CAPÍTULO 9 - SEGREDOS REAIS

Quando abri os olhos pude observar melhor onde eu estava, o sol da manhã já iluminava toda a ala. Olhei para o meu corpo, só restavam algumas marcas nos braços e o corte no meu rosto. Me sentei na maca e observei a bandeja caprichada de comida ao meu lado, me servi de um pouco de café com leite e comi algumas torradas com geleia de morango. Notei um embrulho dourado perto do bule de leite, peguei-o e abri, era o mesmo doce que Dy havia me dado aquele dia, minha mente voltou a lembrança aconchegante dele, Johnny e Cindy. Também tinha um bilhete, abri enquanto abocanhava o pão de mel.

Quanta audácia, chamar a atual princesa das sombras de mal-humorada, mas bem que o doce compensava isso. Assim que acabei o café. Luna chegou. Ela me cumprimentou e perguntou se eu estava melhor. Respondi que sim e desce da maca.

– Vossa alteza, Annie, me entregou suas vestes – ela disse me entregando.

Levou a bandeja para fora me deixando sozinha para vestir minhas roupas. Vesti o vestido verde-escuro de cetim e as sapatilhas pretas, amarrei o cabelo e sai. Ao encontrar Luna cuidando de um paciente fui até ela agradecer por cuidar de mim. Notei em seu olhar como ela gostava do seu trabalho

Ao sair da ala hospitalar segui para o meu quarto. Guardei o bilhete de lucas junto do de Dylan. Ele havia se lembrado de quando me encontrou na fonte comendo pão de mel. Segui com passos rápidos até o quarto de Annie. Entrei assim que ela respondeu às minhas batidas. Ela usava um vestido azul-claro de veludo com mangas longas, os cabelos cacheados estavam soltos e rebeldes, e ela caminhava de um lado ao outro.

– Não acho minha tiara de margaridas. Selena, graças as minhas luzes, você chegou.

Procurei no guarda-roupa, na mesinha da cabeceira e por fim, achei a tiara no banheiro.

– Devo ter esquecido-a lá – ela disse e se sentou na cama – Estou tão aflita.

– Vossa alteza sabe que não pode ficar assim, precisa se controlar melhor.

– Você tem razão, oh céus, que bom que você está aqui. Sabia que não tinha errado em trazer você para esse castelo.

Fingi um sorriso e lhe dei a mão, ela se levantou e alisou o vestido.

– Faremos hoje uma transmissão explicando a situação para o nosso povo – disse ela – esteja preparada.

Passei o resto da manhã no quarto de Annie ajudado-a a controlar sua ansiedade como eu fazia às vezes, em troca ele me deu algumas dicas de batalhas que seu irmão havia ensinado.

***

A tarde era hora das minha aulas com o mago Levi, passei no meu quarto e peguei um pequeno caderno de couro preto e os livros de história que estavam comigo. Segui até a biblioteca encontrando Margot no corredor.

Ela me encarou e fez questão de esbarrar em meu ombro.

– Cuidado, estúpida – ela disse.

Bell, sua criada, estava com ela, os cabelos dourados arrumados em um coque alto, suas sardas já não eram tão visíveis, estavam cobertas por base... padrões de beleza de Margot, claro.

– Olá – respondi somente, as duas.

Margot deu um sorriso esnobe, estava arrumada como uma rainha, o vestido vinho destacando o busto, o batom da mesma cor, olhos intensos e cabelos presos em um coque que parecia um buquê de rosas amarelas.

– Para uma cozinheira, até que você luta bem.

Levantei as sobrancelhas.

– Está feliz por mim? – perguntei.

– Não, se estivesse morta agora, nem me importaria – ela me encarou como uma presa.

Bell observava a conversa no mesmo lugar, mas pude ver que estava com medo por mim.

– Mas que pena! Não morri. E estou feliz em não ter te dado este prazer. Com licença, tenho compromisso – falei passando dando-lhe as costas. Andei com passos largos pelo corredor, ouvi Margot descer as escadas e vozes alteradas vindo de uma porta adiante. O quarto de Lucas. Cheguei mais perto e encostei-me levemente na porta.

– Vamos omitir tudo? – perguntou Lucas.

– Claro que sim, ora! Não podemos contar o que está acontecendo. Será um caos total! A rebelião vai se espalhar por todos os treze reinos! O reino de Motus é só o primeiro.

– E se talvez mudássemos nossas regras...

– Não! Aderir suas objeções é o mesmo que abaixar a guarda. Anelin tem que continuar no seu lugar, mantendo a ordem e os outros reinos no eixo, ou estrago será muito pior.

– Você está cego, meu pai, isso só irá enfurecê-los mais ainda.

Saltei para trás quando ouvi um estrondo. O rei socou algo... ou alguém.

– Não me diga o que fazer ou não fazer. Você continua longe de ser um rei!

– Me desculpe – disse Lucas tão baixo que quase não pude ouvir.

Consegui imaginá-lo de mãos para trás, a cabeça baixa, tendo que suportar a irracionalidade do pai. O quarto ficou silencioso, voltei a caminhar até a biblioteca. A porta, por incrível que pareça, estava aberta, entrei silenciosamente. Chamei o mago e ele apareceu de trás de uma prateleira.

– Desculpe a surpresa, a porta estava aberta – falei caminhando até ele.

– Não se preocupe, eu deixei aberta – ouvi uma voz vindo do outro lado e encarei um menino de pele negra e olhos cor de mel que carregava livro de uma prateleira a outra.

– Quem é esse?

– Sou Zack, ajudante do senhor Levi – ele se aproximou e estendeu a mão. Relutante, apertei. Senhor? Tenho certeza que Levi não gostou do tratamento.

O mago fez um sinal para que eu me sentasse, fez para Zack também. Despejou seu chá em três xícaras.

– O maior mago de Anelin precisando de um assistente, essa é boa.

Levi sorriu com os olhos por cima dos óculos fundo de garrafa.

– Na verdade, com os últimos acontecimentos a família real precisa mais de mim, apesar de eu preferir ficar aqui. Por isso contratei Zack para cuidar de tudo enquanto eu estiver fora.

– Será um prazer ajudar o senhor.

Eu e Levi sorrimos um para o outro com o título inapropriado.

– Pode continuar com as prateleiras, Zack – disse Levi educadamente – Darei aulas a Selena agora.

Ele se levantou desajeitado deixando a xícara quase cair no chão. Segurei a vontade de esnobá-lo. Como podia existir tanta gente idiota em um só lugar? Levi pegou um dos livros que deixei na mesa e folheou.

– Leu tudo?

– Sim, inclusive tenho perguntas, principalmente sobre o ocorrido de ontem.

– Não sei se vou poder tirar todas as suas dúvidas.

– O que tem de diferente no reino de Motus? Quer dizer, tem alguma coisa nova lá que está atraindo aliados, não é?

Ele arqueou uma das brancas sobrancelhas.

– Como sabe disso? – perguntou.

– Lógica – respondi simplesmente.

– Motus conseguiu exterminar a pobreza, é agora um reino sem desigualdade entre seu povo.

Processei a informação boquiaberta. Sem pobres, sem fome... lembrei do livro, "Anelin e a rainha da Luz", que eu estava lendo. Tória possuía certo poder sobre os outros reinos, por ser concebida com o poder da luz. É atualmente o ser de luz mais puro que existe. Já existiram rainhas da luz de outros reinos, mas Anelin liderava e também era o reino considerado o mais poderoso de todos os Treze. Mas agora... Motus havia se livrado, era um reino livre.

– Aposto que todos adoraram que Anelin se sobressaia aos outros reinos – falei sem me importar.

– Sim, precisava haver um representante dos Treze contra os Sombrios, que fosse Anelin então, os mais obcecados por poder, coincidentemente, estavam aqui.

Me sentei ereta na poltrona, me surpreendendo com a resposta dele.

– Sempre existiram revoltas, Selena, mas sempre conseguiram omiti-las, as mídias até hoje manipulam tudo – explicou Levi.

Agora compreendo o porquê das câmeras, querem passar uma boa imagem, querem tranquilizar o povo com mentiras. Mas a diferença era que antes eram iluminados versus sombrios, e agora temos seres iluminados lutando contra iluminados, e meu pai esquecido no churrasco.

– Como podem ser tão bárbaros? – perguntei.

– De quem você fala? – ele interrogou com as mãos juntas no colo.

Eu não sabia. Era impossível saber de quem era a culpa, quem era a raiz por trás disso tudo. Mas o reino, eu sabia, era um pedaço dela.

– Como vamos resolver isso? – perguntei temendo sua resposta.

– Não sei. Nem a realeza sabe ao certo.

Me recostei na poltrona.

– Tória é a rainha, o ser mais poderoso, ela tem as criaturas místicas do lado dela! Os duendes, fadas, gnomos, centauros, todos os que vivem nas florestas mágicas espalhadas por aí! Ela pode simplesmente espalhar a paz com a sua luz?

– Será? – Levi interrogou de novo deixando ainda mais dúvidas em minha mente. Zack observava tudo de longe, perplexo. Levi o encarou – Acho que nossa aula acabou por hoje.

Queria protestar, mas aceitei. Peguei meus livros e cadernos, agradeci pela aula e sai da biblioteca. Desci devagar as escadas segurando os livros contra o peito pensando em tudo o que o grande mago me disse. Talvez os seres da lu não sejam como todos dizem. Verei do que o rei é capaz na transmissão de hoje a noite. No corredor, vi o príncipe sair frustrado do próprio quarto. Quando me viu sua expressão se suavizou. Máscaras não funcionam comigo, alteza.

– Selena – ele cumprimentou.

– Boa tarde, alteza, bem frustrada pelo jeito.

– Não – ele omitiu – tudo em ordem.

– Estou vendo – falei encarando-o. Ele sorriu.

– O doce fez efeito?

– Não – respondi – É preciso mais que um docinho para melhorar o meu humor, alteza.

– Estou vendo – ele repetiu encarando-me. Sorri.

Lucas me acompanhou pelo corredor. O dia estava lindo hoje, o céu estava completamente azul, e o sol irradiava luz e o calor não estava demasiado. O castelo estava mais quieto do que o de costume.

– Vai me acompanhar até o meu quarto? Pois eu só vou até lá – falei.

Ele deu de ombros.

– Como foi sua aula com Levi?

– Boa – respondi – e frustrante, sinto que quero saber mais do que ele é capaz de me ensinar.

– Minha nossa, quanta sabedoria. Se o Levi ouvir isso ele te desintegra na hora.

Soltei uma risada. Essa eu queria ver.

Cheguei ao meu quarto mais rápido do que gostaria. Ao entrar joguei os livros e o caderno sobre a cama, e com eles, eu mesma. Eu precisava pensar rápido e agir também, mas aqui servindo reis, rainhas, príncipes e princesas erra impossível. Eu precisava ver meu pai.

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