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Enfio a chave na fechadura e giro. O quarto tem o cheiro suave da colônia que a Vanessa usava no dia-a-dia. Foi um pouco difícil respirar no começo, mas aos poucos fui superando aquela sensação. Vou até a janela, e abro as cortinas, deslizo o vidro e deixo o Sol e o vento entrarem no quarto.
Até a pouca bagunça que encontrei lá era bem a cara dela. As roupas mal dobradas. Os chinelos de dedo espalhados pelo quarto. Tudo ali lembrava ela.
Quer dizer, mesmo ela já não tendo muita coisa, já que tinha levado uma parte de roupas e pertences pessoais pro Leonardo. Mas mesmo assim, ela ainda tinha algumas coisas aqui.
Aproveitando alguns momentos para me recompor, saio do quarto e procuro algumas caixas para me ajudar com o empacotamento. Não sei se vou acabar ficando com alguma coisa, mas isso só vou descobrir quando começar a empacotar.
Começo por onde eu acho mais fácil. Seu armário, com umas poucas roupas que ainda residiam ali. Ainda bem que tudo ali dentro cheirava a sabão em pó e amaciante, senão eu teria chorado mais ainda. As roupas que eu encontrei foram todas para a caixa de doação. Não quis ficar com nada, seria uma lembrança mórbida e desnecessária demais.
Faço os mesmo com os seus sapatos e só fico com um par, que na verdade era meu, mas que ela tinha pedido emprestado. Tudo foi para outra caixa.
Agora ia chegar numa parte mais difícil. Aquilo realmente gritavam pertences pessoais e mexer naquilo ia ser difícil. Olho em todos os compartimentos de sua bolsa e o que eu encontro dentro de um dos bolsos de sua mala me enche de alegria.
Era uma foto minha e dela. No seu aniversário de quinze anos. Ela estava engraçada com um cabelo cacheado demais e com um vestido que tinha mais babados do que qualquer pessoa podia contar.
E mesmo com o cabelo meio estranho, com o sorriso brilhante por causa do seu enorme aparelho, o decote frouxo pela falta de seio, ela ainda era encantadora. Mesmo quando era completamente fora dos padrões de beleza convencional, ela chamava a atenção.
Ah minha irmãzinha, como eu sinto a sua falta!
Aperto a moldura da fotografia em meu peito e sorrio de leve com a lembrança desse dia. Lembro dos seis meses que antecederam o seu aniversário de quinze anos foram uma verdadeira loucura pros meus pais...
Continuo a empacotar tudo, guardando pequenas lembranças que me ajudariam a seguir em frente quando eu tivesse uma recaída. E fazer a limpeza naquele quarto tinha sido melhor do que milhares de sessões de terapia. Eu estava me sentindo mais leve, mas calma.
Era mais fácil e mais verdadeiro sorrir agora. As cinco caixas tiraram o peso e culpa que tinham dentro daquele quarto. E sei que o conteúdo dali de dentro seria de muito uso para outras pessoas.
Olho debaixo da cama para ter certeza que não estou esquecendo de nada. Vejo então uma caixa de sapato branca. Puxo para ver o que é. A tampa está um pouco amassada, mas reconheço logo a letra da Vanessa na tampa.
"Para a melhor madrirmã"
Minha garganta fecha na hora. Meu Deus, essa caixa era pra mim... E pelo peso dela, tinha algumas coisas dentro. Não sei se vou aguentar ver o conteúdo de dentro dessa caixa, mas não quero mais deixar a minha dor falar mais alto. Se Vanessa queria que eu visse isso, e é isso que irei fazer.
Abro a tampa e vejo um monte de coisas bem aleatórias ali dentro. Coisas que despertam lembranças felizes em mim. Vejo ali dentro o anel que eu tinha dado a ela no seu aniversário de dezesseis anos, foi o primeiro presente que eu dei a ela com o meu dinheiro. Vejo uma carta que ela tinha feito para mim para o dia do irmão, há uns bons anos atrás.
Vejo diversas fotos nossas, nos momentos mais descontraídos, e até mesmo em ocasiões mais sérias e familiares. Fotos com nossos pais, tios, primos e amigos. Fotos que me fizeram recordar muitas coisas boas pelas quais já passamos juntas.
Sorrio ao relembrar tanta coisa boa.
Vejo então um bloco de notas, com uma caneta enganchada nele.
Logo na primeira página desse bloco tem os votos de casamento dela. Não achei certo ler, mas fiquei feliz que ela já estava pensando nisso. Não sei se seria bom o Leonardo ver esse texto. Sinceramente não sei.
E congelei quando vi o meu nome, escrito com uma letra grande no começo de uma folha. Algumas linhas rascunhadas, seguiam o meu nome, mas meu coração estava batendo rápido demais para que eu conseguisse ler.
– Vivian? – escuto a voz do Nicolau me chamando.
– Aqui! – grito e encaro a folha de papel, que agora não passa de um borrão branco com letras embaçadas.
– Pelo visto você está bem ocupada mandona – ele diz com uma voz carinhosa e se aproxima de mim lentamente.
– A Vanessa escreveu isso para mim por causa do casamento dela... Mas não estou conseguindo ler...
– Está nervosa?
– Com certeza. E nem sei o motivo disso. Sei que vou gostar de qualquer coisa que estiver escrita aqui. Afinal, eu nem sabia sobre isso, então não é como não fosse atender as minhas expectativas.
– Posso ajudar em alguma coisa? – ele pergunta sentando ao meu lado.
– Lê pra mim? – peço e estendo o bloco de papel para ele.
– Tem certeza disso?
– Claro.
– Tudo bem então – ele segura o papel e o analisa por alguns segundos, antes de abrir um sorriso calmo. Ele respira fundo e começa.
"Vivian. Não podia ser outra pessoa a ser a minha madrinha de casamento. Tinha que ser você, que junto da mamãe, me ensinaram como ser a melhor mulher que eu poderia ser. Que sempre esteve ao meu lado, me dando forças nos melhores e nos piores momentos, mesmo muitas vezes não sabendo que me dava essa força. A melhor amiga que eu poderia imaginar em ter. A irmã que me ajudou a crescer, que me freou nos momentos certos e me impulsionou neles também. Obrigada. Por tudo. Por nada. Por estar comigo sempre. Eu te amo Vivi rainha!"
° ° ° ° °
– Me diz mais uma vez como foi que você me convenceu a vir mesmo? – eu pergunto cruzando meus braços e olhando para a praça que começava a ficar lotada de gente.
– Não vou revelar o meu segredo pra você mandona! Mas fico feliz por você ter vindo – ele retira o seu cinto de segurança e se aproxima de mim para me beijar.
– Sei... Você e seus segredos!
– Faz muito tempo que eu não tenho mais segredos com você mandona! Nem vem... Acho que você sabe tudo de mim...
– Estou brincando com você! Relaxa, não preciso saber tudo sobre você, mas me deixa feliz você achar que eu te conheço tão bem assim...
– Você quer sair do carro e dar uma voltinha comigo? – ele pergunta abrindo um sorrindo, que me deixa incapaz de negar.
Mal saímos do carro e já somos parados por alguns conhecidos do Nicolau que vem cumprimentá-lo com um sorriso falso e apertos de mãos que eu fiz de tudo para evitar.
A tarde ainda estava quente e iluminada e o palco estava a posto logo na entrada da prefeitura. Fitas e balões coloridos enfeitavam e rodeavam aquele pequeno palanque. Ainda não tinha visto nem sinal do prefeito... Deve ser por isso que o meu humor ainda estava aceitável, mesmo eu não querendo ficar muito tempo mais ali.
O clima ali era descontraído. Vi várias famílias, com seus filhos nos ombros, sorrindo, tomando sorvete, comendo pipoca, e se espalhando pela praça.
Olhei para o meu relógio de pulso e vi que faltavam poucos minutos para dar quatro da tarde, justamente o horário que tudo estava marcado para começar. Sei que esses eventos assim demoram um pouco mais para começar, porque sempre o policiamento demora um pouco mais para liberar a aparição do prefeito.
Por isso que eu estranhei quando pontualmente quatro da tarde, um dos assessores de impressa dá início a cerimônia de agradecimento aos cidadãos. Respiro fundo algumas vezes para manter a calma ao ver aquele ser desprezível tomar o seu lugar no palanque, com seu sorriso falso e acenando para todos ali presentes.
– Boa tarde à todos! Que alegria ver essa quantidade de pessoas do bem aqui reunidas para comemorarmos a felicidade da nossa cidade! – me deu vontade de vomitar quando escutei aquilo. – É uma alegria muito grande estar aqui e ser capaz de ver a quantidade de corações nessa cidade que eu alcancei. Somos mais do que uma cidade! Somos uma grande família.
Dou uma risada, pois quando olho para o Nicolau, ele está revirando os olhos de uma maneira muito engraçada. Ele me abraça e fala baixinho no meu ouvido.
– Por que foi que eu convenci você a vir mesmo?
– Insistiu tanto, agora aguenta... – sorrio.
Mesmo não querendo, volto a minha atenção para o palanque. Ele está falando um monte de coisas sobre um crescimento da cidade, uma evolução, uma cooperação que me dá vontade de rir alto.
O que esse cara sabe sobre liderança? O que ele sabe sobre as necessidades do povo? Ele nunca soube colocar a necessidade de ninguém na frente da necessidade dele. Ainda bem que ele encerrou aquela fala. Vi várias pessoas aplaudindo e chorando, completamente emocionadas. Era ridículo tanta gente ainda ficar emocionada com esse tipo de discurso.
Não era possível que somente eu percebia que tudo o que ele falava ali era somente da boca para fora. Ele não sentia nada do que estava falando e algum assessor que deve ter escrito isso para ele. Era uma droga ter que presenciar isso calada.
– Que a nossa cidade nunca pare de crescer com vocês e para vocês! – ele diz com um sorriso que despertou um nojo profundo em mim.
Ele correu os olhos com calma pela multidão, e sei que quando ele me viu, seu sorriso se alargou, e ele parecia vitorioso ali olhando diretamente para mim. Tive que engolir a vontade de gritar um vai se foder, a vontade que tive de erguer o dedo do meio pra ele.
Seu olhar estava inquietante sobre mim e não respondo por mim se ele continuar a me olhar com essa cara de paspalho, eu subo nesse palco e dou uns bons socos nessa cara lisa dele.
– Impressão minha, ou o sorriso escroto que está no rosto dele nesse momento é direcionado a você mandona? – Nicolau pergunta no meu ouvido.
– Não é impressão. Ele está curtindo isso...
– Vontade de empurrar esse sorriso dele goela abaixo de soco.
– Pensamos igual! Mas que tal se fossemos embora? A presença desse homem me faz mal, não quero mais ter que escutar a voz dele.
– Claro minha linda, já cumprimos o nosso papel aqui!
Ele sorri e enlaça seus dedos nos meus. Mas não nos afastamos nem quinze metros quando escutamos um barulho bem alto. Um barulho que eu sabia bem do que era, mas nunca tinha escutado tão de perto assim.
Viro para trás bem a tempo de ver a segunda explosão nascer. Uma bola de fogo estava crescendo no lugar logo atrás de onde o prefeito estava. O fogo cresce de forma implacável e engole sem piedade o prefeito e boa parte da equipe dele.
Meus olhos arregalam tanto e tudo o que consigo gritar é para que todos se abaixem.
Nicolau cobre o meu corpo com o seu quando somos jogados para trás com o impacto da explosão. O chão treme com a força. O ambiente esquenta de uma maneira quase que insuportável.
Tudo acontece rápido demais.
Não acho que o prefeito tenha sobrevivido a isso. Não tenho como ter ideia de quantas pessoas foram atingidas! Várias perguntas sem resposta rondavam a minha cabeça, mas a que era a mais alta:
Quem era o responsável por esse ataque?
KABUUM meu povo! E teve confusão e explosões nesse capítulo! Eita como eu estava com vontade de liberar esse capítulo! Ainda não estou tendo como revisar o texto, então já sabem não é? Perdoem a falta de acentos e outros errinhos que encontraram por aqui ;)
E agora pessoal? Será que vocês sabem responder a pergunta da Vivian? Vocês tem ideia de quem está por trás desse ataque ao prefeito mau caráter? Olha. Tenho que tirar uma coisa do meu peito, por favor não briguem comigo por dizer isso, mas... JÁ FOI TARDE.
O que acham que a história ainda reserva? Não pisquem! Que os capítulos finais vão trazer ainda muita emoção. E se gostaram do capítulo, já sabem o que fazer. Até o próximo capítulo pessoal :* ❤
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