Capítulo 1
Desde que nasci já sabia qual seria meu destino. Acho que é assim para quem é da realeza. Sou Lorenzo Alexander Thompson III, príncipe de Thompson e consequentemente futuro rei, mas isso só acontecerá depois que encontrar minha esposa e futura rainha.
Como disse antes, já sabia que isso aconteceria, afinal desde pequeno ouvia minha mãe contando como foi conhecer meu pai, além toda sua convocação e estadia no palácio. Uma estadia bem prolongada na verdade, já que ele a escolheu e juntos tiveram seu felizes para sempre.
Estava deitado em minha cama, olhando fixamente para o teto a alguns bons minutos. Tinha sido liberado depois de passar o dia entre papeis e fotos de garotas, sim, isso mesmo. Nós estávamos escolhendo as quinze possíveis candidatas a coroa. Os assessores do palácio conseguiram a ficha de várias garotas da província, todas que tivessem entre dezoito a vinte anos.
Quinze delas seriam convocadas e viriam ao palácio para que pudesse escolher minha esposa e consequentemente futura rainha. Parece bem estranho quando se fala escolher, convenhamos que realmente é, mas não tinha muitas opções, na verdade, mais precisamente quinze.
Respirei fundo e levantei da cama, saindo do quarto. Desci a escada e segui até a frente do palácio, onde encontrei com um dos guardas parado perto da porta. Pedi a ele por Marcos, um dos motoristas do palácio, e o de mais confiança.
— Senhor, chamou? — Marcos fez sua reverência.
— Sim. Quero ir ao centro da província. — Avisei.
Ele assentiu concordando e pediu que eu esperasse enquanto ia buscar o carro. Esperei em frente ao palácio e alguns minutos depois nós já estávamos a caminho do centro. Não ia muito até lá, não por motivos específicos, mas porque as atividades do palácio tomavam grande parte do meu tempo. Reuniões, decisões a serem tomadas e viagens a outras províncias para criar laços, além de fortalecer os já existentes.
Thompson é uma província forte. Falo isso porque nosso reino vive em harmonia e paz desde que foi criado. Temos laços fortes com outras províncias que nos respeitam e meu pai é um rei muito amado pelo povo.
Quando estávamos chegando perto do centro pedi que Marcos estacionasse. Desci e comecei a andar devagar pela rua. O lado bom de não aparecer com frequência era de que não seria reconhecido tão facilmente. Nos jornais da cidade era sempre os meus pais que estavam sobre os holofotes, então minha imagem ainda era meio desconhecida para a maioria.
Marcos andava um pouco afastado para que não chamássemos tanto a atenção, afinal minhas roupas já eram um pouco chamativas. Estava usando um conjunto social bem ao estilo real, mas não tinha roupas comuns, então o jeito era tentar agir o mais simples e natural possível.
Estava parado ao lado de fora de uma loja de costuras. Haviam alguns modelos de ternos expostos na pequena vitrine e eu os olhava avaliativo. Realmente aquela costureira tinha boa mão para a coisa, quem sabe na volta comentasse com minha mãe e ela a chame para fazer um modelo ou dois para mim.
Ainda observava a vitrine quando ouvi o barulho de algo caindo. Olhei para a frente e encontrei a garota caída a alguns passos de distância. Perto dela estava um dos enfeites da entrada da loja e deduzi que esse foi o motivo do seu desastre.
Caminhei até ela, que ainda estava sentada no chão. Os cabelos escuros tampavam seu rosto e a ouvi praguejar baixo. Estava visivelmente brava por ter caído. Segurei a vontade de dar risada, afinal não seria educado rir de uma dama nessa situação.
— Precisa de ajuda? — Questionei enquanto me aproximava devagar.
— Não... Obrigada. — Negou ainda sem me olhar.
— Caiu? — Insisti mesmo sem motivos.
Na verdade, não sei por que ainda estava ali, sendo que a garota claramente não parecia disposta a ser simpática, mas acho que foi realmente isso que me prendeu. O fato de ela não saber quem eu era e estar me tratando normalmente, sem bajulações e nem formalidades.
— Não, — Negou novamente — Na verdade, gosto de ficar sentada na porta dos lugares, impedindo que as pessoas passem... — Completou ironicamente.
Não me contendo dei a risada que tentava segurar desde antes e que milagrosamente fez com que a garota levante seus olhos, me encarando pela primeira vez.
A observei com mais atenção, pois tinha a nítida impressão de já tê-la visto antes. Franzi a testa enquanto procurava em minha cabeça a resposta, até que uma luz se acendeu. Era ela!
Sorri abertamente e vi seu rosto ganhar um tom rosado nas bochechas, que a deixava ainda mais linda.
— Posso ajudar? — Questionei estendendo a mão com a intenção de ajuda-la — Mesmo que não precise é claro. —Justifiquei rapidamente.
Ouvi seu suspiro baixo enquanto aceitava minha mão estendida. Assim que ela estava de pé a avaliei melhor. Com certeza era bem mais bonita pessoalmente.
Seus cabelos escuros faziam contraste com a pele clara, moldando perfeitamente o rosto. Os olhos cor de mel eram penetrantes e transmitiam certa tranquilidade, não sei explicar, mas era algo que gostaria de sentir mais vezes. Ela não era muito alta, mas isso lhe dava certo charme. Tão pequena e indefesa, pelo menos aparentemente.
— Alexander, prazer. — Me apresentei, apertando levemente a sua mão que ainda segurava.
— Mabel. — Sorriu levemente.
Sorri ao ouvi-la dizer o nome, lembrando imediatamente das aulas de francês.
— Ma Belle. — Sussurrei sorrindo.
— Como? — Questionou franzindo a testa.
— Alte... Alexander. — Marcos chamou, aparecendo perto de onde estávamos.
— Sim Marcos. — O olhei.
— Está na hora, sabe que não podemos demorar senhor. — Avisou olhando discretamente a nossa volta.
Seria bem complicado se alguém me reconhecesse aqui. Sabia que Marcos estava preocupado e queria apenas ajudar.
— Foi um prazer conhece-la Mabel. — Confessei enquanto levava sua mão aos lábios e depositava um beijo suave no dorso.
— O mesmo Alexander. — Sussurrou encarando meus olhos.
Acenei discretamente e caminhei junto de Marcos, indo em direção ao carro. Entramos rapidamente e seguimos de volta ao palácio.
Nosso caminho foi feito em silêncio enquanto minha mente trabalhava a imagem da garota que tinha acabado de conhecer no centro da província. Seus olhos cor de mel e o sorriso meio tímido, vinham com grande facilidade a cabeça.
— Chegamos Alteza. — Marcos avisou estacionando em frente ao palácio.
— Obrigado Marcos. — Agradeci descendo do carro.
Entrei no palácio e subi a escada, indo direto ao meu quarto. Já era quase hora do jantar, então tomei um banho rápido e me vesti.
Quando estava pronto desci ao salão das refeições. Meus pais já estavam à mesa, assim como Jason, meu melhor amigo e conselheiro.
— Oi filho. — Minha mãe sorriu carinhosamente — Como você está?
— Bem e a senhora? — Sentei no lugar vago a sua frente.
— Bem... Descansou? — Perguntou e assenti concordando.
Óbvio que eles podiam saber sobre a ida ao centro da província, mas não queria que se preocupassem comigo e com essa convocação, então resolvi guardar essa informação. Minha mãe se preocupava com tudo isso, pois tinha participado e sabia como as coisas funcionavam melhor do que meu pai. Ela dizia sentir que seria agradável como na sua época. Já para meu pai se tudo corresse bem e sem nenhum imprevisto, nós estaríamos ganhando.
O jantar foi servido e comemos enquanto conversávamos sobre algumas coisas da província. Nada muito importante ou especifico. Acho que propositalmente, já que tínhamos passado à tarde em função da escolha das garotas. Eles queriam me dar um descanso, pelo menos durante a refeição.
— As cartas serão enviadas amanhã filho. — Minha mãe avisou enquanto subíamos a escada, indo ao terceiro andar.
— Tudo bem. Quanto antes melhor, não é? — Dei um pequeno sorriso.
— Dará tudo certo querido. — Afirmou pegando minha mão.
Assenti concordando e beijei sua testa carinhosamente. Me despedi dos meus pais em frente a porta do quarto deles e segui pelo corredor junto com Jason.
— Ansioso? — Perguntou assim que estávamos sozinhos.
— Um pouco. — Confessei suspirando alto.
— Relaxe, são apenas quinze garotas... O que poderia dar errado? — Ironizou dando uma risada baixa.
Sim, seriam quinze garotas, que provavelmente não se conheciam e conviveriam juntas por um bom tempo. Qual a chance de isso dar certo? Pois é!
Nos despedimos em frente a porta do meu quarto e respirei fundo assim que fechei a porta, me recostando nela. Andei calmamente até a cama e sentei a beirada. Suspirei baixo e olhei para a escrivaninha na parede oposta. Levantei e peguei a pasta cheia de papeis guardada na primeira gaveta.
Voltei a cama e espalhei as fichas sobre o colchão até achar o que eu queria, sorrindo de canto ao ver a foto dela.
— Ma Belle. — Sussurrei sorrindo de canto.
Era muita coincidência encontra-la assim, do nada, justamente quando estava tentando me distrair um pouco de toda essa coisa da convocação. Será que era um sinal? Nunca acreditei muito nessas coisas, mas pensando bem, era estranho tudo isso.
Coloquei os papeis novamente, mas deixei a foto dela de fora. Guardei novamente a pasta na gaveta do criado mudo que ficava ao lado da cama e segui ao banheiro para tomar um bom banho. Deixei a água morna aliviar meus músculos e quando estava mais relaxado, sai indo ao closet vestir o pijama.
Deitei na cama e respirei fundo algumas vezes. A noite estava com uma temperatura agradável e aproveitei para deixar uma fresta da posta da varanda aberta. Uma brisa leve entrava e circulava pelo ambiente. Fechei os olhos e tentei esvaziar a mente. Amanhã o dia seria corrido novamente e em dois dias esse palácio estaria cheio de garotas. Assim qualquer momento em paz era precioso agora.
***
Terminei de beber a dose de uísque e deixei o copo sobre o aparador do escritório. Nós estávamos ali desde depois do almoço. Meu pai tinha planos de reformar o hospital do centro da província e para isso tínhamos que trabalhar duro neste projeto.
— Então acho que é isso, podemos começar assim que tivermos a mão de obra e o material necessário. — Meu pai concluiu e Jony, um dos nossos assessores, assentiu concordando.
— Sim senhor, providenciaremos isso o mais rápido possível. — Deu um discreto sorriso.
Nos despedimos e enceramos a reunião, ficando apenas eu e meu pai no escritório. Abri os botões do terno que usava e sentei no sofá que havia no canto, perto da porta. Ouvi o suspirar baixo dele enquanto se encostava mais na cadeira e me olhava avaliativo.
— Como está com tudo isso? — Questionou.
— Bom, — Comecei pensativo, mordendo o lábio — Realmente não sei muito bem o que esperar, mas sei que é algo necessário.
— Não se sinta preso a tudo isso antes do tempo filho. Sei como deve estar se sentindo, porque também já me senti assim. — Deu um pequeno, mas caloroso sorriso – Você acha que não tem a menor chance de tudo isso acabar bem, mas as coisas podem mudar. — Deu de ombros — Veja o que aconteceu comigo... Encontrei sua mãe e sinceramente, foi a melhor coisa que já aconteceu em minha vida.
— Obrigada pela parte que me toca. — Revirei os olhos e ouvi sua risada baixa.
— Você entendeu. — Insistiu sorrindo e assenti concordando — Só quero que mantenha a mente aberta as possibilidades. Não precisa ser ruim e você pode realmente encontrar sua felicidade, assim como eu.
Assenti concordando enquanto pensava em suas palavras. Realmente essa era uma situação complicada. Sempre fui um homem meio romântico, minha mãe me criou desse jeito, então sim, sempre tive uma imagem na cabeça. Nela eu estava casado e filhos, um, dois, três ou quantos viessem. Nós no palácio, sentados na grama verde e fazendo um piquenique em um bonito dia de sol. Pode parecer fantasioso, mas não impossível.
— Vou ter isso em mente. — Assegurei e ele assentiu concordando enquanto levantava de sua cadeira.
— Bom, vamos jantar? — Perguntou e também levantei seguindo-o até a porta.
Caminhamos com calma e em silêncio até o salão das refeições. Quando entramos minha mãe já estava esperando. Ela sorriu assim que nos viu e meu pai beijou sua bochecha carinhosamente. Sempre achei bonita a relação deles e principalmente o respeito mútuo. Acho isso mais do que fundamental em um relacionamento.
Jason também já estava à mesa e o cumprimentei com um aceno discreto de cabeça. Sentei ao seu lado e então o jantar foi servido.
Jason era engraçado e nos garantia algumas risadas. Ele morava conosco desde que seus pais morreram. Não sei bem ao certo o que aconteceu e evitava entrar neste assunto, pois sabia como era perder alguém. Ainda lembrava de como sofri com a morte de minha avó Lívia ha alguns anos. Sempre fomos ligados e ela era como uma segunda mãe.
Quando já estávamos satisfeitos pedi licença e me recolhi. Amanhã era o grande dia em que as quinze garotas chegariam ao palácio.
A princípio eu não teria nenhum contato imediato com elas. Verônica, assessora pessoal da minha mãe, ficaria responsável por recebê-las e explicar como seria a estadia aqui.
Confesso que estava meio nervoso com isso, afinal teria quinze garotas desconhecidas morando aqui. Bom, tecnicamente catorze garotas desconhecidas, já que uma delas conheci recentemente. Mabel. Ok, conhecer é uma palavra meio forte, mas esperava que isso realmente acontecesse. Algo me dizia que seria interessante.
Me preparei para dormir e quando já estava deitado peguei à foto guardada na gaveta do criado mudo. Olhei com atenção até quase ter decorado cada linha facial de Mabel. Porque simplesmente não conseguia ignorar sua existência? Era como se algo me puxasse em sua direção.
Suspirei baixo e coloquei a foto de volta na gaveta. A fechei bem, afinal seria meio estranho se alguma criada viesse limpar o quarto e a encontrasse ali. Com certeza iria gerar algum burburinho e queria que essa convocação fosse o mais calma possível.
Virei de lado na cama e puxei o fino lençol sobre meu corpo. Fechei os olhos e graças ao cansaço em poucos minutos peguei no sono.
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