Capítulo 24

Os clãs começaram a chegar na capital. Malakay constatava isso a medida que iam ocupando as casas dos nobres sob a terra, era uma reunião familiar, na qual ele não se lembrava de quase ninguém, ou se quer conheciam. Todos eles tinham chegado nas terras dos Breindal de modo escondido e tentavam de todas as formas não se exporem para os soldados de Catalan.

Os primeiros a chegarem foram os cavaleiros do clã Saeb. Foram apenas cem homens e mulheres, mas todos de sangue nobre e com uma reputação impecável diante ao campo de batalha. Na noite em que eles entrarem pelo castelo e foram ao esconderijo, uma invasão de ruivos tomou o local, as mulheres eram extremamente altas e com o corpo esguio, enquanto os homens encorpados pareciam alegrem em mostrar suas barbas grossas e compridas.

Todos eles pareciam animados com a ideia de entrar em combate, além é claro, de conhecer seus familiares distantes. Liam havia sido cumprimentado com uma tentativa de soco na cara, a qual ele desviou no susto. Todos eles riram felizes pelo reflexo do rapaz e seguiram em uma monte de lutas corporais e dicas rápidas para o seu aprimoramento.

Após esse comprimento, todos eles prometeram trazer Valentina inteira, mesmo que isso significasse destruir pedra por pedra de Catalan. Após várias conversas, bebidas e gritos, Liam voltou para a casa do lorde Knightley e olhou para Kay lendo livros de estratégias, sentou na cadeira ao seu lado, bufou e disse de olhos arregalados.

- Minha família é de loucos!

Após eles o clã Lillac chegou com sete cavaleiros da nobreza e mil soldados. Os seus nobres tinham a pele dourada e olhos claros, todos próximos do roxo, e seus cabelos eram claros de vários tons. Eram elegantes e cheios de manias para conversar e se referir a alguém. O sobrinho do lorde Lillac o comprimentou ajoelhando e pedindo sua bênção, antes de abraçá-lo e repetir o gesto a Kay.

Os Knightley, os nobres, os quais não poderiam ser reis por causa de suas irmãs, estavam mais uma vez reunidos. Normalmente todos ficavam espalhados pelo país ou um castelo de verão dos reis. Eram "família", comprimentavam animadamente os dois e perguntavam muito ansiosos pela Avalon.

Agora a sala de reunião do Conselho se encontrava lotada, aquela seria uma conversa mais geral com todos, depois iriam voltar a organização original. O coitado do Adam estava quase encolhido em seu lugar com tantos olhares novos em suas cicatrizes e as perguntas sobre quem ele era.

- Estamos todos juntos? - o lorde Knightley disse olhando ao redor - Vamos começar, iniciando com a apresentação de nosso convidado especial. Adam Stone, irmão do rei de Caravil, o qual já enviou o seu exército para nós ajudar! Ele é casado com Ravena que está buscando Avalon em nossas terras.

- Bem... - Kay disse tomando a voz para si - Sanado qualquer dúvida, temos que combinar sobre as estratégias...

- Atacar! - o cavaleiro do clã Saeb disse batendo no ombro de Liam.

- Acho que isso seria precipitado. - Adam disse tentando sorrir - Principalmente, que o rei deve fazer isso no dia do aniversário de Malakay. Talvez tentar repetir a estratégia antiga.

- Ele não seria tão arrogante. - Estêvão disse tenso.

- Um homem que aparentemente escondeu a princesa na sua casa e a educou da maneira correta, além de permitir que os nobres possam viver tranquilamente por aqui! - Adam riu - Se eu quisesse tornar cuidado teria realizado uma destruição desse castelo.

- Isso puxaria briga com o resto de nós! - um deles disse - Ia ter sido guerra mesmo sem uma rainha.

- De fato... - ele admitiu - Ainda assim, haveria cuidados que ele poderia ter feito, mas...

- Acho que isso não importa. - Liam disse dando de ombros - No dia do aniversário de Kay em diante vamos ter que manter a guarda alta. A questão é como vamos vigiar a floresta e manter uma comunicação rápida para nos preparar para defender.

- Por que não atacamos? - o cavaleiro insistiu.

- O clã Seab ainda tem o espírito do povo tradicional... - o lorde Lillac disse em um suspiro - Bem, acho que devemos usar nossas mulheres do clã Gaenly para realizar as vigias.

O homem representante do clã, juntamente com a caveleira concordaram com a cabeça sorrindo. Silenciosos e espertos, sabiam viver naquela floresta e enviar sinais como ninguém.

- Usaremos sinais de fumaça como o povo nativo fazia. - a mulher de pele avermelhada disse sorrindo - Rápido e eficaz. Já conversei com as minhas subordinadas, preciso só de permissão para entrar nas terras que fazem fronteira.

- Mas em toda a fronteira? - Estêvão disse assustado.

- Melhor prevenir. - ela disse sorrindo - Algum problema?

- Isso não nos enfraquecerá? - o lorde Knightley apertou os lábios.

- Não... - ela garantiu certa - Se houver um problema elas rapidamente voltarão.

Malakay ouvia as vozes animadas de um povo que voltava a vida.

Longe dali, Alöisia e seu braço direito, a Guerreira Blair, subiam pela encosta das grandes montanhas circulares. Acho que todos já ouviram falar dessa beleza natural do país.

Enormes montanhas interligadas entre si, impedindo a passagem de chuva entre elas e resultando em um deserto em seu centro. Em toda a sua altura, a pedra apresentava uma vegetação de árvores e plantas, as quais não podem ser encontradas no resto de Zaark. Apenas as Guerreiras e os nativos conseguem atravessar essa barreira natural, pois todos os caminhos ali são íngremes, traiçoeiros e sofre constantes mudanças com a natureza.

Dizem as más línguas que aquelas mulheres que prometeram proteger o continente com coragem e abnegação escondiam no deserto seus tesouros e, prováveis, erros. Ir até lá gerou morte de milhares.

Cansada e percebendo que logo ficaria escuro, a líder das mulheres para a sua rara caminhada e decide que ambas irão dormir ali mesmo. Suspirando estendeu a mão e recebeu um cantil de água.

- Estamos tendo movimentações estranhas esses dias... - Blair disse ajeitando seu cabelo cacheado em um coque - Parece que Uhall está mais agitada que o normal.

- Está preocupada com seu país natal?

- Estou preocupada com a guerra. - ela bufou - Treze anos que todos esperam por esse combate e não vejo muitas soluções, as quais todos saiam satisfeitos.

- Meu irmão... - a mulher disse quase cuspindo - Aquele tolo que fazia tudo o que os outros queriam! As vezes penso que eu deveria ter sido rainha.

- Aloïsia... -  moça a interrompeu - Como você iria saber que Catalan atacaria daquela forma. Vincent é um rei louco e sedento de poder, não culpe seu irmão por isso.

A mulher suspirou enquanto tomava mais um gole de água, o silêncio, muitas vezes, entrega mais sabedoria as pessoas. Blair continuou olhando para a sua líder e suspirou.

- Acho que devemos voltar... eu sei que você está tentando se manter neutra, mas ajudar Zaark pelo que Catalan fez não é perder os princípios de manter a paz em Aron!

- Não irei apoiar o filho do lorde Knightley. - a mulher disse sem refletir - Um dos motivos de eu não voltar para casa foi evitar que algum tipo de poder a mais caísse na mão daquele homem.

- Isso foi a anos a trás... você pode ter se enganado sobre ele e...

- Blair, vamos apenas nos concentrar em chegar só outro lado? Não quero pensar em guerras, soldados indo para capital, Malakay e minha sobrinha. Quero apenas fazer minhas obrigações e passar o aniversário dela de luto.

Enquanto isso, Catalan recebia uma mensagem, a qual o rei suspirou sorrindo ao vê-la, mas Aires era capaz de perceber que seu pai não estava feliz.

Voltando para a pequena cidade de Zaark.

- Odeio quando voce fica em silêncio assim. - Marlon suspirou enquanto eles andavam de volta para a taverna.

- O que Heidi me disse eu...

Marlon bufou enquanto apertava a mão dela, Oto piou confuso da situação.

- Não sei para que tanto ódio em cima de você! Era apenas uma criança quando tudo aconteceu, não é como se você tivesse muita escolha ou poder para mudar a situação.

- Eu também penso assim, mas, agora, eu tenho poder... - ela suspirou - E estou aqui fugindo disso.

- Bem, já disse que você está livre para fazer o que quiser, não terá julgamento meu e não vejo problema em mudar meu destino para deixá-la na capital. - ele falou tenso, caso fossem por esse caminho, teria que se separar dela mais cedo - Mas você assumir isso assim não significa que de fato terá poder para resolver tudo.

Ela suspirou, cansada, mas teve que concordar com o rapaz. Se ela fosse comprar essa briga com Catalan, teria que ter um exército, apoio dos clãs e do povo, algo que muito provavelmente não teria. Mas lembrou de Malakay e seus olhos cristalinos, cheios de esperanças nela. Tinha vontade de gritar, era difícil pensar no que fazer.

- Que tal nos concentramos por hora em comer e dormir nessa noite. - o rapaz disse batendo o bastão no chão mais uma vez de várias - Amanhã você pensa se quer ir para meu irmão ou para a capital e depois também e depois também. Um dia e momento de cada vez.

- Parece que estou deixando a vida me levar... - ela riu.

- Isso é uma vantagem de morar sozinho no meio da mata, faz o que tem vontade. - ele disse sentindo o cheiro da comida da taverna - Nesse momento quero trocar para roupas limpas.

A menina concordou com um som, abriu a porta do estabelecimento e viu o taverneiro acenar para os dois que subiam para o segundo andar e indo para os quartos. O qual o rapaz sem dificuldade achou o seu e abriu a porta a trancando em seguida.

Era um pequeno cômodo com uma mesa de duas cadeiras, uma jarra de água e uma tigela com uma toalha dentro, uma rede, um local para guardar a capa e um espaço mínimo atrás da porta onde ambos largaram suas bolsas e armas. Asterin olhava ao redor com estranheza enquanto tirava a capa e via o rapaz tirar sua faixa.

- Marlon? - ela falou franzindo a sobrancelha - Onde está a cama?

- Deve está aí... - ele riu - Não acho que perguntar para o cego seja uma boa ideia.

A menina percebeu, então, que a rede que ocupava o resto do quarto deveria ser a cama. Hábitos diferentes de cada região...

- Vamos dormir ali?

- É bem confortável... - ele deu de ombros enquanto jogava água na tigela.

- Tá, mas, não tem muito espaço. - ela disse sorrindo e vermelha.

Marlon bufou, soltando o cabelo.

- Me esqueci disso. - ele suspirou - Posso dormir no chão se quiser.

- Não! - a menina disse tentando se manter calma - Já dormimos juntos antes e se você fosse fazer algo, acho que já teria feito. Só quero ter certeza que não tem nenhum problema com isso.

- Claro que não. - o rapaz disse tirando a blusa.

- Marlon...? - ela ia questionar, mas chegou na conclusão de que o rapaz realmente a via como uma criança.

- O que? - ele disse pegando a toalha molhada e passando no corpo, estava tirando o suor.

- Nada... - ela bufou se permitindo deitar na rede um pouco, a sua última constatação a deixou irritada por algum motivo - Quando acabar me avisa. Vou me limpar também.

Após alguns segundos o rapaz apareceu no seu campo de visão molhado e jogando a água da tigela no pinico e voltando para a mesa em seguida ele estava com uma blusa bege e colocando a faixa no rosto.

- Eu vou sair, fazer algumas compras. Fique a vontade para fazer o que quiser, mas não se perca ou seja descoberta. - ele abriu a porta e começou a sair - Deixei a água pronta para você e não demoro. Fique bem!

- Você também. - ela disse o vendo sair.

Ainda irritada em imaginar que o rapaz sentia que ela era a sua irmã mais nova a moça tirou a sua blusa limpou seu corpo devagar. Queria muito, nesse momento, os empregados de Catalan que esquentavam sua água e preparavam uma banheira para ela ou então um rio, o qual na infância tinha brincado, talvez assim ela se sentisse mais tranquila.

Será que o rapaz havia saído com Heidi? Os dois pareciam bem próximos e ela feliz em vê-lo. Torceu no nariz e percebeu que aquilo não era da sua conta. Havia dado muito trabalho para o rapaz até agora e não queria começar a ser intrometida ou inconveniente.

Com o tronco limpo, decidiu levantar as saias e tirar os sapatos para ver seus pés cheios de bolhas pela caminhada, limpou eles com calma e pensou que como havia visto muitas moças descalças hoje, iria adotar a moda. Depois passou a toalha pelas pernas e notou vários machucados e alguns pequenos rasgos na saia, saudades da calça.

Com a nova blusa no corpo e a capa mais uma vez colocada, decidiu sair para a taverna, beber algo e evitar se sentir sozinha. A princípio não funcionou, pois havia sentado no canto da taverna, recebeu um copo de leite e um prato de legumes e peixe, cortesia do taverneiro como a servente havia falado.

Quando estava na metade do prato, já se sentindo cheia, percebeu que a noite estava chegando e o taverneiro sentou ao seu lado na mesa com um enorme copo.

- Cerveja com mel... - ele disse sorrindo - Imagino que durante a sua apresentação irá querer beber alguma coisa, Marlon sempre toma isso. Ele é alguém que sabe como negociar.

- Sério? - ela disse rindo - Ele me parece o tipo de pessoa que ou tem o que quer ou não tem nada.

- Foi assim que negociamos. - a risada dele era parecida com um trovão - Onde ele está?

- Comprando algo. - ela deu de ombros.

- Deve ser presentes para a sobrinha dele. - o homem disse coçando a barba - Você é bem pequena. É do norte de Zaark? Ou da Ilha de Maçãs?

- Minha mãe era da Ilha. - ela disse ajeitando o capuz no rosto, vendo Marlon entrar na taverna.

- Marlon! - o homem gritou, assustando a garota - Sua amiga está aqui!

O rapaz parou e esperou Oto o guiar até os dois, sem hesitação alguma o taverneiro saiu do seu lugar e ajudou o rapaz a se sentar ao lado da menina, ele carregava uma nova bolsa cheia, a qual ele colocou na cadeira com cuidado.

- Ela é minha irmã... - o rapaz disse sorrindo.

- Estarei trazendo a sua comida. - o barbudo disse rindo - E depois me deixe rico com a sua música.

- Anunciou por onde podia?

- A cidade deve chegar em breve... - ele disse saindo.

- Esse homem. - ele disse sorrindo - O que estavam falando?

- Ele queria saber o motivo de ser baixa. - Asterin disse pegando a mão do rapaz sem perceber o que estava fazendo - E me dar cerveja com mel para a apresentação.

- Já tomou? - ele disse pegando na mão dela com uma grande satisfação.

Asterin não respondeu, apenas pegou o copo gigantesco e deu um gole na bebida. Se fez silêncio.

- Gostou?

- Não sei... - ela disse rindo e dando outro gole - Acho que tanto faz.

- Lá na minha cidade nunca fale isso! - ele disse rindo - É uma ofensa muito grande não amar a bebida de milho.

- Vou tentar me lembrar. - ela falou pensando em prender o cabelo do rapaz - O que comprou?

- Nada de mais. - ele disse comendo um grande pedaço de batata - Em, minha sobrinha, gosta de um trabalho de xilogravuras de um ilustrador da cidade, apenas comprei um livro de histórias dele. Além de comida para a viagem e um presente de aniversário para você.

Asterin quase engasgou com a bebida diante dessa nova informação.

- Não era para você ter se incomodado. - ela disse preocupada.

- Se eu não quisesse, no dia, não iria nem olhar na sua cara. - ele disse rindo - Disse que ia usar a sua voz ao meu favor, e vou mesmo. Não sou uma pessoa ingrata.

- Eu também não. - ela disse suspirando - Já fez muito por mim.

- Se você está, mais uma vez, preocupada comigo. Não precisa. - ele deu um pedaço do peixe para Oto - Sou um cego que vive na floresta muito bem. Sei o que estou fazendo.

A moça suspirou, mas sorriu com uma certa tristeza. Quando chegasse na cidade de Marlon procuraria algo para agradecê-lo devidamente. Céus! Já estava sentindo saudade!

Enquanto isso, Marlon estava pensando que havia sido um erro comprar algo para Asterin. Não que ele não quisesse dar algo a ela, mas temeroso que isso fosse estranho, os dois se conheciam a pouco tempo. Mas, mesmo que tivesse um pouco mais de um mês de convivência, ela esteve presente todos os dias, constantemente e já tinha falado coisas com ela que nem seu irmão sabia.

- Pensei em tocar algumas músicas mais tradicionais. - ele disse mudando de assunto - A música das selkies, de despedida e...

- Níl Sé'n Lá? - ela empolgada.

- Ainda bem que estou com o violino. - ele sorriu - Pode ser, depois disso vamos apenas improvisando. Sei mais ou menos qual é seu repertório mesmo.

- Ótimo! - ela disse sorrindo enquanto levantava e o levá-va.

Quando os dois estavam de costas para a lareira, na frente todas as pessoas que chegaram, e estava chegando, Asterin percebeu o quão esquisitos deveriam parecer a todos. Um homem de enorme com uma faixa no rosto encaixando o violino no pescoço e uma menina completamente coberta ao seu lado.

As notas começaram a sair do instrumento e em seguida foram acompanhadas pela voz de Asterin, o que fez todos na taverna entrarem em um silêncio surpreso. Sabiam da habilidade do rapaz cego com os instrumentos, mas nunca pensariam que a menina, a qual ele estava levando tinha uma voz como aquela.

- Deve ser sua aprendiz... - alguém disse para o amigo, que apenas deu de ombros.

E assim foi durante horas. Quando as notas estavam agitadas e felizes, a menina batia seus pés, mãos e as vezes quase começava a dançar, quando a música era triste, sua voz trazia uma melancólia íntima, a qual tirava lágrimas.

Assim que a última música chegou e o corpo exausto da garota perdia ao sono, ela foi obrigada, juntamente com Marlon a fazer apenas mais uma apresentação. O rapaz, bufou sorrindo, mas antes mesmo de começar a tocar, Asterin começou a cantar uma música infantil que ele não conhecia e apenas sua voz reinou durante belos minutos.

Assim os dois se retiram do lugar com vários protestos da população, mas Asterin insistiu, bocejando e indo para o lado de Marlon meio que encostando nele. Ficava meio difícil negar que a garota dormisse se já estava quase fazendo isso em pé.

Dentro do quarto, Marlon deitou primeiro na rede e em seguida a garota, quase que em cima dele. Suas pernas ficaram confusas, o braço dele passou por de trás do pequeno corpo dela e os cabelos negros da menina se espalharam sobre o peito de Marlon.

- Boa noite... - ela sussurrou ouvindo o coração dele bater e internamente constatando que parecia a de um passarinho.

Marlon percebeu que ela deveria está de fato exausta, achou que a menina ficaria um tempo acordada e constrangida, talvez tentando de todas as formas não ficar tão próximo dele, até que, enfim, aceitaria que o rapaz ficasse no chão. Mas não, ou o cansaço a levou rapidamente ou a preocupação dela de manhã era de fato recorrente ao medo de está o perturbando e, isso, não a incomodava.

Ele se perguntou, a medida que o cheiro de lavanda vindo dela o preenchia, se ela o via apenas como um irmão ou, até mesmo, um tio. Afinal, cuidar dela machucada e sentir que ela quase morreu em seus braços despertou nele uma vontade de mantê-la bem a qualquer custo e isso não parecia querer ir embora, talvez um sentimento parecido havia crescido nela. Porém, se essa fosse a resposta, não sentia que explicava as sensações tão gostosas de quando Asterin prendia seu cabelo, preocupava com o que ele dizia e até mesmo respondia seu "fique bem" da mesma forma. Era tão bom cuidar quanto ser cuidado.

A cabeça dela se mexeu um pouco, ajeirando-se melhor em seu peito e seu braço, incocientemente, a apertou mais próximo de si. Ah! Como ele queria fazer com que essa guerra não acontecesse por ela, talvez, assim ela não teria que escolher qual de suas famílias ajudar. Mas ele não deveria manipular as escolhas dela, isso era algo que envolvia apenas as escolhas da garota.

Sua mão encontrou com a dela e a boa sensação voltou ao seu peito, sendo retirada quase que simultaneamente quando percebeu o anel ainda ali. O rapaz que havia feito o pedido de casamento deveria ter causado uma impressão e tantos, a joia ainda estava ali e Asterin não fazia menção de tirá-la. Pensou no nobre de Catalan e em seguida em Malakay, pois sabia, assim como todos, que Avalon deveria se casar com ele no futuro.

Por que estava refletindo sobre isso? Não deveria importar. Se ela voltasse para Catalan seria esse o destino dela e se fosse para Zaark não encontraria um futuro muito diferente. Ainda que ela ficasse com o seu irmão, ela em breve teria idade de casar e encontraria alguém. Mas a ideia dela morando em sua casa no meio da floresta o deixava tonto. Uma rainha em um local como aquele? Até mesmo aqui, era constrangedor.

Desde sempre Marlon sabia que ia ficar sozinho, ninguém merecia uma vida como a que ele levava. Sua sina era ser cego, mas todas as demais pessoas não precisavam passar por aquilo, viver como ele ou tentar acompanhá-lo. Por isso, mesmo não querendo, ele a deixaria com o irmão.

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