Capítulo 24

"Listerlla Gaelli, foi encontrada por volta das 10.pm e possuía vários hematomas nos dois pulsos e pernas, completamente molhada... Sem sinais de abuso... Sua língua foi cortada fora... Uma jarra de vinho contendo veneno foi achado próximo ao corpo... Caso declarado como suicídio."

Parei de ler, querendo despejar o jantar no colchão.

Suicídio. Não assassinato.

Indignada com tal calamidade no documento o coloquei na cama pensando.

Alguém espalhou uma mentira sobre ocorrido, mas quem?

O rei? A rainha? Alba?

Ela havia me sequestrado e poderia muito bem ter torturado a plebéia. Aquilo era um jogo, para ela descartar um peão era fácil. Mas porque deixar o corpo a vista de todos?

As perguntas foram fazendo meu cérebro latejar. E davam voltas e voltas.

Não tinha mais certeza de nada e não confiava em mais ninguém. Precisava de respostas.

Quando o sol surgiu eu não tinha dormido nada e Amália entrou no quarto se assustando.

— Céus, garota! Quer me matar do coração?

— Desculpe — falei levantando e pegando o primeiro vestido que vi na minha frente e fui para o banheiro o colocar.

Não descobriria nada ficando sentada na cama.

Sai antes que ela pudesse me questionar.

No corredor fui até as escadas e vi Pietra se despedindo de Kenya em um abraço afetuoso.

Parei no começo da escada, não ouvia o que diziam, mas pelas expressões Pietra estava brava e Kenya a tentava animar.

Pietra beijou a testa de Kenya e ela se foi com um dos criados levando suas malas.

Desci as escadas e me aproximei de Pietra.

— Não consegui me despedir — disse e ela se virou para me lançar um olhar frio.

— O que faz aqui? Sequer conversava com ela. Você não a conhecia direito, Swan.

Ela se virou para ir e falei alto o bastante para ela parar:

— Mas você a conhecia muito bem. Me pergunto o que aconteceria se soubessem.

Virei e ela me encarava com a sobrancelha loira erguida.

— Você não vai jogar esse jogo, Swan. Não vai querer me ameaçar.

Fiz minha melhor cara de quem não estava entendendo onde ela queria chegar.

— Que jogo seria esse, Cariad?

Ela se aproximou o suficiente para eu me dar conta da diferença de altura.

Pietra era alta e ameaçadora.

— Vamos pular essa parte, Swan. O que quer? E porque pensa que vai conseguir comigo?

Fiquei em silêncio, fingindo pensar.

Sabia que uma das coisas que mais a irritava era esperar. A paciência de Pietra era tão escassa que qualquer respirar descompassado a irritava.

— O que quero? Informações — disse, vagamente.

— Vamos, Swan. Sobre o quê?

Uma veia na sua testa pulsava.

Podia passar meu dia a irritando, mas não era mais aconselhável. Já tinha a atenção e sua raiva. Era o suficiente.

— O que você sabe sobre o assassinato de Listerlla?

Ela ficou mais ereta e piscou lentamente me avaliando.

Eu não podia ter usado o termo plebéia e atentado a coroa. Sabia que não conseguiria nada a não ser informações falsas sobre o ocorrido caso o fizesse. Mas não era tola para não saber que ela podia mentir.

— Pôr que deverei te dizer algo?

— Não quer que sua relação com Kenya seja descoberta. Pelo menos não agora, o risco seria muito grande.

— Você não tem provas.

— Não, não tenho — suspirando dramaticamente olhei fundo em seus olhos azuis. — Mas tenho um vínculo com o segundo príncipe. Ele acreditará em mim. E sei que ele não fará nada, mas e se ele comentasse por um deslize com a mãe? Enquanto tomam chá. Edward pode simplesmente soltar uma observação que pode levar a rainha a deduzir que as duas estavam envolvidas em toda a competição. Sei muito bem que o regulamente não permite relações com qualquer pessoa, não importa seu gênero. E sei que a pena por tal traição é a morte, das duas. Não acho que você tenha uma roupa que combine com a corda da forca.

Odiei cada palavra que saiu de minha boca. Odiej usar a amizade de Edward desta forma. Odiei a ameaça que fiz.

Meu coração batia muito rápido pela adrenalina, mas eu tinha que manter uma aparência calma, serena.

No fundo não estava.

Pietra abriu e fechou o punho. Ela queria me eliminar ali mesmo , sentia e podia ver em seus olhos minha morte nada rápida.

— Eu não sei muito sobre a plebéia — disse por fim com a voz baixa. — Porém sei que Marcta também tinha uma relação secreta e que a plebéia descobriu. A desgraçada era muito rápida, também entendeu o que eu e Kenya temos. Acho que sabia do segredos de todos nesse castelo. Por isso foi morta, por isso você também vai ser se continuar nessa busca fútil. Ela era uma raposa burra e você também é.

Contendo a vontade de acertar um soco em seu belo rosto perguntei entre dentes:

— O que mais?

Ela estava escondendo algo.

Pietra suspirou cruzando os braços.

— O rei foi quem achou o corpo. Sei disso porque o vi correr molhado e pedir para os guardas o seguirem urgentemente. Se quiser ir ameaçar o rei, vá em frente — ela se aproximou e sussurrou no meu ouvido. — Eu tenho, sim, uma roupa que combina com a cor da corda da forca e ela combina perfeitamente com seus olhos.

Pietra se afastou e se foi me deixando ali, agora não tinha escolha. Eu tinha que falar com o rei.

Eu iria parar naqueles documentos de assassinato em breve se continuasse. Mas não tinha intenção de voltar atrás agora.

Cheguei cedo para o almoço, normalmente era uma das últimas a entrar e a sair. Agora que Milei estava no castelo eles pediram que nós os acompanhassemos nesta refeição.

As serventes ainda colocavam a mesa e me ignoraram enquanto me sentava.

— Duas já foram mandadas embora, e isso ainda continua na competição — disse uma delas me lançando um olhar de esgueira.

Isso. Agora eu era isso.

— Cuidado, ela pode contar para o príncipe já que os dois tem tanta intimidade.

Olhei para elas que se apressaram em terminar mais rápido em silêncio.

As fofocas que circulavam agora só pioraram com a saída de Kenya.

Contendo um suspiro vi o rei entrar no salão e parar ao me ver sentada.

— Que surpresa agradável — disse sem expressão aguardando eu me levantar e lhe fazer uma reverência.

Aguardei o olhando durante alguns segundos longos. Esperei até sua expressão começar a escurecer e levantei fazendo uma reverência.

Era engraçado o que a raiva e a coragem fazia com nossos corpos. No momento eu não dava a mínima que estava na presença do rei. Mesmo que minha mente tentasse me lembrar eu a ignorava.

— Majestade, me alegra encontrar com o senhor.

Ele caminhou até sua cadeira e um servente a puxou para ele.

O rei se sentou e fiz o mesmo.

— Foi uma grande sorte ter achado o objeto ontem.

— Talvez a sorte esteja ao meu lado, vossa excelência.

— Tenho certeza que ela já esta chegando ao seu fim.

Concordei com a cabeça e fiquei em silencio o observando. Ele fazia o mesmo e estava levemente surpreso com minha ousadia.

— Posso lhe fazer uma pergunta, majestade?

Se ele ficou surpreso não demonstrou, um dos serventes entrou e colocou vinho em sua taça e saiu silenciosamente.

— A faça.

Ele estava curioso, percebi.

— Por quê quer me ver longe daqui?

— Sei que essa não é sua pergunta de verdade. Mas se quer saber seu berço, sua presença já são suficientes para eu querer você fora da minha casa.

— Creio que você também não tenha me dado uma resposta verdadeira.

— E qual resposta seria? — ele estava entrando na brincadeira. Queria ver onde eu iria com aquela conversa.

— Minha curiosidade e o fato de ser invisível. Posso ouvir e descobrir coisas que não deveria.

O rei bebeu um longo gole de vinho.

— E você descobriu algo, eu presumo.

Negando com a cabeça cruzei as mãos e apoiei os cotovelos na mesa.

— Não seria inteligente de minha parte tê-lo feito — dispensando a idéia com a mão peguei uma taça de água a minha frente. — Uma pena Listerlla não ter tido tal linha de raciocínio. Foi uma morte tão lastimável ou seria atroz?

Ele me encarou sem piscar e por fim disse baixo e ameaçador:

— Está insinuando algo, plebéia?

— Não, vossa majestade. Estou apenas curiosa. A história sobre sua morte é estranha. Apenas um comunicado triste em um pedaço de papel distribuído para o povo. Nenhum parente comunicado.

— Ela não possuía parentes. Mas você ainda tem — disse e vi a ameaça explicita.

Abrindo um sorriso grande me inclinei para trás.

— Sim, majestade. Eu os tenho, infelizmente.

Minha reação o fez franzir levemente os lábios.

— Faça a pergunta, plebéia.

— Não teria vantagem alguma se eu a fizesse agora.

Levantando a sobrancelha ele disse.

— É muita ousadia sua presumir que ficará mais tempo na competição.

— Você ainda não me expulsou. Poderia ter mandado os guardas me arrastarem daqui, majestade. Mas não o fez. Porque?

— A muitas formas de se livrar de alguém indesejado. Expulsar você me fará ficar feliz por alguns minutos, te deixar aqui e ver você perceber sozinha que não pertence a este mundo é muito mais satisfatório — seus olhos azuis estavam mais opacos que o normal enquanto ele me encarava. — Vejo que perdeu o apetite. Porque não vai descansar enquanto pode?

Me levantei.

— Não, majestade. Minha fome só aumentou.

Não pedi licença ou fiz reverência ao deixar a sala de refeição. E com uma última olhada para trás vi a fisionomia cansada do rei.

A coroa parecia pesar em sua cabeça.

Um rei usando uma coroa... Uma coroa usando um rei. Era essa a cena que vi antes de ir.

No corredor minha pernas quase cederam ao chão. Minha coragem se esvaiu do meu corpo.

Era estranho eu ainda continuar podendo quase falar no mesmo tom que ele.

O rei não possuía tanto controle quanto imaginei. E a duvida de quem o possuía ficou pipocando na minha mente.

Mas muitas coisas foram esclarecidas. Ele estava escondendo o assassino. Não era o rei.

☽⋯❂⋯☾

Quando me senti calma o suficiente sai do corredor para procurar Leon no caminho encontrei Edward vindo na minha direção com um livro na mão.

Desde ontem não consegui falar com ele.

— Edward — o cumprimentei e ele me olhou assentindo com a cabeça e voltou os olhos para o livro.

Estranhando seu comportamento distante segurei seu braço quando ele passou por mim. Edward parou e me olhou.

Seus olhos iguais ao do rei estavam frios. A semelhança entre os dois era óbvia. Acho que só consegui notar agora que Edward era uma cópia do pai mais novo.

— Algum problema? — perguntou, casualmente.

Franzino a testa neguei com a cabeça.

— Não.


— Ótimo. Então me solte, tenho assuntos importantes para resolver — ele soltou minha mão de seu braço.

Chocada pisquei lentamente.

— Aconteceu alguma coisa Edward? — perguntei em voz baixa.

— Deveria parar de me chamar pelo nome, alguém pode ouvir — disse por sobre o ombro.

— Você que me pediu para te chamar pelo nome — falei sentindo raiva de seu comportamento anormal.

— E estou pedindo para não chamar. Agora com licença — ele deu alguns passos se afastando.

— O que diabos eu fiz para você, alteza?

Ele parou e me olhou soltando uma risada fria. Meu corpo se arrepiou. Edward dava medo quando agia daquela forma. Pior que o rei. Extremamente pior.

— Você se virou — disse como se fosse o suficiente para mim entender o que raios era aquilo. Confusa fiz uma careta e ele avançou e recuei alguns passos para trás. — Eu vi você na estufa e fiquei tão surpreso e feliz pensei que... — ele parou balançando a cabeça e sorriu sem humor. — Mas então você virou e partiu. Correu para o bosque novamente e depois a princesa Yanna apareceu.

Porcaria.

Pensei que ele não tinha me visto.

— Edward... eu sinto muito.

Ele se afastou como se tivesse levado um tapa e magoa brilhou em seus olhos. Queria muito conforta-lo, mas não podia.

— De todas as coisas que você podia ter dito agora. Desculpas era a última que eu esperava de você, Rosemary.

Edward se virou e não o impedi.

Com a garganta fechada voltei para o quarto.

Tinha me saído muito bem com ameaças, tinha pressionado o maldito rei. Mas havia magoado Edward e nunca havia me sentindo tão desprezível em toda a minha vida.

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