Capítulo 51

As palavras pesaram na sala e olhos discretos foram na direção de Asterin, que com aquele vestido exalava uma aura quase imaculada, tirando pelos seus olhos inchados e olheiras profundas e escuras. A menina apenas suspirou e apertou o braço de Marlon em busca de apoio.

- O que sugerem? - a voz rouca e arrastada dela soou lentamente pela sala silenciosa.

- Mate-no! - o lorde Knightley não hesitou em dizer.

- Não acho que isso seria prudente. - o lorde Lillac disse suspirando - Isso iria acarretar em uma retaliação de Catalan e...

- Já estamos em guerra. - Val suspirou cruzando os braços - Na realidade matar Alec seria uma retaliação perante a morte de Kay e o ataque aos inocentes.

- Não gosto de nenhuma medida que acarreta mortes. - pela primeira vez Marlon deu uma opinião no Conselho de maneira enfática, isso não só atraiu olhares de curiosidade como de reprovação.

- Estamos em guerra, meu senhor... - um dos nobres disse suspirando - Tudo o que fizermos aqui vai acarretar em mortes.

Marlon deu de ombros e suspirou, não adiantava muito discutir sobre ponto de vista. Asterin mantinha o olhar perdido para a fênix sobre a mesa, não parecia ouvir direito nada, mas levantou os olhos durante algum tempo.

- Eu quero aquele homem morto! - o Lorde Knightley insistiu - Ele tirou de mim meu único herdeiro e meu filho! Pouco me importa Catalan ou a guerra, quero justiça.

- Não chame de justiça o que é vingança. - lorde Sticker disse cruzando os braços.

- Quem determinou esse limite? - Knightley rosnou. 

- Não acho que isso vai trazer algo para nós... - Estêvão suspirou - Talvez seja melhor mantê-lo como um prisioneiro político e...

- Mas qual é o real valor dele? - Ravena interrompeu - Sinceramente, não sei se ele vale ao ponto de ser considerado como moeda de troca.

- Irmã, você apoia uma pena de morte? - Flora disse segurando a barriga já aparente.

- Não falei isso. - a moça passou a mão pelos cabelos negros - Disse que não sabemos o valor de Alec e talvez ele nem vale tanto assim. Não quero entrar na discussão de mantê-lo vivo ou não. Não posso falar quando eu mesma já usei a vingança.

- Alec conhece Aires pessoalmente e ele tem sangue nobre... - Asterin falou pela segunda vez, ainda perdida em si mesma - De segunda categoria, mas nobre.

- Isso pode valer... - Estêvão deu de ombros - Apesar de não dar para prever muito o novo rei.

- Deixe Catalan sentir que não estamos de brincadeira. - Val disparou - Pode ser que o valor dele seja pequeno, mas se matamos alguém assim pode deixar um recado bem claro!

A princesa permanecia em silêncio e os olhares sobre ela pareciam aumentar.

- Eles nos chama de bárbaros... - lorde Lillac disse massageando as têmporas - Acho que matar alguém assim apenas daria motivo para isso.

- Problemas! - Knightley disse se levantando - Acha que eu ligo para isso? Me chama de bárbaro, de cruel e de tirano, pouco me importa, perdi meu filho nessa bagunça, nenhum de vocês têm ideia do que eu estou...

- Sentindo? - a voz de Lillac ficou sombria, ele cruzou os braços e levantou uma sobrancelha - Ia dizer isso?

Silêncio.

- Acha que é o único em uma posição difícil e está sentindo muito? - os olhos puxados para o roxo estavam vazios - Eu estou contra meus netos que nem tive a oportunidade de conhecer, a única coisa que sobrou da minha filhinha! Quer dizer... talvez isso não tenha importância, porque todos eles não têm a herança de Zaark, o sangue de ouro, poder dos nossos antepassados e toda aquela baboseira que ensinam para nossas crianças. Isso também inválida o que nossa princesa possa está sentindo, já que pouco importa se ela cresceu com aquelas pessoa. Nenhum de vocês dão a mínima para nada, desde que estejam confortáveis...

O homem se levantou e ajeitou os cabelos brancos com um suspiro.

- Foda-se, façam o que quiser! - ele começou a sair da sala - O clã Lillac só não assumirá seus erros, nem concordará com banhos de sangue, independentemente da cor dele.

A princesa olhou para o homem que saia, o qual lançou um olhar de compaixão para a moça, o único que ele havia feito desde a morte de sua filha. Asterin conseguiu pensar que todo o péssimo humor que ele aparentava deveria está ligado ao fato de ter perdido tudo naquela guerra, toda a família que ele poderia ter tido.

A porta bateu e o ambiente ficou mais difícil de respirar.

- Mantenho minhas palavras e posição! - o lorde Knightley insistiu - Quero Alec morto, executado na frente de todos como punição a morte de meu filho.

- Avalon... - a voz suave de Valentina chamando sua rainha a fez se mexer - O que você acha?

- Isso não trará Kay de volta.

- Não, mas também não deixará seu assassino solto por aí. - Knightley insistiu.

- Avalon, se for decidido que ele deve morrer, quem fará a execução será você. - Ravena disse cruzando os braços.

Isso atraiu a atenção da garota, que ficou branca e engoliu seco.

- O seu reino também está envolvido nisso... - Estêvão disse se virando para Adam - Há alguma opinião sobre, temos que lembrar que seu nome será manchado.

- Carnavil não tem pena de morte, mas... - ele engoliu seco e passou a mão na cicatriz - Não se opõem a punições severas. Isso aconteceu no território de vocês, com um de vocês e nós não iremos contestar suas decisões. 

- Minha princesa... - lorde Knightley foi para o lado da menina e pegou a sua mão enquanto ajoelhava - Por favor, me escuta...

Marlon queria dizer não. Asterin estava muito fragilizada e aquele homem tinha maneiras que despertavam a desconfiança do rapaz, mas ele não poderia fazer muita coisa. Segurou a mão da amada com mais força, para lembrar que ele estava ali.

- Meu filho morreu na mão daquele homem que torturou Zaark durante anos, aquelas meninas não foram as primeiras que ele torturou na frente de todos. - ele respirou fundo - Seu pai teria enlouquecido se visse como as terras que sua avó havia deixado para ele se tornou durante esse tempo. Alec não é um homem bom e matá-lo seria vingança não só para mim, mas para muito mais famílias.

Os olhos de Asterin estavam fixos nos do lorde, mas parecia que ela não havia o escutado. Doce engano, o coração dela estava batendo rápido e as palavras dele repetindo várias vezes em sua mente, seu pai... seu primo... seu povo... quanta coisa havia sido perdida durante esses anos? Agora ela tinha nas mãos poder, capacidade de fazer alguma coisa, qualquer coisa...

- Amanhã irei matar Alec. - ela disse assustando todos.

- Avalon... - Val disse se levantando, não gostou do que o lorde havia falado - Você não tem que fazer isso.

- Eu sei...

- Kay não ia querer que você fosse contra a si mesma. - ela insistiu.

A garota apenas abaixou a cabeça e sentiu os olhos úmidos. Kay não ia ver aquilo mesmo.

- Está decidido! - a princesa se levantou e deu as costas para o Conselho.

A medida que a menina aí saindo, Ravena viu que a barra de seu vestido branco estava sujo."

Gwen parou para beber um pouco, pareceu um pouco mais reflexiva do que antes. Apertou os lábios até ficarem brancos e suspirou, olhando para o rapaz ruivo.

- Eu estava lá no dia da execução! - uma mulher disse animada - Lembro da cabeça daquele homem nojento caindo no chão e da multidão animada. Foi...

- Cruel. - a garota disse prendendo o cabelo - Eu também vi, me lembro também dos gritos animados diante a uma morte.

- Mas você mesma disse que Alec não era uma boa pessoa...

- E nós somos? - ela bufou.

- Eu fiquei aliviado em saber que Alec ia ser morto... mas... nunca entendi os motivos de terem feito uma execução pública. - o ruivo suspirou - Isso não fez a gente melhor do que ele quando matava as pessoas em palanques.

- Então por que fizeram? - eu digo cruzando os braços.

- Ninguém sabia. - a moça disse apertando os lábios - Achávamos que ia ser uma execução a moda antiga, Avalon ia até a floresta com ele e o mataria, mas o lorde Knightley insistiu que queria algo assim e ele organizou e chamou o povo. Ele pessoalmente arrumou as roupas da princesa.

- Ainda assim isso foi bom! - um homem insistiu - Necessário, melhor dizendo.

- No quê? - Gwen quase gritou - Não ganhamos nada com isso! Catalan continuou atacando mesmo assim, com mais raiva do que deveria. Além de que Akanta insistiu no seu ataque... foi sangue derramado da mesma forma.

- Catalan também derramou sangue inútil. Foi eles que começaram com tudo. - eu digo cruzando os braços.

Tenho que concordar com as outras pessoas. Matar Alec pode ter sido cruel e sem significado, mas estávamos sem guerra e... bem... o que mais  acontece eram mortes sem sentido, além disso não foram nós que decidimos seguir esse caminho pela primeira vez. Mas Gwendolyn e o seu amigo trocaram olhares, sabiam de algo que mais ninguém sabia.

- Ainda não é tempo. - ela suspirou - Bem... enquanto isso acontecia, Akanta se aproximava da capital de Zaark e Aires estava terminando de organizar a sua marcha. Sabia que as vitórias de Uhall sobre as terras atacadas estavam diminuindo e ficando cada vez mais complicado de manter assim, já estava enviando seus soldados em outros pontos e ajudando os que já estavam, mas precisava agir rápido, para manter seu inimigo fraco. Quem estava feliz com isso tudo era Darlan, o qual já sonhava em ver aquela vadia arrogante com uma corda no pescoço, já podia ver isso ao fechar os olhos.

"Sobre a execução, não vou me prolongar muito nisso, já que demonstraram lembrar bem daquele dia. Eu mesma, mesmo criança consigo ver ao fechar os olhos, Avalon subir no palanque com um vestido creme e a arma dada por Aires nas mãos, uma bela coroa de ouro como um fio circulando sua cabeça, seus olhos inchados e seu rosto sem cor.

Lembro quando Alec subiu com as mãos presas nas costas, dois homens dos Saeb ao seu lado e seu sorriso cínico no rosto. Lembro do silêncio quando ele lá em cima recebeu o direito de dizer suas últimas palavras, as quais ele dedicou totalmente a nossa rainha.

- Nunca gostei de você. - ele riu - Talvez esse papo de destino seja verdade, talvez eu sempre soube que esse dia chegaria. Saiba que meu rosto vai te perturbar para sempre, garota.

Ele mesmo ajoelhou, ele fechou os olhos e nossa rainha respirou fundo a medida que subia o machado. Lembro bem quando a arma caiu sobre o pescoço dele e a multidão gritou em histeria, vendo a cabeça dele rolar pelo chão e manchar tudo de vermelho, mas principalmente lembro de ter olhando para onde ninguém mais olhou, para Asterin.

Seus dedos ainda estavam no cabo da arma enfeitada por Liam com tudo cuidado, sua roupa tinha respingos de sangue, assim como seu rosto, seus olhos pretos arregalados olhando na direção que a arma fez o corte limpo, em completo choque. Valentina teve que subir na estrutura de madeira e tirar ela de lá suavemente, ela tremia tanto.

Houve gritos naquela noite. Gritos que acordaram o castelo e fez muitos nobres correrem para o quarto da princesa, para encontrá-la abraçada a Marlon enquanto ele sussurrava palavras de calma em seu ouvido. Ela dizia que a pior parte do pesadelo era acordar, pois sentia que o suor em seu corpo era sangue, vermelho e grudento.

Ela não ficou bem depois de ter tirado a vida de um homem que conhecia daquela forma e acho que... até hoje, nossa rainha não se recuperou totalmente do que foi essa guerra. Marlon as vezes fala que ela fica em silêncio, suas mãos se tornam frias e a respiração falha, ele sabe que são nesses momentos em que sua amada tem suas memórias presas naquele momento.

A princesa tomou banho nos dias que se seguiram compulsivamente, seus olhos permaneciam assustados e suas mãos feridas de tantas vezes que ela a limpou, seus pesadelos mudaram de perder os pais daquela forma horrível para o momento que sua ficha caiu que havia matado um homem.

Marlon estava empenhado para fazê-la sentir melhor, caminhava com ela pela floresta, sempre tinha histórias e conversas suaves e tranquilas e mantinha o lorde Knightley o mais longe possível de sua amada. Aquele desgraçado andava satisfeito demais, deixando todos os nobres extremamente desconfortáveis, até mesmo aqueles que odiavam Alec.

Porém, em um dia que Em e Liam iam na frente, brincando de pular pelos obstáculos do chão da floresta e rindo, enquanto Marlon levava Asterin pelo braço com Oto e seu bastão ajudava dar seus passos lentos, o lorde Lillac encontrou com os dois. O homem cumprimentou as crianças com um sorriso seco e se aproximou do casal com cautela.

 - Meus senhores... - ele deu uma reverência - Estava visitando minha mulher.

- Sua mulher? - Em disse curiosa.

- O cemitério real não é tão longe daqui e, normalmente, eu gosto de andar depois de vê-la. - ele sorriu - Ela gostava de um lugar específico daqui e... gostaria de ver? Quer dizer...

- Seria um prazer. - Marlon disse sorrindo - Mas, isso não seria um lugar seu e de sua esposa?

- Teve um tempo que eu não queria que ninguém chegasse perto dali. - o homem riu, Asterin assumiu a frente, guiando Marlon - Mas, as memórias que eu tenho dela e com ela são minhas e... bem... mostrar esse lugar não vai roubar isso de mim.

As árvores começavam a diminuir pouco a pouco, até surgir uma grande depressão que mostrava um vale gigantesco cheio do resto das flores silvestres da primavera. Asterin sorriu pela primeira vez.

- O cheiro de plantas está bem forte aqui... - Marlon disse rindo - Mas tem acônito aqui.

- O que é isso? - a princesa franziu as sobrancelhas.

- Uma planta extremamente venenosa. - o lorde Lillac disse apontando - As roxas.

- Bem... aqui é lindo! - Asterin disse vendo uma estrutura destruída - O que aquilo?

- Não tenho ideia. - o lorde deu de ombros - Poderia falar um minuto com você minha rai... princesa.

- Em e Liam... - Marlon chamou as crianças que estavam olhando extasiada para a paisagem - Me levem para eu sentir melhor o que está acontecendo.

Quando os três estavam longe, as crianças correndo e pulando no gramado e olhando para as flores coloridas e Marlon achando um lugar para sentar e liberar Oto para voar, o lorde apertou os lábios e passou a  mão nas roupas.

- Desculpa falar isso, mas você está péssima.

- Não tenho dormido bem e... - ela olhou para o vestido de camponesa que voltará a usar - Não vejo motivo para me manter desconfortável naquelas roupas.

- Suas mãos... - ele apontou para as feridas abertas da garota, que encolheu para escondê-las - Não deveria ter feito aquilo.

- Não adianta... - a voz dela falhou - Não adianta tentar pensar nisso agora.

- Eu sei. - ele bufou - Olha, eu não sou uma pessoa muito simpática e... honestamente, nem quero ser, mas você me lembra a sua mãe.

- Eu não sou parecida com todos os Briendal?

- Sim, mas você não tem o mesmo jeito deles. - ele olhou ao redor, temendo ser ouvido - Consegue imaginar que tipo de pessoa construiria todas as coisas que temos após entrar em terras desconhecidas? Celina era uma mulher... peculiar. E... bem, eu sou bem velho, conheci alguns de seus antepassados, todos eles queriam grandeza, seguir para a prosperidade e honra de Zaark de maneira compulsiva, mas você... eu sinto apenas uma grande vontade pura de proteger aqueles que ama, isso inclui seu povo.

Os olhos da garota estavam confusos sobre o velho, que voltava seus olhos para a grama verde e brilhante.

- Acho que o que estou tentando dizer é: não deixe esse jeito te contaminar ao ponto de perder isso em você, não permita Knightley usá-la como quiser. - ele sorriu, talvez pela primeira vez sinceramente - Seu pai teria orgulho, um orgulho confuso por não ter esse mesmo gênio, mas orgulho. Sua mãe... ela me disse uma vez que já sonhava quando te visse grande, empunhando uma arma a favor das pessoas.

A garota ficou travada no lugar, assustada, sua boca estava seca e seu coração ainda murcho, assim que o homem se virou, as palavras saíram atropeladas da boca dela.

- Seus netos são pessoas boas. - o lorde se virou - Akanta é igual sua filha, ou pelo menos é o que todos dizem, extremamente competente no que faz e se tivesse mais espaço na corte ia ser surpreendente, já Aires... ele era meu melhor amigo, leal, gentil e extremamente sem rumo no que diz respeito à ser príncipe.

De onde aquilo tudo vinha? Em teoria ela tinha matado aquele lado dela quando jogou o anel de noivado em Darlan, há muito tempo atrás, mas todas aquelas palavras lhe diziam o contrário. O peito doía e seus olhos se enchiam de lágrimas.

O lorde agradeceu e saiu, quase saltitando, deixando uma garota para trás, a qual notava pela primeira vez que toda vez que tentava apagar o passado ela não estava matando uma parte que precisava sumir, mas estava sufocando uma parte dela. O choro escorreu quando sentiu uma falta no peito, tirar a vida de Alec teve seu custo dentro dela.

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