Capítulo 22

Amália surtou me questionando onde diabos eu estava e disse que acabei pegando no sono em uma das bibliotecas. Ela havia inventado uma desculpa para Edward que eu estava com gripe e que era melhor ele não vir me ver.

Ele insistiu muito, mas ela conseguiu convencê-lo.

Quase implorei para ela me perdoar e ela apenas disse que iria pensar.

Eu devorei o jantar que foi me entregue no quarto naquela noite e depois tomei um banho longo.

As palavras de Leon voltavam a minha mente e não conseguia afasta-las.

Coloquei a mão sobre o coração.

— Céus, mesmo após tudo ainda consegue bater por alguém complicado?

Naquela semana tentei evitar estar próxima a ele e me aproximei de Marcta.

Ela gostava de falar sobre seus irmãos e a saudade que tinha de casa. Mais nada.

Milei por um convite do rei permaneceu no castelo, junto com seu tio e ficaria por duas semanas. Ela quase enlouqueceu Alba e as outras competidoras.

Edward me procurou quando fingi já estar recuperada e me convidou para passear pelo jardim. Ele me mostrou algumas flores raras e tomamos chá no final do dia.

Foi uma semana tranquila, mesmo com Milei, e fiquei grata.

Hoje a movimentação pelo castelo era grande e não era atoa, hoje haveria um evento, uma competição entre nós.

Não sabíamos o que era, mas deveríamos nos preparar.

Estava descendo para o desjejum com uma roupa leve e que escondia minhas botas.

Hoje deveríamos comer juntos e seguir para o grande portão.

Passei pelas portas abertas e vi que todos estavam na mesa. Bom, com exceção do rei e da rainha. E de Imyir que agora havia me dado conta que ainda continuava na competição mesmo sem ter conversado muito com Edward.

Eu deveria ficar de olho nela.

Leon fingia ouvir Milei contar sobre os corais que percorriam o mar de seu reino.

Alba estava tentando não pular em Milei.

Não a tinha visto desde que voltei do meu sequestro.

Ela olhou para mim e não parecia surpresa em me ver. Talvez Leon tivesse comentado algo com ela.

— Rose, bom dia — disse Marcta apontando para a cadeira disponível ao seu lado. Estava tão nervosa quanto qualquer uma das competidoras.

Caminhei até lá sentindo os olhos de Leon em mim.

— Já está se sentindo melhor? — perguntou Leon me surpreendendo.

Ele possuía uma expressão neutra.

Me sentei e disse em voz baixa:

— Sim, alteza. Foi uma gripe fraca.

— Você é muito forte para gripes, Swan — disse Milei bebericando vinho de sua taça. — Achei que não conseguiria participar hoje.

A olhei e ela parecia muito divertida com algo que eu não fazia ideia do que era.

— Eu não perderia essa competição — hoje era o dia perfeito para investigar sobre a plebéia. Enquanto todos estariam distraídos com a competição eu iria atrás de respostas.

Isso, claro, dependeria do que Edward iria escolher como competição.

— Isso me faz lembrar da sua, Leon — falou se virando para ele. — Você realmente as torturou.

Leon conteve um sorriso e curiosa perguntei:

— O que você fez?

Vários olhares surpresos recairam sobre mim.

— Em que mundo você vive que nunca ouviu falar sobre a prova que o príncipe propôs? — questionou Pietra.

— Eu não tinha muito tempo para me entreter com a disputa de poder de vocês da realeza — meu tom era muito áspero.

A surpresa e choque percorria o rosto deles.

Ah, já havia me cansado daquela ladainha.

— Não queríamos fazê-la se sentir inferior, Rosemary — disse Yanna sorrindo.

Peguei uma xícara e me servi de chá a ignorando de proposito.

— De qualquer forma — falou Milei empolgada — Respondendo sua pergunta a competição dele envolvia sete noites no bosque do castelo sobrevivendo apenas com um kit que ele mesmo confeccionou. Uma faca, uma cantil de água e uma manta. Imagine a cena, princesas no bosque sobrevivendo por conta própria. Desde o avô de Leon nunca havíamos visto uma competição tão cruel.

— Não foi cruel. Só achei que se estavam tão dispostas a ganhar o título de rainha deveriam se arriscar mais — disse Leon beliscando algumas uvas.

— E se arriscaram mesmo. Algumas não passaram de uma hora antes de desistirem. E a única que restou e saiu com nada mais que um vestido rasgado, sangrando e suja; a princesa Alba — Alba me olhava agora e havia uma mensagem naquele olhar. Um lembrete do que ela era capaz para manter seu posto — Ela invadiu o desjejum da familia de Leon e disse que seu vestido de casamento teria que ser o melhor da Cìlia.

— Foi um feito bem... admirável — disse Leon.

— Sim, mas Pietra também aguentou firme. Quatro dias a base de frutinhas. Kenya também durou esse mesmo tempo. Lembro que o povo comentou que ambas saíram juntas do bosque, desistindo — Milei sorria para ela, que estava completamente ereta.

Olhei para a princesa e me perguntei se ela sabia sobre as duas.

— Ao menos não desistimos nos primeiros cinco minutos — Kenya encarou Marcta que deu de ombros mordendo um pedaço de torta.

— Eu não queria roubar o posto de Alba — Ivna escondeu um sorriso atrás da taça que bebia e Alba não achou graça alguma.

— Vocês não deveriam estar se preparando? A competição começa depois das dez — disse Alba friamente e elas assentiram se levantando.

Fiz o mesmo fazendo uma reverência rápida a eles que permaneciam na mesa.

— Boa sorte, Swan — falou Leon me surpreendendo e assenti entendendo o recado por trás de suas palavras.

Não perca.

Com o olhar de Alba e Milei sobre mim entendi que agora possuía duas inimigas.

Eu precisava colocar uma linha entre mim e Leon. Antes que acabasse piorando ainda mais minha situação.

No corredor vi Ivna e a chamei a fazendo virar.

— Você sabe se quando algo ruim acontecesse no castelo isso fica registrado? — perguntei, mordendo o lábio.

Era um tiro no escuro, mas se tinha alguém que me responderia com honestidade e não me questionaria, esse alguém era Ivna.

— Sim. Nos documentos reais. Normalmente fica no escritório do rei — disse sem hesitar. — Porquê a pergunta?

— Curiosidade.

Ivna me encarou e disse por fim.

— Tenha cuidado.

Assentindo passei por ela.


☽⋯❂⋯☾

Quando deu dez fomos até o portão em carruagens. Chegando lá uma grande comoção nos esperava.

O rei e a rainha estavam sentados em cadeiras confortáveis em tendas com alguns nobres. Muitos guardas vigiavam em cima da muralha e ao redor das árvores.

Alba e Milei estavam sentadas cada uma de um lado de Leon. Não vi Edward em canto algum.

Assim que descemos vi Clarissa nos aguardando com um papel na mão e ao seu lado um grande sino dourado e depois dele uma mesa longa com cartas.

O povo gritava os nomes das princesas e haviam muitos cartazes. Com o nome de Imyir em muitos e o de Yanna em vários.

— Bem vindas — disse Clarissa alto o suficiente para todos ouvirem. — O falatório do povo foi diminuindo. — Hoje é a primeira competição da sua alteza Edward Nolson Pwerus, segundo príncipe de Mountsin.

Estávamos paradas uma do lado da outra.

— A competição é simples. Um esconde-esconde no qual o objetivo é achar pertences do príncipe espalhados pelo castelo cada um com uma fita azul clara amarrada em até três horas. Vocês receberam cartas com enigmas onde poderão achar tal objetos e deverão trazê-los aqui antes que o tempo acabe — ela segurava uma ampulheta azul. — Ou achar o príncipe que também estará escondido. E quem o achar ganhará imunidade permanecendo na competição até o final e quem apenas achar os objetos, bom, não ganhará nada, porém deverá trazer o pertence até aqui e tocar o sino uma vez e três quando achar o príncipe. Alguma pergunta?

— O que... — pergunta Ivna, porém é interrompida.

— Sem perguntas. Boa sorte e que comece a competição — ela colocou a ampulheta na mesa e o tempo começou a cair.

Uivos e vivas foram gritados pelo povo e vi cada princesa correr para pegar uma carta.

Peguei uma e elas já corriam em direção ao castelo quando me virei para Clarissa que me olhava com curiosidade.

— O que acontece se não acharmos nada em três horas?

Ela abriu um sorriso largo e sussurrou só para mim e corri para o castelo levantado suas palavras na mente.

Entendi o do porque a competição começava na entrada do castelo. Não era pelo povo, era para nos retardar.

Levei quase trinta minutos correndo até o castelo e quando cheguei amarrei a barra do vestido adentrando as portas percorri o corredor até as escadas, indo até a ala real.

Era ótimo os guardas estarem em sua maioria com o rei, havia poucos no castelo e consegui passar escondida por alguns.

Na ala real vi o quarto de Leon e passei reto indo até os outros. Abri várias portas vendo quartos vazios e um com várias plantas e jarros de terra e muitos livros sobre ervas.

Deveria ser o de Edward.

Mais para a frente achei um enorme escritório e entrei sorrindo.

Era o escritório do rei.

Havias duas longas janelas com pesadas cortinas semiabertas em frente para uma mesa com papéis, tinteiros e uma pena azul marinho.

Possuía o mesmo mapa que Leon tinha em seu quarto, aberto em cima de uma mesa de canto perto de várias estantes de livros com escadas para alcançar o topo.

Era grande com o símbolo de leão com rosas douradas em um tapete no chão ocupando um grande espaço.

Passei por ele e fui até a mesa.

Como uma infiel ingrata rezei para qualquer um que ninguém entrasse no escritório, pois se não, iria parar na forca.

Sentei na sua cadeira e comecei a ler seus papéis.

Havia muitas cartas com selos que reconheci pelas aulas do Anjo. Eram de outros reinos.

A sua maioria estava aberta.

Peguei um e li, o selo era de uma criatura estranha que nunca havia visto na vida.

"Para aquele que ocupa o trono de Mountisin.

Não é necessário que nos encontremos. Não tenho intenção, nem vontade, de deixar meu reino para ir até uma comemoração tão estrambólica. E que fique claro, se Ivna não voltar, eu irei até aí pessoalmente para buscá-la.

Atenciosamente, Agma."

Era o reino de Ivna, mais especificamente, seu pai.

Com o cenho franzido li a outra do reino de Nala. Um elefante estava estampado no selo.

"Estou extremamente ofendido.

O senhor ousou deixar uma plebéia, uma escória continuar na competição e minha filha. De sangue real, ser simplesmente descartada como se não fosse nada? Devo lembra-lo que sem mim o senhor não teria tido o sucesso de expulsar os seres mágicos. Sem meu sacrifício e o do Eracio você não possuiria o poder que tem hoje.

Reconsidere sua decisão e não possuirá um inimigo como eu."

Havia muitas informações valiosas nessa, peguei um papel livre e coloquei palavras chaves que me faria lembrar da carta mais tarde.

A deixei de lado e vi uma com um selo diferente. Era vermelha e possuía um corvo. Estava fechada.

A vontade de abri-la era grande, mas não podia.

Ouvi o sino tocar e a abandonei em cima da mesa exatamente no lugar que estava e fui atrás dos registros. Não havia tantas coisas importantes na mesa.

Procurei entre os livros algum que fosse o registro. Nada, só tinha livros sobre deuses e lendas.

Estranhando que algo do tipo estava na biblioteca do rei que odiava deuses vi uma porta perto de uma das estantes e a abri grata por estar destrancada.

Entrei e vi várias prateleiras com documentos e pergaminhos enrolados. Havia pouca iluminação, proporcionada por velas penduradas nas paredes. Eles estavam catalogados por assassinato e causas naturais. Também havia uma fileira contendo apenas a vida de alguns reis que governaram Mountsin.

Contendo um suspiro de alívio procurei pelo documento na área de assassinato do ano passado. Havia poucos então não levei mais que dez minutos para achar seu nome e sua posição hierárquica.

Suspirando ouvi o sino soar mais uma vez e sai da sala colocando o documento no espartilho.

Não dava tempo para ler, eu tinha que achar o objeto de Edward.

Pegando a carta a abri e li o enigma.

"Que língua mais suja para uma perene...
Dance para mim e remexa como a Camélia...
Ela sim, me amou de verdade...
Não foi como você, Dália...
Sem coração, negra e vil..."

Erguendo a sobrancelha li e reli o poema um tanto sujo para Edward o ter elaborado.

Reconheci os nomes das flores.

Pensei em ir no jardim, mas aquelas não cresciam no solo do jardim em volta do castelo. Ele me contou.

Edward só poderia ter enfiado o objeto em um lugar.

Sua estufa.

Correndo pelo corredor para ir até a estufa percebi que ele estava ficando mais estreito e sujo e notei tarde demais a porta para a sala do espelho.

Sem paciência e tempo para aquele lugar voltei e dei de cara com a porta.

Olhei para trás vendo que não havia saída a não ser entrar na maldita sala.

Tremendo segurei a maçaneta e a virei entrando.

O espelho estava igual, a sala estava exatamente igual. Acho que esperava algo diferente. Não sei, ninfas ou fadas voarem agora que sabia que era magico.

A encarei com um olhar diferente.

Ele possuía magia, mas não parecia. Não naquele momento.

Tentei farejar ou sentir algo diferente. Achei que magia possuísse um cheiro ou uma sensação diferente. Porém não havia nada.

Nem a sensação horrível que tive na primeira vez aqui estava presente, como se aquilo estivesse adormecido.

O espelho refletia meu reflexo. Eu estava uma bagunça.

— O que quer me mostrar?

Nada, ele não mudou.

Sem paciência me virei e tentei abrir a porta apenas para descobrir que estava trancada.

Nervosa a tentei abrir a marra. Empurrei e chutei até sentir minhas forças se desgastando.

Cansada cai de joelhos com a porta as minhas costas e ouvi a voz de Clarissa ressoar na minha mente.

Ela será eliminada.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top