Capítulo 6
Mal tinha chegado ao meu quarto quando ouvi uma batina na porta. Caminhei a abrindo e vi minha mãe parada ao lado de fora, com um sorriso calmo no rosto.
— Entre. — Convidei lhe dando espaço.
A rainha entrou no quarto e sentou na beirada da cama. Indicou com a mão o lugar ao seu lado e rapidamente sentei ali. Ela me olhava carinhosamente e suspirei baixo sabendo que se preocupava comigo, era mais do que visível.
— Você foi ótimo essa noite. Estou muito orgulhosa. — Confessou me fazendo sorrir — Meu menino está se tornando um grande homem.
— Mãe... — Revirei os olhos dando uma risada baixa.
— Você será um rei tão bom e justo quanto seu pai. — Afirmou e me inclinei beijando sua testa.
— É o que mais quero. — Confessei.
— Você vai conseguir querido. — Afirmou sorrindo.
— Eu amo a senhora. — Declarei.
— Eu também amo você filho. — Beijou minha bochecha.
Conversamos mais um pouco e depois nos despedimos. Minha mãe voltou para seu quarto e aproveitei para tomar um banho relaxante. Não que já não estivesse bem relaxado, pelo menos depois desse restinho de noite. Meu beijo com Mabel vinha a mente a todo o momento. A macies dos seus lábios e o sabor doce. Com certeza o melhor beijo que já havia experimentado.
Sim, já beijei antes, como era de se esperar. Foi na adolescência, um namorico que tive com a princesa de uma província perto da nossa. Bianca. Não tinha sido nada sério e oficial, nós estávamos apenas descobrindo esse mundo amoroso juntos. Fomos primeiros namoradinhos um do outro.
Sai do banheiro indo até o closet. Vesti o calção do pijama e sequei meu cabelo, pelo menos o máximo que conseguia. Deixei a toalha no banheiro e voltei ao quarto. Deitei me cobrindo com o lençol fino e desliguei o abajur. Fechei os olhos e respirei fundo algumas vezes.
Imediatamente os olhos cor de mel mais bonitos que conhecia vieram à minha mente. Um sorriso bobo surgiu em meu rosto no mesmo instante. Provavelmente adormeci assim, já que essa é a única coisa de que lembro.
***
Tinha acordado extremamente cedo. Tomei banho e me arrumei, esperando a hora em que seria o café da manhã. Enquanto isso aproveitei para ficar no sofá da varanda.
O dia estava começando a amanhecer e conseguia ver o sol surgindo no horizonte à frente. Suspirei baixo e fechei os olhos aproveitando a brisa leve que mexia meus cabelos. Minha mente imediatamente viajando para a noite de ontem, depois da eliminação, mais especificamente para a parte em que meus lábios estavam junto aos de Mabel.
Não sabia dizer se havia sido precipitado ou não. Bom, minha mãe dizia para que seguisse meu coração e instintos. Ela costumava falar que quando seguimos o coração não costumamos nos arrepender. Tinha seguido o meu ontem. Algo sempre me puxava a Mabel, meus pensamentos eram constantemente levados a ela.
Suspirei baixo novamente e levantei voltando ao quarto. Olhei as horas no relógio em meu pulso e percebi que já deviam estar colocando a mesa do café.
Com calma sai do quarto e desci ao primeiro andar, passando por algumas criadas que faziam reverência a mim, que devolvia um pequeno aceno de cabeça.
— Lorenzo. — Ouvi alguém chamar e vi Jason vindo em minha direção.
— Como vai? — Bati em seu ombro em sinal de camaradagem.
— Estava avisando um dos guardas que mais tarde faremos nossa reunião. — Explicou e assenti concordando.
— Sim. Já ia me esquecer. — Murmurei ouvindo sua risada baixa.
— Bom, você tem catorze coisas mais importantes para se preocupar. — Brincou.
— Idiota. — Desdenhei fazendo sua risada aumentar.
Entramos no salão e meus pais já estavam sentados à mesa. Eles conversavam baixo e sorriram assim que nos viram. Segui até minha mãe e beijei sua testa, apertando em seguida o ombro de meu pai.
Poucos minutos depois já ouvia as vozes baixas e o barulho dos saltos contra o piso. Logo as garotas entravam no salão acompanhadas de Verônica. Elas fizeram reverência a nós e se acomodam em seus lugares.
Assim tomamos nosso café com calma, apesar da tensão que sentia pairar no ar. As garotas me olhavam com certo receio. O que era de se esperar depois da noite de ontem. Jeniffer havia sido eliminada, o que tinha mexido com todas. Totalmente compreensível.
Vez ou outra eu olhava para Mabel, que tinha a atenção em sua amiga, Alisson. Elas faziam um comentário ou dois ouvindo a conversa baixa, quase sussurrada, das outras. Quando terminamos vi Verônica acenar a elas que rapidamente se levantam. Percorri os olhos por todas e pigarreei baixo.
— Senhorita Voltollini? — Chamei enquanto me levantava.
Vi a garota loira se virar sorrindo, na verdade, seu sorriso era bem grande e reprimi rolar os olhos com isso. Tão previsível.
— Sim. — Respondeu.
— Me daria à honra de sua companhia? — Sorri levemente.
— Ó... Claro. — Concordou visivelmente animada.
— Vamos garotas. — Verônica as chamou.
Todas prontamente a seguiram para fora do salão, enquanto Naomi vinha até mim e pegava em meu braço antes mesmo que eu o oferecesse. Só esperava não me arrepender disso. Sabia que teria que sair com as garotas, por isso mesmo a chamei para esse passeio matinal.
Saímos do salão e seguimos com calma pelos corredores do palácio. Na rápida olhada que havia dado em sua ficha vi que Naomi fez aulas de teatro e artes. Então pensei em leva-la até o salão onde estavam as pinturas reais, com todos os retratos.
— Não esperava por esse convite. — Naomi comentou quando já estávamos andando alguns minutos em silêncio.
— Bom, pretendo conhecer melhor as senhoritas até a próxima eliminação. — Expliquei a olhando de canto.
— Acredite, nem todas você irá querer conhecer... — Comentou revirando os olhos, me fazendo olha-la com um pouco mais de atenção.
Seu andar era confiante. Ela segurava meu braço com firmeza e seu olhar tinha algo mais. Com certeza Naomi tinha porte de uma dama. Podia sim ser considerado o de uma futura rainha, mas isso não bastava, pelo menos não para mim. Uma rainha não podia ser feita só de aparência, mas sim tinha que se portar bem em todos os sentidos, tanto por fora quanto por dentro. Seu coração deveria ser a parte mais bonita e não conseguia ver isso em Naomi.
Chegamos ao salão e abri a porta indicando para que ela passasse. Assim que entramos parei ao seu lado. Naomi olhava para as pinturas com atenção, como se realmente as avaliasse.
— Gosta? — Coloquei minhas mãos nos bolsos da calça.
Ali estava toda a história da minha família, contada em quadros. Desde o primeiro Thompson até meu pai e eu. Todos estávamos ali naquelas paredes.
— São bonitos. — Caminhou até perto de um deles e tocou a borda — Algum pintor famoso?
— Não todos. — Dei de ombros — Minha família gosta de reconhecer e apreciar o talento local, então muitos são de moradores da província. — Expliquei a olhando.
— Hm. — Murmurou, mas pude notar sua careta de desgosto ao saber disso.
Ela seria tão fútil a esse ponto? Como disse nós apreciávamos nosso povo e Naomi como candidata a futura rainha também deveria, pois eles eram o motivo de nós estarmos aqui. Não é porque morava em um palácio e tinha uma coroa que era melhor do que alguém. Apenas tenho mais responsabilidades e como tal devo cumpri-las.
Vi Naomi caminhar até um dos sofás que havia embaixo da enorme pintura de meu avô e sentar cruzando suas longas pernas. Não que isso me provocasse alguma reação, na verdade, ela não me provocava nenhuma reação, não havia aquele "Q" de algo mais.
Caminhei até Naomi e sentei ao seu lado, com algum espaço nos separando. Abri meu paletó e me virei um pouco em sua direção.
— Então, fale mais sobre você. — A incentivei.
Já que nós estávamos aqui, não custava nada completar minha tarefa. A próxima eliminação não demoraria muito e queria ter minha escolha pensada e decidida até lá. Vi um sorriso contente surgir em seu rosto e então ela começou a falar, devo dizer que muito, Naomi falou muito. Em certo momento me peguei pensando em como uma pessoa consegue passar tanto tempo falando só sobre si.
Quando já era quase hora do almoço, felizmente nós tivemos que voltar. Meus ouvidos já estavam cansados e estava com uma leve dor de cabeça. Naomi segurava meu braço enquanto andávamos até o salão das refeições.
— Vou resolver um assunto antes, mas foi um prazer ter sua companhia. — Sorri e beijei rapidamente sua mão.
— Estarei disponível sempre que quiser. — Afirmou e pude notar certo tom de malícia em sua voz.
Apenas assenti concordando e acompanhei com os olhos enquanto Naomi seguia com seus passos confiantes até o salão, me lançando uma última olhada antes de entrar. Assim que estava finalmente sozinho suspirei alto e passei a mão pelos cabelos.
Será que todas as outras seriam assim? Bem que dizem que aparências enganam, afinal foi eu quem separou a ficha de Naomi para junto das outras. O que belos olhos azuis não fazem.
— Filho? — Ouvi a voz de meu pai e o vi descendo a escada junto com minha mãe.
— Olá. — Cumprimentei sorrindo levemente — Estava com uma das garotas. — Expliquei.
— E pela sua cara... — Minha mãe comentou olhando-me avaliativa.
— Podia ter sido melhor. — Completei dando uma pequena risada.
— Calma filho, as coisas vão se ajeitando. — Tranquilizou me abraçando carinhosamente.
— Sim, eu sei. — Afirmei.
Na verdade, não sabia não, mas estava rezando para que fosse verdade mesmo. Se dependesse de mim as coisas terminariam bem, mas não dependiam e sim também de certa morena de olhos cor de mel.
Seguimos até o salão das refeições e assim que entramos as garotas levantaram fazendo reverência. Vi Naomi acenar, muito animada por sinal, e retribui com um pequeno aceno de cabeça. Ouvi um bufo baixo e ainda caminhando até meu lugar desviei os olhos para Mabel, percebendo que era ela quem o havia feito. Arqueei uma sobrancelha a ela, que apenas revirou os olhos e se virou para Alisson ao seu lado.
Sabia que ela não se dava bem com Naomi, era bem visível e Mabel não fazia questão nenhuma de esconder. Na verdade, ela era a pessoa mais transparente que já havia conhecido, não conseguia esconder seus pensamentos. Quando gostava de algo você sabia e quando não gostava você sabia também.
Nós almoçamos com calma e depois que tínhamos terminado a sobremesa Verônica saiu novamente com as garotas para alguma aula. Desta vez minha mãe as acompanhou, mas antes de sair ainda me olhou como quem diz: Vou fazer minha sondagem, você me conhece! Então deu uma pequena risada e se foi.
Já a minha tarde foi com meu pai e Jason. Nós estávamos reorganizando as rondas dos guardas do palácio. Meu pai achava importante mudarmos e revezarmos, isso fazia com que não se tornasse monótono para eles e todos criariam experiências em várias áreas diferentes.
Jason tinha a lista com os nomes dos guardas nas mãos. Ele lia seus nomes separando-os em grupos de quatro a cinco, dizendo em seguida qual seriam suas tarefas.
— É isso. — Suspirou alto.
— Vocês foram reorganizados. — Meu pai explicou olhando para cada um dos guardas — Conheçam seus novos companheiros e se organizem entre si.
Eles assentiram concordando enquanto meu pai sussurrava no meu ouvido que iria ao escritório terminar de algo, mas pedindo para que continuasse ali com Jason e finalizasse. Olhei no relógio de pulso e vi que já era tarde, quase hora do jantar.
Assim que todos os guardas já haviam saído, suspirei baixo e segui também para fora da sala de reuniões. Jason estava ao meu lado, falando algumas coisas sobre os guardas e sugerindo mudanças, na verdade, eu não ouvia muito, pois a única coisa que queria era um bom banho.
— Nos vemos no jantar. — Me despedi e subi até o quarto.
Assim que entrei sorri já imaginando a água morna. Tirei a roupa e segui até o banheiro. Entrei no box e liguei o chuveiro. Suspirei com a água escorrendo pelo meu corpo, aliviando os músculos meio tensos. Tomei banho sem pressa e fiquei mais alguns minutos ali, apenas aproveitando.
Quando terminei sai e me enxuguei, indo ao closet pegar um conjunto social. Me vesti e sequei os cabelos, penteando-os e arrumando o máximo que conseguia.
Sai do quarto e desci a escada, indo até o salão das refeições. O lugar ainda estava vazio, então apenas sentei e esperei ansioso. Minha barriga já roncando.
Alguns minutos depois meus pais entraram acompanhados de Jason. Minha mãe dava risada, provavelmente de alguma besteira dele e meu pai apenas negava com a cabeça, mas sorria. Eles mal haviam se acomodado em seus lugares e as garotas já entravam acompanhadas de Verônica. Todas fizeram reverência a nós e se sentaram, para o jantar enfim ser servido.
Quando tínhamos terminado e as garotas já se levantavam, notei meu pai se levantar também.
— Senhoritas, — Chamou a atenção e imediatamente todas o olharam — Sei que nunca falei diretamente com vocês, mas não se preocupem que não sou tão mal quanto imaginam. — Brincou certamente para aliviar o clima.
— Philliph. — Minha mãe repreendeu, fazendo-o sorrir mais e beijar o dorso da sua mão carinhosamente.
— Bom, gostaria apenas de avisa-las que antes da próxima eliminação no sábado, teremos um baile aqui no palácio em dois dias. — Avisou e lembrei imediatamente disso. Estava no calendário de eventos que nós havíamos montado á semanas — A família de cada uma de vocês será convidada. — Completou sorrindo para as garotas, que retribuíam realmente felizes com a notícia.
— O rei quer dizer que vocês têm dois dias para se preparar. A família de vocês será avisada, não se preocupem. Serão trazidas e depois levadas no final da noite em segurança. — Minha mãe explicou e todas concordaram ainda sorrindo — Boa noite. — Completou as dispensando.
Então junto de Verônica todas seguiram para fora, mas já cochichando entre si, visivelmente animadas.
— Você havia se esquecido. — Meu pai avisou enquanto sentava novamente.
— Desculpe. — Suspirei baixo olhando-o meio envergonhado.
Nós havíamos montado um calendário com algumas programações especificas para enquanto as convocadas estivessem entre nós, mas estava tão cheio de coisas na cabeça, que esqueci completamente.
— Não se preocupe filho, sua cabeça está cheia. — Minha mãe justificou.
— Mesmo assim... — Dei um pequeno sorriso, ainda me sentindo culpado.
— Bom, vou deitar e devia fazer o mesmo filho. — Meu pai avisou se levantando e estendendo a mão para minha mãe.
— Boa noite. — Me despedi e eles sorriram, seguindo para fora do salão.
— Preciso resolver um assunto antes de subir. — Jason comentou já também se levantando.
Levantei também e juntos saímos do salão. Nos despedimos perto da escada e ele seguiu seu caminho. Já eu só conseguia visualizar minha confortável cama.
— Príncipe. — Ouvi alguém chamar e virei encontrando a garota loira.
— Senhorita. — Cumprimentei.
Naomi estava parada perto da entrada do salão principal e podia jurar que ficou este tempo todo me esperando. Contive a vontade de fazer uma careta.
— Gostaria de agradecer pelo passeio de hoje. Sua companhia foi muito agradável. — Comentou caminhando em minha direção.
— Imagina. — Neguei.
— Me acompanha até o quarto? — Perguntou já segurando meu braço.
— Ah, claro. — Forcei um sorriso.
Começamos então a subir a escada. Graças a Deus em silêncio, pois não aguentava mais ouvir sua voz. Naomi não estava pensando que entraríamos em seu quarto, não é? Porque definitivamente não faria isso.
Nós já estávamos virando no corredor quando ouvi duas vozes meio altas. Franzi a testa reconhecendo uma delas, mas minha mente não teve tempo de processar a informação e já vi a cena logo a nossa frente.
Mabel estava quase deitada no chão. Quase porque o guarda, que reconheci imediatamente, a segurava com um dos braços enquanto tinha o outro apoiado na parede. Era uma cena no mínimo suspeita. Não que achasse que eles estivessem fazendo algo, porque pela posição seria impossível, mas ele estava com seus braços e mãos nela. Só isso já bastava para fazer aquela sensação estranha surgir novamente dentro de mim.
— Precisam de ajuda? — Chamei a atenção dos dois.
O guarda rapidamente se endireitou enquanto ajudava Mabel. Os dois se viraram e Mabel revessava o olhar entre eu e Naomi, que estava ainda ao meu lado com seu braço engatado no meu.
— Olá Mabel. — Naomi a cumprimentou quebrando o silêncio.
— Olá Naomi. — Mabel sorria — Não príncipe, Jerremy apenas veio fazer um favor e acabei me atrapalhando com os saltos. — Explicou corando levemente no final.
Assenti concordando e olhei novamente para o guarda. Jerremy, repeti o nome em minha cabeça, controlando para não fazer uma careta. Ele estava sério, ainda parado ao seu lado, mas agora a alguns passos de distância. Menos mal.
— Sempre prestativo não é guarda. — Comentei com o olhar ainda sério.
— Sim alteza. — Afirmou — Vou indo para minha ronda, a senhorita pode deixar que a carta será entregue, com licença. — Explicou fazendo a reverência antes de ir.
— E eu para o quarto, boa noite. — Mabel comentou fazendo também uma pequena reverência.
A acompanhei com os olhos e assim que passou ao meu lado, segurei sua mão e a levei aos lábios.
— Boa noite. — Encarei seus olhos e mexi os lábios, mas sem som algum — Seu quarto.
Vi que Mabel entendeu e então soltei sua mão. Ela seguiu pelo corredor e entrou em seu quarto. Senti um aperto em meu braço e lembrei que Naomi ainda estava ali perto.
— Bom, vamos lá. — A puxei levemente para que continuássemos ao nosso destino.
Assim que estávamos em frente à porta do quarto de Naomi ela a abriu e se virou.
— Boa noite senhorita. Tenha bons sonhos. — Sorri.
— Com certeza os terei... Boa noite. — Se inclinou e beijou minha bochecha, perigosamente perto da boca.
Ela entrou finalmente no quarto e fechou à porta. Imediatamente me virei e voltei pelo corredor com passos rápidos. Desci a escada e segui até o salão principal, saindo pelas portas laterais que davam ao jardim. Do lado de fora cumprimentei os guardas e fiz o mesmo caminho da noite passada.
Com mais facilidade do que ontem escalei a janela e depois a árvore. Estava ficando bom mesmo nisso. Neguei com a cabeça e dei uma risada baixa. Terminei de passar a outra perna pela grade da varanda e dei um pequeno pulo no final.
— Devo colocar uma escada? — Mabel questionou quando abri a porta de vidro e entrei em seu quarto.
— Não é preciso, assim ninguém além de mim sobe. — Dei de ombros.
— E quem além de você subiria? — Arqueou uma sobrancelha.
Não queria brigar. Não queria jogar nada em sua cara e nem mesmo tocar neste assunto, mas lembrar dos braços do guarda ao seu redor fez com que aquela sensação surgisse novamente em meu peito.
— Precisa de uma lista? — Perguntei sendo meio rude e me arrependendo logo em seguida.
— Ei! Você está me ofendendo! — Avisou um pouco alto.
Bufei olhando para o teto. Sabia que Mabem estava certa e não devia ter dito aquilo. Foi rude e inapropriado da minha parte.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, eu tentando me acalmar e Mabel não parecia disposta a falar nada. Então por fim, suspirei baixo e olhei para ela.
— Desculpe... — Sussurrei com sinceridade.
Mabel apenas continuou me olhando em silêncio. Percebia que estava em um conflito interno e não queria isso. Não queria que criasse mais incertezas em sua cabeça, pois isso só nos atrapalharia ainda mais. Tinha sérios planos com Mabel e em mantê-la aqui o máximo de tempo possível, quem sabe uma vida inteira, mas precisava que ela quisesse isso também.
A encarei ainda em silêncio e seus olhos estavam no chão. Caminhei até estar a sua frente e segurei suas mãos.
— Desculpe. — Pedi novamente.
Mabel finalmente me olhou e percebi o quanto estava chateada comigo.
— Tudo bem. — Suspirou baixo.
— Não queria falar mal de você. — Expliquei e ela assentiu concordando — Só, não sei... Fiquei com ciúmes de você com aquele guarda. — Confessei dando de ombros.
Sim, era isso. Aquela sensação que sempre surgia quando a via com o guarda era ciúmes, puro ciúme e um enorme medo de perdê-la, de ver que não era comigo que queria ficar. Mabel já tinha assumido que não sabia se queria essa responsabilidade de ser princesa. Não podia e não queria perdê-la.
— Jerremy? — Perguntou e revirei os olhos enquanto assentia concordando — Ele é só um amigo, isso se for meu amigo. — Explicou bufando em desdém.
— Mas não gosto dele perto de você. — Confessei o óbvio — Tenho medo que diminua minhas chances.
— Chances? — Me olhou confusa.
— De ter você para mim. — Cheguei mais perto dela.
Segurei seu rosto com as duas mãos e colei nossos lábios, antes que ela tivesse chance de me negar isso. Precisava senti-los novamente.
— Não... — Negou de repente e se afastou.
— O que foi? — A olhei com um misto de confusão e surpresa.
Ela não queria meu beijo. Será que não tinha gostado?
— Me diga que você pelo menos escovou os dentes. — Questionou preocupada.
— Escovar os dentes... Do que está falando Bel? – Franzi a testa em confusão.
Realmente não estava a entendendo. O que ela queria dizer com escovar os dentes? Será que eu estava com bafo?
— Não quero me contaminar com a baba daquela... Cabelo de vassoura. — Explicou fazendo cara de nojo.
Deixei que aquela frase penetrasse em minha cabeça e então comecei a processa-la. "Baba daquela cabelo de vassoura". Quando finalmente entendi o que e de quem Mabel estava querendo dizer, não consegui conter uma gargalhada alta.
— Está rindo do que? — Cruzou os braços em frente ao corpo.
— Aí Bel você me surpreende sempre. — Comentei ainda rindo, mas agora mais contido.
— Ainda estou esperando uma resposta. — Insistiu.
— Sobre os dentes ou a risada? — Brinquei.
Realmente não esperava por essa atitude dela. Mabel e Naomi não se davam bem, era notório, mas aí chegar a esse ponto.
— Os dois... — Falou impaciente.
— Sim, escovei os dentes, faço isso depois de cada refeição, — Me controlei para não dar risada novamente — E quanto à risada, não acredito que estamos neste nível de implicância.
— Implicância? Você realmente disse isso? — Questionou me olhando séria.
— Bel... — Comecei, mas ela me interrompeu.
— Não... Você entra aqui, insinua coisas sobre mim, me beija e agora diz isso? — Desdenhou — É assim que "me quer só para você?" — Gesticulou com aspas no final da frase.
Ela tinha ficado realmente brava comigo? Não era como se estivesse defendendo Naomi ou qualquer coisa do tipo, foi apenas um comentário.
— Mabel... — Comecei novamente, mas uma batida na porta interrompeu.
— Quem é? — Ela perguntou com a voz alta.
— Sou eu, Alisson. — Respondeu com a voz abafada pela porta.
— Já vai. — Aviso e me olhou novamente — Você tem que ir.
— Bel... — Comecei pela terceira vez, mas ela apenas me virou e empurrou em direção à varanda.
— Não Alexander... Você tem que ir. — Insistiu ainda séria.
A olhei por alguns segundos, antes de uma nova batida ser ouvida por nós. Mabel fechou as portas da varanda e em seguida as cortinas, me deixando do lado de fora e sem visão de nada do que se passava ali dentro.
Suspirei baixo sabendo que não adiantaria tentar falar com ela agora. Mabel tinha ficado realmente chateada comigo. Então me preparei para descer de sua varanda, pensando que esse não era o final de noite que queria. Definitivamente não.
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