XXI. Você não sabe o que quer

Pela primeira vez, vi Leigh Anne perder aquele ar blasé que sempre a acompanhava. Ela agora alternava entre encarar a mim e a Matteo, com um olhar perplexo. Ok. Devo admitir que não deveria ser uma experiência muito boa descobrir assim que sua irmã está tão enrolada quanto você com um determinado garoto. Pelo menos, eu sabia sobre a recente relação - se é que posso chamar assim - deles.

- Mãe, não... - comecei, tentando reverter os danos já causados,

- Sim, sim, sim. Você foi buscar a Liz lá em casa, todo gentil - Bridget virou para Sebastian, que olhava toda aquela situação com uma ruga entre as sobrancelhas - Eu não sabia que já haviam chegado ao ponto de apresentar à família. Elizabeth nunca me apresenta aos namoradinhos; essa foi a primeira vez que vi um deles.

E é exatamente por isso que eu nunca os apresento, pensei.

- Porra - ouvi Matteo sussurrar, os olhos fixos em algum ponto da mesa. Não consegui distinguir se aquela expressão em seu rosto era embaraço ou apenas uma genuína frustração. Eu não me surpreenderia se fosse apenas o segundo, já que Matteo Caputo não parecia ser capaz de sentir-se embaraçado.

Leigh Anne, entretanto, parecia estar muito embaraçada, a cor de suas bochechas quase equiparando-se ao rosa já desbotado do seu cabelo. Senti uma pontada de culpa. Não era como se realmente existisse algum sentimento de irmandade entre nós, mas naquele momento eu me sentia uma traidora.

- Com licença - ela disse, levantando-se e dirigindo-se em um rompante para o banheiro.

- O que está acontecendo com esses jovens hoje em dia? - meu pai perguntou, a ruga entre as sobrancelhas agora maior ainda. Por mais que ele tentasse esconder, era óbvio que ele estava ciente do que acontecia naquele momento.

- Com licença - imitei, puxando Matteo comigo. Puxei-o pelo pulso até o corredor, tomando cuidando para que ficássemos afastados o suficiente do banheiro - O que diabos você está fazendo aqui?

Ele fechou os olhos castanhos e massageou as têmporas com o dedo indicador e o anelar, demorando muito mais do que o necessário naquele gesto dramático. Quando abriu os olhos, não pude deixar de me perder um pouco neles. Foco, Elizabeth.

- Leigh me convidou para vir à casa dela. Não pensei que você estaria aqui, e nem eles - Matteo quase sussurrava. Ele apontou para mim com o queixo ao pronunciar "você", e para a sala depois.

- Vocês estão juntos?

Desejei ter uma máquina do tempo no exato momento em que vi o princípio de um sorriso no rosto de Matteo. Era uma pergunta boba, feita no calor do momento; e além disso, aquela era a última coisa que deveria importar, quando Leigh Anne estava trancada no banheiro. As palavras de Cassie ecoaram no fundo da minha mente, confirmando minha tendência de sempre fazer com que tudo dissesse respeito a mim. Insultei-me mentalmente com todos os palavrões que conhecia - não eram muitos -.

- Nem todo mundo se apaixona tão fácil quanto você, Davis.

Mesmo naquela situação, o garoto de olhos castanhos ainda conseguia ser um exímio filho-da-puta. Eu tinha que admirar sua perseverança.

- Então por quê Leigh Anne está trancada no banheiro?

E então algum lampejo de reconhecimento passou pelo rosto do garoto italiano. O reconhecimento de que ele havia feito merda. Das grandes.

- Você acha que ela gosta de mim? -ele agora parecia assustado. Era até un pouco engraçado, e eu tinha certeza de que, em outras circunstâncias, eu até riria - Caralho, eu não pensei que ela fosse... Assim...

- Assim como? - ao perceber que ele não responderia, continuei: - Só porque ela tem o cabelo rosa e age como se não se importasse com nada, não quer dizer que ela não se importa, Matteo! Não estamos em um livro adolescente; ninguém é de ferro.

Surpreendi-me com minhas próprias palavras. Uau! Quem diria que eu poderia dizer coisas inteligentes alguma vez na minha vida? E pelas sobrancelhas unidas que Matteo exibia, eu podia inferir que ele estava pensando sobre aquilo.

- Considerando a possibilidade de você estar certa - ele começou, devagar - O que eu deveria fazer, então?

- Você gosta dela?

Ele abaixou o olhar, parecendo genuinamente confuso. Eu quase conseguia ouvir o barulho de seus neurônios trabalhando. E então ele ergueu os olhos castanhos novamente, me encarando com tanta atenção que eu já estava começando a me sentir um pouco desconfortável.

- Você tava falando sério quando disse que estava apaixonada por mim, Elizabeth?

Oh. Merda.

Como explicar para Matteo que eu não fazia a mínima ideia do que sentia? Que talvez eu estivesse apaixonada por ele, ou talvez eu estivesse apaixonada pelo que eu imaginava que ele poderia ser, caso ele fosse meu namorado esquecido. Que eu tinha sentimentos por ele, mas também por Chris e Ben.

Nos poucos segundos que se seguiram, meu cérebro defeituoso explorou cada opção. Eu estaria mentindo se dissesse sim, mas estaria arruinando minhas chances de encontrar meu namorado se eu dissesse não. Claro, havia uma terceira alternativa, menos glamurosa e menos assertiva, que consistia em responder "é complicado...", palavra que até parecia um eufemismo para a situação em que eu me encontrava.

Felizmente, Leigh Anne abriu a porta do banheiro antes que eu pudesse fazer alguma coisa, e passou por mim subitamente, arrastando Matteo pelo pulso para algum quarto. Eu não sabia se sentia alívio ou medo.

Vagarosamente, voltei para a mesa como se nada estivesse acontecendo, e os adultos decidiram fingir o mesmo. Aquilo era drama demais para que Sebastian ou Lola intervissem e minha mãe claramente estava se sentindo culpada pelo deslize. Tentei não adivinhar os julgamentos silenciosos que estavam fazendo, pois aquilo só me tornaria mais ansiosa. Deus, como eu estava ansiosa!

Depois do que pareceu ser uma eternidade, Matteo foi quem voltou. Nada de Leigh Anne. Ele pediu licença para a minha família e me chamou para conversar em outro local. Dessa vez, por algum motivo que não entendi, não nos dirigimos para o corredor, mas para a rua. Aquele deveriam ter sido os segundos mais constrangedores que já passei em um elevador, minhas bochechas ardiam com os olhares de canto de olho que ele me lançava.

Quando enfim chegamos à rua, estava mais frio do que eu esperava. Aquilo me lembrava o triste fato de que em breve o verão teria terminado. O frio e a luz amarela que emanava da iluminação pública não eram nem um pouco convidativos. Enfiei a mão em meus bolsos.

- E então?

Matteo puxou o ar com a boca.

- Eu agi como um idiota e recebi uma bronca enorme por causa disso - ele deu uma risada seca - E está claro que você não sabe o que quer, Elizabeth. Mas a Leigh sabe... Embora ela esteja muito puta comigo agora.

Balancei a cabeça negativamente, mas incapaz de dizer algo.

- Nós não vamos namorar ou qualquer coisa assim - Matteo franziu a sobrancelha -, mas eu não posso continuar saindo com duas irmãs. Isso é demais. Até pra mim.

Não consegui responder. Para falar a verdade, nem consegui entender o que estava se passando. Minha cabeça estava a mil, e eu até me sentia um pouco tonta. Matteo estava terminando o que nunca ao menos começara.

- Tudo bem. - Minha voz saiu quase como um sussurro.

- Eu vou pra casa agora. Já criei confusão demais por hoje - ele curvou-se e beijou minha bochecha - Sinto muito.

Observei enquanto Matteo andava até o carro, a luz amarela da iluminação pública dando um tom ainda mais melodramático àquela cena toda.

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