POV - Nicolau
~Nicolau~
Tenho vontade de dar meia volta e não me separar assim da Vivian. Impossível não me preocupar com ela, mas não tenho como seguir em frente se não falar cara a cara com o Erick.
Sei que ela terá um cuidado extremo. Afinal, está carregando o nosso filho. Nosso filho. Uma vida tão inocente que ainda nem tem forma direito, mas já me fez mudar de um modo que eu nunca imaginei. Só tenho que torcer para que os dois fiquem bem.
Vou andando e ignorando a dor na minha perna. Depois de um tempo eu até que me acostumo com ela.
— Aqui estou eu irmãozinho! — escuto um barulho vindo de algumas portas à frente.
Ando decidido e entro na sala. Ali era a única porta aberta. Ele nem tinha se dado ao trabalho de se esconder para me pegar de surpresa. Ele queria que eu o encontrasse. Assim que ponho o pé para dentro fico com medo de ser algum tipo de armadilha e estar bem lascado.
O que é exatamente o caso. Ele me desarma e joga minhas armas para bem longe. O que seria um problema bem sério se ele estivesse com suas armas. Mas ele não estava empunhando nada.
— Ainda bem que você me encontrou, já estava ficando cansado de tanto esperar — ele sorri e nem dou tempo dele falar mais alguma coisa. Estou tão frustrado com ele, que parto logo para a agressão.
Erick não parece nada surpreso com a minha investida e começamos uma troca intensa de socos e chutes. Nem sei quanto tempo passamos ali. O suor brota com facilidade na minha pele. Vejo que ele também está ficando cansado. Não falamos nada. Eu estava deixando os meus punhos falarem por mim. Ele sorri ao me afastar um pouco mais com um chute nas minhas costelas. Tenho que voltar uns passos para recuperar meu fôlego.
— Você já participou das lutas organizadas — ele afirma. Não parecia duvidar da sua frase.
— Sim. Já participei.
— Usou algum tipo de disfarce correto? Não é como se eu não fosse reconhecer o meu irmão.
— Pois naquela noite eu tive a impressão que você tinha me reconhecido mesmo atrás do meu disfarce... Mas pelo visto me enganei...
— Se enganou mesmo. Não me recordo de alguma noite lutar com você Nicolau. Mas aqui estou eu, reconhecendo alguns dos movimentos que você usa...
— Com certeza já lutamos.
— Bem que eu achei que tinha reconhecido esse estilo de luta. Nunca me esqueço de ninguém que já enfrentei. Mas não que eu tenha lutado com a mesma pessoa mais de uma vez. Normalmente eu só preciso de uma chance para acabar com a raça da pessoa.
— E você se orgulha disso Erick? Realmente, não tem mais nenhum traço do meu irmão em você... Não te reconheço mais.
— Pensei que poderia fazer você se interessar pela pessoa que eu me tornei, mas vejo que não ser possível...
— Como eu poderia me interessar e gostar de você Erick, quando parecia que a sua missão de vida era me incriminar pelos seus crimes?
— Mas eu fiz você me notar, não fiz?
— Claro que fez, mas não da maneira certa. Porque você simplesmente não me procurou? Poderíamos ter conversado, com calma, quem sabe eu poderia ter entendido o seu lado... — um nó se forma em minha garganta.
— E qual seria a graça disso?
— Teria muita para mim... Não gostei nem um pouco de ter que ficar me esquivando das tentativas de aproximação da polícia, e não foi nada divertido ser preso e algemado.
— Queria que tivéssemos algo em comum.
— Erick, não sei nem o que te dizer... Pensei que as palavras fossem sair de maneira fácil de mim, mas pelo o que me parece não. Nem sei se faria sentido eu falar com você tudo o que eu imaginei conversar...
— Não quer mais conversar irmãozinho? Então que tal partirmos para as despedidas? — ele diz e corre para pegar a minha arma que ele tinha retirado da minha mão.
Não tinha percebido que ele tinha se aproximado tanto assim dela.
Nem penso direito, corro logo em sua direção e assim que ele segura a arma, eu já estou no seu encalço, segurando suas mãos e lutando para não ter a arma apontada na minha direção. Ele tinha muita força e nossas mãos estavam no alto, com a arma apontada para algum lugar do teto.
Não sei se foi o meu dedo ou o dele que puxou o gatilho, mas a arma tem um pequeno coice, que é o suficiente para fazer com que o aperto da mão do Erick em torno da arma afrouxe um pouco e eu consiga retirá-la de sua mão.
Dou um pisão rápido em seu pé e logo depois estou dando uma rasteira nele, empurrando seu corpo para trás. Fico logo em cima dele, sentado em cima de seu peito e aponto a arma bem no meio de seus olhos. Minha respiração falha um pouco.
Sempre pensei que não fosse hesitar ao me ver nessa situação, mas o pensamento e a realidade do momento são coisas bem distintas.
Como eu pude pensar que seria fácil puxar esse gatilho?
— Quando a realização bate na sua cara ela não alivia não é mesmo? — Erick diz com um sorriso triste.
Estranho, pensei que ele fosse querer sair debaixo de mim, mas ele não movia um músculo sequer. Não que eu quisesse que ele lutasse contra mim, mas estou bem surpreso com a atitude dele.
— O que você quis dizer com isso? — pergunto sentindo o nó voltar a minha garganta.
— Nada... Só que as vezes demora muito para perceber uma coisa que sempre esteve dentro de você... — ele fecha os olhos e não sei o que pensar nesse momento.
— Não estou gostando nada do rumo dessa conversa Erick. Sei que pode não parecer, mas você pode falar comigo.
— Palavras não adiantam mais nada Lau — minhas mãos falham ao escutar ele me chamar pelo apelido que me chamava quando era criança. — Percebi que não tem mais jeito.
— Tudo tem jeito Erick, só não há jeito para a morte.
— Por isso mesmo — ele segura as minhas mãos e aponta a arma para o meio de sua testa mais uma vez.
Quando percebi a intenção dele, giro o meu pulso, o que faz com a arma dispare um pouco mais de um palmo ao lado de sua cabeça. O chão treme por conta do impacto e um pedaço de cimento é arrancado do chão com a violência.
— O que você pensa que está fazendo? — pergunto puxando minhas aos para trás e livrando meus dedos do dele.
— Você queria colocar uma bala no meio da minha cabeça, só estava te ajudando, já que você parece que não tem a coragem de fazê-lo.
— Não!
— Quer dizer que você não quer atirar em mim? Tem certeza que não quer? Depois de tudo o que eu fiz para você, é o que eu mereço e sei disso.
— Mas não era...
— Não adianta tentar me convencer do contrário. Não quero pagar aos poucos pelos meus atos Nicolau. Você não pode me negar isso.
— Claro que posso!
— Juro que não estou te entendendo... Você veio aqui porque queria falar comigo, veio armado e estava pronto para tudo... Porque agora que eu quero acabar com tudo você não aceita? O que está tão difícil de você aceitar?
— Acha que é fácil ver meu irmão assim e não ser capaz de ajudar? — digo, derramando lágrimas de puro desespero no rosto dele.
— Aí é que está Nicolau, eu não preciso mais de ajuda. Não preciso mais de nada. Eu finalmente entendi.
— Entendeu o quê? — digo entre soluços.
— O que eu preciso fazer. Como eu posso finalmente ajudar as pessoas....
— Você não está fazendo o menor sentido para mim Erick, podemos conversar sobre isso.
— Não. Não quero mudar de ideia. Por favor, me deixa ser forte enquanto eu ainda consigo — ele finalmente se mexe abaixo de mim.
Eu me afasto um pouco dele para que ele possa se sentar na minha frente. Ele retira um pen drive do bolso e me entrega. Ajeita os cabelos que estavam tão parecidos com os meus para detrás de suas orelhas. Suspira alto e sofrido por causa de seus ferimentos.
— Nesse pendrive tem os meus principais contatos. Entregue ele para a Vivian e ela vai saber como conduzir as investigações a partir dele. Vão encontrar muita coisa aí que é capaz de colocar muita gente ruim atrás das grades.
— Porque você está me dando isso? Porque você tinha isso?
— Quando se faz o que eu faço Lau, eu tinha que ter alguma forma de ter uma vantagem sobre essas pessoas. Informações são tudo. E eu estou lhe dando isso porque sei que você vai fazer a coisa certa.
— Podemos fazer a coisa certa juntos. Nem tudo está perdido meu irmão.
— Para mim está. Você tem noção quantas pessoas eu coloquei atrás das grades? Quantas pessoas eu enganei, subornei, matei, chantageei? De quantas pessoas simplesmente ganhariam o dia por me ver atrás das grades e poder finalmente colocar as mãos em mim?
— Você pode continuar fugindo — me odiei por uns bons momentos somente por pensar assim. Sei que o meu objetivo desde o começo era ajudá-lo, mas nunca pensei em desobedecer a lei tão descaradamente assim.
— Aí é que está. Percebi que odeio fugir. Odeio essa vida nas margens da sociedade. Eu achava que gostava. Achei que quando tinha você e fazia os meus bicos como traficante, que a vida era excitante e maravilhosa. Mas não é nada assim. Eu só estava bem, eu só conseguia ficar bem porque eu tinha um pilar, pois eu tinha você em tinha vida. Depois que eu me afastei de você, tudo foi perigoso demais, rápido demais. Pensei que fosse felicidade, mas era adrenalina. Eu não era feliz. Parei de ser feliz quando eu saí da sua vida.
— Mas você pode voltar para a minha vida.
— Não, não posso. Sou perigoso demais para ficar na vida de qualquer pessoa. Não quero mais. Só quero que isso acabe.
— Eu não posso deixar você fazer isso. Eu não quero deixar você fazer isso.
— Não vou para a cadeia Nicolau. Não vou continuar fugindo. Eu não sei mais quem eu poderia ser... Nem quero descobrir.
— Acho que não tem jeito... Não tenho como te convencer a permanecer vivo, certo?
— Certo — ele diz, desviando o seu olhar do meu. Mas isso dura apenas poucos segundos, pois logo ele já esta me olhando novamente. — Mas eu gostaria de te agradecer.
— Agradecer?
— Sim. Estar tão perto de você me fez lembrar de muita coisa boa. Me fez enxergar o que estava fazendo de errado e o que eu posso fazer para melhorar.
— Não precisa agradecer por isso. Mas se quiser me agradecer mesmo, pode continuar a viver.
— Desculpe, isso ee a única coisa que eu não posso fazer. Mas obrigado por me fazer ir embora dessa vida com um pouco mais de decência.
— Não posso ver você fazendo isso.
— E eu nem teria a coragem de pedir pra você fazer isso. Mas você pode me dar os meios necessários...
— Não quero.
— Estou pedindo somente por educação irmão. Tem muitos outros meios. Uns mais rápidos e outros nem tanto. Mas eu já decidi.
— Você sempre foi impossível Erick — digo com a garganta sem conseguir passar mais nada depois da última sílaba.
Sem dizer mais nenhuma outra palavra fico de pé e entrego a arma em sua mão. Ele sorri sem mostrar os dentes para mim e agradece num sussurro quase inaudível. Ele aponta a arma para a cabeça e eu viro de costas.
— Lau — ele me chama e eu me viro para encara-lo mais uma vez. — Obrigado por isso meu irmão. Espero que um dia você entenda. E se vale de alguma coisa, saiba que eu amei muito você. Espero ainda não te amar. Não quero que o sentimento que eu já tive por você seja contaminado por esse meu coração. Adeus.
E o dedo então volta a ficar sobre o gatilho.
Dou as costas para ele mais uma vez.
Então escuto o barulho da arma. Um único disparo é feito. E doeu.
Meu Deus como aquilo doeu.
Escuto o barulho da arma cair algum lugar atrás de mim. Não tenho coragem de olhar para trás e ver o que o Erick tinha feito. Meu coração fica apertado de um jeito que não pensei ser possível. Minhas pernas querem fraquejar, mas não me dou o luxo de cair.
Nem tento frear as lágrimas que caem dos meus olhos. Vou andando determinado a não olhar para trás. Mesmo sem ver dava para sentir que uma vida tinha ido embora ali. Não precisava ver o sangue dele. Não precisava mais ver a sua dor. Agora eu compartilhava um pouco dela.
"Eu também te amo Erick" penso antes de fechar aquela porta e selar de uma vez o destino do meu irmão. Coloco o pequeno pendrive em meu bolso e vou andando devagar, sem rumo, sem saber ao certo o que iria fazer agora.
Os olhos marcantes de Vivian vem na minha mente e sei que aquilo era um lembrete para procura-la e ter a certeza de que ela estava bem. Vou andando com cautela, com os ouvidos bem abertos para ver se consigo escutar qualquer coisa.
Consigo escutar barulhos vindo de um lugar não tão distante de mim. Vou me aproximando com calma até encontrar o lugar de onde as vozes vinham. Espero alguns segundos perto da porta somente para ter a certeza que era mesmo a Vivian.
— Se esconder não muda o fato que eu estou armada Vivian! — ouço uma voz feminina falar e eu quero entrar correndo ali. Provavelmente era aquela mulher que vimos mais cedo. Ela tinha uma arma apontada para a Vivian? Calma Nicolau. Se você agir impulsivamente provavelmente não vai conseguir fazer nada contra ela.
Olho com cautela para dentro do lugar e fico um pouco mais aliviado por ver que ela está de costas para mim. Vou andando devagar, na ponta dos pés, um pouco curvado tentando evitar um tiro mortal caso ela perceba que tem mais alguém ali com ela.
— Seria mais divertido se eu realmente não soubesse onde você está... Infelizmente, você acabou deixando uma pequena trilha de sangue... — ela volta a falar e imediatamente eu olho pro chão. A mulher tem razão, tem um rastro inconfundível de sangue no chão.
Fico nervoso por pensar que a Vivian pode estar gravemente ferida, mas se ela conseguiu fugir, ainda pode haver esperança. Eu só tenho que começar a andar mais rápido para que consiga imobilizar essa mulher antes que ela alcance a Vivian.
Tento controlar o meu desespero ao meu aproximar dela. Procuro alguma coisa que posso usar para desacorda-la e me contento com uma perna de ferro quebrada de uma cadeira. Por um milagre divino, consigo chegar atrás dela sem que ela me perceba.
Tenho que fazer isso direito e rápido pois só tenho uma chance. Mesmo não gostando nem um pouco do que vou ter que fazer agora, mas é o único jeito que tenho no momento.
Uso quase toda a força que tenho quando desço com velocidade o pedaço de aço nas costas da mulher. Ela anda uns bons passos para frente e por conta do susto, ela solta a arma de suas mãos. Mas ela não desmaiou como eu gostaria. Mas agora a Vivian não corria mais o risco de tomar um tiro.
Pelo menos isso.
A mulher olha na minha direção e parece surpresa ao me ver ali.
— Não sabia que tinha essa veia de assassino em você Nicolau... — ela fala com um sorriso perverso e então olha para onde a sua arma tinha caído no chão.
Ela parece avaliar se conseguiria correr mais do que eu, e provavelmente conseguiria. Minha locomoção estava bem delimitada.
— Estou um pouco decepcionada comigo mesma. Não acredito que estava tão confiante que o Erick tinha conseguido te parar que não pensei na possibilidade de você vir aqui.
— Pensa de novo então.
— Sou muito lesada.
— Você está é bem ferrada agora — Vivian diz apontando a arma na direção da mulher. Ela parecia tão aliviada em me ver e com certeza eu estava feliz em vê-la inteira e nada de sangue em sua barriga ou pior. Mas não consegui sorrir mesmo assim. Ela viu a tristeza no meu olhar e ela sabia exatamente o que eu estava passando agora.
Como eu era grato por ter conhecido aquela mulher. Por tê-la conhecido, por conseguir ama-la e ser sortudo o bastante para ela me amar de volta.
O que parecia ser um zumbido ao fundo, com uma velocidade enorme se tornou inconfundível. O som das sirenes policiais. Nunca na minha vida esse som me trouxe tanta paz quanto agora.
— Parece que não tem mais escapatória para você... — digo com um sorriso calmo.
A mulher numa última tentativa de liberdade tenta escapar pelo lado onde a Vivian estava. Mas a minha namorada foi rápida e acertou um soco tão forte e tão veloz no queixo da mulher, que essa não teve outra escolha além de cair desacordada no chão.
Dou os passos que nos separam e abraço a Vivian com força.
— Você está bem?
— Estou. E ela mereceu esse soco. E vai merecer toda a vida dela atrás das grades — ela diz com um sorriso fraco e se apoia em mim. — Acabou não foi?
— Sim. Acabou.
Dou um beijo no topo da cabeça dela e acompanho quando dois policiais entram na sala e começam a fazer o trabalho deles. Alguém vem fazer um curativo na minha perna e vão fazer alguns exames rápidos com a Vivian. Eu tinha um sentimento de conclusão dentro de mim. Agora poderíamos olhar para a frente sem o menor medo de sermos felizes.
E então meus leitores queridos. O que acharam dessa última conversa do Rick com o Nico? Por favor pessoas, que fique bem claro que eu não apoio a atitude que o Rick tomou. Eu acredito firmemente naquilo que o Nicolau disse. Há um jeito para tudo. Se você algum dia já teve pensamentos parecidos com esses finais do Erick, por favor, procure ajuda. De seus amigos, familiares, profissionais ou qualquer pessoa. Inclusive pode vir falar comigo se quiser... Estou sempre por aqui.
Mas enfim, esse capítulo exigiu muito de mim e eu perdi as contas de quantas vezes reescrevi vários trechos dele. Precisava dessa última dose de tensão antes de colocar as coisas em ordem.
Espero do fundo do meu coração que vocês tenham gostado, e se gostaram, não se esqueçam de deixar seu recado ou voto aqui (os dois juntos então, fazem o meu dia). Ainda temos mais um capítulo e o epílogo antes de encerrarmos Principal Suspeito.
Vou postar o próximo capítulo em breve. Obrigada a todos que estão acompanhando e até a próxima pessoal ❤
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top