Capítulo 23

Não havia tantas coisas a fazer, a solução era esperar.

A exaustão de tudo finalmente me pegou.

Estava cansada das brigas pelo poder, dos enigmas a cada conversa, das ameaças, tudo.

Era um dia ruim para uma espiã. E exaustivo para uma plebéia.

Desejei por um momento estar de volta a loja de Damien, antes de descobrir seu segredo. Parecia mais fácil que agora. Então a lembrança dela me vem a mente e me repreendi.

Não era nada fácil, era um inferno.

Todo dia com medo dela descobrir algo e me castigar. Todo dia com medo de respirar alto demais. De apenas existir demais.

Eu vivia pela metade, em raros momentos pintando ou com Damien.

Por isso o odiava. Ele arrancou essa felicidade e ela queimou a outra.

O rosto de Leon invadiu minhas lembranças me fazendo recordar quando ele pegou meu quadro e o elogiou.

Meu coração pulsava fortemente.

Olhei para o espelho e me surpreendi com um sorriso que eu estampava.

Se fosse honesta comigo mesma naquele momento admitiria meus sentimentos em relação ao príncipe herdeiro.

— Porque me trouxe aqui?

Esperei e nada.

Mas então uma luz se esvaiu do espelho.

Vi pequenos pontos de luz como estrelas surgirem então vi grandes pontos como o céu a noite.

Uma bola de luz prateada e arroxeada riscou o espelho até se chocar em outro ponto de luz e se fragmentar virando três pontos.

Um deles se transformou em um leão dourado que brincava com o outro ponto, este era um corvo. O outro o ponto maior e distante continuou um circulo que foi se pagando até sumir então uma luz que irradiava dele começou a sugar tudo a sua volta. Ele parecia um ralo, um grande ralo sugando os pontos, o leão e o corvo até que tudo ficou branco e retornou a ser meu reflexo.

Piscando confusa com o que acabei de ver me levantei e fui até ele.

— O que era isso? O que me mostrou?

Parada a centímetros de distância notei que o ponto redondo não havia ido embora, ainda estava ali bem no centro, me encarando.

Engolindo em seco, comecei a suar.

Levantei a mão. A necessidade de tocar era grande. Então a sensação que tive novamente retornou e comecei a tremer.

Aquilo acordou e dessa vez foi pior.

Minha cabeça doía e minha garganta se apertou.

Toque. Toque. Toque.

Corra. Corra. Corra.

Com o coração acelerado dei as costas e dessa vez quando tentei abrir a porta ela não resistiu e cedeu.

Ouvi aquela voz novamente na minha mente:

Volte aqui. Vá embora. Volte. Vá.

Sai antes que me impedisse de ir e ouvi o sino soar no corredor da ala real.

Estava de volta de seja lá qual for o lugar onde o espelho me levava.

Querendo cair no chão me forcei a correr até a estufa. Não tinha tanto tempo. Pelo meus cálculos de quanto tempo fiquei naquele lugar eu tinha apenas trinta minutos e torci para que fosse o bastante.

Vi o bosque e expulsando o medo entrei. Não tinha tempo para hesitar.

Corri até ver a estufa de vidro.

E quando abri a porta vi Edward sentado no banco com um livro na mão concentrado na história que lia. Provavelmente algo sobre plantas.

Querendo dar risada da sorte ouvi alguém se aproximar e virei vendo Yanna correr até aqui com um telescópio na mão.

Ela já havia encontrado um objeto e mesmo assim corria até aqui.

Porque ela o amava.

Porque ela não queria sua coroa.

Dando um sorriso fui até ela que parou surpresa em me ver ali.

— Rose... você... eu... — ela estava sem fôlego e seu rosto parecia um tomate.

— Aqui — entreguei minha carta e peguei de sua mão o telescópio e a sua carta.

Confusa ela me encarou.

— Promete cuidar dele para mim? É um amigo muito importante. Não quero que se magoe.

E ele iria se eu entrasse na estufa.

Ela assentiu e sorri.

— Obrigada, Rosemary — disse Yanna sorrindo e voltei a percorrer o bosque sabendo que estava deixando Edward em boas mãos.

Voltei para a frente do portão e muito vivas eram gritados para mim. O rei, a rainha e nem Alba estavam felizes em me ver.

Leon sorriu discretamente e meu coração se distraiu com o gesto.

Milei acenou para mim com um sorriso de divertimento por me ver.

Toquei o sino e passei por Clarissa que sorriu para mim e coloquei o objeto junto a alguns sobre a mesa.

Ivna, Marcta, Pietra e Imyir já haviam chegado.

— Você conseguiu — disse sorrindo Marcta.

Imyir me olhou de uma forma estranha quando parei ao seu lado.

Pietra distribuía o peso de um pé para o outro.

— Eu vi Yanna com um objeto enquanto retornava para cá — sussurrou Imyir para mim do meu outro lado. — Exatamente igual ao que colocou na mesa.

— Tem alguma prova disso? — falei no mesmo tom.

Imyir me olhou por um longo tempo e deu de ombros por fim.

— Não. Mas talvez você não seja tão estúpida assim.

Estúpida por desejar ser princesa.

Estúpida por querer Edward.

Se ela soubesse que sim, eu era estupida. Mas não era Edward que eu almejava.

Depois de cinco minutos Yanna apareceu com Edward e os gritos me fizeram colocar a mão na orelha.

Ela estampava um belo sorriso no rosto e Edward forçava um.

— A grande vencedora — disse Clarissa e Pietra fez uma cara terrível.

Sua amada não tinha conseguido achar nenhum objeto e a areia terminou de cair.

Yanna tocou o sino.

— Princesa Yanna de Golchwch conquistou a imunidade. — A rainha batia palmas em pé e o rei parecia satisfeito, assim como Leon. — Nada mais justo que terminar tal revigorante competição com um beijo.

O alvoroço por um beijo ressoou pelo povo.

Edward olhou na nossa direção e me encarou levemente desapontado.

Sorri o encorajando a beija-la.

E ele lhe deu apenas um breve selinho, que deixou Yanna a ponto de entrar em combustão.

E assim encerrou a competição com Kenya tendo que sair na manhã seguinte e Pietra ameaçado qualquer um com seu olhar assassino.

Depois da competição foi servido uma bela refeição para todas as competidoras.

A única coisa que eu queria era deitar. Ainda sentia um enorme cansaço e minhas pernas estavam doloridas.

Pulei tal comemoração inventando uma desculpa chula para fugir.

Fui até o quarto, mas parei ao ver Milei conversando com Leon no corredor. Me escondi.

Aquilo estava virando um costume e um bem ruim.

— Você realmente é audaciosa — falou Leon. Sua voz não continha raiva e nem incômodo, parecia até divertida.

— Eu só tenho mais coragem que muitos para dizer o que penso. E o que eu penso é que seriamos um par bem melhor que você e a princesinha Alba.

Não estava nem um pouco surpresa com sua insinuação.

Milei. Querida, Milei. Eu sou um homem comprometido, não vou trair minha noiva.

Ela riu.

— Você sequer gosta dela. Vamos admita vi como você olhava para a plebéia — prendendo a respiração vi como ele ficou ereto. — A devorando. A desejando. Não sou burra Leon. Posso não ser tão boa em estratégias ou política, mas entendo de homens e seus desejos. Só não imaginava que gostava tanto assim de escórias. Lis deve estar se revirando no túmulo.

— Não fale mais dela — disse, friamente.

— Não pode me impedir, Leon. Sei sobre seus segredos sujos e não tenho um pingo de vergonha em usá-los para conseguir o que eu quero.

— E o que seria? A coroa? Um lugar ao meu lado? — Leon soltou uma gargalhada baixa e ameaçadora. — Não, amor. Eu sei o que você quer. E não é deitando na minha cama que vai conseguir.

Milei abriu um sorriso largo.

— Eu sei. Mas deste modo é mais divertido. Nos vemos mais tarde — ela saiu para o lado contrário do meu e esperei Leon ir para poder seguir meu caminho até o quarto.

Porque Leon ficou tão bravo? E quem era aquela pessoa que ele não queria falar? Milei tinha usado um apelido. Seria ela a plebéia anterior? Que tipo de envolvimento ela e Leon tiveram afinal?

Amizade... tinha sido realmente apenas amizade?

Entrei no quarto e o tranquei. Amália não estava. Queria um banho quente e deitar na cama e só levantar no próximo mês.

As dúvidas sobre Leon deveriam esperar.

Resolvi tomar um banho rápido e depois ler o documento.

Sai do banheiro e vesti um pijama. Sentei na cama e peguei os papéis.

Abri, tinha vários documentos. Como a inscrição dela para a competição da coroa.

Uma pintura, ela era bonita. Seus cabelos castanhos escuros eram belos e ela possuía olhos de um azul esverdeado, o rosto oval e a pele bronzeada. Ela sorria mostrando os dentes retos. Parecia tão feliz. Como se ir para a competição fosse ser uma bênção. Ela usava um colar, familiar.

Comecei a ler e senti náuseas.

A plebéia anterior tinha sido morta por alguém neste castelo, não fora apenas veneno que a matou.

Alguém estava mentindo

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