O início

Olá, olá, gente linda. Como estão? Espero que gostem dessa fanfic tanto quanto eu gostei de escrevê-la. É bem dramática, admito, mas um draminha sempre cai bem, não é mesmo? Beijinhos de luz e até mais tarde♡♡♡



Em quase duzentos anos de história, a Costa Jeon nunca havia presenciado um inverno tão severo quanto aquele. A ordem real fora clara: Não serão permitidas circulações comerciais. Quem for pego terá a mercadoria confiscada e devolvida apenas após o encerramento da temporada de geada. 

Mesmo que irritados com a situação de enclausuramento, o povo não contestou. Sabiam que era apenas uma medida que evitaria tragédias futuras ou catástrofes maiores. Confiavam no poder de decisão de rei Jeon. Era um homem sábio e nunca colocou riquezas acima da saúde.

Jeon Jungkook, como filho mais velho dos reis e, consequentemente, herdeiro do trono, deveria ser o primeiro a acatar esse comunicado, entretanto, indo contra o alerta dos pais, dos criados e do irmão mais novo, decidiu que aquela era uma manhã perfeita para treino de espada. Vestindo apenas o uniforme de treino e o cinto com a espada, numa temperatura de cinco graus negativos e com garoa, desceu as escadas rapidamente, temendo ser parado por alguém.

— Onde pensa que vai, garoto? —  Jungkook parou já na metade da escada, ao ouvir a voz do pai. — Espero que não esteja indo treinar.

— Bom, eu... — Virou, vendo o pai ainda de pijama e encarando-o com o semblante fechado.

— Fui bastante claro ontem durante o jantar, meu filho. Nada de treino na arena até que o tempo fique mais ameno. Quer morrer congelado, por acaso? — Jungkook balançou a cabeça em negação, subindo lentamente a escada. — O que você estava pensando indo para lá? Mal conseguiria segurar a espada!

— Achei que seria bom para treinar resistência em baixas temperaturas.

— Sua vontade é encorajadora, meu filho. Mas eu prezo mais pela sua saúde e vida do que para experiência em campo de batalha.  — Haeil aproximou-se do filho, segurando-o pelo ombro. — Não se esqueça que ainda tem os deveres internos.

— Sim, pai. — Sorriu, ainda que estivesse um pouco chateado. Não estava acostumado a ficar parado. Mesmo com as tarefas internas sentia-se inútil. — Para hoje são apenas revisões sobre geografia local e realocação dos detentos, correto?

— Correto. Não se esqueça de sentenciar as punições aos crimes de maior grau. Inverno nenhum deixará um criminoso impune.

— Sim, senhor. Farei meu melhor. — Fez uma pequena reverência em sinal de respeito.

— Sei que irá. Você e seu irmão são nossos orgulhos. — Sorriu alegremente, dando tapinhas carinhosos no ombro do filho. — Agora vá logo trocar de roupa, se sua mãe aparecer aqui e vir você trajado assim, não terei como defendê-lo.

[...]

As roupas rasgadas e mal cheirosas não protegiam o garoto do terrível frio. Mesmo que os guardas tivessem distribuído alguns cobertores antes dos detentos serem levados para a prisão interna, não era suficiente.

— Nós vamos congelar e eles ao menos ligam! O que pensam que somos? — Sungsoo reclamou, remexendo-se no pequeno pedaço de pano que cobria o chão.

— Eles terem importado-se conosco em um momento como esse já foi um grande ato — Chunghwa rebateu, mesmo que estivesse com tanto frio quanto o estelionatário. — Diga-me um reino que iria pensar no mínimo conforto dos prisioneiros.

— Cale a boca, bruxa maldita!

— E lá vamos nós novamente. — Goeun cutucou levemente Jimin, acordando-o do torpor do frio. — Lá vai Sungsoo com a história da maldição.

— Esse cara não presta, nem vale a pena ouvir o que ele fala. — Jimin riu, alternando o olhar entre os dois.

Enquanto Sungsoo gritava asneiras ao vento, falando sobre como os reis são egoístas e facilmente influenciados por crenças idiotas e pragas que a maldita bruxa havia trazido para a Costa. Goeun permanecia quieta, ao menos ouvindo o que ele falava. Seria engraçado se a situação deles não fosse tão precária. Ainda com a mudança da prisão comum para a interna, que ficava no calabouço central, o frio permanecia intenso. Os poucos cobertores dados pelos guardas serviam apenas como enfeite, não aqueciam de maneira alguma, e olha que eles tentaram até mesmo se amontoar para o "calor humano" ajudar na tarefa de não sofrer com o frio, mas foi inútil, além de estressante por ter alguém com o gênio tão estourado quanto Ji Sungsoo.

— Sr. Jimin. — Park ouviu a voz baixinha de Eunsook, perdendo totalmente o foco do monólogo de ódio do companheiro de cela.

— Diga, querida. — Sorriu ternamente, tentando passar um pouco de conforto para a criança. Ainda não entendia como conseguiram prender um ser tão adorável.

— Você acha que vamos passar muito tempo aqui, ainda? — A garotinha aproximou-se de Park e Goeun, sentando entre os dois e sendo acolhida com carinho.

— Não sei, querida. — Respirou fundo, sentindo uma tontura leve. Talvez fosse fome ou frio, ou ambos. — O Príncipe ordenou que fossemos trazidos para cá rapidamente por causa do frio. Mas não sei se ele está ciente das condições precárias da caldeira. Então é bem provável que ele sequer saiba do nosso aperto, entende?

— Acho difícil ele não saber o que se passa no próprio castelo. Talvez seja apenas uma punição — Goeun opinou, dando de ombros em seguida. Não tinha como saberem o que acontecia acima. Onde lareiras de mármore davam conta do frio e banhos quentes eram preparados pelo menos três vezes ao dia.

Park estava prestes a concordar com a colega, mas o som característico de metal contra metal que a chave fazia ao entrar em contato com a fechadura, chamou a atenção de todos.

— Chegou a hora do julgamento.

[...]

A sala de assuntos reais estava equipada e preparada para receber os prisioneiros. Diferente da sala de recepção, que era luxuosa, cheia de candelabros, tapetes e quadros, além das cadeiras reais — a de assuntos reais era simples, tinha apenas uma cadeira que, mesmo parecendo grandiosa, não chegava perto da pompa presente na destinada a fins nobres —, e um grande tapete com o brasão da família Jeon.

— Majestade. — Um dos guardas aproximou-se, ajoelhando-se antes de continuar. — Os prisioneiros já foram convocados, chegarão em poucos minutos.

Jungkook esperou pouco tempo antes de ter os pensamentos interrompidos novamente, dessa vez por uma breve batida na porta. Assim que a permissão foi concedida, a passagem foi aberta, revelando um grupo com cinco pessoas, dentre elas uma criança tão maltrapilha que Jeon chegou a sentir pena. As algemas faziam um barulho irritante, mas suportável.

Os guardas responsáveis deixaram os detentos próximos ao meio do salão, ordenando que ajoelhassem um ao lado do outro, formando uma espécie de fila.

— Ji Sungsoo, apresente-se — ordenou, a voz soando firme, ainda que melodiosa.

O homem, já não mais tão novo, levantou-se com um pouco de dificuldade, não conseguindo utilizar as mãos algemadas como apoio. Avançou o tanto que achou suficiente, sendo segurado por um dos guardas ao tentar ajoelhar novamente e quase cair. Assim que assegurou-se que o prisioneiro não iria mais se desequilibrar, voltou para a posição inicial, postura ereta e olhos fixos no detento.

— Ji Sungsoo, 33 anos, acusado de estelionato contra uma jovem, duas idosas, dois jovens e um idoso. — Jungkook arqueou uma das sobrancelhas, assobiando baixinho ao ver a ficha do criminoso. — Tem algo a dizer em sua defesa ou a acrescentar?

— Não sei o que eu fiz de tão errado, majestade. — Ameaçou levantar, mas foi contido pelo guarda. — Pense comigo, nada disso é o que realmente parece. Eu estava apenas sendo pago para dar carinho.

— Entendo. — Viu Sungsoo sorrir vitorioso. — Então as pessoas com as quais você se relacionou estavam cientes de seu negócio, eu presumo. — Ji desmanchou o sorriso, olhando para os lados e tentando formular uma resposta adequada. — Seu silêncio já responde minha questão, Sr. Ji.

— Majestade, não me entenda mal. É apenas um...

— Não ouse dizer uma única palavra, Ji Sungsoo. Você roubou descaradamente até o último centavo de seis pessoas carentes. Isso é traiçoeiro e torna-se ainda pior por você ao menos admitir seu erro.

— Se eu admitir meu erro você reduzirá minha pena, majestade? — Jungkook viu os olhos do sujeito brilharem. Era impressionante quão baixo aquele ser humano, se é que poderia ser chamado assim, conseguia ser.

— Não — foi curto, fuzilando Sungsoo com um olhar penetrante. — Passará o restante de seus dias na prisão, com pessoas tão corruptas e sujas quanto você.

— O quê?! Você não pode fazer isso comigo, majestade!

— Sim, eu posso. — Sorriu com escárnio. — Guardas, levem-no daqui.

Sungsoo tentou levantar-se e correr, mas foi rapidamente detido por dois guardas e escoltado para fora da sala. Assim que tudo acalmou-se e os gritos desesperados do estelionatário ficaram mais baixos, Jeon deu continuidade ao processo.

— Geum Chunhwa, apresente-se. — A jovem levantou graciosamente, ajoelhando-se um pouco mais próxima. — Geum Chunhwa, 22 anos, acusada de bruxaria. Tem algo a dizer sobre a acusação?

— Eu não sou bruxa, Majestade. — Jungkook balançou a cabeça, pedindo silenciosamente que ela continuasse o discurso. — A filha da minha irmã estava com uma grave infecção por conta de um corte mal limpo. Tudo o que eu fiz foi uma mistura de ervas que aprendi em uma de minhas viagens. No dia seguinte, com a recuperação da minha sobrinha, fui surpreendida por guardas reais sob acusação de bruxaria.

— Por acaso você está falando da mistura medicinal Três Ervas? — Jungkook ajeitou-se rapidamente na cadeira, olhando atentamente para a bela mulher.

— Sim, essa mesma. Aprendi na ilha de Choi, foi uma experiência incrível, nunca pensei que resultaria em minha prisão. — Jungkook sorriu de modo compreensivo. Aquela mulher definitivamente não era uma bruxa. E mesmo se fosse, não causaria mal a ninguém.

— Você está liberada. — Chamou um dos guardas com um aceno. — Você será escoltada até sua residência. Mandarei um aviso para que seus vizinhos sejam informados sobre sua inocência.

— Obrigada, Majestade. Muito obrigada. — Reverenciou-o inúmeras vezes, sendo levada na direção oposta a de seu antigo colega de cela.

— Chae Eunsook, apresente-se. — Jungkook olhou atentamente enquanto a criança levantava com as pequenas mãos amarradas por uma corda, por falta de algemas pequenas. — Chae Eunsook, 7 anos, acusada de roubar pães e sementes da feira. Tem algo a dizer sobre isso? — Jeon segurou-se para não tratar a criança com mais compaixão do que deveria. Mesmo que ela não recebesse tratamento severo como os adultos, ainda não poderia ser muito leve.

— Eu realmente roubei, Majestade. Não posso mentir e dizer que não fiz isso. — Jungkook sorriu, encantado com a sinceridade ingênua da garotinha. — Mas só roubei porque eu, meus irmãos e papai estávamos morrendo de fome. Papai se machucou enquanto trabalhava na construção de uma casa da vizinhança, como ele não está conseguindo trabalhar não tínhamos mais dinheiros para comida. Eu pedi ajuda para os vizinhos, mas eles falaram que ajudar pai solteiro dá azar. — Jungkook engoliu em seco. A situação toda era delicada. — Eu não tenho culpa da minha mãe ter morrido quando meu irmãozinho nasceu. Nenhum de nós tem, Majestade.

— Eu entendo sua situação. Mas roubo continua sendo uma coisa muito feia. Você entende isso?

— Sim, eu entendo. — Abaixou a cabeça, envergonhada de seus atos passados. — Majestade, posso pedir uma coisa? —  Jungkook balançou brevemente a cabeça, dando permissão. — Se eu for presa, você pode mandar comida para a minha casa? Meus irmãos não vão conseguir o que comer, mas se você der arroz e pão eles vão saber preparar. Eu ensinei antes de ir roubar pão.

— Você não será presa, Eunsook. — A menina arregalou os olhos, espantada.

— Não?

— Não. — Sorriu para ela. Chae tentou retribuir, mas estava tão surpresa que o sorriso pareceu mais uma pequena careta. — Mandarei você novamente para sua casa, um de meus homens irá te acompanhar. Apenas me responda uma coisa. O que aconteceu com os pães e sementes que roubou?

— O senhor da barraca pegou de volta.

— Entendi. — Balançou a cabeça novamente, um pouco pensativo sobre como ajudar a pequena e, ao mesmo tempo, ser justo. — Façamos da seguinte maneira. Como você roubou por uma boa causa, não irei prendê-la, entretanto, roubo é roubo e é importante você saber que para cada ação existem consequências. — Eunsook concordou expressivamente, atenta a cada palavra do príncipe. — Você voltará para casa, cuidarei para que o assunto do roubo seja devidamente explicado ao vendedor. Também irei dar cestas básicas para sua família até que seu pai melhore. Sobre sua punição, quero que faça pequenos trabalho nos jardins do castelo, assim pagará pelas cestas básicas e pelo crime bem intencionado. O que acha?

— Muito obrigada, Majestade! Você é muito bondoso! Vou fazer o meu melhor no jardim, você vai ver. Suas plantas ficarão lindas! — A animação foi tanta que ela não conseguiu conter-se, correndo até o príncipe e abraçando-o desengonçadamente, visto que ele permanecia sentado.

Mesmo que surpreso com o gesto, não conseguiu recusar, abraçando a pequena com o mesmo carinho. Assim que ela o soltou e agradeceu pelo "presente" foi escoltada para fora da sala, indo na mesma direção que Chunhwa.

— Park Jimin e Do Goeun, aproximem-se. — Os dois restantes levantaram-se com mais dificuldade que os outros, parecendo ainda mais fracos. Jungkook atentou-se aos detalhes. Extremamente magros, peles secas, lábios rachados e feridos, roupas puídas e fraqueza aparente, listou mentalmente, enquanto os analisava. —  Park Jimin, 18 anos, resgatado do mercado clandestino de escravos. Do Goeun, 16 anos, também resgatada do mercado clandestino de escravos. — Jungkook terminou de ler a ficha e olhou para cada um dos guardas com fúria evidente. — Quero saber imediatamente quem foi que conduziu esta operação.

— Foi o chefe de segurança, senhor. Ele recebeu informações sobre um mercado clandestino e organizou a operação. — Um dos guardas manifestou-se, mantendo-se em sua posição próxima aos dois detentos. — Ele ordenou que prendessemos todos, esse dois foram os únicos que não conseguiram escapar.

— Mas é claro que não conseguiram! — exclamou, exaltado demais para conter os ânimos. — Olhe o estado em que estão! Mal conseguiram levantar do chão sem cambalear. — O guarda abaixou a cabeça, recebendo o sermão sem discutir ou justificar-se. — Eles foram vítimas! Ninguém se voluntaria a ser escravo em um mercado clandestino. Quero falar com o chefe de segurança assim que finalizar este assunto, fui claro?

— Sim, Majestade. Mandarei o aviso. — Fez uma reverência completa.

— Park Jimin e Do Goeun, peço desculpas em nome do reino Jeon. Como posso ajudá-los? Vocês desejam voltar para suas famílias?

— Eu não tenho família, Majestade. Meus pais faleceram num surto de gripe que atingiu a aldeia onde morava. Como não existiam parentes conhecidos acabei por ser adotada por um casal que me vendeu para ganhar dinheiro. Fui passando de mercado em mercado desde então. — Desviou o olhar para Jimin, vendo que o companheiro de aventuras tentava passar o máximo de confiança possível. — Não quero que me entenda mal, Majestade. Mas eu não tenho para onde ir.

— Entendo. — Respirou fundo. — E quanto a você, Sr. Park. Você possui família?

— Sim, mas se me mandar de volta para ela, serei morto.

— Pode me explicar a situação?

— Eles me venderam para sanar uma dívida — foi sucinto, não prolongando muito o assunto. — Se você me mandar de volta, vão me matar.

— Visto a situação delicada de ambos, tenho duas sugestões. Vocês podem partir com uma boa quantia de dinheiro para começar a vida em um lugar distante ou permanecerem aqui no castelo com trabalhos fixos, remunerados e segurança. — Alternou o olhar entre os jovens. — E então, qual será a escolha de vocês?

Jimin e Goeun trocaram olhares cúmplices. Já haviam passado por muita coisa juntos. Aquele não era o primeiro mercado clandestino que os vendia e, não acharam que seria o último. Com um aceno de cada lado e os pensamentos sintonizados eles decidiram, sendo Goeun a porta voz.

— Gostaríamos de servir no castelo, Majestade. Seria uma honra. — Reverenciou, sendo acompanhada por Jimin.

— Assim seja, então. Declaro que a partir de hoje, Park Jimin e Do Goeun fazem parte dos criados reais. Decidiremos suas funções ao amanhecer. Por hoje, apenas tomem um banho quente, comam e descansem.

Jimin e Goeun foram levados para a ala dos criados enquanto Jungkook permanecia sentado, pensativo sobre como algo do tipo pôde acontecer debaixo do próprio nariz.

— Guarda Baek — chamou o oficial que prontamente caminhou até o monarca. — Convoque o Chefe de segurança para uma reunião urgentemente. Diga que precisamos tratar sobre a conduta dele na última operação.


Antes de qualquer coisa, vamos enaltecer o trabalho maravilhoso de betagem feito por @KetyKetlen, isso sem falar nesse espetáculo de capa que a @hotk fez. Muito obrigada por todo o trabalho, meninas, ficou maravilhoso.
Espero que tenham gostado desse primeiro capítulo.
Nos vemos em breve.
Beijinhos de luz e até a próxima♡♡♡

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