Prologo (2º parte)

Anos depois...

Os sons que saem pela sua garganta são roucos, é difícil puxar ar para os pulmões depois de correr tanto. Ela tenta se manter em silêncio, mas os seus pés cansados já não sabem o que é alívio, apenas sentem dor, e o som que fazem é o mínimo das suas preocupações. Ela quer gritar e, ocasionalmente, o seu nome sai pela sua boca, num som esganiçado, como um animal ferido, implorando por vida.

Ela não sabe há quanto tempo está correndo, só sabe que não pode parar, porque ele também não para. Mesmo sendo maior que ela, mais pesado, mais ágil, e com uma arma na mão, ainda consegue ser mais rápido. Ela sente-o cada vez mais perto. E sabe que ele vai chegar a ela, eventualmente. Ele não parece se cansar, enquanto que ela já está dando os seus últimos passos.

Ela desvia-se das campas e vai pedindo desculpa silenciosamente ás que chuta e pisa, faz um esforço para não correr em linha reta para evitar que, se ele tiver a ideia de começar a atirar, ela não seja um alvo fácil.

Ália pergunta-se como chegou a este ponto, ela sabe que foi a causa de todas estas mudanças que a trouxeram aqui. Correndo no meio de um cemitério, de pés sangrentos, corpo suado e pulmões queimados, fugindo dele. Ela sabe que não estaria nesta situação se estivesse quieta na sua terra natal, onde ela está agora. Se ela não tivesse errado não estaria correndo pela sua sobrevivência. Foram os seus erros que a trouxeram aqui.

Triste destino.

As lágrimas correm-lhe pelas bochechas, dificultando-lhe a sua visão. Gemidos de dor saem sem permissão, ela já não os controla. Está exausta, pronta para desistir e encarar o seu destino. 

Ele está demasiado perto, e ela demasiado cansada.

Ela cai, tropeçando numa das lápides que a escuridão escondeu. De pernas trémulas consegue levantar-se, e com muita dificuldade volta a correr.

Ele grita o seu nome, uma e outra vez. O som da sua voz chega-lhe aos ouvidos e desliga o seu corpo por completo. Ela para, e espera por ele. Como se dele tivesse vindo uma ordem que ela não pudesse recusar.

Pela última vez ela reza, olha para os céus negros e pede calmamente para que a leve para quando ela agiu e estragou a sua vida para sempre. Secretamente, pede também para que o seu salvador apareça, mesmo que ela saiba que ele nunca chegaria a ela a tempo. Num entanto pede para, apenas se Deus quiser, lhe mandar um milagre, não que ela sinta que mereça, mas não custa pedir.

Quando a primeira gota de água cai na sua testa, ela sorri, porque mesmo que saiba que não tem saída ou possibilidade de salvamento é como se o universo tivesse respondido dando-lhe um beijo de boas vindas, prometendo a receber com amor e carinho. Ela está pronta, sente-se preparada. Ela aceita que tudo aconteceu por um motivo, e esta é a sua maneira de ir.

Ela só espera que seja rápido.

Ele chega, por entre umas árvores, respirando com dificuldade, mas com um olhar determinado, mentalizado que só pararia quando a encontrasse. Ela a vê parada e a inspeciona com os olhos antes de lhe apontar a arma ao peito. O corpo da arma prateada brilha mais do que tudo à sua volta, é como um encantamento, como se ela soubesse que é aquela arma que a vai levar para os céus.

Ele fala alguma coisa, talvez tentando a deitar ainda mais abaixo. Ele quer fazê-la sentir como se ela fosse um bicho insignificante, quase não merecedora da bala que ele tenciona atirar nela. A garota não se deixa levar pelas suas palavras horríveis, ela já não ouve, apenas espera pela sua hora, pelo momento em que aquele gatilho é apertado.

E finalmente acontece.

No momento em que a bala atinge a sua pele, o seu corpo é projetado para trás, e apanhado por anjos. Ela sente dor, mas apenas no início, a cada momento que passa sente a sua alma partindo e voando para longe.

Ela está livre agora. Pode se deixar ir, enquanto é embalada pelos braços angelicais e fortes.

A sua última recordação é o verde dos seus olhos, aquela cor tão brilhante que quase a faz querer desejar voltar à Terra. 

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