Capítulo 30
Tinha algo de sufocante e predatório na presença de Cassian que fazia com que todos mantivessem o olhar voltado para ele aguardando, esperando um movimento seu para correr para longe.
Ninguém ousou respirar alto demais e vi que a rainha também sorria para ele, com um afeto que achei ser somente dirigido para Edward.
— Que surpresa agradável, Cassian. Achei que não viria — comentou a rainha.
— Não o vimos no baile — completou o rei visivelmente magoado.
O ruivo lhes lançou um sorriso cálido.
— Eu achei algo mais interessante para fazer.
Os cabelos da minha nuca se arrepiaram e eu sabia que aquela resposta era para mim, mas voltei meu olhar para minha taça.
— Vai ficar conosco por quanto tempo? — perguntou Edward e o encarei, ele praticamente expulsava Cassian de sua casa.
— Por quanto tempo desejar, Cassian — interveio o rei lançando um olhar de desgosto a Edward.
— Obrigado, Gureisha.
Se antes havia ficado chocada agora estava petrificada, ele havia chamado o rei pelo seu nome.
Pietra e Marcta ficaram com a boca levemente aberta e Yanna arregalou os olhos. Ivna encarava Cassian com muita curiosidade assim como Imyir.
Alba permanecia em silêncio analisando a cena como se tudo não passa-se de uma partida complexa de um jogo novo.
A única pessoa que deveria estar surpresa abriu um sorriso largo e aquilo foi assustador.
O rei sorriu para Cassian e me perguntei quem diabos ele era.
— Fique até o casamento de Leon e Alba. Logo Edward também casará — disse a rainha.
Engoli em seco e olhei de soslaio para Leon que parecia uma estatua viva, mal se movia.
Cassian olhou para Alba.
— Parabéns por ter ganhado — aquilo não era um elogio.
O ruivo parecia considerar tudo como uma piada.
Ele caminhou até mim e meu coração começou a dar muros enlouquecidos em meu peito. Sentia o suor escorrer pelas minhas costas.
Sua presença era esmagadora e quando ele estendeu a mão e seus dedos longos com anéis pegou minha taça, eu mal respirava.
Seu cheiro envolveu meu nariz e vi que Marcta estava vermelha e o encarava aturdida.
Cassian se afastou rapidamente do meu lado e bebeu um gole do vinho.
— É um dos nossos melhores vinhos — comentou Milei sorrindo sedutoramente para Cassian.
Lucyus manteve sua cabeça baixa evitando o olhar dourado de Cassian que passou por ele.
O nariz do ruivo se franziu e ele retornou a taça a mesa.
— Tem gosto de peixe — comentou fazendo Milei corar envergonhada e foi até o rei.
— Venha, temos muito o que conversar. Pode me ajudar com o Dia Vermelho.
Sem olhar para ninguém Cassian saiu do salão com o rei e ouvi um suspiro coletivo.
— Ele é mais intenso do que imaginei — Marcta deixou escapar e a rainha lhe lançou um olhar frio.
— É um antigo amigo. Um muito estimado, espero que todos o recebam com tanto carinho quanto eu e o rei — falou se levantando e deixando o salão.
O rosto da princesa ficou vermelho e dei palmadinhas em sua mão.
As conversas sobre o novo convidado começou a crescer pela mesa.
— Perdi o apetite — disse Leon se levantando e quis o seguir para fora do salão.
Porém seria suspeito e Alba não estava com um humor tão agradável.
Fiquei ali na mesa comendo os vegetais que graças aos cozinheiros habilidosos não possuíam gosto de peixe e a pergunta do que seria o dia vermelho queimaram em meu tão vasto cérebro cheio de perguntas sem respostas.
Sai quando Lucyus sugeriu um passeio pelas fontes e escapei antes que ele pudesse se interessar em me atormentar.
Com alguns minutos livres antes da aula do Anjo procurei Leon.
Determinada a encontrá-lo procurei pelos corredores não indo até a ala real já que possuía uma grande chance de achar Alba.
Em um dos corredores vi Marcta passar apressada com outra carta na mão e instintivamente a segui até uma parte com bastante criados e ela parou para falar com uma criada voluptuosa de cabelos castanhos e fiquei atrás da parede do final do corredor a observando.
Ela entregou a carta e a criada falou algo que a fez rir.
Com quem ela estaria se correspondendo?
A mulher olhou para os lados e tirou do busto uma carta e entregou a Marcta que a escondeu em algum bolso da saia do vestido lilás.
Mordi os lábios.
— Ao invés de fugir dos problemas você os persegue, princesa — sussurrou alguém atrás de mim e pulei contendo um gritinho ao me virar.
Cassian estava muito perto e me afastei sentindo a parede atrás de mim.
— Tem um péssimo hábito de aparecer de repente — acusei irritada com sua presença.
— E você de seguir pessoas.
— Diz a pessoa que me seguiu até aqui.
— Tão presunçosa — meu corpo se retesou e abri a boca para me desculpar. Se o rei o tratava tão bem eu que não queria ofende-lo. Mas ele falou antes. — Sim, na realidade eu a segui. Estava curioso para ver o que a fez ter tanto cuidado para não ser pega pela senhorita ali. Você é péssima seguindo pessoas, princesa.
O princesa saiu com muita ironia e contive um suspiro. Ele provavelmente já sabia que eu não era uma nobre.
— Você já sabe que eu não sou uma princesa, então pare de me chamar assim — falei entre dentes apertando os punhos.
Ele deu de ombros.
— Como eu não sei seu nome e tenho a impressão que não vai me dizer eu prefiro a chamar assim, princesa.
— O rei é seu amigo — falei cruzando os braços quase o acusando. — O da dívida.
— Sim.
— Rosemary, estava te procurando — disse Edward aparecendo abruptamente ao lado de Cassian e estendeu a mão para mim.
Não havia notado que Cassian estava muito próximo e aceitei a mão de Edward roçando meu corpo no do ruivo e contive um tremor.
Quase fiquei brava por Edward ter falado meu nome, mas ele estava me livrando da presença de Cassian e já me senti grata.
— Precisa de ajuda, Sr.Cassian? — perguntou para o ruivo que negou, abrindo um sorriso gracioso.
— Não, Edzinho — senti o corpo de Edward se retesar e Cassian desviou os olhos dourados do príncipe para mim. — Não se preocupe, princesa. Seu segredinho está a salvo comigo.
Ele imitou o movimento de fechar algo com o dedo indicar e o polegar em cima dos lábios grossos e piscou antes de se virar e partir.
Suspirei.
— Segredinho? — questionou Edward e soltei sua mão suavemente.
— Não é nada — não olhei em seus olhos e encarei o corredor. — Ele é um homem estranho.
Edward concordou com cabeça.
— Sim, tente o evitar. Há algo estranho e perigoso na presença dele.
Olhei em seu rosto.
— Você já o conhecia?
— Ele vinha de ano em ano visitar meu pai, a primeira vez em que o vi tinha quinze anos e ele... parece que congelou no tempo.
Franzino a testa olhei para o corredor onde ele havia desaparecido.
— Quantos anos você acha que ele tem?
— Visivelmente não deve passar dos vinte. E você, quantos acha que ele tem?
Seus olhos dourados me vem a memória. Ele não parecia ter vinte, seu físico sim, mas não seus olhos. Se havia algo que eu sabia que envelhecia de uma forma diferente eram os olhos.
Quando vivenciamos dores, seja qual for ela deixa uma marca. Ela é diferente da marca em minhas costas, é uma marca que fica gravada na alma.
Cassian a possuía e era difícil olhar para seus dois pares dourados sem notar.
— Muitos — sussurrei e ficamos em um silêncio longo.
— Você não tem aula agora? — pergunta quando o silêncio se estendeu e arregalei os olhos.
— Porcaria! Eu tenho que ir, até mais tarde — disse me afastando e quase corri para a sala do anjo.
Ela me mataria disso tinha certeza.
No caminho decidi manter uma distancia de Cassian, o evitar enquanto ficasse no castelo.
Ele era a definição de problema, e pelo que pude perceber o carinho do rei e da rainha por ele eram maiores que os dos dois filhos juntos.
Acho que ele podia colocar fogo no castelo e o rei acharia divertido e a rainha aplaudiria.
Balançei a cabeça chegando no corredor da sala onde estudava.
Tanto poder nas mãos de alguém desconhecido e duvidava que fazia parte da familia real.
Abri a porta e entrei, levei um susto ao assimilar a cena que via.
— Está atrasada. Como devo puni-la, princesa?
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