CAPÍTULO 3 - O CASTELO DOS ARQUEIROS
Os guardas abriram a grande porta da frente do castelo, era de madeira brilhante. Não falaram nada, nem olharam para mim. O saguão de entrada era o maior cômodo que eu já vi, maior até que a sala do trono do castelo Escuro. Havia alguns sofás, uma mesa de vidro com uma jarra de rosas-brancas. O piso também era branco, sem nenhum arranhão. Ainda bem que coloquei minha sapatilha nova. Após observar tudo, percebi que eu estava perdida, não fazia ideia de onde a princesa poderia estar. Até que ouvi sua voz, vindo da escada ao meu lado.
- Você está aí! - ela exclamou descendo a escada com passos rápidos e delicados.
- Alteza.
Annie veio até mim com um sorriso no rosto.
- Pronta para começar? - perguntou.
- Acho melhor conhecer o castelo primeiro - respondi.
Ela fez um gesto para que eu a seguisse. Subimos a escada por onde ela tinha descido. Annie explicou que havia muitas escadas como essas em outros cômodos que davam ao segundo andar. Por ali tinham despensas, salas de estar e quartos de visita. As colunas espalhadas eram brancas com ondas prateadas, dando ao castelo um ar angelical. Descemos até o primeiro andar.
- E o terceiro? - perguntei.
- São só quartos reais. Você vai ter tempo de andar por aí. Olhe! Estamos perto da biblioteca.
A princesa apertou o passo pelo curto corretor. Subimos uma escada em espiral até chegarmos a uma porta de pedra. Após uma batida, a porta abriu levemente. Um homem já velho, com cabelos grisalhos brancos com uma barba longa e óculos fundo de garrafa.
- Minha alteza - ele fez uma referência.
Seus olhos me analisavam. Permaneci imóvel.
- Mago Levi, é sempre uma honra vê-lo - disse a princesa - Essa é a nova criada. Ela faz sopas deliciosas.
Criada... a palavra ecoou na minha mente.
Entramos na enorme biblioteca. Tinha enormes janelas como o resto do castelo, porém as paredes tinham um detalhe verde. O mago fez um sinal para sentarmos, as poltronas eram muito confortáveis. Ele nos serviu um chá gelado. Mesmo com os olhos na minha bebida, senti que ele ainda estava me observando.
- Você é filha de quem? - ele perguntou. Senti calafrios, que primeira pergunta mais estranha.
- Fui abandonada ainda criança, não me lembro muito deles.
- Esse é um assunto delicado para Selena, meu amigo - explicou a princesa, dispensando minhas explicações.
O mago bebericou seu chá.
- Belo nome.
Enquanto eu bebia, a princesa e o mago conversavam animados. Me mantive ocupada observando as prateleiras cheias de livros e me peguei pensando em onde estaria o livro de feitiços. Certamente para pegá-lo terei que ser amiga do velhote.
Annie se levantou e eu a acompanhei.
- Vamos continuar nosso passeio - falou ela.
O mago se reverenciou.
- Obrigada pelo chá - falei.
Ele ergueu os olhos e deu o que pareceu um breve sorriso.
No primeiro andar não havia nada além de salas de estar, o saguão, o escritório do rei, a sala do trono com o salão de festas, uma enorme sala de jantar. Salas, salas e salas, todas com um toque verde e prata, os vitrais sempre coloridos, tapetes cor de vinho, e lustres com cristais. A cozinha ficava um pouco afastada, era grande e tinham muitas mulheres. Vi alguns homens também, talvez generais ou guardas.
Atravessamos a cozinha, saímos e me deparei com uma fonte, uma estátua de arqueiro com a flecha jorrando água. Era linda. Olhei o espaço. Logo após o corredor de cimento, tinha uma grama verde e macia, a fonte no centro e algumas flores, era um gramado pequeno. A princesa me disse que esse era o centro do castelo, andei alguns centímetros até a grama, olhei para o céu com algumas nuvens e senti o vento fresco. Um espaço para as criadas, cozinheiras e outros trabalhadores do castelo, mas todos podem passar por aqui, explicou Annie. Depois ela me levou pelo corredor até o meu quarto. Havia vários corredores, todos levavam aos quartos e alguns banheiros. Finalmente chegamos ao meu, depois de três curvas e quatro corredores. Uma bela caminhada.
Era um espaço pequeno, mas um pouco maior do que o meu quarto. Uma cama lisa e macia, uma colcha, lençol e cobertores com um cheiro de flores. Uma estante pequena, uma cômoda grande e uma escrivaninha. Do lado havia uma janela, caminhei até e a abri. Meu coração saltou ao ver a altura, era um penhasco, logo abaixo dele uma pequena floresta, mais ao longe dava para ver os montes e os rebanhos. Me virei rapidamente quando ouvi a porta abrir.
- Olá - disse uma menina negra de cabelos longos e cacheados - sou Bell, sua vizinha. A princesa me pediu que a ajudasse no que for preciso.
- Claro, pode entrar.
Então ela entrou fechando a porta atrás de si. Eu fui até ela e estendi o braço.
- Me chamo Selena.
Bell apertou minha mão e sorriu. Fiz um sinal para que nos sentássemos na cama.
- A princesa me disse que você prefere não falar sobre os seus pais. Você tem amigos?
- Tenho o casal que me recebeu e um menino chamado Dy.
Ela me encarou demonstrando certo interesse. Contei sobre ele, relembrando os dias que passávamos fazendo sopa. AO falar tanto dele, me lembrei do que ele havia me dado antes de ir. Estava bem guardado na mochila. Bell se levantou quando terminamos a conversa.
- Bom, você começa a treinar hoje mesmo. Não parece ser uma aluna difícil. Seu uniforme se encontra na primeira gaveta. Estarei te esperando na fonte.
Quando ela saiu peguei o doce de Dy e guardei na gaveta de onde tirei o uniforme, um vestido cinza longo e simples com mangas, um avental branco e sapatilhas pretas. Desamarrei o cabelo e fiz um novo coque, peguei meu lenço branco bordado e coloquei na cabeça. Caminhei pelos corredores com medo de me perder em tantas curvas. Bell me aguardava na fonte, como disse. Foi conversando comigo até a cozinha sobre sua família, seus pais eram comerciantes e ela tentou uma vaga para servir aqui no castelo.
- Sempre foi um sonho estar perto da família real, porém sinto saudade de meus irmãozinhos.
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