XII. Vocês não se parecem em nada
Haviam grandes chances de Ben Navarro ser o meu namorado misterioso. Eu estava cada vez mais certa disso.
Naquele dia, eu estava com ódio de todos os alunos da St. Margaret's pelo que haviam feito com Christofer. Por isso, não saí da sala de inglês mesmo tendo o próximo horário livre; eu sabia que ninguém teria aula ali naquele período. Não queria ter que olhar nos olhos daquelas pessoas maldosas que há dois dias lambiam o chão que o meu amigo pisava e agora agiam como se fossem muito melhores que ele.
Foi aí que Ben entrou. Ele disse que me vira pelo vidro da porta e que queria checar se eu já havia assistido algum dos filmes que ele indicara. Eu achava adorável o jeito que seus olhos sumiam toda vez que sorria e como ele sempre tomava o maior cuidado para não parecer estar invadindo o meu espaço. Fiquei com vergonha ao dizer que não tinha assistido, mas por algum motivo expliquei que não tinha tido tempo porque meu pai finalmente estava nos Estados Unidos. Eu nunca falava sobre o meu pai. Contei sobre Leigh Anne e a competição boba que existia apenas para mim, e ele me deu conselhos muito bons e falou sobre o peso que era ser o irmão mais velho de Jasmine. Achei engraçado o fato de que agora ambos tínhamos irmãs caçulas rebeldes no colégio. Em um certo momento, comentei que nunca tinha tirado uma nota boa em matemática e ele se ofereceu para me ensinar. Benjamin Navarro me convidou para o Prince of Wales depois que seu turno acabasse! Para me ensinar matemática, claro.
Mandei mensagem para Cassie avisando que ela teria que aposentar-se do cargo de minha tutora.
Confesso ter ficado ansiosa com a ideia de ficarmos sozinhos no Prince of Wales, não só porque eu estava começando a me sentir atraída pelo esquálido Ben Navarro, mas também porque eu sempre sonhara em ficar sozinha com um garoto em um estabelecimento comercial depois de seu fechamento desde que assisti Construindo Uma Carreira e comecei a rezar para ficar presa com um garoto sempre que ia ao supermercado. Tudo bem, o Prince of Wales bastaria.
Se as coisas com Ben iam muito bem, com Matteo tudo piorava a cada interação. Decidi que não falaria uma palavra sobre os boatos que deslizavam pelos corredores de gelo da St. Margaret. Quando percebi que conhecia o pescoço tatuado que estava na minha frente na fila para o almoço, coloquei-me na ponta dos pés para que minha boca chegasse perto do seu ouvido.
- Gostou da minha irmã?
Matteo pulou em um susto.
- Do que você tá falando, maluca?
Cerrei os dentes. Não conseguia acreditar que a desgraçada não tinha dito que era minha irmã.
- Leigh Anne. Sabe, a garota de cabelo rosa com quem você transou ontem.
- Ah - ele riu - Ela é sua irmã? Mas vocês não se parecem em nada!
Aquele comentário foi um soco em meu estômago, e eu não sabia explicar bem o porquê. Se nós não nos parecíamos em nada, então ele teria escolhido Leigh Anne justamente porque ela era o oposto de tudo que eu era. Porque ela era melhor. Se Matteo acabasse sendo o meu namorado, eu tinha certeza que aquelas palavrinhas me perseguiriam para sempre.
Dei um sorriso amarelo e fingi que tinha algo muito importante para falar com Cassie, que graças a deus estava passando do meu lado naquela hora. Apertei os pulsos da minha amiga com força demais.
- Me tira daqui.
Minhas lágrimas molhavam a calça de Cassie. Estávamos no chão atrás da arquibancada. Ela havia me perguntado diversas vezes por que eu estava daquela maneira, mas eu não conseguia contar. Porque teria que admitir que me sentia inferior, que meu pai não estava ali por mim, e que eu era uma louca que não lembrava nem do próprio namorado!
- Lizzy, tá tudo bem. Você sabe que pode me contar tudo, né? Assim como eu te conto tudo. Lembra quando aquelas meninas da rua estavam espalhando mentiras sobre mim e eu tinha tanta vergonha de falar para alguém que tudo virou uma bola de neve?
Cassie estava se referindo a um fato que acontecerá há dois anos. Ela acabara irritando uma de suas vizinhas com sua mania de ser sempre uma sabe-tudo e elas começaram a espalhar boatos e montagens eróticas com o rosto da minha melhor amiga para todo o bairro. A vida dela virara um inferno e eu não fazia ideia do que estava acontecendo, só sabia que minha amiga estava cada vez mais triste. Então um dia eu me desesperei e recorri aos rígidos senhor e senhora Berkeley; o que só aumentou a confusão e Cassie sofreu muitos castigos, além disso ter iniciado uma briga entre os Berkeley e a família vizinha que ultrapassou o âmbito da fofoca entre vizinhos e quase terminou com a falência da franquia de frigoríficos da outra família. Passei o resto daquele ano pedindo mil desculpas a Cassie, mas aquilo teria sido facilmente resolvido se ela apenas tivesse me contado o que estava passando. Às vezes achamos que não temos ninguém ao nosso lado apenas porque não olhamos ao redor.
Me endireitei e enchi o pulmão de ar. O que eu estava prestes a falar era provavelmente a coisa mais louca que falaria em toda a minha vida.
- Eu tenho um namorado. Há 1 ano, pra ser mais específica. Mas eu não sei quem ele é! Não consigo lembrar de nada que possa relacionar alguém a ele, mas sinto no fundo do meu coração como se ainda o amasse - falei tão rápido que não sei se tinha como ser entendida.
Cassie parecia ter visto um fantasma. Ela ficou em silêncio, com a boca entreaberta por tempo demais. Não a culpo, porque eu mesma tinha duvidado da minha sanidade muitas vezes.
- Então aquela lista que nós fizemos...
Assenti. Contei tudo que estava pensando em fazer.
- Você tem ideia do quão louco isso soa?
Assenti novamente.
- Então você está ciente de que esse seu plano é um absurdo? - balancei a cabeça - e de que se eu me meter nisso estarei assinando meu atestado de insanidade?
Eu já estava ficando cansada de tanto assentir.
Cassie tirou o caderno e uma caneta de sua bolsa.
- Então agora que você está ciente e aceita todos os termos de compromisso, vou consertar esse plano maluco por você.
Cassie reclamou o tempo todo sobre que meu plano era bagunçado, egocêntrico e dependente de variáveis externas, mas resolveu segui-lo por falta de ideia melhor. Quando ela perguntou o quanto eu já tinha evoluído, respondi com as bochechas corando que praticamente nada. Eu tinha tido um encontro com Steve Reynolds, mas nem sei se aquilo contava como algo. Ela me deu uma bronca, me chamou de displicente e incapaz de focar em uma tarefa, e disse que agora que ela estava envolvida eu teria que levar aquilo a sério.
- Afirmativo, capitã - bati continência.
Ela havia separado o encontro perfeito para cada garoto e um checklist de todas as coisas que ele deveria fazer para que eu pudesse ter certeza absoluta de que se tratava do meu namorado. Mas era eu quem ficava com a parte mais difícil: fazer com que os encontros se tornassem realidade.
- Você tem 3 dias para conseguir que Matteo Caputo vá ao paintball com você. Antes que ele se envolva de vez com Leigh Anne e seu namorado vire seu cunhado.
Cassie ignorou todos os meus protestos, porque ela acreditava que eu só trabalhava se me fosse aplicada pressão e sob os efeitos de prazos limitadíssimos. No fundo eu sabia que ela estava certa, mas como diabos eu conseguiria que Matteo, o mesmo Matteo que me fizera chorar há pouco tempo atrás, fosse comigo em um encontro romântico?
- Problema seu - Cassie riu, quando perguntei a mesma coisa a ela - Ninguém mandou você esquecer o seu namorado.
___________________
OLAAAAAAAA
Como estão vocês nesse feriado? Feliz dia do trabalhador para todo mundo que lê essa história e trabalha haha <3
Espero que gostem!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top