórdia, a bunda ferve escarlate, meu braço amortece e não entendo da força dos meus golpes até que meu próprio corpo entre em modo êxtase. Posso sentir o que verte dele sobre minhas coxas, nossa semente se mistura.
Meu coração bate sem compasso... a temperatura do meu corpo sobe. Ceguei, emudeci e enlouqueci por segundos. Volto a mim, ainda sem controle. Eu o machuquei! Tive um orgasmo involuntário e preciso de mais...
Sou honesto em dizer que seu sêmen em minha pele, perturba-me. O afasto e corro para o banho, sem coragem de olhar seu esperma começa secar e ficar com aspecto de grumos. Esse foi meu banho antes de cair na cama, cansado e com o braço a doer. Ele ficara a me aguardar de braços cruzados, bocejante e de pé fora do banheiro, aguardando sua vez sem protestar. Mantém os olhos baixos e em seus pés aquele segredo se empoça, Xavier não consegue reter a urina por muito tempo. Isso me causa repulsa e ternura por ele. Quase vejo a criança oprimida por uma mãe sádica que não o desejava e o teve mesmo assim.
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Para mim, ser privado da higiene é ser privado de algo de minha dignidade.
Vênus recebeu sua gaiola peniana metálica há três dias e está cabisbaixo outra vez. O artefato é fechado, exceto pelo furo por onde a urina verte, bem menor que seu pênis, ele não tem como ficar ereto, seria no mínimo uma tortura. Além de estar sempre úmido, a coceira o irrita, o ardor de seu mijo provoca um grande incomodo e mau cheiro. Não quero que sua saúde seja comprometida, mas ele precisa entender que deve estar asseado e controlar sua urina quando o ordeno.
Explico-lhe que apenas animais não controlam sua necessidades. Ele desobedece e se torna como um deles, penso então que no trato com animais de estimação, cuidados devem ser observados. Mas no caso de um animal que pensa, a disciplina e a recompensa são observadas com mais rigor ainda.
Sendo privado de sua higiene e estando sem controle de suas necessidades, ele torna-se praticamente um objeto sujo. Não é nada interessante manejar um objeto emporcalhado.
— Venha, Vênus. — De quatro, engatinhando sobre o assoalho brilhoso e bem encerado, ele vem lentamente, olhos no chão, nu, joelhos machucados. Precisa haver cicatrização, mas ele não a quer. Não tem porque rebaixar-me a ponto de sentir piedade de quem não a quer.
Ajoelhado com a bunda apoiada nos calcanhares, dou-lhe a chave e o permito que remova o artefato e o jogue longe. Seu cheiro me chega as narinas. Tão humano e fétido. Faço com que ele aspire algo que é uma particularidade sua.
Seu pênis está avermelhado, sujo quando baixa a pele... Ele sente vergonha de sua condição. O pau acumulou a nojeira produzida pelo seu próprio corpo. Para Vênus significa humilhação e compreensão com base em um castigo.
— Lave-se e lave aquilo. — Como um cão ele engatinha até onde está o objeto de seu recente suplício, percebo nojo quando ele abocanha-o e leva até o pequeno banheiro.
Eu o sigo para me certificar que cumpra minha ordem. Ele permanece de joelhos sob o chuveiro morno, quase frio. Entende que o processo de limpeza é uma necessidade. Animais precisam se limpar e o fazem. Eu o aguardo sentado no vaso tampado, pois sua higienização é demorada, especialmente onde ele está ferido.
Mais tarde, limpo, nu e de quatro, ele serve-me de capacho onde apoio pesadamente meus pés ainda com sapatos. Um animal não merece isso, ele é pior, é um escravo. Meus pés o empurram e ele cai fraco, logo retoma sua posição serviente.
Eu me canso muito fácil de tudo isso e levanto-me para preparar algo para jantarmos. Ele me enoja tanto que não consigo permitir que cozinhe. Nem mesmo comemos frente a frente. Escolho dentre as receitas, aquela que eu sei que ele gostaria de comer. Uma criatura faminta é seu EU atual. Satisfeito me segue pela casa, mas está cada vez mais lento e com isso cuidadoso com as feridas dos joelhos. Ouço-o ganir baixo, é um choro. Um lamento de um ser que chega perto do limite. Eu pelo contrário, acabo por explodir.
— Levanta e se vista! Vai caminhar enquanto seus joelhos não melhorarem e não teime comigo.
— Sim, senhor.
— Vá dormir em sua casa, Vênus.
— Não quero ir para longe do senhor. Eu... — Suas lágrimas escorrem pela face, tal o filete de sangue escorre de um dos joelhos. — Por favor...
— Se recupere e volte.
— Não, por favor, imploro! — Sua fúria em me responder acende minha raiva e cerro meus punhos. Ele desejar ser punido é seu propósito estranho. Servir e apanhar. Ele vê razão para existir ao me obedecer e aceitar seu destino de escravo. — Eu quis dizer que, se eu puder ficar, lhe obedeço e continuo calado. Júpiter, por favor, mestre. Pode me punir, me machucar, mas não me afaste. Eu não quero ficar longe de você.
— Vênus... Entende o que acontece aqui nessa casa? Você deseja muito que seu mestre não se aborreça?
— Sim.
— Então levante-se e cuide dos ferimentos nos joelhos.
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Por Vênus...
Na casa onde convivi com Manoela, havia um quarto escuro onde tralhas sem uso eram escondidas. Lá havia todo o tipo de ferramentas que seu falecido marido utilizara e algumas daquelas, causavam-me pesadelos horrendos. Seu marido possuía, aparador de grama, uma serra circular para cortar lenha para o fogão e a lareira, tesoura de grama, ferramentas como alicates, chave torquês e facões que usava para podar as bananeiras, inclusive uma caixa branca de primeiros socorros era mantida naquela despensa, pois ele se feria constantemente ao manejar os instrumentos cortantes.
Eu me feria ao descascar sozinho, uma laranja ou cortar as unhas, pois nunca tive coordenação e sempre a ouvia Manoela resmungando que Vasco, seu falecido marido também tinha esse defeito. Ela nos odiava. Até tento entender o porquê de tanta raiva em uma única pessoa.
Vasculhando os segredos de ambos, descubro que dormiam em camas separadas muito antes de eu existir naquela casa. O quarto dele tinha um colchão que fedia horrivelmente, urina e outras substâncias que o corpo humano imundo libera. O colchão dela não era diferente e chegar perto de Manoela exigia de mim, um estômago forte. Eu tinha medo e nojo dela, mas nada me amedrontava mais do que buscar a caixa branca com o símbolo da cruz vermelha. Preferia ostentar meus ferimentos...
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