Capítulo 2
Me olhei novamente no espelho do closet e arrumei melhor a gravata. Já era hora do jantar e finalmente conheceria as garotas convocadas. Elas estavam no palácio desde de manhã cedo. Jason ajudou Verônica a recepciona-las enquanto eu resolvia alguns assuntos importantes com meu pai, burocracias que faziam parte de se administrar uma província.
Nosso almoço foi normal, apenas eu e meus pais, além de Jason. A tarde nós saímos para visitar o lugar em que seria construída uma praça, onde nosso povo pudesse ter alguns bons momentos de lazer e descanso. Quando nós voltamos subi direto ao quarto para tomar banho e deitar, descansando um pouco antes de ter que descer para jantar e fatalmente começar com tudo isso.
— E lá vamos nós. — Sussurrei.
Voltei ao quarto e peguei o paletó que estava sobre a cama. Rapidamente o coloquei e então finalmente sai. Se demorasse mais acabaria chegando na hora da sobremesa, o que não seria nada elegante.
Desci ao primeiro andar. Meus passos eram lentos, dando tempo para minha mente se acostumar com aquilo.
Quando já estava quase chegando ao salão parei meio surpreso ao ver a garota de cabelos escuros logo à frente. Ela olhava fixamente para o quadro que havia ali, com uma foto de quando ainda era criança. Nela meus pais estavam sentados em suas cadeiras reais e eu em pé na frente deles, bem no meio. Devia ter uns seis ou sete anos na época.
Vi quando Mabel olhou para o lado, como se procurasse por algo e então começou a dar alguns passos mais rápidos. Também notei quando escorregou sem querer e quase caiu, digo isso porque rapidamente corri até ela e a peguei. Assim que se sentiu segura e percebeu que seu corpo não tinha atingido o chão, onde fatalmente se machucaria, Mabel levantou os olhos encontrando com os meus.
Nos encaramos por alguns segundos e percebi um lampejo de luz passar por seus olhos cor de mel, com certeza se lembrando de nosso encontro no centro da província. Sabia que fatalmente nos reencontraríamos, mas não tinha certeza de como seria, nem qual sua reação ao descobrir que eu era o Príncipe Lorenzo, futuro rei de Thompson, mas para ela apenas Alexander.
— Achei que estava brincando quando disse que gostava de ficar atrapalhando a passagem das pessoas. — Sorri de canto.
Queria quebrar aquele clima meio estranho que tinha se instalado. Mesmo que um pequeno medo surgisse em meu peito. Medo de quem sabe ela ficar brava por tê-la enganado, o que tecnicamente era verdade, já que não me apresentei com o primeiro nome.
— Eu... Nunca brinco. — Sussurrou ainda me encarando.
Dei uma leve risada e a ajudei a ficar completamente de pé. Assim poderia olha-la melhor, além de que nossa posição era estranha para quem assistisse.
— Está bem? — Questionei sorrindo.
— Sim, — Concordou — Alteza. — Completou logo em seguida fazendo uma pequena reverência.
— Deixe de bobeira. — Neguei com certo tom de irritação, mas logo me arrependi e sorri novamente
Mabel não tinha culpa de nada, mas realmente queria que me tratasse como antes, sem nenhum título.
— Filho? — Ouvi alguém chamando.
Virei em direção a escada e encontrei com meus pais vindo calmamente em nossa direção. Minha mãe estava de braços dados com meu pai e nos olhava meio avaliativa, mas não com maldade, apenas parecia ter percebido que havia algo diferente ali.
— Pai, Mãe... Esta é Mabel Fischer. — Os apresentei.
Logo percebi a gafe que cometi ao dizer seu nome completo tão rapidamente, mas Mabel devia saber que tive acesso às fichas das convocadas. Afinal, isso era mais do que esperado, já que conviveria com todas, teria que saber o mínimo possível sobre cada uma.
— Majestades. — Mabel fez reverência a eles.
— Você está bem, querida? — Minha mãe perguntou sendo gentil como sempre.
— Sim. Desculpem, apenas tropecei. — Se explicou com as bochechas um pouco vermelhas.
— Acontece. — Minha mãe a consolou sorrindo calmamente.
— Vamos então ao salão? — Meu pai convidou nos olhando.
— Claro. Me concede essa honra? — Ofereci meu braço a Mabel, que assentiu concordando.
Ela engatou seu braço e juntos nós caminhamos em silêncio até o salão das refeições, onde todas as garotas já estavam sentadas em seus lugares, apenas esperando. Assim que passamos pela porta o silêncio se fez presente e todos os olhares estavam em nós. Senti Mabel ficar meio tensa e a olhei de canto. Ela tinha o lábio entre os dentes e seus olhos fixos nas garotas.
A puxei com cuidado incentivando para que nós continuássemos andando. Ajudei Mabel a sentar na cadeira vaga e dei um discreto sorriso antes de seguir até meu lugar. Parei em frente a minha cadeira e observei o rosto de cada uma das quinze garotas presentes ali.
— Bem senhoritas, sou Lorenzo. Verônica já deve tê-las instruído. — Olhei rapidamente para ela, que assentiu concordando — Então desejo a todas vocês uma boa estadia enquanto estiverem no palácio. Sei que vou adorar conhecer melhor cada uma de vocês. Bom jantar! — Terminei o breve discurso sorrindo levemente e finalmente sentando.
Senti dois pequenos tapas em meu braço e olhei de canto para Jason que estava sentado ao meu lado. Suspirei baixo quando as criadas chegam com o jantar, esse que como esperado foi bastante silencioso.
As garotas pareciam meio assustadas e completamente perdidas. Imaginava que seria assim no começo e sinceramente esperava que melhorasse com o tempo.
Em certo momento olhei para cada garota na mesa. Lembrava de algumas delas na hora da escolha para a convocação. Eram bonitas, não podia negar isso, cada uma ao seu estilo.
Parei quando cheguei à garota morena com belos olhos cor de mel, não conseguindo disfarçar o interesse. Antes que conseguisse desviar a atenção seus olhos encontraram com os meus. Suas bochechas ganharam um tom rosado e foi impossível não sorrir, fazendo Mabel rapidamente baixar os olhos.
Quando todos já tínhamos terminado, Verônica levantou e dispensou as garotas para que subissem aos quartos. Com calma elas fizeram reverência a nós e começam a sair do salão. Acompanhei com os olhos até que tivessem sumido completamente e suspirei aliviado, ouvindo a risada baixa de Jason.
— Não sei onde viu a graça... — Desdenhei fazendo ele rir ainda mais.
— Devia ter visto sua cara olhando para todas aquelas garotas. — Comentou me fazendo revirar os olhos em desdém – Parecia um cachorrinho caído da mudança.
— Não seja ridículo. — Neguei com a cabeça.
— Calma filho, foi só o primeiro dia. Você as conhecerá melhor... Vai dar certo. — Minha mãe interveio sorrindo gentilmente.
— Sei que vai! — Afirmei suspirando baixo — Bom, vou me recolher. Com licença. — Avisei já levantando.
Me despedi deles e subi a escada, seguindo ao terceiro andar. Suspirei aliviado assim que entrei no quarto. Fui até o banheiro enquanto tirava a roupa pelo caminho. Tomei um banho rápido e coloquei a calça do pijama. Hoje à noite estava mais quente, então dispensei a camisa.
Deitei na cama e relaxei meu corpo. A princípio este primeiro contato com as garotas foi melhor do que esperava.
Sorri lembrando do quase tombo de Mabel. Ela era mesmo desastrada, mas isso era só mais um charme. Gostava de coisas simples e cotidianas. Nada muito beirando a perfeição era bom, pelo menos aos meus olhos perfeição não existia. Mabel era tão comum, mas de um jeito bom. Algo que não tinha em minha vida e que inesperadamente passei a desejar.
Seria bom acordar todos os dias sendo apenas eu e não o Príncipe Lorenzo, Alteza ou qualquer outro título que me fosse dado. Gostaria de ser Alexander, nem que fosse só para Mabel. Isso já me bastaria.
***
Tinha acordado bem-disposto hoje. Sonhei com uma linda cachoeira. No sonho o dia estava ensolarado e eu mergulhava com calma aproveitando a água gelada. Havia também uma garota, ela estava de costas, mas podia ver seus cabelos escuros. Nadei me aproximando dela e quando estava a alguns poucos metros, quase vendo seu rosto, simplesmente acordei. Confesso que foi frustrante.
Olhei para a pilha de papeis a minha frente e suspirei voltando aos cálculos. Eram algumas planilhas que tinha que entregar até o final do dia. Meu pai queria que eu aprendesse desde já a controlar os gastos e saber fazer com que a província crescesse cada dia mais. Suspirei pegando a caneta e voltei a atenção ao amontoado de números.
— Com licença. — Pedi abrindo a porta do escritório do meu pai.
— Entre filho. — Autorizou largando seus óculos de grau em cima da mesa.
— A planilha com o balanço geral dos gastos está pronta. — Avisei colocando os vários papeis sobre a mesa.
Ele pegou as folhas e olhou rapidamente. Sua testa estava franzida e parecia realmente concentrado. Coloquei as mãos nos bolsos da calça e mordi o lábio, um pouco apreensivo. Meu pai era um grande exemplo e me inspirava muito nele para governar nossa província no futuro.
— Muito bom. — Comentou finalmente me olhando.
— Obrigado. — Agradeci sorrindo.
— Você será um bom rei, sei disso. — Confessou me surpreendendo.
Não consegui conter o alívio e a felicidade com suas palavras. É tão bom quando alguém elogia algo que você faz. É como se todo o esforço que foi feito fizesse sentido.
Ficamos ali conversando sobre a planilha e revendo alguns pequenos projetos por mais algum tempo. Então quando já era hora do almoço nós saímos do escritório e seguimos em direção ao salão das refeições.
Estávamos passando pela escada quando vi meu pai abrir um bonito sorriso. Segui seu olhar e encontrei com minha mãe que a descia elegantemente. Ela era uma mulher muito bonita e ninguém podia negar isso, muito menos meu pai, que literalmente a idolatrava. Era visível o amor entre eles, mais do isso, praticamente palpável.
— Senhora... — Meu pai sorriu ainda mais e estendeu a mão.
Ouvi a risada baixa dela enquanto vinha em nossa direção e juntos seguimos ao salão.
Assim que nós entramos notei que as quinze garotas já estavam ali. Quando nos viram imediatamente se levantaram e fizeram a revência. Agradeci com um pequeno sorriso e caminhei logo atrás de meus pais até a ponta da mesa.
O almoço foi servido e ao contrário de ontem, hoje as garotas conversavam baixo entre si. Reparei em como alguma delas usavam os talheres perfeitamente, com certeza essas faziam parte das famílias com mais condições. Não que nossa província tivesse alguma desigualdade social injusta, mas algumas famílias tinham alguns bens de mais valia que outros, resultado de alianças com outras províncias ou até alguns contatos mínimos.
Encarei a linda morena sentada não muito distante e notei quando a garota ao seu lado falou algo, fazendo com que Mabel me olhasse com uma das sobrancelhas arqueadas. Confesso que achei a situação engraçada e sem me conter dei uma curta risada. O que não passou despercebido, já que acabou chamando a atenção de todos.
Mabel abaixou rapidamente os olhos tentando disfarçar e fiz o mesmo, encontrando com o rosto confuso de minha mãe. Ela com certeza estava pensando que fiquei maluco e quem sabe esteja mesmo.
Depois de satisfeitas Verônica e as garotas fizeram a reverência e saíram do salão. Olhei para a parede oposta enquanto me perdia em pensamentos. Sabia que seria complicado tudo isso, mas estava na hora de começar com a convocação.
Me despedi de todos na mesa e subi ao quarto. Peguei a pasta das fichas com o nome das garotas e comecei a ler novamente o de cada uma. Já tinha decorado a maioria, afinal tive que analisar para que fossem escolhidas as quinze que estavam agora aqui no palácio.
Deixei a pasta sobre a cômoda e caminhei até a varanda. Me apoiei na grade e olhei para o céu, que hoje estava incrivelmente limpo, sem nenhuma nuvem. Fechei os olhos e deixei a brisa leve mexer meus cabelos, desorganizando-os. Sentei em uma das cadeiras que havia ali e apoiei a cabeça no encosto, apenas curtindo aquele momento de paz interior.
Quando já estava mais relaxado decidi ir à biblioteca. Seria bom ler um pouco e me distrair. Levantei da cadeira e sai do quarto, seguindo pelo corredor. Desci a escada e quando estava quase no final, vi o par de sapatos femininos.
Levantei os olhos, que até então estavam no chão, e me deparei com uma garota loira. Procurei em minha mente e lembrei de seu nome, Naomi Voltollini.
— Príncipe... — Fez sua reverência.
— Olá. — A cumprimentei com um pequeno e discreto sorriso.
— Estava indo ao salão, Verônica nos chamou para mais uma aula. — Explicou e assenti concordando.
Ela até podia estar indo ao salão, mas claramente fez um desvio no caminho, já que estava ao pé da escada que levava ao andar real. Eu já conhecia esse tipo de garota e elas eram um perigo.
— Então não deveria se atrasar. Verônica aprecia a pontualidade. — Comentei.
— Sim, com certeza. — Sorriu novamente — Só queria dizer que é muito bom estar aqui no palácio e ser uma das convocadas. — Explicou enquanto subia alguns degraus da escada e ficava dois acima de mim.
Virei encarando-a agora de baixo. Notei que ela olhava como seu eu fosse um prêmio. Sabe quando uma criança passa na loja de brinquedos e vê o mais caro e bonito dali? Era assim que Naomi me olhava.
— Bom, garanto que será bem tratada. — Assegurei e Naomi deu uma risada, um pouco alta demais para meus ouvidos, mas ignorei.
— Não duvido disso, nosso primeiro dia aqui foi maravilhoso. — Confessou tentando parecer sedutora — Só seria melhor se o príncipe escolhesse minha companhia... A sós. — Completou mordendo o lábio.
— Entendo. — Dei um sorriso comedido.
Não queria dar esperanças a ela, assim como as outras, pelo menos não antes do tempo. Afinal não sabia que rumo tudo isso tomaria e quanto menos decepções pelo caminho, melhor.
— Estou falando sério. — Naomi insistiu.
— Vou pensar nisso. — Assegurei vendo seu sorriso aumentar.
— Pense com carinho... — Sussurrou descendo novamente a escada.
Naomi colocou a mão em meu ombro e beijou a bochecha. Com certeza ela era bem ousada. Qualquer outra garota pensaria bem antes de se quer insinuar que queria ser chamada para um encontro, que dirá ter contato mais direto.
Quando Naomi já tinha ido e eu pensava seriamente em voltar ao quarto, notei uma movimentação ao pé da escada e pedi mentalmente para não ser Naomi novamente. Mas esse pensamento sumiu assim que vi Mabel sair detrás da pilastra perto dali. Dei um pequeno sorriso e desci o resto da escada com calma.
— Pense com carinho... — A ouvi repetir imitando a voz de Naomi e fazendo uma careta no final.
Caminhei com cuidado e parei atrás de Mabel, a alguns passos de distância.
— Ficou quase bom, mas acho que se afinar um pouco mais sua voz, ficará perfeito. — Chamei sua atenção.
Seu corpo se virou lentamente e assim que estávamos de frente vi suas bochechas coradas, mostrando o constrangimento por ter sido pega no flagra.
— Oi. — Sussurrou.
— Oi Ma Belle... — Sorri de canto.
— Você sabe que não entendo essa língua aí, não é? — Brincou.
Balancei a cabeça em negação. Mabel era com certeza uma peça rara. Confesso que gostava disto nela, sua espontaneidade. Ela não tinha um filtro entre o cérebro e a boca, falava o que pensava e apreciava sua sinceridade. Pessoas assim me despertavam confiança.
— Posso ensinar se quiser. — Sugeri a encarando.
— Vou pensar no seu caso. — Deu de ombros, me fazendo sorrir mais.
— Pense com carinho... — Pisquei descontraído.
Sabia que estava provocando Mabel ao usar essa frase e confirmei isso quando ela bufou, revirando os olhos.
— Eu... Tenho que ir. — Avisou olhando para a escada.
— Espera! — Pedi tocando seu braço e segurando a mão — Você gostaria de fazer algo hoje à noite, depois do jantar? — Perguntei rapidamente.
Teria que começar tudo isso em algum momento, então porque não com ela? Mabel era uma agradável companhia, pelo menos no que pude perceber até agora. Tinha uma boa cabeça e nosso papo sempre desenvolvia meio que naturalmente.
— Sim, eu quero. — Aceitou sorrindo.
— Nos vemos depois então. — Me despedi retribuindo seu sorriso, meio sem saber como agir agora.
Ela assentiu concordando e virou, começando a descer a escada. Meu coração estava um pouco acelerado e não sabia muito bem explicar o porquê.
Quando Mabel já tinha ido respirei fundo e passei a mão pelos cabelos. Continuei meu caminho até a biblioteca, onde pretendia ficar até a hora do jantar, que agora por um motivo especifico queria que chegasse logo.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top