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- Então você já me conhece não é senhor Castilho? - encosto minhas costas na cadeira e cruzo minhas pernas e braços, o encarando.

- É difícil esquecer um rosto como o seu...

- Isso era para me deixar lisonjeada senhor Castilho?

- Não, isso não, era... Desculpe - ele volta para o seu canto e parece envergonhado.

Como? Normalmente num perfil de assassino, eles costumam ser descontraídos, assim como ele estava sendo quinze segundos atrás, mas o que aconteceu com ele? Porque ele ficou calado tão de repente? Será que está com medo de falar alguma coisa que não deveria?

Fiquei confusa com aquela atitude dele. Mas não posso perder a oportunidade de falar com ele. Tenho que extrair qualquer tipo de informação dele.

- Então me diga senhor Castilho, imagino que se o senhor me conhece, deve saber o porque de estar aqui...

- Sim, eu sei o motivo.

- E você tem alguma coisa a falar sobre isso, você não quer um advogado para lhe defender?

- Não, estou bem assim senhorita.

- Tenente Darela para você.

- Tenente Vivian Darela - admito que um pequeno arrepio percorreu meu corpo ao escutar ele falar meu nome com aquela voz e lábios grossos.

- Porque você fez isso Nicolau? - me levanto da cadeira, tentando fazer meu sangue circular melhor. Estava nervosa, mas não podia demonstrar aquilo. Quem sabe se eu não ficar olhando muito para ele, consiga ficar mais calma.

- Fiz o que? - ele pergunta calmo, posso sentir seu olhar me perseguindo.

- Não se faça de inocente senhor Castilho... - apoio minha mão sobre a mesa.

- Posso ser muitas coisas Tenente, mas inocente não é uma delas... - seu olhar baixa, e ele encara suas mãos algemadas.

- Então você admite que está por trás disso? - não consigo esconder a minha felicidade, se ele confessar agora, seria tudo mais fácil.

- Eu não admito nada Tenente, não sei do que a senhorita está falando. Estou falando de alguns acontecimentos da minha vida que me tomaram a inocência, agora se eles coincidem com os acontecimentos que a senhorita fala, já não posso confirmar.

- Você conhece muito bem um jogo de palavras senhor Castilho - falo, saindo do meu apoio da mesa e andando pela sala.

- Se alguma coisa que meus quase seis anos na faculdade de direito me ensinaram Tenente, é que muitas vezes as palavras são as armas mais poderosas de uma pessoa.

- Disso eu não posso discordar de você senhor Castilho - falo, ficando bem atrás dele nesse momento. E o cheiro dele era divino. Cassete Vivian! Se concentra mulher! Você não trabalhou todos esses anos para ser enganada por cheiros e beleza. - Então, me disseram que você estava um pouco apressado senhor Castilho, posso lhe perguntar onde o senhor estava indo?

- Acredito que pode.

Silêncio. Mas que babaca, estava usando palavras contra mim.

- Você vai me dizer o motivo por estar tão apressado senhor Castilho, tinha que estar em algum lugar, ou até quem sabe fugindo de algum lugar? - falo ficando na frente dele.

- Ah, pensava que você não ia me perguntar - ele abre um meio sorriso. - Quando se passa um tempo longe de casa, você sente saudades do seu lugar.

- Então era tudo pressa de chegar em casa? - falo sem acreditar nada.

- Sim.

- E porque eu não acredito em suas palavras?

- Porque quando se tem todas as evidências apontando para uma pessoa, viciados em justiça como você só conseguem enxergar o acusado como o próprio diabo.

- Isso não é verdade senhor Castilho. E você não me conhece o suficiente para assumir que eu sou assim.

- Verdade. Desculpe por isso. Mas é que quando se conhece diversas pessoas assim, só posso imaginar que todos são assim.

- Não se deixe enganar pelas aparências senhor Castilho, há mais numa pessoa do que ela deixa mostrar.

Ele ri baixo, mais para si mesmo.

- O que é tão engraçado senhor Castilho? Disse alguma coisa que lhe trouxe humor?

- Não é isso é que... - ele me olha nos olhos e quase fala alguma coisa, mas as palavras não saem.

- É que o quê Nicolau? - sei que pode parecer pouco profissional estar o chamando pelo seu nome, mas percebo que ele estava querendo falar alguma coisa. Quem sabe se eu fingir uma intimidade com ele, ele não fale?

- Acredito até que eu tenha falado um pouco demais...

- Acho que você falou um monte de nada senhor Castilho - não consigo esconder a frustração em minha voz.

- Admito que não pensei que você fosse capaz de encontrar provas suficientes para me prender... - ele fala, mudando completamente de assunto. Faço uma anotação mental. Ele esconde alguma coisa.

Mesmo tendo essa pequena conversa com ele não consigo imaginar que ele esteja por trás desses assassinatos. Me chame de doida, qualquer coisa, mas meu instinto nunca falhou comigo.

Não sei se essa seria a primeira vez.

- Esse é o maior erro que você pode ter cometido senhor Castilho, me subestimar.

- Longe de mim subestimar você senhorita Darela, sei muito bem que você é muito boa no seu trabalho, estou falando das pessoas ao seu redor...

- Da minha equipe? - quem ele pensa que é para falar mal das pessoas que me ajudam no trabalho? - O que tem ela? Acho bom você dosar muito bem suas palavras agora senhor Castilho...

- Anotado Tenente. Mas acredito que não seja a sua equipe que eu estou falando...

- Então de qual equipe é?

Batidas na porta o fazem calar. Sei que ele não vai mais falar meia sílaba. Mas que coisa, o que aconteceu agora? Porque estão me interrompendo?

- Guarde esse pensamento senhor Castilho. Ainda não terminei com você.

- Até breve Vivian - sinto meu corpo arrepiar por ele falar meu nome. Ainda penso em lhe repreender por isso, mas como já disse, quem sabe a intimidade não possa fazer ele confessar?

Olho então para ele e não mudo minhas feições por nenhum momento.


Abro e fecho a porta atrás de mim não conseguindo não sentir uma coisa diferente. Uma voz baixinha no meu coração praticamente gritava. Não é ele. Não foi ele. Cala boca voz! Tenho que pensar um pouco, tenho que tirar as minhas próprias conclusões.

- Vivian - Fábio estava na minha frente, estalando os dedos a poucos centímetros do meu rosto.

- Ah, oi Fábio - falo tentando me recompor.

- Você tá legal? - ele me questiona com aqueles grandes olhos claros.

- Sim, é que...

- Sei bem como deve ser ruim passar todo esse tempo com esse psicopata... Mas vai tudo se resolver Vivian, ele está nas nossas mãos agora.

- Eu sei Fábio, é o que me deixa mais tranquila.

- Mas voltando um pouco nessa tranquilidade, Vivian, recebemos uma ligação agora a pouco.

- Sim, e qual o problema?

- Os policiais que chegaram no local disseram que são mais três vítimas dele... - Fábio fala e fecha seu punho.

- Três? - estranho, ele só matava de uma em uma...

- Sim, é um casal e um morador de rua.

- Casal? Morador de rua? - mais estranho ainda.

Ele nunca tinha matado duas pessoas juntas antes. Um casal. Onde ele quer chegar com isso? E antes de mais nada como eles podem ter tanta certeza que foi ele? Ele estava chegando no porto, mas se ele não tivesse chegando e sim somente escondendo alguma coisa? E onde o morador de rua entrava na história?

- Como os policiais tem tanta certeza que é dele?

- Ele deixou um recado... E o local onde eles estavam é bem próximo do porto, leva menos de dez minutos andando de onde o prendemos...

- Recado? - essa é nova. - E como sabemos que o recado é verdadeiro?

- Alguns detalhes Vivian, detalhes que não liberamos à imprensa, coisas que ele não poderia saber se não fosse realmente ele.

- Entendo...

- Ainda não te falei o pior - ainda tinha mais, mas que merda! - Tem um recado especial pra você Vivian...

Não aguentei. Aquilo parecia estar me consumindo e pensar que o possível responsável por aquilo está na porta atrás de mim... Meu sangue ferve de tanta raiva e eu tento esconder isso. Por isso que ele estava com pressa, queria sair dali.

- Me dá só um minutinho Fábio, eu vou lá com você - pego na maçaneta novamente e a aperto entre meus dedos.

- Vivian, o que você quer fazer? - Fábio me conhece bem ao ponto de não conseguir esconder minhas emoções dele. Mas se bem que não estava trabalhando muito agora para escondê-las.

- Só um minutinho Fábio - abro um sorriso falso e ele sabe que não vai conseguir me impedir. Só se ele me imobilizasse e saísse comigo dali desacordada ou algo do gênero.

Mas ele não consegue.

- Certo - ele fala soltando uma bufada de ar e posso perceber que ele está chateado. Só lamento, tenho que fazer isso.

Entro novamente na sala e Nicolau parece surpreso em me ver ali novamente.

- Não sei porque a cara de surpresa Nicolau, até parece que você não sabe que eu ia voltar aqui.

- Eu realmente não sabia...

- Conta outra senhor Castilho, e eu quero saber o que tem naquele recado que você não teve a coragem de falar pessoalmente? Só espero que pela pressa que você estava, tenha deixado alguma coisa para trás. Sabe, por meio segundo eu acho que acreditei em você sabe? Na sua inocência... Mas vejo que errei grotescamente.

- Vivia... - o interrompo batendo forte na mesa de madeira maciça.

- É Tenente Darela para você - falo cheia de raiva e saio da sala novamente.

Não sei como pude me deixar enganar assim, mas isso termina aqui. Estou com um nó formado na garganta e nem sei porque. O engulo com muita dificuldade e nem olho para o Fábio enquanto ele me acompanha até o carro da polícia.

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