Capítulo 26
O dia estava especialmente cansativo hoje. Estive no centro da província durante a manhã e acabei perdendo o café, e consequentemente a chance de ver Mabel. Então fiquei mais do que feliz quando chegamos em tempo para o almoço.
Estava sentado em meu lugar quando a vi entrando. Seu sorriso aqueceu imediatamente meu coração e levantei ajudando Mabel com a cadeira. Almoçamos com calma e vez ou outra eu tocava sua coxa a acariciando.
Quando terminamos a sobremesa me inclinei um pouco para o lado e cheguei mais perto do seu ouvido.
— O que acha de darmos uma fugida bem rápida? — Sussurrei notando que todos já seguiam para o salão.
— Acho uma ideia tentadora. — Concordou sorrindo.
— Então vamos. — Peguei sua mão e a puxei para o lado oposto em que caminhavam.
Abri a porta da biblioteca e deixei que Mabel entrasse. As cortinas estavam abertas, assim como as portas da varanda, o que fazia uma brisa gostosa refrescar o ambiente.
— Um pouco de paz. — Comentei enquanto sentava em um dos sofás que tinha um encosto para as pernas, ficando quase do tamanho de uma cama de solteiro.
— Muito trabalho? — Questionou e suspirei estendendo a mão.
— Muitas decisões a tomar. — Expliquei enquanto Mabel se acomodava ao meu lado.
Ela deitou a cabeça em meu peito e envolvi seu corpo com os braços, a puxando para mais perto. Mabel beijou meu peito por cima da camisa e retribui com um beijo carinhoso em seus cabelos. Era tão bom estar assim com ela.
— Sei que vai tomar as decisões corretas. — Reconfortou-me.
— Você sempre sabe as coisas certas para falar. — Confessei acariciando suas costas com calma.
— Impressão a sua. — Desdenhou dando uma risada baixa — Só falo besteiras... Mas isso que acabei de dizer é a verdade, você é correto, justo e está sempre pensando nos outros. — Apoiou o queixo em meu peito enquanto me olhava — É obvio que vai saber a coisa certa a se fazer.
— Tenho tanta sorte de ter encontrado você. — Declarei tocando carinhosamente seu rosto.
— Tem mesmo. — Brincou dando de ombros e me fazendo dar risada — Sou super demais. — Completou fingindo falar sério.
— Super. — Concordei sorrindo e a puxei mais para cima, ficando sobre meu corpo.
Mabel deu uma risada baixa e imediatamente olhei seus lábios, que sempre eram mais convidativos do que o normal. Aproximei nossos rostos e notei sua expectativa. Sorri e enfim colei nossas bocas.
Era um beijo lento e sexy. Chupei seu lábio inferior com vontade, me deliciando com seu sabor. Minhas mãos apertavam sua cintura enquanto nossas línguas se perdiam uma na outra. Quando o ar se fez necessário, automaticamente minha boca desceu ao seu pescoço. Simplesmente não conseguia me conter.
Minhas mãos abusadas subiram pelo seu braço até chegar ao ombro. Engatei meus dedos na alça fina do seu vestido e a deslizei lentamente para baixo. Estávamos novamente na zona de perigo e tinha consciência disso, mas era difícil de controlar.
— Você é linda, — Sussurrei encarando seus olhos. — E eu te amo tanto.
Mabel sorriu fechando os olhos e quando os abriu novamente estavam marejados. Demorei tempo demais para dizer isso, mas nunca me cansaria. Eu a amava muito.
Senti seu toque em meu rosto e fechei os olhos enquanto ela o acariciava.
— Eu te amo. — Sussurrou beijando meus lábios demoradamente.
Mabel deitou a cabeça em meu peito e respirou fundo. Ficamos assim por algum tempo e se deixassem ficaria para sempre. Somente eu e Mabel. Meu ponto de paz particular.
***
Dizem que a vida é feita de momentos, bons e ruins. São eles que constroem nossas histórias e experiências de vida. Se isso for mesmo verdade com certeza o que estou vivendo, ou melhor, vou viver, é um dos melhores da minha vida.
Hoje é o grande dia em que Mabel será oficialmente minha esposa. Esposa. Nunca pensei que fosse gostar tanto de uma palavra.
Desde que acordei sentia uma eletricidade percorrer meu corpo. Devia ser a ansiedade, sim, só podia ser isso. Estava mais do que ansioso com tudo isso e mal podia esperar para ver Mabel. Ela passou o dia no quarto se arrumando junto com a criada e mais algumas pessoas que minha mãe solicitou.
Suspirei alto e fechei os olhos. Estava sentado na varanda do quarto, aproveitando a brisa que soprava e desarrumava ainda mais meus cabelos. O dia estava especialmente bonito. Quem sabe adivinhando o quanto era especial.
Olhei no relógio em meu pulso e notei que já estava na hora de começar a me arrumar, então levantei da poltrona e voltei ao quarto. Segui ao banheiro e coloquei a banheira para encher enquanto tirava a roupa. Despejei alguns sais e quando já estava suficientemente cheia entrei na água morna, e perfumada.
Precisava relaxar ou era capaz de cair duro assim que Mabel aparecesse a minha frente. O que não seria nada legal, pois queria estar bem atento quando a visse. Queria gravar a imagem em minha mente para sempre. Um dia contaria aos nossos filhos, netos e bisnetos como ela estava maravilhosa.
Sai da banheira quando a água já esfriava. Me enxuguei e segui ao closet. Minha roupa estava separada e pendurada, perfeitamente engomada. Respirei fundo e comecei a me vestir com calma.
Parei em frente ao espelho e arrumei a gravata borboleta o melhor que conseguia. Teria que pedir para minha mãe ajudar depois, afinal eu era uma negação com isso, sempre fui. Calcei os sapatos e coloquei o relógio.
Voltei ao quarto e abri a gaveta da cômoda ao lado da cama. Peguei a pequena caixa preta e a abri olhando o par de alianças que havia ali dentro. Tinha ido a joalheria hoje cedo para busca-las e assim que bati os olhos soube que eram as certas.
Tinha encomendado há uma semana, depois de ver vários designs, um mais bonito que o outro. Queria algo único e tinha conseguido. A minha era simples, apenas de ouro branco, um pouco mais grossa. Já a de Mabel era mais delicada, fina e havia uma pedra de diamante no meio dele, ainda maior que a do noivado.
Fechei a caixa novamente e coloquei no bolso interno do smoking. O ajeitei melhor, alisando e desamassando, mesmo que estivesse impecável. Acho que era o nervosismo que voltava com força.
Relaxa Alexander. Você vai casar com a mulher da sua vida em poucas horas. Pensei respirando fundo algumas vezes.
Ouvi alguém bater à porta do quarto e rapidamente a abri. Franzi a testa ao ver John, o avô de Mabel, me olhando com um pequeno sorriso.
— Entre. — Dei espaço para que passasse.
Assim que ele entrou fechei a porta e virei encontrando-o parado a alguns passos de distância. Nós nos escaramos em silêncio por alguns minutos, até ouvir seu suspiro baixo.
— Queria conversar com você... — Começou colocando as mãos nos bolsos da calça.
John vestia o fraque preto tradicional. Estava elegante e realmente parecia da realeza. Mabel ficaria orgulhosa em vê-lo, tenho certeza.
— Pode falar... Somos da mesma família agora, ou seremos muito em breve. — Dei uma risada baixa.
— Sim, — Concordou sorrindo — Queria primeiramente agradece-lo, por tudo que já fez a nossa família e Mabel. — Suspirou novamente — Não foi fácil quando perdemos nossa filha e genro, mas Mabel e Samantha ficaram e foram nosso consolo.
— Imagino. — Sussurrei.
— Hoje você está levando consigo um dos nossos bens mais preciosos. — Confessou e assenti concordando — Mabel é uma garota maravilhosa. Espero que reconheça isso e nunca se esqueça. — Deu um passo à frente e encarou meus olhos — Cuide dela, porque nem sempre vai ser fácil, relacionamentos são assim... Mas quando se têm amor tudo vale a pena. — Afirmou dando de ombros.
— Eu vou. Mabel é o amor da minha vida! — Declarei sorrindo — Não me imagino sem ela.
John assentiu concordando e estendendo a mão. Prontamente aceitei e apertei com firmeza, passando confiança. Então me surpreendendo John puxou para um rápido abraço, batendo levemente em minhas costas.
— Obrigado! — Sussurrou se desvencilhando.
Neguei com a cabeça e o acompanhei até a porta do quarto. Nos despedimos com um aceno de cabeça e então ele se foi.
Suspirei baixo e passei as mãos pelo cabelo quando estava sozinho novamente. John era um bom homem e estava preocupado com a neta, o que era completamente normal.
Respirei fundo e sai do quarto, seguindo ao dos meus pais. Bati na porta do quarto e ouvi a voz de meu pai autorizando que entrasse. Ele estava sentado a beirada da cama e lia algum papel.
— Como está? — Questionou sorrindo.
— Nervoso. — Confessei o fazendo dar uma risada baixa.
— Imagino... Ainda lembro como estive em meu casamento. — Sorriu mais abertamente com a lembrança — Achei que sua mãe não fosse aparecer. Sabe como é... — Deu de ombros — Noivas e seus atrasos!
Dei risada e assenti concordando. Espero que Mabel não faça isso, ou acabaria indo busca-la em seu quarto. Meu coração não era tão forte assim.
— Querido! — Minha mãe sorriu quando saiu do closet e me viu.
Ela usava um bonito vestido em tom de vinho. Seu cabelo estava preso e a maquiagem era suave. Estava linda. Uma verdadeira rainha.
— Mãe. — Peguei sua mão e beijei delicadamente.
— Já ia pedir para que o chamassem. — Avisou tocando meu rosto — Está quase na hora!
Respirei fundo algumas vezes. Sim, já estava quase na hora e o buraco negro que se formava em meu estomago dizia isso.
— Tudo está pronto? — Questionei.
— Verônica ficou conferindo as últimas coisas, você sabe como ela é determinada. — Explicou dando uma risada baixa.
Se Verônica ficou cuidando dos últimos retoques eu tinha certeza de que estava tudo certo. Nunca havia falhado conosco e sua determinação era invejável.
— Então acho que podemos ir. — Suspirei alto tentando me acalmar.
— Mas antes temos algo... — Meu pai avisou.
— O que? — Franzi a testa.
— É para você e Mabel. — Minha mãe sorriu e colocou algo em minha mão — É um presente, nosso... Para vocês.
Olhei meio confuso para a chave em minha palma. O que era aquilo? Como assim presente?
— O chalé da beira do lago é de vocês. — Meu pai explicou fazendo com que eu arregalasse levemente os olhos — Sei que precisam de momentos juntos e a sós... Então agora vocês têm onde tê-los.
Encarei a chave e um pequeno sorriso começou a surgir em meus lábios. Um cantinho só nosso. Isso era perfeito. Mabel com certeza ficaria ainda mais surpresa do que eu, mas adoraria.
— Muito obrigada! — Agradeci sorrindo verdadeiramente.
— Não agradeça filho. Vocês merecem. — Minha mãe justificou enquanto me abraçava.
Quando nos desvencilhamos abracei meu pai e agradeci novamente pelo presente. Sabia que os dois estavam tão felizes quanto eu com esse casamento.
Guardei a chave no bolso da calça e suspirei alto. Não estava nervoso pelo casamento em si, mas porque queria que o momento do "sim" chegasse logo. Queria ser marido de Mabel e tê-la como minha esposa, oficialmente.
Senti a mão de meu pai no ombro e vi seu sorriso de encorajamento. Fiz um aceno positivo com a cabeça e andei em direção à porta do quarto, sendo seguido pelos dois.
Descemos ao primeiro andar e pude ver a movimentação das criadas que passavam com vasos, bandejas e outras coisas relacionadas ao casamento. Dei um pequeno sorriso a elas, que fizeram reverência a nós, mas sem pararem os serviços.
Saímos pela porta lateral do salão principal do palácio e seguimos até a área atrás dele, onde tudo já estava pronto e perfeitamente organizado. Haviam pétalas de rosas brancas no chão e na frente das fileiras de cadeiras. Além de pequenos arranjos pendurados que pareciam flocos de neve caindo.
Vários convidados já estavam sentados e sorri gentilmente enquanto caminhava até o altar. Podia ver os olhares admirados e de expectativas. Suspirei baixo tentando manter a calma e conferi no relógio que horas eram. Mabel estava meio atrasada, ou quem sabe muito, ou talvez eu só estivesse tendo uma crise de ansiedade. É, isso era bem possível.
Ouvi a pequena orquestra que tinha sido escolhida começar a tocar e imediatamente olhei para frente. Não consegui conter o martelar do coração quando vi a garota vestida de branco no final do corredor. Engoli em seco e respirei fundo.
Então como se fosse em câmera lenta Mabel e seu avô começaram a andar em direção ao altar. Samantha estava à frente deles como dama de honra.
Conforme eles iam se aproximando um sorriso gigante surgia em meu rosto. Não conseguia tirar os olhos dela. Mabel estava mais do que maravilhosa naquele vestido branco. Parecia um anjo.
Quando estavam a alguns metros não consegui me conter e dei um passo à frente. Queria que nossa distância acabasse de vez.
Eles pararam a alguns passos de distância e John estendeu a mão. Prontamente a aceitei e apertei com firmeza, passando confiança.
— Cuide bem dela. É nosso tesouro. — Pediu com seriedade.
— Mais do que minha própria vida. — Prometi.
John se virou para Mabel e sussurrou algo. Depois colocou a mão dela sobre a minha e as uniu. Entrelacei nossos dedos enquanto John se afastava.
Me inclinei beijando a testa de Mabel e em seguida a puxei para que subíssemos o degrau do pequeno altar. O padre nos olhava com um pequeno sorriso e fiz um discreto sinal para que iniciasse a cerimônia.
— Hoje estamos todos aqui reunidos por um motivo muito especial, — Começou sorrindo levemente — Unir duas pessoas, duas vidas, dois corações. — Fez uma pequena pausa — Este é um momento bonito e sagrado, no qual vocês se comprometem um com o outro.
Olhei para o lado e encontrei o sorriso tranquilo de Mabel. Minha mão ainda segurava a sua enquanto com o dedão desenhava calmamente círculos na palma dela.
— Mabel, é de livre e espontânea vontade que aceita se casar com Lorenzo? — O padre perguntou fazendo uma pequena pausa, mas já continuando em seguida — Prometendo amar, respeitar e ser fiel. Na saúde e na doença. Na riqueza e na pobreza. Até que a morte os separe? — Completou com seriedade.
Neste momento meu coração falhou uma batida e depois voltou a bater descompassadamente. Não vou negar que meu sangue gelou com a espera da resposta ao questionamento do padre. Mabel era uma caixa de surpresas, mas contava com seu sim, na verdade, precisava dele.
— Sim. — Finalmente ouvi sua voz doce.
O padre sorriu e assentiu concordando, virando agora em minha direção. Já eu tentava conter o martelar do coração e quem sabe fazê-lo voltar aos batimentos normais, o que confesso estar sendo complicado com a emoção do momento.
— Lorenzo, é de livre e espontânea vontade que aceita se casar com Mabel? — Fez uma pequena pausa novamente — Prometendo amar, respeitar e ser fiel. Na saúde e na doença. Na riqueza e na pobreza. Até que a morte os separe? — Dessa vez seu olhar de seriedade era direcionado a mim.
— Sim. — Concordei imediatamente, sorrindo de canto.
— Muito bem. Vocês têm algum voto especial? — O padre questionou nos olhando.
Confesso que já havia pensado nessa possibilidade. Em falar a Mabel tudo que sentia e o que ela significava. Não que tivesse planejado algo, ou guardasse um bilhete no bolso da calça, mas quando se tratava de Mabel as palavras vinham sem esforço.
— Eu gostaria de falar. — Me pronunciei e o padre assentiu concordando.
— Alexander... — Mabel sussurrou.
Respirei fundo e reuni toda a coragem que precisava.
É isso Alexander, apenas coloque para fora. Pensei.
— Pensei muito no que poderia dizer a você hoje, mas toda vez que pensava em algo chegava à conclusão de que não era o suficiente, que você merecia mais, merece ouvir mais. —Comecei fazendo uma pausa para organizar os pensamentos — Há alguns meses atrás, se dissessem que encontraria o amor da minha vida em um imprevisto inesperado, eu diria... Você está louco! — Dei uma risada baixa — Mas foi isso que aconteceu... Encontrei a mulher da minha vida, aquela com quem quero passar todos os dias! Aquela com quem quero construir uma família, ter filhos, netos, bisnetos...
Todos os convidados permaneciam em silêncio, concentrados. O único barulho era o das folhas balançando com a leve brisa e quem sabe o martelar acelerado do meu coração. O que seria meio vergonhoso, admito.
— Quero ser seu esposo, amigo e porto seguro. Quero ser aquele para quem você vai correr quando precisa de ajuda. Quem provoca seu riso fácil, quem faz você gargalhar, porque sinceramente... É o som mais bonito que já ouvi. — Confessei respirando fundo e neste momento uma lágrima rolou pela bochecha de Mabel — Sei que nem sempre os dias serão fáceis... Afinal você é teimosa e persistente, além de sempre me desobedecer. — Dei de ombros ouvindo sua risada baixa — Mas prometo que quando esses dias chegarem, eu vou olhar no fundo dos seus olhos e lembra-la do quando é amada e desejada.
Coloquei uma mexa do seu cabelo que estava solta do coque para trás da orelha. As lágrimas escorriam livremente pelo seu rosto e um soluço alto escapou dela. Tirei um lenço branco do paletó e lhe ofereci. Mabel o aceitou e enxugou o rosto com cuidado por conta da maquiagem. Fechou os olhos por alguns segundos e respirou fundo.
— Princesa... Gostaria de falar algo? — O padre questionou.
— Sim. — Concordou pigarreando baixo.
Como assim 'sim'? Ela não podia fazer isso. Não podia mexer ainda mais com meus sentimentos, porque com certeza não estava preparado para isso.
— Não precisa disso amor. — Sussurrei, mas ela negou com a cabeça.
Mabel estava querendo mesmo acabar comigo, então o jeito era apenas tentar me controlar ao máximo.
Você consegue Alexander. Pensei.
— Hoje com certeza é um dos dias mais especiais da minha vida e assim como em todos os outros, você está presente. — Começou fazendo uma pausa e mordendo o lábio — Você é muito mais do que um príncipe, muito mais do que as roupas reais e tudo isso, — Olhou de relance para onde ficava o palácio — Você é quem me protege e faz sentir a mulher mais amada de todo o universo. Você é coerente, forte e justo, está sempre interessado no que eu sinto e no que penso. — Sorriu carinhosamente — Você mudou minha vida de um jeito que sei que nunca mais vai voltar a ser. — Confessou suspirando baixo.
Apertei ainda mais os lábios e cerei os dentes. Sentia a garganta já bem fechada e uma humidade crescendo e se acumulando no canto dos meus olhos, mas ainda me controlava.
— Nós já passamos por tantas coisas até agora. Nossos momentos nem sempre foram fáceis, mas sei que juntos nós sempre seremos mais fortes. — Completou apertando gentilmente minha mão — E não existe a menor possibilidade de não te amar... Hoje e enquanto eu viver. — Sussurrou o final.
Nossos olhos ainda estavam conectados e nos encarávamos intensamente.
— Vocês podem trocar as alianças. — O padre avisou cortando nossa recente bolha mágica.
Soltei uma de suas mãos e peguei a caixa de veludo preta. A abri e revelei o par de alianças. Com cuidado segurei a menor delas e em seguida a mão de Mabel. Lentamente a deslizei pelo seu dedo, beijando cada um deles em seguida.
Depois foi a vez de Mabel que pegou a outra aliança e deslizou pelo meu dedo, beijando-os carinhosamente assim como fiz com ela. Seus olhos cor de mel encontraram com os meus e Mabel sorriu ternamente, entrelaçando nossos dedos.
— E eu os declaro marido e mulher, — O padre declarou fazendo o sinal da cruz — Pode beijar a noiva. — Completou com um pequeno sorriso.
Sem esperar muito minhas mãos já foram para a cintura de Mabel. A puxei para mais perto enquanto as suas subiam até meu peito e devagar me inclinei, colando nossos lábios.
Quando nos separamos ouvi os aplausos dos convidados que se levantavam. Muitos sorriam abertamente e outros apenas nos observavam atentamente.
Segurei sua mão e nos virei em direção a todos. A puxei levemente fazendo com que descêssemos o pequeno degrau do altar. Vários guardas se aproximavam e recolhiam as cadeiras que antes eram ocupadas pelos convidados, levando-as dali. Uma fila já se formava a nossa frente e então um por vez veio nos desejar felicidades.
Falamos com muitas pessoas. Todos eram cordiais e tinham palavras de ânimo. Os avós de Mabel foram gentis como sempre e Samantha animada, visivelmente feliz pela irmã. Já meus pais não conseguiam conter o orgulho por tudo que estava acontecendo e isso me deixava ainda mais contente. Eles eram importantes demais e ter a aprovação era fundamental.
Agradeci mais uma vez a senhora que estava a minha frente e pelo canto do olho notei que Mabel conversava com Bianca. Obviamente ela e seus pais haviam sido convidados para o casamento. Sabia da desavença entre as duas e até tentei ouvir um pouco a conversa delas, mas era meio sussurrada, então não consegui.
Me despedi da senhora e então Bianca se aproximou devagar, com um pequeno sorriso.
— Ora, ora se não é o mais recente homem casado. — Brincou me abraçou e dando uma risada baixa – Uma pena, mas...
— Bianca. — A repreendi fazendo com que revirasse os olhos.
— Tudo bem. — Suspirou baixo — Só... Você sabe que ainda não esqueci o que tivemos, — Confessou sussurrando — Mas não vou insistir e nem forçar nada. — Deu de ombros — Só quero que saiba que estou aqui... Se precisar, ou quiser!
Mordi o lábio enquanto pensava no que dizer, ou como dizer. Afinal já tinha deixado claro a Bianca que nossas chances eram nulas.
— Também não vou esquecer o que tivemos. — Suspirei baixo — Só que está no passado, como uma lembrança antiga... Mas agora estou concentrado em meu futuro, — Indiquei com a cabeça na direção de Mabel — E ele está bem ali.
Bianca ainda me encarou por alguns poucos minutos e então assentiu concordando. Nos despedimos e a vi seguir até seus pais. Respirei fundo e virei para Mabel que me observava com um pequeno sorriso. Me inclinei e beijei seus lábios delicadamente.
Enfim marido e mulher. Pensei.
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