Capítulo 1 - parte II

- Pronto! - o tio disse feliz carregando um saco relativamente grande, principalmente quando pensado que ele estava cheio de ervas - Estou com um estoque cheio agora. Temos mais algumas coisas para comprar e aí voltaremos para casa.

- Temos que lembrar de levar as pedras brutas para Akanta. - Gayla disse olhando para Aires - Sua irmã vai me matar se eu não lembrar vocês disso.

- Verdade. - o senhor disse sorrindo - Além de arrumar comida.

- Por favor. - a menina acrescentou sorrindo.

- Mas precisamos está em Catalan amanhã, não temos muito tempo. - Aires disse preocupado, tinha que distrair Gayla para comprar seu presente.

- Vossa Alteza. - uma voz disse se aproximando deles.

Era um homem de meia idade de cabelos castanhos claros bagunçados e um sorriso cruel. Não teve muitos rodeios para apertar a mão do príncipe e fazer o mesmo com o duque, mas parou para olhar Gayla com uma curiosidade e desprezo contido. Apesar de desconfortável, a guarda não esperava por menos, não importava aonde ela fosse, as pessoas a olhavam daquela forma.

Na corte ela era a bárbara que ninguém compreendia o motivo do rei ter adotado, aqui em Zaark ela era a traidora.

- Como vai, senhor Alec? - ela disse por fim apresentando a mão como a etiqueta mandava.

- Supreso pela forma como a senhorita desabrochou. - ele disse assustando Gayla e dando um beijo em sua mão - Cresceu como uma bárbara. Bela e perigosa.

- Agradeço. - ela disse se afastando no impulso, não gostou do elogio.

- Soube que estava na cidade agora. - ele disse se virando ao príncipe - Deveria ter mandado me chamar!

- Sabemos que é muito ocupado para manter a cidade em ordem. - Aires disse sorrindo - Não queríamos incomodar.

- Ainda sim, precisa de proteção. Não sabemos o que eles são capazes de fazer.

- Ele tem proteção. - Gayla disse colocando a mão no machado em seu cinto - Além disso, todos até agora apenas nos olharam com um ódio contido.

- Acha que fizeram isso por quê? - Alec se virou para ela mais uma vez cheio de prepotência - Levou anos para domesticar esse povo. Tivemos que aumentar impostos, prender arruaceiros e castigar quem não obedecia.

- Castigar? - Jhon disse preocupado.

- Sim, aplicar chicotes, humilhação, prender eles em gaiolas... - ele deu de ombros - Coisa básica

Gayla olhou para Jhon tensa, aquilo estava certo?

- O rei está sabendo disso? - a menina disse com a boca seca.

- Creio que Vossa Majestade tem mais o que fazer do que se importar com o seu povo, Gayla. - Alec suspirou - Mas, se o príncipe herdeiro e o duque acharem necessário.

- Bem... - Aires disse engolindo seco - Informação nunca é demais!

- Sim, claro.

Alec olhou na direção da guarda, discretamente, a aquela garota desengonçada tinha ganhado graça. Aparentemente, ele não tinha sido o único a reparar nisso, afinal, ele tinha visto à distância a forma como o príncipe e ela conversavam cochichando. Já era a hora do rei alertar o rapaz que ao manter amantes, não poderia deixar que elas mandarem.

- Enfim... - o príncipe acrensentou sem jeito - Já que o senhor está por aqui poderia me ajudar. Temos muito o que fazer em pouco tempo, então, Gayla e meu tio terminem as compras, enquanto eu e Alec resolvemos o presente de minha irmã e um pouco de alimento.

- Não acha melhor eu ir com você? - a guarda disse dando um passo a frente, aquilo, afinal era seu trabalho.

- Alec também é um guerreiro... - Aires deu de ombros.

- Conheço os riscos desse país e seu povo, minha cara. - ele sorriu, mas havia ironia no olhar - Ele ficará em boas mãos.

Preocupada a menina sustentou o olhar no príncipe que apenas deu de ombros. Não poderia desacatar ordens, mesmo que indiretas dele. Bufou e se aproximou do duque perguntando qual era o próximo item da lista.

Satisfeito, Aires saiu com Alec perguntando qual era uma boa tenta que vendia cristais, já imaginando qual seria o presente para Gayla mais adequado.

- Preciso de armas ornamentais. - o duque disse com um sorriso enorme.

- Precisa? - a menina deu um sorriso, enquanto levantava uma sobrancelha.

- Queria entregar algo a Darlan, agora que ele é o chefe dos cavaleiros. - o senhor disse caminhando por entre as barracas - As armas ornamentais de Zaark são funcionais, diferente daquele treco pesado de Catalan feito de ouro.

O senhor andava um pouco a frente da menina, mas atrás de uma barreira de soldados de caras fechadas, ainda assim ele conseguia ver os olhares de repulsa que o povo lançavam para ele, principalmente quando viam Gayla e sua postura protetora com a mão no cabo do machado. Se eles imaginassem...

Pararam na frente de uma forja, um homem corpulento de uma longa barba marrom um pouco ruiva ao fundo batia em um metal completamente vermelho várias vezes soltando faíscas de modo hipnotizante, mais a frente, sentada atrás de uma mesa de madeira, havia uma mulher loira e grávida vendendo os trabalhos prontos. Armas reluzentes, perfeitamente feitas com cabos de madeira cheios de entalhes, obviamente feitos a mão. Uma excelente mão!

Na frente da barraca, fazendo negócios, havia duas pessoas, uma moça de capa prata, retirando cabos novos da bolsa e colocando sobre a mesa e um rapaz com uma péssima postura e uma pele mais dourada, pegando o dinheiro da mulher. Eles estavam tão focados naquilo que não repararam na aproximação da comitiva.

Gayla, sem muita cerimônia, ao ver os trabalhos pegou em uma das armas. Era de um equilíbrio perfeito, os entalhes confortáveis na mão e cabos resistentes de madeira boa. Ela olhou para moça sorrindo.

-Incrível! - devolveu a espada no lugar e olhou para o duque atento em sua escolha - Estão de parabéns!

Seus olhos se voltaram mais atentamente para os entalhes, eram símbolos de proteção, força e coragem, mas também animais, feitos com uma riqueza de detalhes que não parecia ser possível está em madeira, ainda mais em uma de tanta qualidade.

- Obrigada. - a mulher disse engolindo seco, nenhum pouco confortável naquela situação.

O barulho do martelo parou e Gayla viu o ferreiro largar tudo o que estava fazendo para se aproximar da confusão de soldados protegendo os dois novos chegados.

- Senhores... - ele disse tocando o ombro da mulher - O que gostariam?

- Bom... - a guarda olhou para Jhon ainda absorto em sua escolha - Eu gostaria de parabenizar você! Nunca vi um trabalho de forja tão limpo! Acho que não há defeitos em suas armas.

- Foram anos de prática e muita coisa jogada fora. - ele disse surpreso pelo elogio - Não chego aos pés de meu pai.

- Creio que ele está orgulhoso de seu trabalho! - a menina sorriu pegando uma adaga e uma bolsinha de dinheiro do cinto e colocando na sua mesa.

- Espero que sim. - ele engoliu seco - Ele era o ferreiro real...

Aquilo foi uma pequena afronta, Gayla sentiu, não só a ela, mas a Catalan também. Os soldados ficaram tensos e atentos ao que a garota ia falar a seguir, o duque levantou o olhar preocupado na direção da menina, até os dois outros clientes que ali estavam antes pareciam tensos, mas ela ignorou. O que mais ela poderia fazer, também? Punir o homem com uma mulher grávida?

Era uma provocação, talvez muito mais pessoal, para jogar na cara dela que todos ali perderam coisas para o povo que agora ela servia, inclusive ela mesma tinha perdido muito, talvez tudo.

O homem continuou a se mexer e suspirou de alívio pela impunidade, pegou a bolsa de dinheiro e contou as moedas, quando ele estava prestes a devolver dezenas dela a moça levantou a mão.

- Esse é o preço que desejo pagar! - ela guardou a adaga no cinto.

- Mas... - a mulher disse, preocupada pela grande quantidade a mais.

- Acho que seria uma ofensa dar menos do que isso pelo seu trabalho. - ela insistiu.

O casal se entreolhou, mas decidiu aceitar, logo teriam uma boca a mais, ter mais dinheiro era algo bom.

- Bem... - a moça disse, enfim sorrindo - Temos ajuda com os cabos.

Ela indicou com o queixo os dois outros que estavam ali, meio paralisados.

- Então são vocês os artesãos? - Gayla se virou para eles cruzando os braços, sorrindo.

O duque aproveitou esse momento para pegar um machado e trocar o dinheiro rapidamente. O presente da menina estava resolvido! Voltousse a mesa mais uma vez, agora procurando verdadeiramente uma arma para o filho. Talvez se ele estivesse visto os outros dois camponeses ali, nossa história teria tomado um rumo completamente diferente.

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E aí? O que vocês estão achando?
Obrigada pelo apoio e até o próximo capítulo!

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