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– Bom dia Vivian – Fábio fala animado ao passar por mim pelo corredor.
– Oh, Fábio, bom dia – respondo tentando ser o mais simpática possível.
– Noite difícil? – ele pergunta com meio sorriso.
– É, acho que eu posso chamar aquele pedaço de escuridão mal dormido de noite... Mas você nem imagina como foi difícil.
– Sua sorte é que a cidade está calma. Depois quero conversar com você Vivian – ele sorri e vai em direção à sua sala e eu vou para a minha.
– Claro Fábio – falo antes que ele se afaste demais.
E foi como ele disse. A cidade está calma. Mas o que eu mais tenho medo dessa calmaria toda é que eu só tenho a impressão que estamos no meio do olho do furacão. Que quando essa calmaria passar, tudo vai virar de cabeça para baixo. De cabeça para baixo, do avesso, vai tudo ir para o brejo.
Tento não ser tão negativa assim, mas é difícil, principalmente quando se tem um trabalho como o meu, onde se vê tanta coisa ruim e o pior lado do homem.
Ao sair do meu turno eu passo no médico da Vanessa e a pego depois de sua consulta. Ela está toda feliz porque o médico concordou em trocar as suas vitaminas. A tarde está bonita, e Vanessa me convida mais uma vez para um passeio pela cidade. Estaciono perto da praia, Vanessa queria dar uma olhada no pequeno comércio que começava a surgir ali.
Estávamos passeando no calçadão perto da praia e vimos a sorveteria.
– Hum, vontade de tomar sorvete... – Vanessa fala lambendo os lábios.
– Acho que o meu sobrinho vai viver somente de sorvete Vanessa...
– Também estou achando, mas estou sempre com vontade de tomar sorvete, nem sei mais o que eu faço... Vou engordar sete quilos somente de sorvete!
– Deixa de besteira, que mesmo que você engorde dez quilos você ainda vai estar magrinha! Tem que ter mais corpo pra sustentar meu sobrinho.
– Ah Vivian, nem vem com essa história também... O médico já me pôs numa dieta de engorda rigorosa! Não vem você me dizer também que eu tenho que parecer uma porca pra carregar o meu filho!
– Não parecer uma porca, mas não sumir quando vira de lado! – falo brincando e Vanessa cai na gargalhada.
Passamos na sorveteria e Vanessa consegue comer 4 bolas de sorvete! Fico impressionada como ela está comendo muito agora. Ela comeu quatro e eu ainda lutando para terminar a minha segunda.
Estava começando a escurecer, então resolvo levar a minha irmã para casa, não queria que ela se esforçasse demais. Voltamos a caminhar pelo calçadão e lá várias pessoas aproveitavam a brisa do mar e o Sol ameno para fazer corridas e caminhadas.
Claro que eu vejo meu suspeito vindo em minha direção. Com sua roupa de corrida cinza e fones de ouvido ele sorri ao me ver. Merda.
– Olá Vivian – ele me cumprimenta ao diminuir o passo de sua corrida e parar na minha frente. Droga, sempre esqueço o quão alto ele é. Ergo o meu olhar para conseguir olhar em seus olhos. Já tinha desistido da Tenente...
– Nicolau – aceno e sorrio meio que lado. Como é que o filha da mãe conseguia ainda ficar com um cheiro bom mesmo ensopado de suor?
– Olá moça – ele fala olhando para a minha irmã. – Acredito que não nos conheçamos, me chamo Nicolau – fala, estendendo a mão para Vanessa.
– Vanessa, irmã da Vivian – ela sorri e pega sua mão.
– Encantado em conhecer você Vanessa – ele toma a mão da minha irmã em suas mãos e dá um beijo.
– Oh – vejo como a Vanessa cora. Ela pega a sua mão livre e leva até o rosto, escondendo a sua vergonha.
– Vocês duas se parecem muito – ele fala apontando para nós.
– É o que dizem... – Vanessa fala feliz. – Vou deixar vocês dois conversarem um pouco – Vanessa diz e se afasta de nós sorrindo e quando ela fica nas costas do Nicolau ela sorri e finge se abanar com suas mãos. Droga, porque ela foi fazer isso?
Luto com todas as minhas forças para não revirar os olhos.
– Aqui – ele me entrega um pedaço de papel.
– O que é isso?
– Uma senha para caso você quiser monitorar as câmeras do armazém. Hoje eu levei todos os equipamentos, esqueci completamente de deixar um com você...
– E você somente por acaso estava andando com esse papel?
– Na realidade eu estava pensando em passar na sua casa mais tarde somente para deixar isso, mas como acabei encontrando com você aqui...
– Mas que coincidência não?
– Não acredito nessas coisas Vivian. Coisas acontecem pra quem vai atrás – ele fala convicto.
– Nicolau eu tenho que falar com você...
– E o que estávamos fazendo até esse momento? – ele diz.
– Você é um grosso sabia? – deveria nem dizer para ele que eu encontrei o irmão, mas é família, ele quer tanto saber sobre o irmão, não poderia deixar de falar para ele. – Seu irmão parece mais simpático.
– M-m-me-meu irmão? – seus olhos arregalam. Acho que era a primeira vez que eu tinha ouvido ele gaguejar.
– Sim, eu acho que você tem razão sobre o seu irmão. Acho que o encontrei ontem.
– Você falou com ele?
– Claro que não Nicolau, você está maluco? Eu só o vi de longe, mas vocês têm muitas semelhanças, e o chamavam de Rick... São muitas semelhanças...
– Rick está vivo – ele abre o sorriso mais lindo que eu já tinha visto nele. – Sabia que não tinha perdido a minha cabeça...
– Mas pode ser somente uma coin... – ele nem me deixa terminar, me puxa para um abraço e me dá um beijo no topo da cabeça. Meu corpo inteiro entra em ebulição.
– Obrigado.
Ele fala e eu me vejo calada, sem palavras para dizer. Sinto o seu sorriso abrir enquanto ele me apertava. Pessoas passavam ao nosso lado e não se davam conta do que acontecia ali. Ainda bem que eles não viram o meu rosto completamente vermelho.
– Tenho que ir, tenho muito mais a fazer agora. Obrigado mais uma vez – fala recolocando os fones de ouvido e se afastando de mim novamente sem me dar a oportunidade de ter a última palavra.
Nem sei quando tempo fiquei parada olhando o nada, só voltei pra terra quando a Vanessa estava estalando os dedos na minha frente.
– Viv! Minha nossa! Volta pro mundo mulher!
– Eu estou aqui – falo sacudindo a cabeça e reorganizando meus pensamentos.
– Você conhece todos os homens bonitos da cidade é Vivian? Minha nossa Senhora! – Vanessa fala se abanando com as mãos. – Acho que eu vou ter que tomar outro sorvete só pra ver se eu esfrio – fala rindo.
– Você é uma boba Vanessa...
– Eu estou boba mesmo com aquele cara... Que homem lindo!
– Vamos logo pra casa antes que você tenha que entrar numa banheira de sorvete para acalmar esses hormônios malucos!
– Huuuum, uma banheira de sorvete, não seria uma má ideia... – ela ri e voltamos para casa.
Depois de tomar banho e me trocar, eu a ajudo a preparar o nosso jantar e depois fomos assistir um pouco de televisão. Ela adormece no sofá, e eu tenho que acordá-la para que ela vá dormir melhor no seu quarto.
Aproveito que não estou cansada ainda e aproveito para limpar a cozinha e guardar tudo o que tínhamos usado e lavado. Quando entro no meu quarto, só coloco meu pijama, um bem mais coberto, só por precaução.
Olho para a minha bolsa que está em cima da poltrona. E é quase como se o papel que o Nicolau tinha me dado estivesse queimando ali dentro.
Eu queria ver? Queria saber o que estava acontecendo lá no armazém? Como seria o reencontro dele do irmão? Queria ver o que aconteceria?
Sim, eu queria.
Pego o meu notebook e o pequeno pedaço de papel e sigo as duas pequenas instruções que tinham lá. E logo o meu computador já tem as imagens de todas as câmeras que eu tinha instalado.
Fico impressionada com a quantidade de pessoas que estão ali. Muitos dos rostos são conhecidos na cidade e eu nunca imaginaria que a pessoa gostasse disso.
Muitas mulheres com roupa curta e colada. Homens altos, fortes e exibindo seus corpos fortes. Me impressionei quando vi algumas mulheres sentadas nas cadeiras, colocando bandagens em suas mãos, cabelos presos em tranças apertadas em suas cabeças. Mulheres também iriam lutar... Quase engasgo quando vejo que uma das mulheres a colocar bandagem nas mãos e a moça simpática da padaria. Acho que era Paula o seu nome...
A mulher da padaria, alguns dos mecânicos que consertaram o um carro há uns pouco de dias, a moça do supermercado... Tanta gente da cidade participando e eu não fazia ideia. Tenho que melhorar minhas técnicas de observação.
Todos então se viram para um mesmo lugar. Mudo a câmera até conseguir ver para onde todos olhavam. Quase caio para trás quando vejo que é o prefeito da cidade, não consigo escutar o que ele está falando, mas pela quantidade de palmas que as pessoas batem assim que ele para de falar, creio que foi um discurso bem divertido.
As luzes diminuíram um pouco, para que os holofotes perto dos ringues brilhassem com mais intensidade. Então iria começar. E eu ainda não tinha visto o Nicolau. Mas foi só falar dele...
Nicolau entra no armazém. Seus cabelos estavam mais claros do que o usual e seu rosto estava quase irreconhecível. Não sei como ele tinha conseguido mudar tanto em tão pouco tempo. Mas o seu sorriso sacana era o mesmo e inconfundível. Junto disso, seus olhos.
Estava sem camisa e usava um calção de lutador folgado e preto. Bandagens cobriam parte das suas mãos, deixando somente metade de seus dedos expostos. Estava descalço e conversava com um rapaz bonito e alto. O rapaz parecia estar nervoso e falava sem parar, olhando muito para os lados.
Acho que era a primeira vez que eu o via sem camisa e tatuagens lhe cobriam parte do peito e braços. Bem sexy. Agora não sei se as tatuagens eram de verdade, ou ele tinha feito somente como parte do disfarce dele. Me peguei torcendo para que fossem de verdade.
Forcei meu olhar para longe do Nicolau. Meus olhos estavam atentos e procuravam o Erick.
Eu o encontrei acredito que no mesmo momento que Nicolau também o viu. Nicolau observava e mesmo pela distância da câmera, consegui ver seus ombros tensos e suas mãos se apertando com força, até os nós de seus dedos se confundirem com a bandagem em sua mão.
O rapaz percebendo isso afasta Nicolau dali e o leva o mais longe que consegue de Erick. Então as lutas começam e vejo a quantidade de pessoas que se aglomeram perto do ringue. Nicolau vai para um canto se concentrar para a luta, e Erick vai para o outro, fazer o mesmo.
Fiquei impressionada em perceber o quanto Nicolau lutava bem. Ele tinha um bom boxe, e acabava com os seus oponentes em poucos minutos. Foi diferente ver esse lado do Nicolau. Sempre o vi com suas roupas caras, com seus jogos de palavras. Agora tudo o que ele fazia era se expressar com os seus punhos.
Quem estava apresentando as lutas era o prefeito. Ele estava empolgado e pela sua desenvoltura ali, eu tinha a certeza que não era a sua primeira vez ali naquele ringue.
Acho que era a quarta ou quinta luta do Nicolau, não estava prestando muita atenção nas lutas, quando ele pareceu cansar um pouco mais.
Fiquei observando toda a movimentação. Não vi rolando nada de álcool, nada de drogas, nada muito além da ilegalidade. Somente esse povo sem noção se batendo sem nenhum objetivo aparente. Se eu encontrasse algo, poderia acabar com isso, levar à justiça o prefeito... E boa parte da cidade...
Mas por essa noite me contento em assistir todo aquele circo. A luta das mulheres foi bem impressionante, e a moça que trabalha na padaria deu uma surra numa morena que eu desconhecia.
Não para de chegar pessoas no armazém. Aquilo estava ficando abarrotado de gente. Acho que se eu tivesse ido também, poderia me misturar no meio da confusão. Até penso em ir, mas prefiro ficar em casa, não quero que dê alguma coisa errada só porque apareci.
Só pensei que essa poderia ser a única chance do Nicolau de ter um contato com o irmão. Porque se o irmão não o procurou, deve ter um motivo.
As luzes se apagam. Fico nervosa por alguns pensando que alguém pode ter descoberto as câmeras, mas quando elas voltam a se acender, vejo dois holofotes focados em duas pessoas.
Nicolau e Erick.
Mas que merda? Eles iriam lutar agora?
Bom diaa, vamos começar a nossa semana bem e com um capítulo bem quentinho de Principal Suspeito? Bem, espero que gostem ^^ Obrigada à todos que acompanham a história. Em breve teremos mais um capítulo do Nicolau ^^ Beijos e até breve ;*
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