V. 4-7-8
O episódio na Pretty Ugly havia me deixado tão abalada que eu nem conseguia abrir a boca durante o almoço.
Estávamos sentados na mesa de sempre, na melhor localização de todo o refeitório, e meus amigos falavam alto demais sobre alguma baboseira sem sentido. Podia ver Steve Reynolds pelo canto do olho, sentado ao canto oposto da mesa, lindo como sempre. Não sentia a mínima vontade de ir até lá e tentar colocar meu fraco plano em ação. Eu havia separado um dos melhores encontros de minha memória para Steve, o da pista de patinação, e pressupunha que seria extremamente fácil conseguir com que ele topasse, bastava perguntar, mas simplesmente não tinha vontade. Percebi que ele começara a me encarar e tentei me desvencilhar de seu olhar.
O grupo de pessoas que eu costumava classificar como amigos era como qualquer outro grupo de adolescentes populares no ensino médio: atletas dos mais diversos esportes, líderes de torcida, representantes de turma e alguns que estavam ali só por serem considerados bonitos e carismáticos, embora não tivessem nada de tão especial, como eu. Perceber isso naquele momento até me irritou um pouco. Quanta falta de originalidade, Elizabeth. Eu tinha tanta intimidade com alguns deles quanto com qualquer outra pessoa da escola, mas agíamos como se fôssemos um grande grupo de melhores amigos.
Christofer nem juntou-se a nós. Eu me perguntava se ele tinha ficado chateado. Demoramos tanto para construir uma amizade depois da festa de Emma Barret e eu havia estragado tudo em um segundo enquanto fingia para mim mesma que estava bêbada demais para me responsabilizar por meus atos. A verdade é que eu queria beijá-lo, não estava fazendo aquilo somente por ter desidratado e assassinado todos os meus neurônios com a bebida, e o teria feito sem rodeios se não fosse aquela sensação de culpa excruciante que ainda não cansara de habitar o meu peito.
- O Steve não para de olhar pra você - Cassie sussurrou, com os olhos fixos em algo do outro lado do refeitório - A operação Arranje Um Namorado Para Elizabeth Davis ainda está de pé, né?
Olhei para Steve. Ele ainda me fitava.
- Ah, nem sei...
Cassie arregalou os olhos castanhos e me olhou como se eu estivesse doente. Ou louca. Comecei a pensar que talvez eu realmente estivesse. Em seguida semicerrou o olhar, desconfiada.
- Aconteceu algo que eu deva saber?
- Não, nada - eu estava virando perita em mentir para minha melhor amiga. Seria esse o meu talento escondido? Se fosse, ainda bem que finalmente tinha se revelado, porque eu não aguentava mais ser escalada como substituta da atriz substituta no clube de teatro - Acho que só cansei de todos os garotos do mundo.
- Elizabeth Davis, cansada de garotos? - ela riu, alto o suficiente para chamar atenção de toda a mesa - Amiga, você realmente tá doente.
- Você não é a única pessoa que pode ignorar a existência dos meninos e focar nos estudos, Cassie - eu já estava começando a me irritar e meu tom de voz deixava isso muito claro - , eu também posso, se eu quiser.
Minha amiga apenas me encarou, com cara de paisagem. Não aguentei. Tive de rir. Nem eu mesma acreditava no que estava falando.
- Quase beijei o Christofer ontem - admiti de uma vez. Não tinha motivos para escondê-lo, no fim das contas.
Coloquei a mão sobre a boca de Cassie antes que ela começasse seu escândalo.
- Não fala nada! Depois eu te explico tudo - tirei a mão, devagar, me certificando de que ela realmente ficaria calada - Emma Barret está bem ali - apontei com o queixo. Ela estava comendo uma barrinha de cereal a apenas duas cadeiras de distância da minha amiga -, e tenho certeza de que ela adoraria contar isso pro colégio inteiro. Eu juro que te conto depois.
Ela assentiu.
- Tá tudo bem contigo, Effy? - eu podia sentir aquela voz no meu pescoço.
Virei e dei de cara com Steve, uma das únicas pessoas na escola a me chamar assim. Estávamos no meio do corredor principal, sempre abarrotado de alunos atrasados para suas respectivas aulas. Ele carregava uma bola de futebol americano na mão e, na outra, o caderno surrado que usava para (não) copiar todas as aulas. Parecia genuinamente preocupado e eu estava genuinamente surpresa por aquilo.
- É que você esteve estranha nos últimos dois almoços - ele continuou, ao perceber que eu estava confusa.
Minha história com Steve era complicada; pelo menos na minha cabeça. Ele era um amor; provavelmente um dos caras mais doces de toda St. Margaret, e sempre me tratava como uma irmã mais nova. Uma irmã de consideração, sem qualquer laço de sangue e que ele bem que gostaria de pegar algum dia, mas ainda assim, uma "irmã". Mas ele era quase doce demais. Todas as vezes que tentamos manter alguma conversa, ele dissera algo tão estúpido que nem os meus ouvidos já acostumados a ouvir os absurdos que a alta nobreza da St. Margaret conseguiram aguentar, ou passara o tempo todo se gabando de feitos atléticos para os quais eu não poderia ligar menos. Steve havia me mostrado, diversas vezes, que não tinha conteúdo. E eu nem exigia tanto conteúdo assim! Eu passava todo meu tempo livre maratonando The Bachelor ou Jersey Shore; eu era a última pessoa que poderia ser tão meticulosa no que se refere a conteúdo.
Apesar disso, era o único que havia percebido que existia algo de errado, além de Cassie. Ou o único que tinha se importado com o fato de existir algo de errado; eu já nem sabia se havia alguma diferença entre os dois.
- Acho que só não estou dormindo bem - dei um sorriso amarelo. Estávamos andando lado a lado, mas eu não fazia ideia se estava indo para algum lugar.
- Sabia que eu tenho uma técnica muito boa para esses dias que não consigo dormir porque passei o dia inteiro jogando jogos de tiro e tenho treino no outro dia?
- E qual seria?
Ele se colocou na minha frente, endireitando a coluna e cobrindo um punho fechado com a outra mão, numa tentativa de parecer professoral. Ri, porque nada naquilo combinava com ele.
- Eu não lembro o nome dela, mas é mais ou menos assim: primeiro, você tem que jogar fora todo o ar do seu pulmão - ele exalou profundamente, com os olhos fechados, em demonstração à medida em que falava. Céus, como ele era bonito!
Agora feche os lábios e inspire por 4 segundos. E então é a hora de segurar o ar por 7 segundos! - aqueles foram provavelmente os 7 segundos mais constrangedores da minha vida inteira. Steve me encarava, concentrado em sua tarefa, a caixa torácica expandida e um silêncio esquisito entre nós. Agradeci a todos os deuses quando ele finalmente deixou o ar sair pela boca em uma explosão - E aí você deveria soltar o ar assim por mais 8 segundos. Faça isso 4 vezes e você vai dormir como um anjo, Effy. Promessa de Steve Reynolds.
Não consegui não rir.
- AH! Lembrei! O nome da técnica é 4-7-8. Porque você inspira por 4 segundos, segura por 7 e-
- Eu já entendi, Steve - o interrompi, ainda rindo - Obrigada, juro que vou colocar em prática hoje mesmo.
- E eu juro que vou cobrar.
De súbito, lembrei da minha missão. A aula desengonçada de Steve havia me dado um novo sopro de energia e aquela era a oportunidade perfeita para retomar meu plano e finalmente concentrar-me nele.
- Ei, Liz, o que você acha de patinar hoje depois da aula?
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Hellooooooooo! Hoje o capítulo chegou cedinho, enquanto minha aula não começa haha
Nesse e no próximo capítulo conheceremos um pouco mais o Steve!!!
Espero que estejam gostando de PMN tanto quanto estou gostando de escrever/postar. Pela milésima vez, obrigada pelo carinho, votos, comentários e tudo mais <3
Até o próximo capítulo!
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