Capítulo 5
Não me virei por medo.
— Sim, eu estava procurando... — tentando achar uma desculpa razoável ele falou antes de mim.
— Um pente, talvez? — não havia humor na sua voz. Era apenas indiferença e talvez um pouco de irritação.
Me virei para olha-lo e finalmente me dei conta de onde estava. Uma biblioteca grande com janelas que cobriam quase que a parede toda estavam com as cortinas azul pesadas abertas, revelando uma grande lua no céu estrelado.
Havia várias escadas anexadas nas estantes longas de madeira polida.
Um mapa com os onze reinos estava preso a uma das paredes sem janela e em baixo uma poltrona, um homem estava sentado com as pernas cruzadas.
Um livro repousava em seu colo e trajava uma camiseta branca com um belo acabamento e calças de montaria preta. Seus cabelos de um tom de ouro estavam caídos por cima de seus olhos. O rosto estava em volto das sombras da sala e somente algumas partes eram visíveis pela claridade da lua.
Não havia velas acesas, ele lia com ajuda do brilho da lua.
— Não — falei, enfática. Ele não podia ver meu rosto com clareza e nem eu o seu. — Eu me perdi, desculpe a intromissão.
Me virei para ir embora, mas seu tom de voz me fez parar com a mão na maçaneta redonda.
— Nunca a vi pelo castelo, então deve ser nova já que ignorou a regra de nunca vir para a ala real... Ah, entendo — disse, entediado. — Você é uma das participantes... tsc. Tão típico e logo na primeira noite.
Não diga nada. Apenas saia.
Mas não pude resistir, o que ele disse me deixou incomodada, me virando tentei enxergar seu rosto.
— Entende o que exatamente?
— Não se faça de desentendida. Uma mulher vestida com peças de roupas sugestivas na ala real, o que mais poderia significar? Está tentando seduzir a quem exatamente?
Sabia que o sensato era não responder e sair o mais rápido possível daquele lugar, porém o que ele disse foi muito ofensivo. Já estava bem irritada com a parte de ser posse do príncipe e agora um estranho acabou de dizer que vim até aqui para abrir as pernas para sua alteza.
— Seduzir? Quem você pensa que é? O rei? Não vim aqui para seduzir ninguém!
O estranho fechou o livro e se levantou e pude ver seu rosto quando se aproximou.
Olhos da cor azul cobalto me fitaram fazendo eu ficar embasbacada com sua beleza. Um rosto marcante com lábios grossos e um maxilar forte faziam o estranho parecer quase uma entidade divina.
Sua expressão era severa e quando ele continuo vindo na minha direção me afastei para a parte clara da sala com medo.
Ele era mais alto que eu, em uma diferença de talvez dez centímetros e aparentava ser bem forte.
Quando ele me observou atentamente sua expressão mudou consideravelmente e ele franziu a testa intrigado, parando a centímetros de distância.
— Quem é você? — perguntei, não gostando daquela atenção.
— Não sabe quem eu sou? — havia um tom de irritação na sua voz, mas um sorriso quase se formou em seus lábios.
— A rainha talvez?
Mordi a língua arrependida irremediavelmente do que disse. Ele podia ser alguém importante, talvez até fosse o príncipe e cá estava eu ofendendo não só a ele, como a rainha. À devo ter enlouquecido mesmo.
— Sou amigo do príncipe — ele colocou as mãos para trás e inclinou a cabeça para o lado. — E adoraria saber o por quê, de uma mulher com uma língua tão afiada e mal educada estar fazendo na ala real.
— Amigo? — tentei não ficar surpresa com sua posição. Se ele era amigo então poderia dar o recado ao príncipe, que não queria participar. Mas ele também poderia contar o que eu disse.
— É algum tipo de papagaio? Vai ficar me imitar?
— Te imitando... — parei de falar, revirando os olhos. — Se me dá licença.
Virei segurando a maçaneta a virando, porém ele segurou a porta e me afastei rapidamente com sua aproximação. Foi tão rápido que meu coração bateu muito descontrolado. Estava com medo, não tinha percebido que esse homem poderia me fazer mal até aquele momento.
Estava praticamente nua e sozinha com ele, que poderia fazer qualquer coisa comigo que ninguém o repreenderia. Afinal eu era uma ninguém. E consequentemente eu seria culpada e enforcada, mesmo não querendo.
A raiva fez todo o medo ser deixado de lado.
— O que pensa que está... — ele pressionou a mão na minha boca e tentei empurra-lo, mas ele mal se moveu.
— Fique quieta. À guardas lá fora. Escute — falou, irritado olhando para o vão da porta onde sombras passavam.
Fiquei quieta e os ouvi dando risadas.
O encarei observando seu rosto serio. Parecia estar preocupado em ser encontrado pelos guardas, talvez mais do que eu.
Acabei relaxando, mas mantive a guarda alta, afinal eu não poderia o subestimar.
— Já foram — disse me olhando e soltando a mão da minha boca. Me afastando concordei com a cabeça. — É melhor esperar um pouco antes de ir.
Cruzando os braços fiquei incomodada com seus olhos sobre mim.
— Se não veio para a ala real para seduzir o príncipe. Para que veio? Afinal vocês tem tudo o que precisam nos quartos. Até tem uma criada a disposição.
— Eu me perdi enquanto caminhava.
Ele não parecia tão convencido dessa resposta.
— Qual é o seu nome?
Irritada com suas perguntas bufei.
— Qual é o seu nome? — questionei, ele abriu um sorriso largo e fiquei surpresa com o quão bonito ficou. Dava medo sua expressão entediante, mas essa era mais agradável. — Sou um papagaio, lembra?
— De fato, é. Então você gosta de perambular pelo castelo a noite, devo presumir que não seja uma princesa.
Retesei ficando ereta, ele percebeu meu desconforto e nossa situação.
— Já percebi que a assustaram — ele suspirou. — Não se preocupe, não farei nada com você.
— Não confio em você, em ninguém aqui. Então não vou pedir desculpas em por ser cautelosa.
— Está certa em não confiar em ninguém. Talvez seja mais esperta do que eu achei que fosse. É uma pessoa bem interessante. O que deixa a situação um tanto duvidosa, por que alguém prudente, vagaria a noite pela ala real? — pressionou e mal tive tempo de me conter antes de contar a verdade.
— Eu só não quero participar dessa competição. Estava indo atrás do príncipe para dizer que não serei dele e não farei parte desta estupidez — arrependida fechei os olhos e respirei fundo massageando a têmpora. — Escute, eu não queria dizer... — abrindo os olhos percebi que ele estava rindo e balançava a cabeça. — Qual é a graça?
— Você é uma pessoa muito interessante. Pode ter certeza que irei falar bem de você ao príncipe.
— Espera, eu não pedi para você... — mas ele passou por mim e abriu a porta.
— Vou distrair os guardas. Saia daqui e vá direto para seu quarto. Sabe chegar até lá?
— Ora, mas é claro que sim. Mas eu não quero que você fale bem de mim ao príncipe!
— Ótimo. Você conseguiu um forte aliado nesta competição. Seria errado deixá-la partir cedo — ele piscou saindo e tentei impedi-lo, porém ele já caminhava na direção oposta de onde eu tinha vindo.
Irritada esperei um pouco para sair.
Não era aquilo que tinha planejado.
Saindo da biblioteca caminhei apressada para o quarto e por um milagre ninguém me viu e consegui achar o cominho de volta.
No quarto me repreendi por não ter conseguido descobrir seu nome, mas seu rosto estava tão gravado em mim que não pude resistir e o desenhei e fiz algo que quase nunca fazia, o pintei. Seus olhos, especificamente.
O intenso do azul cobalto me fez ficar horas no desenho e quando me senti cansada demais para continuar, deitei no chão e dormi.
Dessa vez sonhei com um leão de olhos azuis cobalto e ele corria rápido na minha direção, por mais que eu tentasse escapar era inútil ele conseguia me achar facilmente e acordei com ele pronto para me abocanhar.
☽⋯❂⋯☾
— Nervosa? — perguntou Amália após terminar de escovar meu cabelo e começar a trança-lo.
— Não — menti claramente nervosa com o fato do estranho da noite passada ter falado bem ou mal de mim para o príncipe. Primeiro que ele saberia que eu tinha passado um tempo com outro homem na noite passada. Esse era um problema maior que ele falar bem de mim.
Um calafrio me percorreu. Não conseguia imaginar qual seria a proporção da catástrofe se isso ocorresse.
— Apenas tente não chamar a atenção — disse sabendo que eu queria ir embora logo e sorriu complacente.
— Por isso me deu esse vestido simples? — perguntei, passando a mão pelo tecido leve e fino. Não podia dizer exatamente qual era o tecido, nunca usei algo tão delicado e belo.
Possuía a cor azul escura em alguns tons mais claros na saia. Uma manga longa com babados no pulso tinha o caimento perfeito, já que Amália tinha ajustado quando o coloquei. Ela havia saído do quarto para eu o colocar e não disse nada.
Ele marcava bem minha cintura, mas ao todo era bem recatado sem decotes grandes com apenas ramos dourados no busto.
— Acredite era o mais simples — disse terminando meu cabelo e o observei no espelho da penteadeira, meu reflexo.
Ela havia feito uma trança que se prendia em um coque com fios caindo em volta do meu maxilar. Alguns ramos dourados foram colocados no meio do meu cabelo.
Meu rosto não havia mudado nada, ela não passou nada que chamasse a atenção e eu parecia tão diferente. Estava bonita, mas não conseguia me sentir assim.
Desviei o olhar do meu reflexo, se me encarra-se demais iria ver coisas das quais odiava e não conseguiria descer para me encontrar com a nobreza.
— Obrigada — falei levantando e indo até a porta. As sapatilhas do mesmo tom do vestido faziam barulho quando eu andava.
— Srta.Swan... — chamou Amália e me virei. Ela me olhava de um jeito estranho e abriu a boca para falar, mas desistiu e balançou a cabeça sorrindo. — Boa sorte.
Curvei a cabeça e me virei para sair e no corredor criadas corriam com vestidos de várias cores e modelos nas mãos.
Algumas princesas gritavam ordens e parecia um campo de guerra com cada uma avaliando a vestimenta de seu inimigo. Me sentindo deslocada tentei não chamar a atenção, me misturando as criadas.
— Eu não quero essa cor! Azul turquesa é a cor dos olhos do príncipe, meu vestido precisa estar em sincronia — disse uma das princesas com as mãos nos quadris. Seus cabelos cacheados loiro-avermelhados estavam soltos e várias presilhas seguravam algumas mechas no alto da cabeça.
A reconheci da pasta, Nala Dumb, não me lembrava do seu reino, mas sabia que gostava de peças de teatros. Seus olhos castanhos fuzilavam a pequena criada que tremia de medo.
— Sinto muito alteza, mas esse é o vestido que me pediu — disse tremendo. — Não posso mudar agora...
— Cale-se! Não mandei você falar, mandei você trocar o vestido. Agora.
Sem escolha a criada correu corredor a fora e talvez não voltasse tão cedo.
— Nala você fica linda nesse vestido — falou uma das participantes. Essa possuía um longo e liso cabelo loiro escuro preso no alto da cabeça por uma tiara de pedras azul-marinho, seu vestido possuía mais camadas na saia a fazendo parecer uma flor.
— Isso não é justo, Marcta. Somos princesas! Porque temos que colocar vestidos tão simplórios?
— Não se preocupe com o vestido. Com sua aparência nunca chamaria a atenção do príncipe. Incrível como a cada dia você fica mais parecida com sua mãe — disse outra garota com vestido diferente e exótico.
Seus cabelos estavam bem alisados e várias joias adornavam suas orelhas, assim como pedrinhas brilhavam de suas pálpebras.
Se houvesse uma palavra para defini-la seria excêntrica.
Princesa, Pietra.
Ela era bonita de uma forma diferente da de Nala, havia muita personalidade em Pietra e ela chamava a atenção.
Nala avaliou Pietra e sorriu de forma ardilosa.
— Sempre exagerada. Talvez minha mãe tenha um péssimo gosto para homens, assim como você tem para roupas.
— Os casados são sempre os piores, não acha?
— Vamos deixar essa briga para outra hora e lugar, sim? — Marcta tentou intervir, porém ambas a ignoraram e mais empregadas paravam para ouvir a conversa calorosa.
— Marcta tem razão. Isso não nos diz respeito — disse se virando, porém Pietra a para segundo seu braço e sussurrando algo em seu ouvido, o que a fez paralisar e encarar Pietra em completo choque. — Como...
— Vamos nos dar bem — falou sorrindo e a soltou indo em direção a algumas criadas.
Nala leva segundos para se recompor e Marcta suspirou e me afastei discretamente indo até algumas criadas.
— Você é a Rosemary? — perguntou alguém atrás de mim e pulei me virando. A garota de cabelos cacheados sorriu de lado com minha reação.
— Sim.
— Sinto muito se a assustei. Eu me chamo Ivna. Eu fiquei muito curiosa para saber quem era a plebéia — ela esticou a mão e a peguei. — Você é linda.
Corei soltando sua mão quente e áspera. O que me deixou intrigada. Princesas não deveriam ter mãos macias e delicadas? Mas Ivna não tinha nada de delicada e macia. Seu rosto era bem marcado e os lábios grossos e grandes. Sua testa possuía marcas de tanto levantar as sobrancelhas. Bruta e exótica.
Cada centímetro de seu corpo era bem delineado e definido, diferente de qualquer princesa da competição. Quase uma guerreira.
Subitamente gosto mais dela do que das outras, ela vinha de um reino desconhecido e talvez não tivesse tantas conhecidas na competição.
— Ivna — chamou Marcta e sorriu para ela. — Faz tempo que não a vejo - ela me notou e sorriu para mim. — Você é a Rosemary.
— Sou tão famosa assim? — questionei, irritada pela atenção.
— Você é a única plebéia na competição, disseram que você era muito bonita por isso a escolheram. Vejo agora que estavam certos. Não precisa me olhar assim, ainda não somos rivais.
Parei de franzir a testa e tentei sorrir.
— No momento que pisamos o pé em Mountsin, todas viramos rivais — disse outra princesa, essa eu havia gravado na mente.
Imyir tinha uma fenda no vestido, cada parte exposta do seu corpo era de certa forma excitante.
Seus olhos verdes queimaram nos meus quando ela me encarou.
— Boa sorte, plebéia. Vai desejar nunca ter posto os pés neste castelo — com isso ela se foi, me deixando intrigada com suas palavras com significados distintos.
— Garotas, me escutem — pediu Clarissa no final do corredor e todas as princesas caminharam até ela. Me mantive próxima a Ivna e Marcta.
— Como ousa se designar as nós como garotas — ralhou Nala para Clarissa, que se limitou a levantar uma sobrancelha.
— Vocês perderam seus títulos momentaneamente e só os recuperaram no final da Competição da Coroa. Então sim, eu ouso chama-las de garotas. E ouso ainda mais manda-lá calar a boca — Nala ficou vermelha de raiva e as outras nem ousavam falar. Clarissa dava medo. — Vocês podem achar que tem direitos aqui, mas até o final serão tratadas como iguais. E que fique claro, que eu não sou amiga de vocês, não sou criada e muito menos subordinada, sou sua superior. Tentem não envergonhar Mountsin — ela lançou um olhar intencional para Nala, que parecia prestes a explodir.
— Quando eu chamar seus nomes sigam até o salão principal — continuou. — Mas antes devo delimitar algumas regras. Vocês não podem machucar uma a outra e nem serem pegas causando mal uma a outra ou serão eliminadas.
Engolindo em seco observei os rostos das princesas. Nala parecia genuinamente chateada e percebi que estava enganada sobre as princesas. Pensei que elas fossem boas e gentis. Estava completamente errada.
— Devem se portar a família real pelos títulos e não pelos nomes.
— Só isso? — questionou uma princesa de cabelos castanhos e olhos escuros.
— Sim, preparadas?
Elas assentiram com a cabeça e encarei o chão.
Pronta?
Não estava pronta, queria voltar para o chão confortável e ficar lá. Não queria ver o rei ou os convidados e muito menos o príncipe.
As princesas pareciam prontas para a guerra. Seu único objetivo, o príncipe. E fariam de tudo para destruir seus oponentes.
Era uma plebéia , assim com a anterior que foi morta. Talvez Imyir estivesse certa ou fosse meu medo me obrigando a desistir.
Mas cheguei tão longe.
Apenas algumas semanas, Rose. E então liberdade.
Os nomes são anunciados e quando todos se vão e sou a única no corredor considerando voltar para o quarto Clarissa sorriu para mim.
— Não tenha medo. Vá, se liberte.
Estufei o peito e caminhei até a minha liberdade.
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