Eu, descobrindo o Eu
Confesso que o suicídio não me parecia um absurdo. Correção, nunca me pareceu. Já pensei nessa solução aos treze, já tentei aos quinze e aos vinte e dois quase atingi a "meta".
Alguém conhece um maluco que pensou em suicídio a longo prazo?
Sou o tipo de maluco organizado. Assim como eu deveria alcançar metas profissionais ou em relacionamentos pessoais, eu pensei na possibilidade de sair de cena sem deixar pontas soltas.
Eu, aos vinte e quatro anos: "...até o final desse ano, eu preciso colocar todas as minhas contas em dia, me reconciliar com fulano e sicrano, mandar o beltrano se foder e a filha dele que enfie no cu suas opiniões..."
Frieza não era meu ponto forte e eu ainda haveria de trabalhar isso. Eu não sentia o sabor da felicidade. Comparava-a com uma barra de chocolate que rapidamente se consome. Eu enjoava muito rápido de tudo e me repugnava a ideia de ser agarrado.
Me enveredava pela solidão onde meus sentimentos bons ficavam de fora e lá no temível escuro, eu habitaria sem ninguém. Eu até conhecia mulheres e homens que me agradavam e muito. E novamente pessoas me olhavam como a um objeto bonito. Conquista, eu era para as mais jovens. Garoto, para as mais velhas. E para eles? Bom, eu me interessava neles cada vez mais.
Após meu episódio com Jackson na praia, eu passei a temer o contato mais íntimo com outro macho. Eu nunca estava pronto pra transar com um cara.
Não sabia o ponto de estar preparado, ainda era o estranho que esfregava o corpo com esponja de louça, caso alguém suado me tocasse e tomava tantos banhos eu achasse que eram necessários para me limpar do dia a dia, da temida sujeira que não poderia entrar em minha casa. Isso eu mantinha em segredo. Porém, não conseguia esconder as marcas, os dedos esfolados, os pelos da sobrancelha penteados, a barba perfeita, pelos do nariz arrancados à pinça, unhas simétricas sem cutículas, minhas roupas meticulosamente limpas e passadas e meu pequeno escritório trancado, para que eu fosse o único a mexer em meu ambiente de trabalho.
Eu não me orgulhava disso, tinha raiva dessa particularidade que afastava muito mais que atraia pessoas. Mas... os anos que passavam me ensinaram a tirar proveito dessa solidão e obter meu espaço, sucesso e bens que me permitiram gozar muito antes dos trinta anos, da estabilidade financeira. Estabilidade, não fortuna.
Namoros não duravam por minha causa, então eu preferia pagar um programa e escolher na vitrine chamada avenida ou num clube privê, uma mulher ou um cara. Esses jamais buscariam um relacionamento ou envolvimento profundo comigo e eu da mesma forma.
Eram as moças de cabelos escuros e cacheados que me interessavam. Eu via Nani Venâncio nelas. Altas doses de bebida alcoólica deixavam-me mais solto, devasso e curioso. Quanto mais arrogantes fossem suas expressões, mais vontade de submeter eu sentia. Pagava somente para que me obedecessem fazendo as poses que eu ordenasse.
Uma garota de programa, que chamarei de Cilene me acendia. Arrogante, chamativa, impressionante. Afinal, chamou minha atenção, dentre os vários "astros" que vendiam sexo na rua. O que ela tinha que tanto me instigava e fazia-me contorcer os dedos dentro dos meus sapatos que não me dignava a retirar?
Cilene possuía um nariz não muito grande, mas a curva que o entortava para baixo deixavam-na diabolicamente sensual. Ela não sorriu quando comecei a ordenar. Éramos duas personalidades dominadoras frente a frente, com a diferença de que eu era mais poderoso tendo na carteira o valor que ela valeria naquela noite pra mim.
— Não precisa tirar toda a roupa. Coloque a calcinha para o lado. — Mandei que se colocasse de pernas abertas, sentada na cama do motel. À mercê, ela fez. Irritada não tomou a iniciativa de se tocar e isso me levou a rebaixar-me e continuar a ditar as ordem. Sua vagina não era delicada ou de cor clara, pois sua "morenice" por mais leve que fosse, lhe deu partes mais escuras entre as pernas. Poucos pelos, não guardava segredos naquela posição. Cilene esfregava dois dedos em seu sexo, exibindo o grelo protuberante e seu buraco, afastando os lábios vaginais muito salientes.
À distância, eu estava seguro de sua fragrância.
— Coloque quatro dedos dentro da buceta... com força. — Outra vez sua expressão era de irritação. Um a um dos dedos, ela meteu em si, até caber os quatro. Logo de seca, tornou-se muito molhada, de apática e aborrecida, tornou-se excitada e puta, me implorando para meter em seu rabo ou no canal que ela alargava no auge assustador de seu tesão. — Meta com mais força. Isso. Não... não encoste em mim.
Ordenei que ficasse longe, que apenas se tocasse. Ela travou a mandíbula. Quanto mais se rebelasse, mais valiam aqueles trocados.
— Bata nela, aperte seu clitóris com força... esfregue.
— Isso incomoda.
— Por isso que mandei. — Mandar! Eu aprendia a mandar, ainda que sentisse um pouco de receio ao fazer. Não nasci pronto para a dominação. Me construía. — Abra mais as pernas e faça direito. Olhe para baixo e não me aborreça.
Era excitante demais, vê-la maltratar sua genitália, mesmo de forma branda. Não lhe forcei nenhum suplício, apenas que tocasse com força em seu grande clitóris. Ela se excitava com isso. Eu sabia, pois meus olhos desciam junto com um filete do líquido lubrificante até o meio de suas nádegas. Sabia, pois ela se remexia, contorcia, gemia baixo e mordia seu lábio inferior.
— Não goze ainda. Ainda não...
Por muitos minutos eu interferi com minhas proibições até que por fim, me cansei daquela brincadeira e permiti que gozasse, pois os minutos do programa estavam terminando. Senti honestidade nos espasmos fortes que acometiam seu corpo suado.
Ela pediu-me se eu queria ser chupado, após conferir o valor do dinheiro. Respondi que não e agradeci. Talvez, Cilene não compreendesse que eu sentia tesão em olhar pra ela. Meu prazer era solitário.
Um pouco a mais de grana, traz uma sensação gostosa e parecida com cócegas. Uma certa liberdade e alguns pensamentos idiotas a respeito de poder sobre terceiros. Dinheiro é um pedaço de papel pelo qual pessoas viram demônios, animais, seres ignorantes, débeis e doentes. Não falo do dinheiro que poupamos para obter um lar, dignidade, um carro, uma condição menos humilhante de vida. Falo dos "pilas" que sobram, pouco ou muito, com os quais compramos a alma de pessoas. Seus sonhos. Suas vidas.
Tem alguma diferença.
Em meu segundo "encontro" com a garota de programa chamada Cilene, novamente fui abraçado pela euforia de ordenar uma pessoa. Mandei que dançasse seminua, acariciando-se como uma modelo do canal Playboy.
— Tira a roupa de baixo e jogue aqui nos meus pés. — Ela baixou as alças do vestido para desengatar o colchete da lingerie e atirou com certa raiva aos meus pés. O mesmo foi para a ínfima calcinha vermelha, a cor que me atiça. — Dance e não abaixe o vestido se subir, deixe que apareça tudo... gosto de olhar.
A peguei revirando os olhos ao dar-me as costas. Era a segunda vez que eu lhe pagaria para trepar e tudo o que eu fazia era observá-la. Ela imaginou que eu ligaria a TV em algum canal de áudio como havia feito anteriormente.
— Dance! Não precisa de música. Cante algo, fale palavrões e me diga o quanto puta, és tu.
Ela queria muito me mandar a merda, eu sei disso. Mas meu dinheirinho, a faria suportar aqueles 120 minutos de exibição. Seu vestido justo e curto subia mostrando a bunda, ela ignorava minha "ordem" e o descia. Eu sorria e sentia uma louca vontade de dar-lhe uns bons tapas, mas não era o combinado, isso ela não topara.
— Para cada vez que você arrumar esse vestido, vou subtrair um valor que tenho que lhe pagar.
— Escuta aqui, eu dei o preço antes.
— Quero do meu jeito. Vou pagar R$ 240,00 por duas horas cronometradas e quero ter prazer.
— Você é esquisito...
— Shhh. Não terminei de falar, cala a boca. — Eu estava enfurecido e excitado com seu comportamento arrogante e aquilo impeliu-me a expôr um pouco mais do Júpiter que morava dentro de Joaquim. — Dança direito me mostrando o que gosto de ver e como eu gosto de ver, sorria, cante e siga minhas ordens. Se eu não gostar, vou interromper e te pago de forma proporcional pelos minutos. Ah, e esses cinco minutos de conversa, não vou te pagar.
Ela não estava sendo humilhada por ser puta. Estava sendo humilhada porque eu precisava disso pra ter uma ereção. Na indústria do prazer, eu era um novato, não sabia ainda que haviam caras e garotas que me venderiam prazeres muito mais bizarros, porém não eram todos.
Cilene me provocava ao dançar contrariada, exibindo sua vagina caprichosamente depilada, formando o desenho "moicano". Nos anos 90, eu só via em revistas e tocava incansáveis punhetas em homenagem às deusas nuas e inacessíveis.
O mesmo foi com o primeiro travesti pelo qual paguei.
Não era uma drag a quem olharíamos e confundiríamos com uma mulher, pois todo o seu corpo gritava que havia um macho sob aquelas roupas. Saia curtíssima, top com enchimento, calcinha totalmente enterrada no rego, um volume discreto na frente, mas ainda assim presente, que inflava diante de minha forma vulgar e despudorada de lhe pedir que obedecesse comandos, desde o apertar os mamilos duros e muito escuros, meter os dedos no cu sem que o fio dental fosse retirado.
— Goze, mas sendo "violentada" pelo consolo que trouxe.
Ela trouxera um pênis cor pele-clara e meteu no rabo muito acostumado a receber algo daquele diâmetro. Seus gritos me pareciam um fingimento, sendo a prova do gozo apenas o esperma jorrando em sua barriga. Eu senti então uma ereção. Sem me pedir, ela abriu meu zíper e chupou-me voluptuosamente. Fechando os meus olhos, eu via o Jackson submetido e ajoelhado entre minhas pernas afastadas.
Aos engasgos do travestido, copulei duramente naquele túnel ardente e molhado que me tragava como se fosse possível extrair mais que a porra acumulada. O gozo veio em sua garganta, ao contrário de me deixar mal, deixou-me ainda mais pleno de luxúria.
— Engula isso tudo... — Ele o fez. Dei-lhe um tapinha de leve na face, sua paga e segui como sempre e separado, sem carona às pessoas que eram pagas para me "dar" prazer.
Queria entender o porquê de sentir-me tão atraído pelo ato de dominar e subjugar o homem.
Hétero, bi, gay ou o caralho que eu fosse, meu EU dominador crescia...
Temisto foi um dos caras que permitiu-me provar uma fantasia adormecida profundamente em mim. Meus encontros com pessoas pagas eram no motel, com Temisto não foi diferente. Ele era uns anos mais velho, bem alto e mais forte, pele queimada de sol e muito bonito de rosto. Sua voz era grave, alta e não rouca como a minha. Seu cabelo era também mais escuro que o meu, seus modos mais brutos e sua pele exalava forte cheiro masculino, com sol e sal. Há quem se delicie e se sinta tentado a provar com a língua, eu estava perto das náuseas no início do encontro.
Ele retirou os óculos de sol, arrancou a camiseta regata, bermuda jeans que cobria seus joelhos e jogou a cueca por cima da pilha de roupas no chão, se encaminhando para o chuveiro.
Combinamos que durante o sexo ou o que sucedesse durante o programa, eu lhe chamaria de Jackson.
Não havia como eu sustentar esse vício sem falir em pouquíssimo tempo. Mas esse prazer eu me daria de presente.
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Oiii pessoal!! Tudo bonzinho com vocês?
Nosso estranho Júpiter, fala muito de seu passado. Se aprofunda nele para entender-se no futuro e presente.
Obrigado pelas leituras, votos e comentários. Hoje vou responder aos comentários, porque essa semana foi "punk", sassenhora, meo Deoss, como diz Pati, kkkk ....Beijos e uns miaus no telhado de suas casas, sou eu o "gato" vagabundeando, 😼😸😼😸😽😽😽!
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