– O que você está fazendo aqui Neto?

Minha irmã disse que esse era o pai do filho dela, e quando me lembro que ela disse que ele tinha dado um nome falso para ela, tudo fazia sentido. Eu o conhecia como Neto, mas agora não sei mais se esse realmente é o nome dele.

– Vim te procurar Vivian, eu preciso de sua ajuda.

Você que vai precisar de ajuda pra poder tirar o meu pé encravado na sua bunda de tão forte que eu vou chutá-lo. Engravidar a minha irmã e fugir sem dar o menor sinal de vida? Hoje não companheiro...

– Neto, você some da minha vida há anos e do nada aparece na minha porta pedindo ajuda, por que eu deveria fazer isso? – e principalmente sabendo que você abandonou a minha irmã?

– Eu sei disso Vivian, mas é que você é a melhor pessoa que eu conheci e agora que eu fiquei sabendo do seu cargo na polícia sabia que só você poderia me ajudar numa hora dessas...

– Você está bem encrencado não?

– Demais. Eu nem sei por onde começar. Eu... Eu posso entrar?

Ponderei a pergunta dele. Deixaria aquele estranho entrar na minha casa? Depois da história da minha irmã com ele? Depois da minha história e dele? Sem saber ao certo o que fazer eu fico parada na porta, sem falar nada.

– Eu entendo Vivian. Eu que não deveria ter aparecido assim na sua porta sem falar nada e já pedindo favores, é que eu realmente estou desesperado e não sei mais a quem recorrer, você é meio que a última luz no fim do túnel.

– Neto... Nem sei o que dizer para você... Quer saber, ou talvez eu saiba exatamente o que eu quero falar com você... Juan – falei seu nome falso pausadamente e seus olhos se arregalaram em duas piscinas chocolate.

– Como você... Sabe esse nome?

– Acho que eu sei mais sobre você do que você imagina Juan – eu dou um passo na sua direção e fecho a porta atrás de mim. Indico a minha pequena calçada para que possamos sentar. Não vou deixar ele entrar na minha casa com a minha irmã ali dentro. Só espero que o Nicolau esteja cuidando bem dela...

Alguns anos antes...

Estou resolvida. Hoje será a minha última noite de farra. Depois dela eu vou me dedicar aos estudos e quero subir na polícia em pouco tempo. Vou me esforçar muito. Só preciso de uma noite dessas e eu vou suportar todas as noites que eu vou virar estudando. Para fazer e trabalhar com aquilo que eu amo.

Estou no meu quarto e já é a quinta roupa que eu experimento. Mas nenhuma delas me parece adequada para a noite de hoje.

– Já te disse que você tem que ir com esse seu vestido vinho Viv! Não vai ter um cara em são consciência que não vai olhar para você...

– Tem certeza Vanessa? Ele não é muito curto?

– Deixa de besteira Vivian! Quando eu for mais velha e puder sair, você vai ver o que é curto de verdade... E outra, você é toda linda mana! Tem mais é que se exibir por aí... Beijar uns carinhas e tudo mais...

– Não sei de onde você tira essas ideias, mas você está a cada dia mais maluca Vanessa, eu tenho é pena dos nossos pais quando você ficar mais velha... E do seu namorado então... Nossa, coitado dele...

– É, eles vão sofrer na minha mão – ela dá uma gargalhada baixa e joga o vestido que ela falara na minha direção. – Vamos Viv, já que eu não posso sair agora, você poderia me levar no espírito do vestido.

– Espírito do vestido Vanessa, sério?

– Você entendeu.

– Tá certo. Vou com o vestido.

Vanessa tinha razão. Era um vestido de matar. Seu tecido escuro e macio se delineava com o meu corpo e me deixava cheia de curvas. Se for uma última noite de farra, seria uma última noite para ninguém botar defeito.

Totalmente pronta e produzida me despeço dos meus pais e irmãs e entro no táxi que tinha pedido. Peço para ele me levar para uma das boates mais bem frequentadas da cidade. Em menos de vinte minutos eu já estou parada numa fila gigante para ver se eu consigo entrar naquele inferno de lugar.

Os minutos iam passando devagar e meus pés já iriam começar a reclamar do meu salto, mas eu queria que meus pés reclamassem por conta das muitas músicas que eu tinha dançado e não por ficar meia hora imóvel numa fila.

– O que uma menina tão linda como você está fazendo aqui nessa fila sozinha e desacompanhada? – uma voz masculina fala perto de mim.

– Não tenho culpa, é essa maldita fila que não se mexe meio milímetro... – reclamo com o rapaz que nem conhecia.

Ele era bem apessoado. Usava calças jeans surradas na medida certa e uma camisa de botões verde que realçavam seus olhos escuros. Uma corrente prateada quase delicada chamava atenção para o seu peito grande e bem malhado.

O cara era bonito.

– Me chamo Neto, e você?

– Vivian – peguei sua mão que estava estendida na minha direção. Ele levou até seus lábios e deu um beijo.

– É um prazer conhecê-la Vivian. Você quer sair dessa fila? Posso te colocar para dentro sem o menor problema – ele fala apontando para o começo da fila.

Concordo já que tudo o que eu queria naquele momento era entrar naquela boate e dançar até meus pés criassem algumas bolhas. Quem sabe tomar alguns drinks coloridos e agir sem pensar em cada passo que daria. Então seguro o braço que ele me oferece e começamos a passar por todos esperando pacientemente para entrar.

Não vou ter mais noites como essa daqui para frente.

Somente com um aceno de cabeça o segurança corpulento nos deixa passar e a batida da música já começa a fazer o chão tremer. Essa noite promete...

Luzes piscavam constantemente e mesmo com aquela quantidade de gente ali dentro, a boate ainda tinha um cheiro agradável... O bar ficava suspenso no primeiro andar e o fluxo de pessoas ali era muito grande.

– Obrigada Neto – falei um pouco mais próxima do ouvido dele para que pudesse me escutar, não contava em sentir um perfume bom.

– Não há de quê... – ele praticamente gritou, mas logo se aproximou de mim, passando perigosamente perto da minha boca. – Você quer beber alguma coisa?

– Agora não – não me leve a mal Neto, mas eu acabei de te conhecer, como é que eu sei que você não vai colocar alguma coisa na minha bebida? Prefiro comprar a minha bebida eu mesma.

A noite foi passando rapidamente. Neto se provou um dançarino muito bom e uma companhia muito agradável. Tão agradável que antes que os meus pés implorassem pelo seu mais do que merecido descanso, eu estava beijando alucinadamente o Neto no meio da pista de dança. Não lembro ao certo do restante da noite.

Acordo com uma dor de cabeça forte num apartamento que eu nunca tinha visto. Olho para baixo e vejo que estou com uma camisa folgada e com minha calcinha. Merda! Mas o que diabos eu fiz no restante da noite?

Olho para o lado e vejo meu vestido num monte de tecido vinho. Meu sutiã a poucos metros dele. Merda, isso está cada vez pior. E quando eu olhei para o lado e vi um torso muito bem esculpido e nu ao meu lado tive que fechar os olhos e encarar, eu tinha dormido com esse cara. Fiquei um pouco menos deprimida quando vi uma foto dele no criado-mudo e o reconheci de ontem. Neto o nome dele.

Antes que eu possa sair da cama, Neto acorda e fica alguns segundos me encarando com seus grandes olhos escuros. Nunca fiz isso, não faço a menor ideia do que eu tenho que fazer nesse momento.

– Antes que sua cabeça exploda, tem um pote com aspirinas na primeira gaveta aí do seu lado. E em segundo lugar, não fizemos nada, fique tranquila. Mas não foi por falta de tentativas suas... – ele diz com um sorriso sacana e se espreguiça.

– Ah meu Deus, o que eu fiz? – pergunto escondendo o meu rosto entre as mãos.

– Você estava muito mal ontem, não me disse qual era o seu endereço, não quis te deixar solta à sorte, então te trouxe aqui para o meu apartamento. Tenho que te dize, estou impressionado com as suas habilidades no strip Vivian. Realmente impressionado, mesmo completamente bêbada, você ainda sabe fazer um show...

– Eu não fiz isso... Fiz? – estou chocada, não imagino um cenário que eu tenha a coragem de retirar a minha roupa para um cara que eu nem conheço...

– Ah, e como fez... Tive que usar o meu cavalheirismo de quase uma vida toda para não me aproveitar de você...

– Obrigada, isso foi um amor...

– Não me entenda mal, tive alguns momentos em que quase tive uma recaída, mas eu me mantive firme e fiz o que qualquer cara direito deve fazer: fui tomar uma ducha fria e te entreguei uma roupa limpa e confortável.

– Não se encontram mais cara como você por aí Neto...

– É, acredito que sim... Mas não conseguiria me perdoar se ficasse com você naquele estado. Me chame de convencido, mas quero você lúcida quando formos ficar juntos.

– Quando? – pergunto erguendo uma de minhas sobrancelhas.

– Como eu disse, me chame de convencido – ele sorri e levanta da cama.

– Convencido – falo brincando e sorrio. É, não dormimos juntos, mas se tivesse, depois de ter essa conversa matinal com ele, tenho a convicção que não seria de todo o mal...

– Quer tomar um banho? Até te ofereceria alguma coisa para comer, mas se você não curtir muito macarrão instantâneo de manhã, eu conheço uma padaria há pouco menos de um bloco daqui.

– Pode tomar banho, sem pressa. E a padaria me parece ser uma ótima ideia.

**********

Tivemos um rolo por pouco mais de cinco meses, coisa boba, coisa de adolescente. Para ser bem sincera agora nem eu lembro o motivo pelo qual nós terminamos... E como toda coisa de adolescente eu não conheci a sua família assim como ele não sabia quase nada da minha. Foi intenso e ao mesmo tempo superficial.

Só sei que terminamos e não nos falamos por muito tempo, quer dizer, não nos falamos desde que dissemos adeus.

E agora ele está ali, sentado do meu lado, me pedindo ajuda. E sinceramente não sei o que respondo à ele.

– Olha Vivian. Sei que temos um passado e tudo, mas gostaria saber se poderíamos deixar isso de lado por alguns momentos e você colocar sua capa de justiça...

– VOCÊS TIVERAM UM PASSADO? – a voz de Vanessa era estridente logo atrás de nós.

Viro rapidamente e vejo Nicolau ajudar a minha irmã a ficar de pé, já que subitamente ela tinha perdido o equilíbrio. Merda! Mil vezes merda!

– Vanessa? – ele está de olhos arregalados e quando ele vê a proeminência da barriga da minha irmã seus joelhos fraquejam na hora.

– Acho que aqui era o último lugar que você imaginaria que eu estaria não é Juan? – Vanessa está muito nervosa, ela se vira rapidamente e corre para dentro da casa, batendo a porta com força, deixando nós três sem muita reação do lado de fora.

Eita pessoal e agora? Passado voltando para mexer um pouco com as coisas. E o Nicolau, mesmo sem querer ficou ali no meio da situação. O que acham que vai acontecer agora? Não se esqueçam de deixar o seu comentário e voto aqui ^^ Beijo grande e até breve ;**