Capítulo 35
Havia uma mulher entre os três e ela usava um vestido rosa claro e era graciosa. Como uma bela rosa.
O homem ao lado de Luke era mais velho, talvez beirando aos quarenta. Mas bonito e usava uma túnica verde escura e seus cabelos castanhos possuíam varias mechas brancas e prateadas.
Os três elegantes e belos estavam com o medo estampado em seus rostos.
Eles sabiam mais do que eu e por isso já sabiam seus fins.
Um movimento no canto do salão me chamou a atenção e olhei para lá.
Uma mulher segurava o pulso de uma jovem com força e pelo vestido a reconheci de imediato.
Meu peito doeu ao ver Marcta vendo Luke naquela situação.
E piorou quando perto do rei, em pé nas escadas, Edward avançou e sua mãe o puxou para trás o impedindo de ir até seu amigo.
— Os acusados dêem um passo a frente — ordenou o rei e eles o fizeram. O barulho das correntes se chocando era terrível. Um documento foi entregue ao rei por um guarda. — Senhora Jim — a mulher deu outro passo a frente e manteve a cabeça levantada. — Está sendo acusada de translação ilegal de suprimentos com os exilados. Seu navio o Colin's foi barrado antes que pudesse levar a mercadoria até o outro continente. O Capitão confessou o crime e tenho documentos que comprovam a transição. Tem algo a dizer em sua defesa?
A senhora Jim fez uma reverência.
— Majestade, eu humildemente peço que compreenda minha situação. Deixe-me explica-lá.
— Nos conte sua história — ele fez um gesto com a mão indicando todo o salão e vi que ela tremeu.
A voz do rei era amigável e com a máscara só tornou tudo pior.
— Meu marido faleceu cedo e me deixou com muitas dívidas e uma filha pequena. Vendi minhas jóias e minhas roupas para pagar as dívidas e consegui, só que não possuía dinheiro para poder alimentar minha filha. Meus parentes não queriam nos abrigar ou ajudar — ela parou e engoliu em seco olhando para todos no salão. Olhando para as caras sorridentes diante de sua historia trágica. Era cruel. — Então soube por alguns comerciantes das transações ilegais que geravam muito dinheiro, como eu ainda mantive o navio do meu falecido marido o usei. Fiz o que fiz para salvar minha filha. Não pensei em como isso afetaria o reino. Pôr que diante da fome da minha filha eu estava disposta a trair sua majestade.
O rei ficou em silêncio.
— A ouviram. Não hesitou em trair cada um de vocês por seres cruéis como aqueles. Seres que queimaram seus filhos vivos na escola.
— Ninguém nos ajudou — disse perdendo a compostura e o interrompendo. — Ninguém. Estou disposta a pagar, mas não puna a minha filha. Eu imploro — ela se ajoelhou e o rei a encarou com o sorriso branco da máscara.
— Vamos ouvir o restante dos acusados se mantenha nesta posição, talvez eu reconsidere sua punição — falou para ela que não ousou se mexer. Tinha algo na voz do rei que não parecia ser a dele, mais cruel e horrendo. Um lado dele, talvez, que ele deixava aflorar quando usava a máscara. — Senhor Saimon ex-comandante, acusado de compartilhar informações da localização de bases militares para os exilados. O seu subordinado relatou sua traição e por pouco não teríamos nos subjugados a outra guerra. Tem algo a dizer em sua defesa?
— Não, fiz o que achei correto — ele também não abaixou a cabeça.
— Trair seu rei? — seu tom era quase divertido.
— Ajudar pessoas inocentes.
— Então acha que a escola incendiada não foi culpa deles?
— Não, majestade.
Um burburinho começou pelos nobres do salão.
— E você Luke... eu te considerava um filho e você me apunha-lou pelas costas.
Luke balançou a cabeça.
— Majestade, eu não entendo como.
— Ah, bom. Vamos esclarecer os fatos. Você foi acusado de vender armas aos exilados, de causar pequenos motins pela Cìlia, junto ao seu bando que ainda está sendo caçado. Assim como a espionar seu rei. Você nega?
O encarei torcendo para que fosse mentira, mas a verdade estava estampada em seu rosto.
— Não, majestade.
— Como pôde fazer isso conosco? Se unir a seres tão vis?
— Porquê? Porque os considera vis, cruéis e maus? — Luke olhou ao redor com raiva. — Eles tem sentimentos, se machucam, sangram exatamente como nós. O que os faz ser diferente? A magia correndo em suas veias? Eles sequer são capazes de a usar e o senhor sabe disso — ele olhou para o rei com os punhos cerrados. — O que fez não foi um expurgo, foi uma chacina.
O ar ficou mais pesado e eu mal respirava com medo de fazer barulho.
— É assim que me agradece depois de tudo o que fiz por você?
— Eu sempre serei grato. Mas não posso fechar meus olhos quando o que fez aquele povo não foi o certo.
— Acho que já ouvimos o suficiente — disse e levantou a mão. — Deixem-no entrar — pediu aos guardas que abriram as pesadas portas novamente.
Andando tranquilamente com as mãos nos bolsos uma figura vestida da mais refinada roupa com os cabelos com múltiplas tranças parou ao lado dos três.
O salão recaiu em um silêncio diferente, era medo. Puro e cru. Os três agora estavam pálidos.
Usava uma máscara diferente da de todos no recinto.
Branca com os olhos esculpidos detalhadamente com lágrimas vermelhas escuras escorrendo pelos olhos. Havia sido quebrada na parte esquerda na região da boca e possuía várias tiras pontiagudas percorrendo o queixo e parte dos lábios.
Não era do mesmo material que eu usava, era mais rústica e cruelmente bela.
Parecia que estava sofrendo e mesmo assim dava para ver um sorriso sarcástico da pessoa por baixo da máscara surgindo.
Olhei para o seu casaco e vi o amassado que havia deixado horas antes.
Ele não fez uma reverência ao rei e me perguntei se já o vira fazer antes.
— Senhora Jim, seus crimes são demasiadamente terríveis — ele abriu os braços. — Ela é digna de absolvição?
Então em um cântico macabro a nobreza falou ao mesmo tempo:
— Que seu coração seja entregue a terra por sua traição.
Seu corpo tombou para frente e ela manteve a cabeça erguida e notei que lágrimas se formavam em seus olhos.
— E que seu sangue lave o pecado da sua carne — eles continuaram até tudo ficar em completo silêncio.
— Minha filha... por favor a poupe... — implorou com as mãos erguidas em forma reza.
Luke estava encarando a cena com raiva e parecia querer implorar pela filha da senhora também.
— Ela também me traiu. O mesmo sangue traidor que corre em suas veias corria nas dela. Como eu poderia a tê-la poupado?
Arregalei os olhos e a mulher o olhou em completo choque.
— Majestade, tenha piedade é apenas uma criança... por favor a poupe. Me castigue em seu lugar. Mas não a machuque...
Luke se ajoelhou ao lado da mulher.
— Por favor, majestade. Poupe a criança.
— Está implorando por alguém que já está morta — disse e meu peito apertou e a mulher balançou a cabeça incrédula entendendo sua frase anterior dita já no passado.
— Não... — falou baixo. — Isso é mentira... ela não morreu.
Os punhos de Luke de apertaram e a ira em suas olhos me assustou.
O rei fez um gesto para um dos guardas e ele foi até sua majestade, segurando uma boneca de cabelos castanhos escuros e um lindo vestido verde-limão com manchas vermelhas escuras na mão.
A pegando o rei a virou nas mãos e depois a jogou e ela aterrissou perto da mulher.
— Creio que isto era dela — o não que a mulher gritou foi tão ensurdecedor que tive que conter a vontade de chorar.
— Como pôde? — perguntou Luke estridente e a mulher chorava abraçando a boneca. — Fazer isto com uma criança? É este o soberano a quem vocês seguem? — ele se levantou e olhou ao redor. — É a pessoa para quem estão dispostas a lutar e morrer?
— Cassian — disse o rei e o ruivo que parecia entediado com a situação olhou para ele. — Puna está mulher pecadora também.
Ele assentiu e caminhou até ela, mas Luke se colocou na frente dela e de alguma forma sabia que Cassian estava com a sobrancelha levantada, surpreso.
— Não vou permitir que faça isto.
— É melhor sair da frente — pediu Cassian, gentilmente.
— Não — a coragem dele me deixou muito intrigada. Olhei para Marcta e ela se debatia e percebi o porque ela o amava. Não era só pela sua aparência, Luke tinha um caráter incrível. Era uma boa pessoa.
Em um instante Cassian estava segurando sua cabeça e Luke arregalou os olhos com dor.
— Interessante — murmurou o soltando abruptamente o fazendo cair de joelhos segurando a cabeça e fazendo uma careta de dor.
Ele se afastou do jovem caído no chão e foi até a mulher que o encarou com raiva. Ela se levantou tremendo.
— Eu rogo, para que algum deus, negligenciado por vocês — falou com a voz rouca apontando para o salão mascarado. — Que ele os puna por cada vida inocente que caiu perante ao seu rei pecador.
Cassian moveu os cabelos molhados de lágrimas do rosto da mulher e se inclinou e sussurrou algo em seu ouvido. Quando se afastou ela o olhava atônita, então ele virou a cabeça dela rápido para a esquerda e o barulho de seu osso partindo fez um dos nobres vomitar.
Ele a matou com apenas um movimento das mãos. Seu corpo atingiu o chão em um banque alto.
— O que disse a ela? — questionou o rei.
— Que os deuses não existem.
Contive a raiva apertando meu punho.
Mesmo sabendo o quanto Cassian era perigoso não podia imaginar que podia fazer aquilo em alguém.
Suas mãos mais cedo eram tão cálidas e gentis, como eu poderia imaginar que seriam tão mortais?
— Você sempre foi impaciente. Não poderia a ter feito sofrer um pouco mais?
Ele deu de ombros casualmente parando atrás do outro homem que tremia incontestavelmente.
— Quero voltar para meu quarto e terminar meu livro.
O rei balançou a cabeça como se estivesse desapontado com o filho que não queria o obedecer, era assim que a cena parecia.
E fiquei enojada com ambos.
— Vamos dar um espetáculo com o próximo. Senhor Saimon — o homem xingou baixinho e num movimento de mãos puxou do bolso da calça uma adaga afiada e a ergueu para o rei.
— Vejam, não é necessário um julgamento para este homem. Cassian...
Então antes que o ruivo pudesse fazer algo o homem passou a adaga pelo pescoço fazendo sangue verter e ele cair. Gritos assustados ecoaram entre os nobres e um choro baixo foi ouvido.
— Quanta sujeira — reclamou o rei. — Luke.
Eles pareciam peças de dominó caindo um após o outro nas mãos do rei.
— Pai — gritou Edward retirando a máscara, lágrimas marchavam seu rosto. — O poupe, por favor.
— Se está insatisfeito com a situação do seu amigo fique no lugar dele.
O choque percorreu o rosto do príncipe.
Sua mãe o puxou pelo braço e Luke olhou para o amigo.
— Não precisa se preocupar, Ed. Eu vou ficar bem — era uma mentira totalmente cruel. — Por que nenhuma morte aqui hoje será em vão.
Alguém bateu palmas e vi que era Cassian.
— Você é um jovem admirável. Vou lhe conceder um desejo — ronronou, sorrindo.
— Cassian — grunhiu o rei, mas o ruivo o ignorou e andou até estar na frente de Luke.
— Me peça o que quiser e eu lhe darei.
Suas palavras soavam tão honestas.
Luke o encarou durante um longo tempo e desviou seus olhos para Marcta sabia quem era ela.
— A proteja... — ele engoliu em seco e sorriu esticando a mão na direção de Cassian,um consentimento silencioso para a morte que o aguardava, mas manteve os olhos na princesa. — E diga a ela... diga que um dia vamos voltar a ver o pôr do sol juntos.
— Como prova da meu afeto por você, farei com que sua amada receba seu coração — disse o rei e várias pessoas no recinto viraram o rosto já antecipando o pior e não percebi que andava até sentir a mão de Ivna no meu pulso, me impedindo.
A olhei e ela balançou a cabeça.
Quando voltei meus olhos para a cena ouvi um grito alto e um barulho grotesco de algo sendo puxado para fora. E mais barulhos de vômito ressoou pelo salão.
Também teria vomitado se não estivesse tão estupefata.
O corpo de Luke caiu, mas vi que sorria de forma amorosa e Marcta fora arrastada para fora por sua mãe e pai.
O rei se levantou.
— Que os céus tenham piedade de suas almas — disse e os nobres fizeram uma reverência a ele e começaram a se retirar do salão em silêncio.
A rainha arrastou Edward que parecia estar em uma reação de estupor. Leon foi em seguida e o salão começou a ficar quase vazio.
Não percebi quando Ivna soltou minha mão e que não estava mais ao meu lado. Não conseguia me mover de medo e pânico.
— Cassian — chamou o rei o ruivo que ainda estava parado em frente ao corpo de Luke segurando seu coração. — Limpe está bagunça. Está é sua punição. E exiba os corpos.
Assentindo Cassian entregou o coração de Luke a um guarda e pegou o corpo do jovem com tanto cuidado que quase achei que era um gesto gentil.
Ele saiu do salão o segurando e olhei para o rei que retirou a máscara.
Franzino a testa analisei seu rosto.
Ele estava chorando e seus olhos encontraram os meus e neles eu vi um vazio quase irreal.
Tropeçando em meus próprios pés eu sai do salão quase que correndo.
Não conseguia respirar quando parei perto das escadarias.
Arranquei a máscara a jogando no chão e apoiei as costas na parede encurvada. Coloquei as mãos nos joelhos e tentei normalizar minha respiração.
Um gosto azedo preencheu minha boca e a imagem ficou se revivendo na minha mente.
— Rose... você está bem? — perguntou Damien me assustando com sua repentina aproximação.
O encarei e neguei com a cabeça.
— Aquilo... o que foi aquilo? — Não conseguia falar com clareza.
Ele olhou para trás.
— Você viu aquilo — ele soltou um suspiro longo.
— Sabia sobre... este dia?
— Não, nenhum plebeu sabe. Não é um assunto nosso e não faria diferença saber ou não. Alguns guardas me informaram sobre este dia, nunca foram julgados tantos nobres. Mas o que são alguns riquinhos a menos no mundo — resmungou em voz baixa.
Apertei meu punho tão forte que pensei ter rasgado minhas palmas com as unhas.
— Eram pessoas Damien. Ao inferno se possuíam mais dinheiro do que a maioria de nós. Não é porque aquele homem culpou seu pai que todos são iguais. Este julgamento sequer foi justo.
Damien analisou meu rosto.
— Tem razão. E ai está seu outro motivo para vir comigo.
Soltei uma risada amarga.
— Você é incansável.
— Eu quero te proteger. Viu o que aconteceu ali dentro. Eles sequer se importam com os seus. Não é seguro ficar.
— Não é — concordei me afastando da parede. — Mas eu não quero mais fugir.
— E o que vai fazer? Começar uma maldita rebelião contra o rei? — ele bufou uma risada cruel.
— Se esta for a única solução. Que seja.
Domine segurou meu braço.
— Está se envolvendo em uma guerra que não é sua. Recobre o juízo, Swan. Vamos, eu sei que vai tomar a decisão certa.
— Mesmo que eu escolha ir embora, não será com você. Não somos mais nada um do outro — a dor em seus olhos foi como uma agulha perfurando meu coração.
Queria retirar o que disse, queria lhe contar sobre a conversa com Eleonora no jardim, sobre sua revelação, mas não o fiz.
Me desvencilhei de sua mão e fui até o corredor com os quartos.
Parei quando vi Marcta com sua mãe.
— Pare de chorar — ela ordenou friamente.
Marcta soluçava e tremia.
— Ele se foi... ele se foi... — sua voz mal passava de um sussurro entrecortado.
— Arrume suas coisas. Você vai voltar comigo, e pare de chorar — ela se virou e passou por mim.
Quando ia tentar consolar Marcta, Ivna surgiu saindo de seu quarto e a abraçou.
Ela passou as mãos pelo cabelo de Marcta e a puxou até seu quarto.
As teria seguido se soubesse o que fazer em uma situação daquela.
Fui até a porta do quarto e deslizei até me sentar no chão gelado.
Não sei quanto tempo fiquei ali, naquela posição.
— Está péssima — comentou Imyir e a olhei. Ela segurava uma garrafa de alguma bebida alcoólica antiga.
— Isto é álcool?
Apontei para sua garrafa e ela assentiu.
— Foi fácil seduzir o guarda que cuida da alfândega real. Um belo conhaque de mais de mil anos — ela me ofereceu e aceitei dando um belo gole.
O sabor era péssimo.
— Que bom, uma pequena vingança pelo show desta tarde — bebi outro gole fazendo careta.
— Pequenas mudanças podem mudar o curso do destino. E sinceramente, ao inferno com todos eles. Meu reino é melhor que este.
— Desistiu de ser princesa de Mountsin?
Imyir me olhou de esgueira.
— Vou ser eliminada, Rose. Edward não faz meu tipo — ela sorriu e entrou em seu quarto.
Entrei no meu segundos depois. Bebendo toda a garrafa apaguei antes que pudesse sonhar com os eventos daquele dia que pareciam ter sido um longo pesadelo.
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