Capítulo 49
O ataque foi um sucesso. Pelo menos era o que o rei de Uhall tinha mandado para Aires, uma vila de camponeses atacados e muitos mortos. O rei não estava feliz, por mais que todos os nobres estivessem comemorando.
- Sabe... - Darlan disse colocando um pouco de vinho para ele - Não imaginava se essa ideia de atacar outros lugares seria uma boa ideia, mas... agora estou mais esperançoso.
- Temos que dividir a força de Zaark. - Aires disse olhando para os mapas e suspirando, tinha muita coisa para organizar. - Agora, Avalon será obrigada a mandar reforços pela fronteira...
- Então... - o primo deu um sorriso malicioso - Vamos ter uma aventura pela floresta?
- Creio que sim... - ele suspirou - Mas não é certo.
- O que mais ela poderia fazer?
- Não sei... As táticas de Zaark nunca foram consideradas convencionais e honestamente, não temos ideia de qual é a força militar deles. - ele suspirou - Se toda a fronteira estiver bem protegida pode ser um sinal ruim para nós ao mesmo passo que não ter não é garantia de nada.
- Seu pai te deixou uma batalha longa. - Darlan riu - Mas, ele ficaria orgulhoso da noite passada. Deixe esses papéis velhos um pouco e vamos beber!
- Primo, não temos tempo. Queria que Akanta tivesse em casa agora, mas como não, tenho até isso para me preocupar! Terminar de preparar meus homens para a caminhada e o acampamento estratégico perto do castelo.
- Vai levar essa estratégia de uma batalha programada em frente?
- Sim... - ele suspirou, no fundo queria ter a chance de conversar com Gayla.
- E o que vai fazer com os ataques de Uhall?
- Continuar. - ele apontou para o mapa - Não em frente, mas para os lados. Indo em direção a outras terras e até as partes protegidas pelos nativos.
- Isso não...
- Um problema de Uhall... - Aires o interrompeu - Eles não estão pensando... querem apenas humilhar Zaark como foram humilhados. É ridículo!
Darlan não falou quando virou a taça e terminou seu vinho, mas achava que Aires também não estava se movendo de modo racional. Bem... era mais fácil controlar ele assim e mantê-lo na direção certa.
Em Zaark uma loucura se instalou entre os nobres com a chegada na notícia do ataque, uma reunião de emergência foi marcada para que a questão fosse discutida da maneira devida. Asterin chegou com Marlon logo atrás dela, usava preto e sua expressão estava carregada de raiva e ressentimento, um silêncio pairou no lugar a medida que os representantes dos clãs se levantavam para recebê-la.
- Sente-se! - ela falou ainda de pé - Lorde McCoy, explique qual é a situação.
- Minha princesa... - a mulher levantou um pouco transtornada - Os homens de Uhall entraram em uma pequena vila que fica perto da fronteira de nosso país e jogaram fogo em tudo. Tivemos muitos mortos e eles estão marchando em direção a floresta reservada aos nativos, ao norte de nossas terras e em direção às terras dos Penyvil.
- Lorde Penyvil! - ela se virou para o homem que ficou branco.
- Estamos enviando um grupo de soldados em direção a cavalaria, acho que conseguiremos entercedê-los antes que cheguem em uma cidade, mas haverá vilas no caminho.
- Guerreiras?
- Aloïsia está com os caciques. - uma mulher que foi deixada no lugar dela disse se levantando - Mas conseguimos mandar uma ave... ela disse que já está organizando o povo nativo e conter a entrada daquele povo em suas terras, já convocou algumas de nós que estavam espalhadas até lá. Disse para considerar essa ameaça anulada!
- Ótimo! - a princesa disse respirando fundo, já tinha decidido o que iria fazer - Eu me precipitei ao acreditar que Aires faria a mesma coisa que o pai! O preço disso foi essas vidas que Uhall ceifou, quero que as pessoas que foram enviadas por McCoy e Penyvil sejam enviadas de volta...
- Princesa! - Lorde Knightley disse assustado.
- Não acabei! - ela disse mais alto, porém voltou ao seu tom de voz normal - Sei que todas as pessoas aqui são extremamente importantes, mas não podemos tirar a força militar desses clãs! Precisamos manter Uhall sobre controle e mostrar para eles que não deveriam querer se vingar dos anos que os mantivemos no nosso controle! Para isso as terras McCoy e Penyvil tem que vão ter que ganhar isso!
Ela respirou fundo e olhou ao redor.
- Vou também mandar parte dos soldados de Sticker de volta, não sei se Catalan vai vim aqui direto e como vocês fazem fronteira com eles... não iremos nos arriscar. Quero que sua fronteira fique intransponível! Nenhuma brecha, nada! Que eles sejam obrigados a entrar aqui! - ela respirou fundo - Temos as forças de Canavil, as quais serão de extrema utilidade e... peço para as terras que não estejam na fronteira mandem mais pessoas! Agora precisamos de uma unidade maior!
- Os Saeb já ofereceram mais homens! - Valentina disse calma - Estão mais ansiosos que nunca para lutar!
- Ótimo! - Asterin sorriu pela primeira vez - Quero que os pássaros estejam voando até o fim da tarde com respostas! E as Guerreiras eu gostaria que fossem espalhadas nas terras Breindal para controlar qual será a movimentação aqui e proteger as cidades! Quero todos prontos para lutar!
- Sim, Avalon. - a mulher disse calmamente.
- Sendo assim, dispensados! - foi aí que ela sentou, irada e cansada.
Marlon calmamente pegou na mão da garota e sentiu ela gelada e tremendo, sabia exatamente o que estava a tirando do controle: a morte de inocentes. Ela não tinha ficado tensa quando ouviu que Uhall era quem tinha atacado, mas parou de respirar assim que leu na mensagem deixada por uma nobre, que gaguejou muito, que havia tido mortes de homens, mulheres e crianças de uma pequena vila, quase sem importância.
- Princesa... - o Lorde Lillac disse calmamente, quando vários tinham saído - Ainda irá sair quando sua tia voltar?
- Sim... - Asterin fechou os olhos cansada, ainda não tinha parado para pensar nisso - Não é o ideal, mas não posso perder o compromisso que eu fiz com os nativos.
O homem concordou com tristeza, tinha conversado com alguns nobres que tinham uma ligação com aquele povo e percebeu que não daria certo ignorar um pedido desses. Os nativos faziam parte de muita coisa para alguns territórios e... entrar em uma guerra com eles quebraria seu país, ainda assim... bem... merda! Não era o ideal.
- Bem... - Kay disse se alongando - A guerra começou.
- Ela já tinha começado... - Val bufou - Há treze anos, mas deixamos o fogo abaixar um pouco... você está bem, minha rainha?
- Sim... - Asterin respondeu respirando fundo e agarrando a mão de Marlon com mais força - Só... não estou pronta para a ideia de que pessoas vão morrer e eu não poderei fazer nada!
- Bem... - Val disse puxando o cabelo em um rabo - Vamos tentar manter as mortes mínimas, apenas...
- Não deixe que sua família volte para casa agora. - a princesa disse para Marlon, que concordou com leveza - Concordo com você, mas... deixa quieto.
- A ideia de que alguém vai morrer já te perturba. - Marlon disse a abraçando e sentindo o corpo dela tremendo de cima a baixo.
- Queimaram uma vila! - ela levantou de uma vez e saiu andando, respirou fundo e tentou se acalmar, mas não conseguiu - Eu... eu... eu vou treinar! Não quero que ninguém me siga!
Sem mais nada a dizer ela saiu e fechou a porta em um estrondo, como Marlon ficou parado na cadeira os outros dois também ficaram parados. O rapaz respirou fundo e passou as mãos pelos cabelos loiros soltos.
- Ela vai precisar de ajuda. - ele respirou fundo - Na cabeça dela, se ela tem o poder que tem deveria ser capaz de evitar tudo o que está acontecendo.
- Mas isso é loucura...
- Loucura foi quando ela entrou na frente do chicote. - ele bufou - E... eu ontem a lembrei que talvez ela tenha que matar.
Os dois se entreolharam, aquilo não tinha passado na cabeça dela antes?
- Olha... - ele suspirou - Sinceramente, eu e ela não sabemos o que estamos fazendo e meu papel é bem menor do que o dela. Estamos com medo de governar um país, mas estamos dispostos. Precisamos de ajuda... ela precisa.
- Mas o que podemos fazer?
Marlon suspirou e abaixou a cabeça, nem ele sabia ao certo. Aconselhar? Bem... isso eles já estavam fazendo...
- Acho que apoio emocional para ela seria de bom. - ele deu de ombros - Acho que isso é o principal na verdade, já que ela não teve uma criação em que... bem ensinava a lidar com essas coisas.
- Acho que não tem uma criação que ensina alguém passar por uma guerra. - Val suspirou - Os Saeb gostam de se verem como grandes lutadores, mas vivemos muito tempo de paz e... nada te prepara para ver alguém que você ama morto ou sendo morto.
Marlon parou, gelado, ele tinha se esquecido, tanto Asterin como Val e Kay sentiram na pele os efeitos daquela confusão, muito mais do que ele. Suas bochechas coraram, se sentiu um idiota.
- Sinto muito... - ele respirou com dificuldade.
- Por que? - Kay respondeu confuso.
- Eu me esqueci que vocês... estavam aqui quando Catalan atacou. - ele assoviou para Oto - Não consigo imaginar como deve ter sido.
- Ainda consigo sentir o cheiro de sangue... - Kay disse branco - Avalon viu quando o seus pais morreram?
- Ela tem pesadelos com isso. - Marlon disse fazendo carinho no animal - Aparentemente, o rei Vincent ia matá-la também, chegou a levantar a espada...
Respiraram fundo. Marlon levantou e com o cajado foi batendo até a porta, parou e disse suavemente.
- Gostaria de prestar homenagens aos meus sogros. - ele se perguntou se tinha o direito de fazer isso, mas não era hora de ver Asterin - Poderiam me ajudar?
- Claro! - Kay respondeu se levantando e indo ao lado do rapaz - Vou guiá-lo até lá.
- Eu vou ficar aqui... - Val disse olhando para os animais na mesa, passou os dedos sobre o leão do seu clã.
Assim os dois seguiram caminho até o cemitério real, não demorou para Kay disse com tristeza.
- Val nunca vai ao túmulo dos pais.
- Imagino que tenha sido doloroso para ela. Ficar sem ninguém além de uma criança para criar.
- Ela não falou durante um mês... achamos que ela iria ficar muda. Tudo o que ela não quer é entrar em uma guerra que coisas assim aconteçam de novo.
- Val me soa bem confiante e até preparada para as coisas que podem se seguir.
- Todos os Saeb são assim... menos Liam, mas acho que Val o criou de modo mais saudável. - ele deu de ombros - O garoto é uma máquina, ele consegue aprender só olhando, o que não seria capaz de fazer?
- Em gosta dele.
- Já percebi isso. - ele riu - Na verdade todo mundo já tá imaginando o momento em que os dois vão se casar. Os Saeb estão torcendo para que ela puxe as características suas e do seu irmão de estrutura ou pelo menos passe para o filho dos dois.
- Agora? Eles não são novos para pensar em casamento e em filhos?
- Avalon e eu éramos mais novos do que isso quando tinham arrumado o nosso casamento.
- Nobreza é estranho. - ele estremeceu.
Kay riu, pensando que aquilo nem era a coisa mais estranho, tinha vários costumes e tradições bizarras que iam causar um monte de desconfortos ambos.
- Sua mãe...? - Marlon disse apertando os lábios - Desculpa perguntar, mas... não ouvi nada sobre ela até agora e...
- Minha mãe morreu depois do ataque de Catalan. - ele respondeu um pouco distante - Foi estranho, acho que ela estava fugindo do meu pai. Não queria continuar casada...
- Eu sinto muito...
- Não, não precisa. - ele suspirou - Sua mãe?
- Vive na cidade em que eu e Avalon estávamos. - ele sorriu - Sempre viveu ali junto com o resto da minha família, um bando de artistas de todos os tipos. Meu pai faleceu quando eu tinha uns cinco ou seis anos, tenho lapsos bem breves de memórias dele, era um bom homem e bastante amoroso. Meu tio, irmão dele, assumiu parte do papel dele e me ensinou a lutar e a me virar, tinha o plano de me levar em viagens para eu ser um músico itinerante, mas se foi antes disso.
- Sinto muito, também...
- Não dá para viver sem perder algumas pessoas. Um dia vai ser nós que vai deixar quem ama para trás.
- Bem... - ele riu - Acho que você está certo.
Ambos pararam e Marlon sentiu o vento frio e o barulho das cigarras e do rio, já tinham saído fazia um tempo.
- Já chegamos? - ele quis confirmar.
- Sim, você está em frente do mausoléu. - o rapaz disse pegando a mão dele e encostando na parede fria do local.
- Obrigado, Kay. - Marlon disse dando mais alguns passos até encostar a testa no lugar, sussurrou algumas coisas, as quais não sei dizer quais eram.
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