IV. Você pode ser meu namorado

O Pretty Ugly era o bar que todos os alunos da St. Margaret's e outras escolas das redondezas frequentavam. Independente do dia da semana, uma coisa era certa: o Pretty Ugly estaria lotado de estudantes ricos e inconsequentes fazendo baderna. Aquele era o paraíso do adolescente: eles fingiam acreditar em todas as identidades falsas apresentadas, mesmo as mais absurdas. Por conta de sua freguesia de pouca idade, raramente via-se alguém com mais de 25 anos lá, além dos rostos já conhecidos de predadores de adolescentes repulsivos. Já conhecíamos cada um deles, e o único momento em que as escolas se uniam por livre e espontânea vontade era para escorraçá-los caso tentassem se aproximar de alguma garota menor de idade.

O bar fazia juz ao nome: toda a sua atmosfera girava em torno do feio; paredes verde-limão com desenhos de monstros grotescos em situações no mínimo esquisitas que brilham na luz negra, poltronas neon com formatos que ninguém conseguiria imaginar que uma poltrona poderia ter e funcionários vestidos da forma mais cafona possível. O feio, quando proposital, é bonito.

Naquela segunda-feira em especial, eram os alunos da St. Margaret's que lotavam o local. Aparentemente, haviam ganhado algum jogo de futebol contra uma escola que sempre fora uma de suas maiores rivais. Ou de basquete. Ou de uma equipe de natação. Eu realmente não ligava muito para esportes, e geralmente só me preocupava se o colégio vencia as competições ou não porque queria saber se haveria festa depois. O time de futebol-basquete-natação-atletismo subia agora no palco para fazer algum discurso bobo.

Eu não ouvia, porém, porque minha cabeça ainda estava focada no livro que mamãe encontrara no meu quarto pouco tempo atrás e minha boca, em terminar aquela bebida. Era o mesmo livro que Matteo lia na biblioteca. Estava com medo de que aquilo significasse que ele era meu namorado secreto, porque não gostara nem um pouco de nossa breve interação pela manhã e porque, para ser honesta, eu não queria que minha busca terminasse assim. Eu estava amando cada segundo de confabulação e não estava preparada para que o mistério se solucionasse tão rápido e sem emoções. Tinha que haver outra explicação.

- Você poderia prestar mais atenção no discurso dos Raptors, por favor? - alguém sussurrou em meu ouvido.

Mal virei para ver quem era e percebi que era Christofer, que aproveitou a situação para beijar minha bochecha. Eu devo ter ficado com aquela cara de boba que fico toda vez que o vejo, porque ele se desatou a rir sem motivo algum. Eu amava a risada de Christofer. Para falar a verdade, eu amava tudo nele, e amava principalmente o fato de que tudo nele parecia fácil, sem esforço, fluido. Chris fazia o que queria, na hora que queria.

- Chris! Eu tenho uma pergunta muito importante pra te fazer! - agarrei suas mãos, colocando todo o meu peso sobre os seus pulsos e quase caí em cima dele.

- Ei, pera lá! Você bebeu? - ele tentou me colocar perpendicular ao chão novamente.

- Um pouquinho quando eu cheguei, sim.

- Cadê a Cassie?

Dei de ombros. Christofer estava especialmente bonito naquele dia. A barba por fazer lhe dava um ar de mais velho, assim como o cabelo bagunçado que ele estava deixando crescer há um tempo e que faziam seus olhos parecer ainda menores. Havia mais ângulos retos em seu rosto do que nas provas de trigonometria.

- É até estranho te ver sem ela.

- Você quer saber qual é a pergunta muito importante ou não?

- Não. Mas pode dizer, se quiser.

Ele era muito disperso. Estava constantemente olhando para todos os lados, mudando de posição, pensando em algo novo para fazer. Christofer era maravilhoso, mas não conseguia imaginá-lo namorando com ninguém, nem mesmo comigo.

- Você já leu O Capote?

Ele me olhou, pela primeira vez na noite me olhou de verdade, com um início de sorriso no rosto.

- Já, há alguns anos. Ótimo livro. Por que você tá perguntando isso, Liz? Colocaram alguma coisa na sua bebida?

Fogos de artifício na minha cabeça! Ainda havia esperança! Então, o livro não significava que Matteo era meu namorado. Poderia ter sido presente de Christofer, como amigo ou namorado, ou de qualquer outra pessoa que não me conhecesse tão bem a ponto de saber que eu nunca leria aquele livro, mesmo que fosse curto. Tentei convencer a mim mesma de que era loucura bater o martelo em Matteo por conta de uma prova tão fraca. A caça ainda estava de pé.

- Chris, eu quero que você vá a um lugar comigo amanhã!

- Para onde? Liz, você tá muito bêbada. Quer que eu te leve pra casa?

- Não sei, ainda vou pensar no lugar. E eu não tô bêbada, Chris, eu tô feliz! Estou feliz porque Matteo Caputo não é meu namorado.

Christofer gargalhou. Eu sabia que ele e Matteo haviam brigado assim que o mal educado havia chegado na escola, então aquilo deveria ser particularmente engraçado para ele.

- Também fico feliz que Matteo Caputo não é seu namorado.

- Você pode ser meu namorado, sabia?

Christofer não parava de rir.

- Pensei que já éramos namorados, Liz.

Arregalei os olhos e abri a boca em surpresa. Então Christofer Keegan é meu namorado misterioso?

- Meu deus! Você é o meu namorado?

- Do que você tá falando, Liz? Eu adoraria. Quer namorar comigo?

Joguei meus braços ao redor dele. Eu não reclamaria se começássemos um relacionamento ali mesmo. Eu poderia até esquecer que tinha esquecido meu namorado e fingir que tinha sido ele o tempo todo. Substituiria todas as memórias com o vulto pelo garoto que agora me abraçava, e teríamos lindos filhos. Mas, mesmo bêbada, eu sabia que ele estava brincando. 

- Eu adoraria ser sua namorada.

Então algo esquisito aconteceu. Christofer e eu estávamos nos encarando intensamente, os dois levemente alcoolizados e embalados por alguma música romântica genérica que tocava como plano de fundo. Bastava um de nós tomar a iniciativa. Bastava um movimento mínimo para deixar queimar aquilo que estava dentro de nós lutando para se libertar.

Mas eu não pude. 

Ainda que estivesse, tecnicamente, solteira, sentia que devia alguma fidelidade ao estranho que existia apenas em minha cabeça. Mesmo que esse estranho acabasse por ser Christofer. Ainda estava em um relacionamento, afinal de contas, mesmo que resto do mundo mundo me dissesse que não. De repente senti vergonha do que estivera prestes a fazer, um segundo atrás. Uma culpa que eu não sabia direito de onde vinha começou a surgir em meu peito, e se exacerbou quando percebi que Christofer estava se inclinando em minha direção, tomando conta de praticamente todo o meu ser. 

- Quero que você me leve pra casa. Estou bêbada.

Ele parou o movimento que estava prestes a fazer e repousou sua testa na minha por alguns instantes. A frustração era visível. Me senti culpada por ter instigado aquilo.

- Tudo bem.

Ele tirou as mãos da minha cintura.

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CAPÍTULO NA SEXTA? COMASSIM???

Então, pessoal, decidi que de vez em quando postarei 2 capítulos na semana!!!! o/ A postagem de quarta continua sendo o dia fixo.

O que acharam do Christofer?

Estou enlouquecendo pq minhas aulas começaram e mal tenho tempo pra escrever ou divulgar a história, mas graças aos céus já tenho muitos capítulos guardadinhos aqui.

Até o próximo capítulo!!! Obrigada de novo por estarem lendo Procura-se Meu Namorado <3

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