Capítulo 58
Asterin dobrou as pernas e olhou para as estrelas sobre sua cabeça e sentiu o peito doer. Da última vez que havia ficado assim ao ar livre tinha o calor de Marlon para aquecer seu corpo e manter sua mente distraída, agora o céu brilhante apenas trazia memórias.
Lembrou do castelo de Catalan e os dias de chuva de meteoros, os quais Akanta e Aires se deixavam ser levados por ela até uma das torres para observar todas aquelas estrelas caindo, pensou em Vincent e ele a ensinando a identificar as constelações do céu, então em Kay, na festa de aniversário dele.
Os olhos se encheram de lágrimas e, assustadoramente, uma dor no peito cresceu e a fez apertar os lábios. Ela não queria chorar, não agora. Contudo, era inútil, sentia falta de todas as pessoas de Catalan, estava devastada em pensar no seu antigo pai e primo. Queria eles de volta ou então saber que aquele momento seria a última vez que os veriam, quem sabe teria dito algo, feito algo, qualquer coisa, para demonstrar o quanto amava eles.
Precisava não desabar na frente da tia e de Blair, mas não era capaz de conter as lágrimas. Queria gritar e implorar para o Criador devolver essas pessoas em sua vida, sentia que deveria ter mais um adeus, um abraço, porém fechou os olhos e deixou as lágrimas descontroladas deixarem seu rosto molhado.
- Isso passa. - Blair disse sentando ao lado dela - Por incrível que pareça, esse sentimento passa.
Asterin olhou para a moça que sorriu levemente e permitiu passar um de seus braços pelo seu ombro.
- Quando eu tinha a sua idade... eu sei como é. - ela suspirou - Vai existir sempre a saudade, mas esse desespero, vazio... vai passar. Às vezes você vai chorar e... você vai ficar bem.
Então, a princesa, filha de Erick e Brenda, deixou o choro correr solto, abraçou a moça em um ato desesperado de conforto e sentiu seus ossos sendo apertados tão suavemente por ela, desejou dizer algo, mas... o abraço era o suficiente. Depois, ela ia desejar agradecer por aquelas palavras simples e cheias de significado, contudo, nunca seria capaz disso.
- Tá, princesa... - ela soltou a menina e limpou suas lágrimas - Depois disso eu... acabei com as Guerreiras.
- Elas já tinham sumido na época? - Asterin disse respirando fundo e tentando se manter calma.
- Menina me respeita! - Blair disse rindo - Eu sou mais velha do que você, mas não devo ser mais velha do que Marlon!
Asterin riu e concordou olhando para os traços de Blair, nenhuma ruga ou linha de expressão, realmente tinha sido uma pergunta estúpida.
- Conhecia as lendas das Guerreiras e morria de raiva delas. - a moça disse rindo - Achava um absurdo elas terem abandonado Aron assim... do nada. Uhall, infelizmente, é um país complicado e... elas ajudavam a controlar a exploração do povo. Sem elas, o vinho que é tão apreciado por todos de lá, fica contaminado de sangue e suor.
- Eu sinto muito.
- Apesar de sua família ter transformado meu país em uma Estado vassalo do seu... isso não é sua culpa. Por mais que todos de lá dizerem que é. Já era assim antes da primeira Avalon, ela só...
- Não fazer nada é ser conivente. - Asterin a interrompeu.
- Há muitas variáveis. - a guerreira riu - Você deveria saber disso, não dá para sair fazendo o que der na telha.
A princesa suspirou se lembrando do caso das moças espancadas, como ela queria ter ido e feito algo na hora que a informação chegou! Blair estava certa.
- Enfim, um dia eu estava completamente perdida, não sabia o que fazer e como proceder com a minha vida. Poderia trabalhar, mas era nova e isso abaixa o salário consideravelmente, tinha... uma opção bem ruim e... quando dei por mim estava arrumando uma mochila para viver na floresta. - ela sorriu - Estava torcendo para que meus poucos conhecimentos fossem o suficientes. Não foram... em poucos dias eu estava com muita fome, frio e medo, só não tinha sede porque vivia próxima aos rios. Acho que foi o destino responsável por ter encontrado uma guerreira.
-Minha tia?
- Fui conhecer Aloïsia apenas anos depois. Ela é bastante reclusa e... não sei o que ela viu em mim, mas fico feliz com isso.
- Como você reagiu quando descobriu as criaturas mágicas?
- Nada de mais. O mundo só ganhou mais um perigo para lidar.
- Simples assim?
- Para você não foi?
- Estou tentando entender Gavriel até agora. - ela deu uma risada nervosa.
Blair concordou rindo de volta, fez um pequeno comentário de não conseguir compreendê-lo também.
- Mas... é estranho você ter resistido a ele tão facilmente. - ela complementou - Aloïsia evita olhar para aquela fada diretamente. Marlon deve ocupar muito seu coração.
- É, ele ocupa.
- Por que você voltou, então?
A menina franziu as sobrancelhas e tentou decifrar no rosto da moça o que ela quis dizer. Piscou algumas vezes e soltou o ar.
- Você está perguntando do motivo de eu ter vindo para Zaark assumir meu lugar?
- Sim. Agora você tem responsabilidades, um peso em suas costas e muita confiança depositada, se tivesse mantido a farsa, ninguém nunca iria descobrir que você é mais do uma barda.
- Barda... - ela riu - Eu tenho alma de camponesa. Acho que Marlon também.
- Enfim... mais do que aparenta.
- Eu não lembro dos meus pais, mas... ainda os amo. Não sei explicar... é um sentimento estranho e até pesaroso, uma sensação de não querer errar com eles.
Blair concordou e olhou para as estrelas.
- Isso é bonito, mas não o suficiente para se transformar em rainha.
- E tem o povo... não conseguiria viver vendo as pessoas sofrendo. Como eu disse, não fazer nada e ser conivente.
- Bem... tente não viver assim para sempre. - a moça se levantou escutando Aloïsia voltar da floresta - Caso ao contrário, estará carregando um peso imaginário nos ombros.
Asterin viu suas companheiras conversando e voltou a olhar as estrelas.
Na manhã seguinte, com o Sol subindo pouco a pouco no horizonte, as três levantavam o acampamento. De acordo com Aloïsia, tinham o resto da grande montanha de Zaark para subir.
- Ainda não compreendo o motivo disso tudo... - a moça disse jogando terra no resto da fogueira - Por que subir a montanha e ir até o deserto?
- Tem que conhecer tudo de Zaark. - sua tia disse calma.
- Mais areia? - ela riu - Tinha uma preta na cidade de Marlon.
Discretamente, ambas guerreiras trocaram olhares de divertimento. A coitada da garota ia ter um ataque em breve, mas por hora, era melhor deixá-la em sua ignorância. Mesmo que tentassem, nunca acreditaria nelas e... não seria tão engraçado a sua expressão de supresa.
- Bem... - Blair falou - Pode ser só areia, mas ninguém além de nós, a rainha e os nativos tem permissão de ir até lá.
- Mais uma das leis extremamente específicas e sem muita razão de ser. Ninguém ia conseguir chegar lá, de qualquer forma.
- Ah muitas lendas a cerca do local. - Aloïsia disse - Falando sobre o formato circular da nossa cadeia de montanhas aqui, do motivo de ter um deserto lá, suas riquezas e... o que se esconde.
- Você mesma disse que são lendas e... são ótimas para se divertir, mas estão longe de base para a verdade.
- Fala a menina que não acreditava em fadas.
Asterin olhou para a fadinha, a qual parecia brilhar cada vez mais que subiam em seu ombro e torceu a boca.
- Ainda assim... certas coisas são difíceis de acreditar. A própria árvore de ouro e prata, só toquei no assunto, pois me lembrava dela, mas...
- A magia já deixou de parecer que faz parte do nossos dias. - Aloïsia falou tocando em uma árvore - Sabe qual é o maior erro do ser humano?
- Ódio?
- Soberba. - Blair disse rindo.
- Nós fazemos parte da criação. - a líder continuou - Nascemos para viver em harmonia com a vida ao nosso redor, isso inclui a própria magia. Obviamente não conseguimos e tentamos usufruir dessas coisas de modo predatório, obrigando a nos separar e esconder tudo que homens desejoso de poder poderiam buscar. Quanto maior é a soberba, menos a pessoa poderá ver das belezas do mundo, pois tudo o que toca lhe pertence, não está vivo e nem lhe atrai.
- Não fomos criados para possuir, mas para simples e puramente viver. - Blair completou - O Criador tinha o simples plano de viver conosco, sem status ou...
- Guerras. - Asterin disse respirando fundo.
- Isso! - a tia deu um sorriso triste - Na época de Celina a magia já tinha sido muito usada para guerras e morte de milhares. Ela sabia os estragos e não queria que eles acontecessem, então, com um acordo com os nativos fecharam a floresta e o deserto.
- A lei é feita para isso.
Ambas concordaram e subiam cada vez mais e mais. Talvez, todas aquelas loucuras escritas nos livros embolorados e de papel amarelo tinham um pouco mais do que uma imaginação fértil de um povo sem nada para fazer. Bem, mas... ainda era difícil de imaginar algo muito além do que ela vê.
Precisou para algumas vezes para se acostumar com o ar fraco ao seu redor, sem contar com os próprio e enormes cavalos, em algum momento pegou seu casaco e viu a neve se formar sobre seus pés, como mágica. Sorriu para si quando o Sol se pondo refletiu em seus olhos e ela pode ver o céu laranja e vermelho próximo de seu rosto, as nuvens que pareciam ouro e o pouco de azul escuro que se formava.
- Bem vinda, ao deserto de Zaark. - Aloïsia disse rindo.
Asterin decidiu olhar para baixo e a medida que seus olhos desciam pela encosta da montanha na sua frente, ela via a descida ligeiramente mais inclinada que a subia na suas costas, com suas matas exuberantes diminuindo até se tornar uma grama rala e, enfim virar areia pura. Olhou mais e mais para o centro daquilo que mais se assemelhava a um buraco e viu a areia e mais areia, até encontrar com uma estranha vegetação com um lago no centro e...
Asterin olhou para Aloïsia em busca de respostas, mas a mulher se limitou a ri e continuar sua cavalgada.
Tinha uma pequena aldeia ali, com barracas muito diminutas em comparação a outra, a qual Asterin viu, tinha até alguns nativos andando. Só que um enorme animal ocupava o local, estava deitado, com as patas debaixo de sua cabeça de cobra e seus olhos fechados, as escamas verdes brilhavam intensamente, calda estava jogada no caminho dos habitantes e as asas cobria o resto de seu corpo.
Um dragão... Celina escondeu um dragão da ganância humana, provavelmente o dela própria.
- Por que verde é a cor oficial de Zaark? - a tia perguntou quando a moça alcançou as duas.
- Há duas explicações... a mais aceita, atualmente é que a cor era a do brasão da família de Celina, que era descendentes de tradicionais, aproveitaram apenas do significado de esperança e as belas matas que temos como mais motivos. A outra, as quais se encontra em qualquer livro de lendas é que o dragão verde... foi o dragão usado pela primeira rainha como montaria.
- Conhece mais lendas de dragões?
- Eles eram usados pelos tradicionais para dominar terras e povos... - Asterin disse ainda observando o mastejoso animal de longe.
- Na realidade, os dragões e seu domínio vem dos povos nômades. - Blair riu - Como Rohana.
Asterin olhou para as duas, as quais tinham o rosto cheio de diversão. Riu, incrédula.
- Eu havia me esquecido.
- Sangue de dragão corre nas veias dos Lillac e... - Aloïsia sorriu - O nosso.
Ela continuou cavalgando pela montanha abaixo e quando, enfim nas areias, já frias, a princesa foi recepcionada pelos nativos. Os olhos negros da menina não conseguiam se afastar do animal, sua atenção tinha sido captada pelas escamas e asas. Como quem sabe que estava sendo observado, o dragão abriu os olhos.
Asterin hesitou, o animal havia piscando algumas vezes e se voltou para ela, abriu a boca e uma fumaça saiu para os céus. A princesa não conteve as risadas de descrença e se apavorou a ver sua tia aproximar do animal com as mãos estendidas.
Uma mordida, simples assim, o braço de Aloïsia seria arrancado completamente, sem o menor esforço, mas a guerreira não hesitou quando o animal de aproximou perigosamente. Os dedos dela tocaram nas escamas e rapidamente a mulher pode abraçar o rosto da criatura, rindo.
- Venha! - ela disse acenando para Asterin - Andem, você tem sangue Briendal, ele vai reconhecer!
A menina quis se encolher, mas a admiração e o fascínio perante ao animal fez ela sorri e caminhar até lá com o coração batendo a mil, o dragão apenas a observava, austero e, estranhamente, alegre. Frente a frente com o bicho, sua respiração falhava e o calor chegava suavemente em sua direção, Aloïsia não disse nada, apenas pegou a mão da sobrinha e elevou da mesma forma, a qual ela tinha feito antes.
O animal cheirou os dedos dela, fazendo cócegas e abaixou até os meio dos olhos ficasse na pequena mão. Ela soltou o ar supresa e sorriu para o animal com os olhos cheios de água, não sabia de onde essas emoções vinham, mas eram antigas e ancestrais. As escamas eram duras e a pele era quente, estranhamente confortável.
- Gørnn... - a Guerreira disse sorrindo - O nome dele.
- É um enorme prazer...
O dragão aproximou o rosto no dela e a princesa o abraçou com força.
Já no castelo de Zaark, uma bandeja de jantar fumegante entrava no quarto de Akanta, que sorria diante da comida. Na sua frente, estava sentado duas pessoas para uma visita, ligeiramente, desconfortável. Valentina, gentil e alegre e Marlon, carrancudo e silencioso.
- Então... - a princesa gaguejou - Vocês... você conheceu Ga... Avalon, como?
- Ladrões da floresta... - Marlon suspirou - Ela tomou uma facada e eu a levei para casa, ter tratamento.
- Então, não foi só eu e Alec que tentamos matar ela. - a moça disse sorrindo sem graça.
Marlon não gostava de Akanta. Não tinha que se explicar, apenas o som daquela voz gentil e infantil da sua frente era associado ao ataque rápido, como um bote de uma cobra, na direção da sua amada, indefesa, o irritava. Ele queria, muito, que aquela lembrança da vida passada, a qual fazia Asterin sofrer tanto, apenas não ficasse ali.
- Além de seu pai... - ele disse, vermelho e sem pensar, se arrependeu diante do silêncio desconfortável.
Os pratos, já na mesa, tinha um cheiro que atingeu os narizes dos três. O nobre, o qual veio servi-los sorri e sai discretamente pela porta.
- Ela... - Akanta tenta falar, hesita, mas decide por fim dizer - Ela se lembra de algo?
- Os pesadelos. - ele continua - São as lembranças.
- Já ouvimos gritos... - Val disse arregalando os olhos - São pesadelos, apenas?
- Apenas... - Akanta e Marlon dizem ao mesmo tempo bufando, isso tirou um sorriso do rapaz.
- Ela, antigamente, acordava todo o castelo e ficava impossível de devolver seu sono. - a princesa pegou os talheres e o barulho da sopa sendo misturada vem aos ouvidos de Marlon, assim o cheiro de tempero diferente.
- Ela mexe muito e... as vezes grita, mas não sempre. - ele suspirou - Nem muito.
- Esses dois são um casal extremamente grudados... - Valentina disse rindo - Chega a ser nojento de tão fofo.
- Nunca imaginei Gayla sendo fofa... - Akanta riu.
- Bem, eu não achava que Marlon teria a força de vontade para ficar em uma sala com você sem que te atacasse. - Val tomou um gole do chá - Estou impressionada.
- Princesa Avalon desejou com a princesa Akanta ficasse viva e bem... - ele disse seco.
Akanta pigarreou, observando o tamanho do rapaz a sua frente. Foi vergonhoso ter sido derrotada por um cego, contudo, o tamanho e a aspereza, a qual ele passava, sarou seu orgulho em partes. Ele poderia torcer o pescoço sem muito esforço.
- Eu e ela tivemos nossas diferenças, mas... sempre foi uma boa amiga. - ela suspirou, enquanto enchia a colher com o líquido da sopa - Agora, tenho uma dívida de vida.
Marlon ia falar algo, contudo, o cheiro vindo da sopa estava deixando-o incomodado. Conhecia bem os cheiros e todos os temperos de Zaark e até alguns trazidos para cá, aquele ali era familiar, mas nada que ele estivesse reconhecendo.
Então, ele lembrou do dia que o lorde Lillac levou os dois para seu lugar secreto, todos cheiros suaves das flores, juntamente com um que chamou sua atenção, igual o de agora. Assustado ele reagiu, bateu a mão na mesa, impedido que a princesa colocasse a colher na boca e assustado Val.
- Acônito! - ele disse desesperado - Você comeu algo?
- O que?
- Sua sopa está envenenada!
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