CAPÍTULO II - A PROPOSTA
— O senhor precisa melhorar suas notas, senhor Montgomery, caso contrário será reprovado em minha matéria e, o senhor bem sabe, caso isso aconteça; sua bolsa será suspensa. — Hanson diz em tom firme
Fazem exatamente trinta e cinco minutos que estou sentado em sua frente ouvindo a seu infindável sermão calado e imóvel enquanto Lennox, por sua vez, atém-se a menear a cabeça em sinal positivo para cada palavra por ele proferida.
Apenas obtivemos alguma outra reação de sua parte após a probabilidade de perder minha bolsa ter sido divulgada. A garota ficou tão branca quanto um papel sulfite e sua expressão de assustada está bem mais do que evidente, caso alguém, além de nós, a visse nesse estado certamente pensaria que ela realmente se importa com o que pode acontecer comigo.
— O que me leva a senhorita, senhorita Lennox. — Hanson desvia o olhar para ela — Como suas notas são as melhores da turma, preciso que ajude o senhor Montgomery a estudar para que suas notas sejam melhoradas e ele mantenha a bolsa. — Uma pausa é feita — Acha que consegue fazer isso?
— Sim. — Ela responde tão rápido que a única palavra acaba por sair um tanto quanto embolada — Eu nunca negaria ajuda a alguém. — Ela se explica um pouco mais calma, enquanto o rubor toma conta de suas bochechas
— Muito bem. — Ele diz, se levantando — Acertem os detalhes entre vocês, eu tenho de ir me reportar ao diretor sobre o caso de Montgomery. — Anuncia, deixando a sala, por fim
O silêncio, que, devo admitir, é um tanto quanto incômodo, se instaurou no ambiente. A garota de longos cabelos loiros aparenta maquinar algo em seu cérebro, algo me diz que a sua ajuda não sairá de graça e que eu acabarei por vender a minha alma para o demônio.
Queria ter coragem o suficiente para quebrar o silêncio e lhe perguntar o que quer em troca, entretanto, tal ato não me parece uma boa ideia. Ao invés disso, desvio o meu olhar de volta para a parede em nossa frente, fixando-o em um ponto qualquer, no vão intuito de acalmar a rebelião que se instaura; pouco a pouco, em minha mente.
Sempre fui orgulhoso, precisar de ajuda, de certa forma, fere o meu orgulho. Normalmente eu era a pessoa que ajudava as outras, nunca estive tão decadente ao ponto de precisar ser ajudado. Ao que tudo indica, o mundo da voltas e, nessas voltas, a gente capota.
Caso me dissessem há alguns anos que eu acabaria neste tipo encruzilhada, certamente riria na cara da pessoa e negaria repetidas vezes que tal coisa poderia vir a acontecer... mas, ainda assim, aqui estamos nós; aqui estou eu.
— Eu vou te ajudar — é a garota quem quebra o silêncio — mas também preciso de sua ajuda em algo. — Ela diz, sua voz soando mais cautelosa do que o normal
— Eu preciso temer perguntar o que é? — Indago após voltar a observá-la
— Talvez... — ela diz em tom enigmático — eu preciso provar ao meu pai que ele está errado sobre todas as merdas que ele diz sobre as classes sociais...
Ah não, de jeito nenhum... eu já sei aonde essa conversa vai chegar e eu não estou gostando nenhum pouco desse destino. — Meu subconsciente grita, implorando para que eu negue qualquer coisa que seja dita após essas palavras
— Eu preciso que você finja ser meu namorado nas festas de final de ano e prove para o papai que ele está errado sobre tudo. Que ser rico não o faz melhor do que ninguém. — Sua linha de pensamento é concluída e meu queixo simplesmente vai para o chão
Movimento os lábios algumas vezes, contudo, som algum é produzido, tenho plena ciência de que estou parecendo um idiota, mas, como eu deveria reagir a tal proposta? Ela é a princesinha do colégio, seu pai, além de reitor, é dono de diversas ações, sua mãe é cirurgiã; seus amigos são a elite da elite... e, ainda assim, aqui está ela, me fazendo tal proposta indecorosa.
O mundo está aos seus pés, Lennox pode ter qualquer pessoa que ela queira, me parece uma piada de mal gosto ela ter de pedir para alguém como eu fingir que é seu namorado. Tal como se fosse uma piada de mal gosto do destino, uma peça dramática sendo pregada contra mim.
— Óbvio que não. — Respondo, incrédulo, logo após eu digerir a informação — Olha, Lennox, eu não sei sobre os problemas de sua família, tampouco me interesso em saber, mas eu estou longe de ser um mero brinquedo que você possa usar para seus caprichos. Não precisa me ajudar com a matéria, eu dou os meus pulos. — Me levanto — De jeito nenhum eu me prestaria a esse papel ridículo.
Seus olhos se arregalam, a surpresa passa a ser estampada em sua face. Provavelmente ela estava certa de que eu aceitaria a sua proposta "irrecusável"; entretanto, apesar dos apesares, eu gosto de pensar que ainda possuo um resquício de dignidade e almejo mantê-lo intacto o máximo de tempo possível.
Sua mão segura meu pulso antes que eu seja capaz de abrir a porta, fecho os olhos com força e inspiro profundamente. Qual o problema dessa garota, afinal?
— Por favor. — Sua voz soa calma e suplicante — Papai tem uma ideia muito ruim sobre pessoas que ele considera inferiores a ele, eu sei que dinheiro e aparência não são tudo na vida, queria provar isso a ele... — a interrompo
— E quer me usar como um chaveiro para provar sua tese? — Indago com incredulidade — Você tem consciência de que, ao fazer essa proposta, se tornou tão merda quanto o seu pai? — Fixo meus olhos nos dela e, por alguns instantes, me perco em sua imensidão azul
— Eu... eu sei. — A garota gagueja, ficando cabisbaixa — Você tem razão, é uma ideia estúpida... — uma pausa é feita — olha, eu te ajudarei com a matéria, independentemente de você ter aceito ou não a minha proposta. — Seus olhos voltam a se fixar nos meus — Podemos nos encontrar na biblioteca após o término das aulas?
Limito-me em menear a cabeça em sinal positivo e ela solta meu pulso permitindo, desta forma, que eu deixe a sala.
Pergunto-me aonde estava com a cabeça ao fazer tal proposta para Kieran, eu deveria saber que ele a declinaria, afinal, caso os papéis fossem invertidos, eu faria exatamente o mesmo. Devo ter parecido uma louca desvariada e; definitivamente, não tiro sua razão ao me comparar com meu pai, preciso ser mulher o suficiente para admitir que, de fato, o meu pedido foi tão incabível quanto o preconceito infundado de meu genitor.
Bagunço meus cabelos com leveza, enquanto me sento em uma mesa próxima a porta da biblioteca; aguardando o garoto de longos cabelos castanhos.
Sou incapaz de prender o sorriso quando o vejo passando pelas enormes portas de madeira e caminhando em minha direção; ele está alguns minutos atrasado e eu jurava de pés juntos que ele havia desistido de aceitar a minha ajuda e simplesmente me deixaria plantada aqui.
Admito que não o julgaria caso o fizesse, eu tenho plena ciência de que fiz por merecer.
— Pensei que não viria. — Declaro em tom baixo e ameno e ele sorri
— Eu não te deixaria plantada aqui, não sou esse tipo de pessoa. — Seu tom é semelhante ao meu
O caderno de capa rabiscada é retirado de sua mochila e disposto sobre a mesa; nesse instante sou capaz de perceber que os "rabiscos", na verdade, se tratam de desenhos muito bem trabalhados.
— Não sabia que era artista. — Comento, deixando a curiosidade transparecer
— E não sou, minha mãe era. — Seus ombros se encolhem — Então, a matéria...
E, dessa forma, o assunto foi dado por encerrado por nós dois.
— Então — começo, incerta, o medo de dar outra bola a fora me dominando — creio que acabamos por hoje. — Concluo minha linha de pensamento
E aqui está ele novamente; o maldito sorriso encantador. Deveria ser expressamente proibido um sorriso ser tão lindo dessa forma.
— É , creio que sim. — Ele se limita a responder e começa a guardar suas coisas — Sobre mais cedo — sinto meu coração disparar — creio que fui muito rude em minha resposta, você meio que me pegou desprevenido. — Kieran coça a nuca e mordisca o lábio inferior — Olha, se ainda quiser a minha ajuda em seu plano, eu topo.
Agora é a minha vez de o olhar com incredulidade, mais cedo ele me pareceu irredutível quanto a sua decisão de não me ajudar com isso. Não consigo evitar me perguntar o que, diabos, o fez mudar de ideia.
Talvez tenha ficado com pena da pobre coitada que possui a vida amorosa tão medíocre a ponto de precisar fingir namorar com alguém. É, provavelmente é isso mesmo, afinal, essa é a única explicação plausível para a sua repentina mudança de opinião.
Há uma grande probabilidade de que recusar sua ajuda seja a coisa certa a se fazer, entretanto, desta vez é ele quem está se oferecendo e, por bem ou por mal, eu quero provar a papai que eu estou certa.
— Temos um acordo. — Me pronuncio após alguns instantes, estendendo a mão em sua direção
Sua mão aperta a minha e, no momento em que elas se encontram, sinto uma eletricidade percorrendo o meu corpo. Engulo em seco, talvez essa tenha sido uma péssima ideia, porém agora é muito tarde para voltar atrás.
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