Capítulo 36

Os olhos de Akanta estavam vermelhos de tanto chorar, já Aires olhava para o horizonte, completamente ausente de si mesmo. Catalan, diferente da gente, não realiza grandes cerimônias de despedida para os mortos, eles apenas enterram seu parente e colocam flores em seu túmulo, até os reis não recebem muito mais do que um jardim plantado ao redor de sua cova. Nada de crematório ou lugares pomposamente construídos para guardar nossa casca vazia.

- Papai foi esperto de plantar essa laranjeira aqui... - a menina fingiu deixando lavanda na terra - O túmulo da mamãe fica lindo e o dele também está... mesmo que ainda não tenhamos... feito nada.

Sem resposta. Ela suspira, não adiantava, por mais que ela tentasse tirar uma reação do irmão, o rapaz apenas ficava ali, olhou para o chão de novo e limpou algumas lágrimas que escorriam de seu rosto de novo.

Um barulho de galhos sendo pisados chamou a atenção da garota, que viu seu primo aproximar com um ramo de flores na mão, o corpo dela travou completamente, Caleb, afastado para dar privacidade aos irmãos aproximou, tenso. O rosto de Darlan tinha um grande roxo nas maçãs, uma prova clara do soco que havia recebido para afastar de Akanta, os dois trocaram olhares e ele apenas largou as flores ali, se virando para Aires.

- Temos que conversar... - o príncipe nem desviou o olhar - Você me ouviu?

Aires continuou, parado, inerte, morto.

- Aires, temos que conversar! Você é o futuro rei. - os olhos dele estavam vazios como vidro - Aires!

- Cale a boca... - o príncipe disse, mas as palavras não pareciam vim dele - Não há o que resolver.

- Tem uma guerra para acontecer.

- Quem liga? - uma lágrima escorreu no rosto dele - Não é minha briga.

- Sim, ela é!

- Não. - foi a primeira vez que olhou para algo, a dor que havia ali foi completamente direcionada para Darlan, que deu um passo para trás - Ela era de meu pai. Era a vingança dele, não minha. Eu não quero...

- Acha que seu pai morreu, por quê? - ele o interrompeu com um grito - Tem noção disso? A briga é sua sim! Tenha alguma reação! Você é rei agora!

- Darlan é melhor você... - Akanta interrompeu.

- Cale a boca! - ele gritou de volta - Seu irmão precisa de uma real, caso o contrário Catalan vai cair no caos completo!

A moça deu um passo para trás engolindo seco, o tapa que havia recebido ainda estava visível em seu rosto, olhou para seu guarda e com o olhar o chamou. Não aguentava está na presença do seu primo mais, durante esses dias ela fez de tudo para evitá-lo, chegou a confessar para Caleb que Gayla havia sido bem mais esperta em fugir do que pensou.

- Darlan... - ela disse já mais distante dele e de braços dados com Caleb - Só gostaria de lembra-lo que eu ainda sou a princesa e você me deve respeito. Não aceitarei mais esse tipo de comportamento.

-E o que você vai fazer? - ele disse irônico.

- Devolvo você para a sua mãe. - ela se virou sorrindo - Quem sabe ela não te educa melhor nessa segunda vez!

Cheia de raiva e tristeza, a moça deu as costas para o primo, sua cabeça começou a funcionar para pensar em maneiras de se livrar do rapaz na corte, Jhon estava preso por traição em seus aposentos, dependendo do que Aires fosse decidir ele poderia ser morto, ninguém da corte ouviria uma mulher e seu irmão seria mais influenciado pelo rapaz do que por ela. Sua posição mais do que nunca estava delicada, mas iria mudar isso!

Olhou para Caleb que deu um sorriso triste e apertou sua mão com delicadeza. Talvez, se ela conseguisse chegar em Gayla, se ela a matasse e vingasse seu pai, talvez fosse considerada uma heroína ou apenas sentiria que havia feito algo para seu pai.

Enquanto isso no jardim, Aires olhou para o primo e voltou seus olhos para baixo. Suspirou e começou a sair também.

- Isso é inútil...

- Não, não é! - Darlan segurou o braço dele ainda irritado - Caramba Aires, vai deixar que aquela garota te derrube assim?

- Ela não fez nada para que meu pai morresse. - ele disse torcendo a boca - Além disso, Gayla sempre foi bem melhor do que nos dois.

- Não? Ela fugiu, está indo em direção de um caminho em que nos veremos como inimigos. Seu pai não aguentou perceber que perdeu outra filha!

- Ótimo! - os olhos deles se encheram de água - Isso mesmo! Ele estava definhando naquela sala na frente de meus olhos! As vezes acha que ele estava me levado junto. Mas pouco importa... já disse e irei repetir, aquela briga não é minha.

Aires girou os calcanhares e voltou a andar.

- Você pode achar que isso não seja seu problema, mas Zaark estará manchando em nossa direção quando Malakay completar vinte um, talvez antes se nossa amiga chegar lá. - ele bufou - Seu pai estava treze anos lutando, mantendo a força militar em Zaark, mantendo a única pessoa que poderia acabar com ele aqui. Largar isso... seria como...

- Largar ele. - Aires disse engolindo seco, mas voltou a andar, parou e se virou - Amanhã vou está no escritório dele, irei precisar de um conselheiro...

- Seria uma honra ajudá-lo, Vossa Majestade. - ele respondeu com uma reverência.

A medida que o rapaz ia embora, Darlan refletia que era melhor adiantar aquela coroação para o mais cedo possível. Enquanto isso em Zaark os rebeldes compartilhavam esse pensamento em relação a sua rainha, a qual dividia o quarto com um pebleu.

- Você está acordada... - Marlon sussurrou passando o braço ao redor do corpo de Asterin que estava deitada sobre ele.

- Há muito tempo. - ela respondeu ajeitando o rosto para vê-lo melhor, sorriu e passou a mão em seus cabelos - Mas acho que sabe disso.

- Teve uma noite agitada. Acho que seria melhor você dormir mais. - ele disse preocupado.

- Não consigo parar de pensar... - ela suspirou - Vincent, meus pais, Aires, Aloïsia, Kay... parece que todos estão gritando coisas diferentes na minha cabeça ao mesmo tempo.

- Sobre o quê?

- O que eu devo fazer. Minha tia ainda não me reconheceu como sobrinha e eu tenho que o solstício de verão, que se eu não me engano é o aniversário de Kay. - ela suspirou - A corte me pareceu feliz em me ver, assim como meu primo, mas me pergunto até quando... e minha antiga vida, parece um fardo em meus ombros, pedido para que volte.

- Pretende voltar?

- Me livrei da aliança... - ela sorriu segurando a mão de Marlon - Disse adeus a qualquer possibilidade de voltar a ser Gayla, mas aparentemente, ainda não a matei.

- Quer matar uma parte de você? - ele disse beijando a mão dela.

- Eu preciso.

- Isso ainda não é querer.

Ela suspirou e passou um dedo pelas feições de Marlon, apesar de tudo, a presença dele ali acalmava sua alma e trazia luz em seus pensamentos embaralhados.

- Sinto que eu não sou bem-vindo aqui... - ele riu com tristeza - Apesar de já saber que isso aconteceria.

- O que você quer dizer?

- Sou um simples camponês, minha princesa... - ele disse sussurrando e puxando para que seus lábios encostasse no pescoço dela - Um cego, ainda por cima. Não tinha a dignidade de dividir a cama com você.

- Creio que consigo decidir por mim mesma... - ela suspirou diante do carinho - Não deve se importar com eles.

- Eu não me importo. - ele sorriu - Só acho que terei que provar o meu valor e isso será uma tarefa trabalhosa.

Asterin foi se deixado levar pelos beijos que o rapaz depositava em seu pescoço e bochechas, enquanto preguiçosamente passava a mão pelos cabelos loiros, ele parou no ouvido dela e sussurrou rindo.

- Fico feliz em finalmente poder fazer isso sem que eu me sinta estranho.

- Já estávamos caminhando para isso. - ela disse dando de ombros - Se tivéssemos mais tempo um dia nos estaríamos nessa situação sem ter dito uma única palavra.

- Gosto da forma como adiantamos as coisas. - ele disse dando finalmente um selinho nela.

- Eu também. - ela respondeu se levantando.

O rapaz reclamou quando ela o puxou para fora da cama e entregou a muda de roupa mais formal arrumada por Estêvão a Marlon. Era uma túnica verde escura com botas de couro, não encontraram calças que poderiam servir em nele e ainda assim o resto das roupas parecia ligeiramente apertado nele. Já ela tinha recebido um vestido melhor, era um tom forte de roxo, com um cinto pesado de aço e pedras coloridas, braceletes do mesmo material e um brinco comprido, aceitou as sapatilhas deixadas no chão e prendeu o cabelo em uma única trança e uma faixa de aço ao redor da cabeça. Antes de sair, prendeu os cabelos de Marlon igual ao próprio.

Flora e Estêvão sorriam para os dois, deram frutas para o café, mas pediram para que se apressarem, Kay pediu para que ambos fossem para a clareira de treinamento e Aloïsia estaria lá para observá-la, Em já havia ido. Ainda comendo, os dois saíram com Oto mordiscando um morango no ombro do rapaz, as mãos dos dois estavam entrelaçadas e olhares indiscretos dos rebeldes eram lançados em sua direção.

-Sabe para onde está indo? - Marlon disse batendo o bastão no chão.

- Ela falou uma clareira... - ela riu - Sei onde é, mas não tenho ideia do caminho.

Saíram do buraco no chão da cozinha e foram para a parte de trás do castelo, o cheiro de terra molhada vinda do rio cristalino foi a parte da natureza que deu boas-vindas, mais a frente o barulho da queda d'água aqueceu seus corações, Asterin sabia que eram nove quedas consecutivas. Puxou o rapaz para a direção contrária, mas ainda seguiu o leito da água.

Demorou mais do que deveriam, porém chegaram na clareira. A moça reconheceu a mesa, apesar dela está claramente descuidada, algumas crianças estavam ao redor de Adam, Ravena estava sentada o observando e Kay ao lado de Liam riam de alguma coisa. Não viu Aloïsia.

- Bom dia! - ela disse se aproximando e sentindo o peso dos acessórios oferecidos.

- Olá prima! - Kay sorriu sem vacilar - Como foi sua primeira noite em casa?

- Tranquila. - ela disse apertando os lábios, ele não precisava saber de suas preocupações.

- Bem... - ele passou a mão nos cabelos - Meu pai disse que temos que saber se vocês estão aptos a lutar. Mesmo que Aloïsia não te reconheça, ambos podem ser pegos no meio da guerra e... não queremos mortos.

- Não creio que precisam se preocupar. - Marlon disse soando ligeiramente arrogante.

- Sério? - Kay pegou uma lança do lado sem a ponta e girou próximo dos dois.

Antes que o rapaz conseguisse processar, Marlon havia puxado Asterin para perto do seu peito e virado seu bastão interrompendo o ataque. Oto saiu voando de seu ombro, irritado pelo movimento brusco e sem sentido, indo em direção de Ravena, a qual notou a presença dos dois pela primeira vez.

- Como você...? - Kay disse perplexo.

- Os movimentos fazem barulho, principalmente na terra e grama. - Marlon o interrompeu - Não é preciso muito para entender seus movimentos e evitá-los.

Ele soltou Asterin que sorria para ele. Aquele olhar gentil que a moça lançou para o rapaz doeu no peito de Kay, mas ele respirou fundo e abafou o sentimento.

- E você? - Kay aprontou o pedaço de madeira para ela - Vi que tinha um machado e um escudo com você. Sabe usar?

- Assim me ofende... - ela riu indo para onde o arsenal estava, pegando aquelas armas - Apesar de que as roupas devem me atrapalhar.

- Lutava pelada? - Kay disse tentando permanecer sério.

- Vejo que sua maturidade não mudou nesses treze anos... - ela riu - Usava calças e joias mais leves.

- Nem começamos e já tem desculpas...

O rapaz nem tinha terminando a frase e a garota havia girado o machado três vezes se aproximando perigosamente da sua cabeça, por muito pouco ele desviou do golpe caindo na grama.

- Cuidado! - ele disse largando a lança e pegando uma espada - A arma não está afiada, mas se me acertasse estagiária desacordado agora.

- Sério? - ela girou a arma - Acabei de me lembrar de uma vez que você me esqueceu na floresta. Talvez esteja na hora de descontar.

- Não há necessidade de guardar rancor, prima... - ele disse rindo e se preparando.

Estava ansioso para ver o que Asterin sabia de luta, principalmente o que Catalan havia ensinado para a garota, uma vez que o machado era uma arma tradicional de Zaark, mas rapidamente foi surpreendido. A defesa da moça com o escudo era quase impenetrável e seus movimentos com o machado precisos para que ela não usasse sua energia em vão e cada vez que sua espada batia na arma dela, sentia seu braços doendo. Porém, ela parecia está com dificuldade diante da saia, não se movimentava da forma desejada, mas as vezes perdia o equilíbrio, deixando-a exposta durante um milésimo de segundo.

Por fim, a espada de Kay estava longe, uma plateia de crianças olhavam os dois ansiosos e o machado apontado em sua garganta por uma garota suada e ofegante. O rapaz sorriu, a moça abaixou a arma e deu as costas para ele, precisava sentar.

- Nunca dê as costas para seu inimigo. - uma voz grave preencheu o lugar, assustado Asterin.

Aloïsia surgiu por entre as árvores, provavelmente ela estava ali esse tempo todo, junto a ela outras duas guerreiras estavam a acompanhando, uma mulher loira e outra com a pele escura. Ela sorriu se aproximando.

- Kay não é meu inimigo... - ela disse em defesa.

- Não, mas vocês estavam lutando. - ela sorriu - E ainda assim, você deve escolher apenas cinco pessoas para dar as costas a elas. Tirando essas, nunca tire os olhos das pessoas, isso inclui a corte e seus amigos.

- Mas se eu não posso confiar em meus amigos e na corte... - a voz dela era firme, apesar de assustada - Em quem possam confiar?

Aloïsia riu e deu um pequeno peteleco na testa da moça.

- Você foi bem criada para servir os outros, minha menina. - ela olhou para as crianças e depois para Marlon - Uma das minhas guerreiras quer lutar com o rapaz gigantesco. Aceita?

- Claro... - Marlon deu de ombros e se preparou.

- Enquanto isso eu e Blair queremos ver essas crianças. - a moça disse levando a moça negra em direção de Adam.

Liam saiu de perto da luta que se desenvolvia entre Marlon e a guerreira e foi treinar com Kay alguns movimentos com espada, deixando Asterin sobrando naquela história. Meio sem saber o que fazer caminhou até Ravena e se sentou ao seu lado, ela fazia carinho na barriga, enquanto Adam recebia as mulheres.

- Como vai? - ela se sentou na mesa e passou os dedos em seus desenhos familiares.

- Sentia falta daqui, mas sinto mais do mar. Desejo voltar para aquela cidade.

- Quem sabe uma dia? - ela disse sorrindo, pensando se isso seria possível.

Viu Em no meio das crianças, seus olhos brilharam quando Aloïsia deu em suas mãos uma espada, a menina estranhamente saiu de perto do grupo e foi para perto de Kay que explicava algo para Liam, ela sentou com a arma no colo e foi prestar atenção no que o rapaz estava dizendo. Ele riu para ela, mas Liam o repreendeu, pedindo para que ele não a encorajesse. Asterin apenas riu, indicando a situação para Ravena que sorriu.

- Achava que Aloïsia estaria certa que você era Avalon. - a mulher disse a olhando com seus olhos roxos - Acho que ela quer ver algo em você para poder apoiá-la.

- Tipo o que?

- Não sei... - Ravena riu - Uma força, talvez.

- Bem, acho que vou decepcioná-la.

- Não, não vai. Você chegou até aqui, não é fácil deixar uma vida para trás.

- Mas eu não deixei... - ela disse com uma certa tristeza no olhar - Gayla ainda pede para voltar e Asterin... talvez minha tia só esteja vendo a camponesa que eu despertei em mim.

- Com essas roupas? - Ravena disse rindo e sussurrou - Odeio esses cintos! Foi uma grande vantagem em está grávida.

As duas riram um pouco, mas a mulher parou, ficou branca como um papel e encolheu o corpo, gemendo de dor. Os olhos dela foram para o marido, que estava entretido com algumas crianças.

- Ravena...

- Acho que...

A mulher não precisou continuar a frase, Asterin apenas se levantou gritando para Adam, o qual reagiu surpreendente rápido ao se comparar o restos dos homens presentes que travaram em um mesmo lugar. Sem jeito, ele pegou a mulher no colo e correu em direção do castelo, Asterin ia atrás recebendo instruções de Adam sobre onde encontraria a parteira na cidade.

- Acho que vai precisar de carona... - Aloïsia disse sobre o cavalo estendendo a mão para a garota.

Não teve tempo para que a garota arrumasse uma capa e nem se preocupasse na cidade que alguém a visse. Por isso, quando uma garota apareceu na cidade com roupas e joias da realeza sobre o cavalo de Aloïsia (reconhecida pelos plebeus mais velhos) foi impossível não acreditar que ela era a sua sonhada princesa.

- Avalon está de volta! "

👑

Maratona finalizada!
Espero que todos tenham uma ótima década!
Deus sabe como esse ano foi difícil para mim, fico feliz em seu fim e espero que as coisas apenas melhorem!
Obrigada pela compreensão dessa meu descanso e que vocês também tenham!
Um enorme beijo de luz, muitas bênção para sua vida!
Até o próximo capítulo!

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