XVII. Você quer ir comigo?
A temporada de festas da St. Margaret's School havia oficialmente iniciado.
Na segunda-feira, Emma Barret me alcançou antes que eu pudesse entrar na escola, como sempre, mas dessa vez com a única notícia que eu queria que ela me desse.
- É o convite pra minha festa. Claro que minha convidada de honra não poderia faltar - ela me deu uma piscadela enquanto entregava o convite e eu fingi, com muito esforço, retribuir o sorriso - Será no fim de semana.
Emma pareceu só se dar conta da menina de cabelo cor de rosa ao meu lado naquele momento, o que me parecia impossível, porque ela tinha o cabelo cor de rosa.
- Essa é a minha meio-irmã, Leigh Anne. Leigh Anne, essa é Emma Barret. - elas se cumprimentaram com um sorriso e um aceno de cabeça - Emma, você por acaso teria um convite extra pra uma segunda Davis?
A loira pareceu pensar no assunto por uns instantes. A festa de Emma era muito exclusiva, ela chegava até a contratar seguranças para que impedir penetras, e ela raramente distribuía convites para novatos. No entanto, eu sabia que conseguiria qualquer coisa com Emma se pedisse com jeitinho.
- Você sabe que estou fazendo uma exceção, né? - ela me entregou outro convite, enfim.
- Oh! Muito obrigada! - eu a puxei em um abraço.
- Au revoir, Liz! Preciso terminar de entregar esses convites logo.
Observei enquanto Emma rodava os calcanhares e saía em busca de seu próximo convidado nos pulinhos que já lhe eram característicos.
- Ela nem se despediu de mim - Leigh constatou.
- Emma Barret não fala com fracassados - sorri para a garota de madeixas rosas - Se você me envergonhar nessa festa, eu te mato.
Senti como se todos os olhos da St. Margaret estivessem em mim e minha irmã no momento em que colocamos o pé na escada de mármore que marcava a entrada do prédio da escola. Eu saberia que seria assim, porque as pessoas daquela escola não tinham uma tolerância muito grande com o diferente, mas não tinha ideia de que eles seriam tão descarados. Em um mundo de aspirantes a políticos, empresários e diplomatas, não havia lugar para uma garota com cara de zumbi e cabelo rosa. Ou para um garoto que queria ser cantor e usava batom nas performances. Todos deveriam ser iguais, e eu tinha o pressentimento que Leigh Anne aprenderia aquilo da pior maneira.
- Uau! Seus amigos são discretos! - ela sussurrou.
- Eles não são meus amigos - eu tinha percebido aquilo na semana passada. Assim como fizeram com Christofer, eles me adoravam. Me convidavam para todos os lugares, sentavam ao meu lado nas aulas, almoçavam comigo, faziam piadas e me mandavam mensagens no instagram. Mas passariam por cima de mim com todo prazer, no momento em que minha presença não lhes fosse mais útil.
- Que seja - Leigh deu de ombros - Os americanos são tão hipócritas - ela bufou.
Eu estava prestes a perder a paciência com minha irmã. Estávamos juntas há pouco mais de uma hora e ela já tinha iniciado um milhão de frases com "os americanos são tão". Quando paramos em um café, antes de irmos para a escola, Leigh engajou uma conversa com o garoto da mesa ao lado sobre "a revolução que é amar nos tempos de hoje"; em um certo ponto da conversa, ele me olhou, asssustado; "ela era europeia", foi tudo que precisei dizer para que ele entendesse exatamente do que eu estava falando. Ao que tudo indicava, a crença de que todos os americanos eram burros era a única coisa que mantinha a União Europeia de pé.
- Você sabe qual é a sua próxima aula? - perguntei, tentando não ceder àquelas provocações.
- Meu dia acabou de melhorar.
Segui o olhar de Leigh Anne e me arrependi no mesmo segundo. Matteo estava parado em frente ao seu armário, nos encarando com um certo terror nos olhos. Eu sabia que eles tinham saído no dia anterior, mas só queria esquecer aquilo. Ele provavelmente não contara a ela do nosso pequeno encontro no sábado, porque minha irmã agia como se nada houvesse entre nós. Leigh andou até ele.
- Você quer ir à festa da Emma comigo?
O olhar de Matteo encontrou o meu, por trás de Leigh. Imediatamente, dei meia-volta e entrei no primeiro corredor perpendicular que encontrei.
Eu rezava para que os alunos da St. Margaret encontrassem outro assunto, e parassem de espalhar boatos sobre Christofer. Naquele dia, ele não sentou conosco no almoço. Em vez disso, fingiu que não nos via e sentou-se sozinho em uma mesa bem distante.
- Cuide da Leigh por mim, ok? - falei a Cassie. Eu passara o dia todo tentando fugir da minha amiga, mas não tinha como escapar da hora do almoço. Ela nem pareceu perceber que aquela era a primeira vez no dia que eu direcionava a ela uma frase com mais de três palavras; provavelmente tinha a cabeça muito ocupada com todas as coisas que ela escondia de mim.
Levantei-me com minha bandeja, chamando a atenção não só da nossa mesa, mas de metade do refeitório. A única pessoa entre nós que parecia não dar a mínima era Leigh Anne, que preferia focar seus olhos mortos em algum ponto distante. Andei até Chris sem dizer nada.
- Liz, você não precisa...
- Eu quis - respondi, interrompendo-o.
Chris era sempre assim. Ele nunca pedia ajuda, socorro era uma palavra que não existia em seu vocabulário. Toda vez, eu tinha que obrigá-lo a aceitar a minha companhia em qualquer momento difícil; como no dia em que seu avô morreu e eu não saí do seu lado, mesmo quando ele reclamava diversas vezes da minha presença. Passamos um bom tempo em silêncio, e eu sentia todos os olhos em minhas costas.
- A Emma não me convidou pra festa - ele disse, como se estivesse falando que precisava comprar pão.
Deixei uma risada seca escapar. Já era esperado.
- Você quer ir comigo?
- Claro que não! - Chris parecia ofendido. Quando viu minha expressão, continuou: - Desculpa. É só que eu não quero ir pra algo que não fui convidado. Eu adoraria ir com você, mas em outras circunstâncias. - Ele foi muito enfático no "adoraria".
- De qualquer maneira, você não iria querer estar lá para ver o amor da sua vida com outra pessoa.
Christofer inclinou a cabeça, confuso.
- Você sabe, o Matteo. Ele vai com a Leigh Anne.
- Elizabeth Davis - ele espremeu os olhos com desconfiança, ainda sorrindo -, por acaso você e o Caputo têm algo?
Quase engasgo com meu suco.
- Óbvio que não!
Christofer então riu, e afastou a mecha de cabelo que havia caído na frente dos meus olhos.
- Que bom. Eu estava começando a ficar com ciúmes.
Ele pegou uma das batatas-fritas do seu prato e jogou em mim. Enquanto eu respondia com uma careta, me perguntava se ele estava falando sério quando dizia que estava com ciúmes ou se aquela era só mais uma brincadeira entre amigos. Afinal, ele queria me beijar na noite do Pretty Ugly tanto quanto eu queria beijá-lo.
- Chris.
- Sim? - ele, que já tinha dispersado sua atenção com a velocidade de sempre, virou para mim.
- Você quer ir ao Baile de Máscaras comigo?
O Baile de Máscaras era uma tradição da St. Margaret, uma oportunidade anual para jovens ricos gastarem um pouco de sua fortuna com roupas extravagantes e máscaras elaboradas; provavelmente as fantasias daquele colégio só perdiam para aquelas do carnaval de Veneza. Eu geralmente escolhia meu vestido com um mês de antecedência, e naquele ano não tinha sido diferente. A festa de Emma Barret era sempre um prenúncio do baile, já que ela era a presidente do comitê de decoração e fazia questão que sua festa fosse a primeira da temporada; o que significava que o Baile de Máscaras seria em duas semanas e meia. E eu queria ir com ele.
Christofer sorriu.
- Eu estava pensando em qual grande ato romântico teria que fazer para conseguir que você aceitasse meu convite - ele deu de ombros -, mas já que você me convidou antes...
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reloooooou
Preparem suas melhores roupas para a festa de Emma e suas máscaras para o baile! The party has just started.
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