CAPÍTULO 29 - PRINCESA DA LUZ
No meu quarto, próximo ao entardecer resolvi conversar seriamente com Gregória. Hoje Watson fará uma última entrevista e também será minha última chance de impressionar.
— O que está pensando em usar? — ela me perguntou já abrindo sua mala de vestidos feitos especialmente para mim.
— Algo brilhante, decote, e uma frenda... profunda.
Gregória deu um sorriso.
Começou a tirar os vestidos uma a um e foi ignorando-os até tirar um prateado que cintilava, sustentado por suas alças, a caia eram duas camadas delicadas e leves com uma fenda lateral longa. Senti a ansiedade de usá-lo. Eu já havia ensaiado com Ivy dez mil vezes minha postura.
— Finja que é uma rainha — ela aconselhou.
Então lembrei que já sou uma, esse só seria mais um título para minha coleção.
Me banhei e me vesti. Calcei as sandálias prateadas e amarrei as tiras que se entrelaçavam até o meu joelho. Usei uma coleção de joias e uma tiara que brilhou em meus olhos, era de raios de sol, como símbolo da luz.
Pó iluminador fez com que minha pele brilhasse, juntamente com o glitter nos olhos. Ivy também se arrumou, eu queria que ela se sentasse comigo e Gregória na nossa mesa.
Quando terminamos seguimos pelos corredores. Ivy me cutucou para melhorar meus passos a fim de parecerem mais firmes. Cumprimentamos os poucos criados que encontramos pelo caminho.
Chegamos ao salão do trono. Respirei fundo. Sou Selena Ayla Di Lune, rainha das sombras, repeti mentalmente. Os guardas abriram as portas. Segui cm Ivy e Gregória ao enlaço e o queixo erguido.
A sala do trono era iluminada com balões flutuantes florescentes, um tapete vermelho que se seguia até a escadaria e subia até o trono do rei. Ele ainda não estava presente, mas o príncipe estava e conversava com Annie, aparentemente animado.
— Vocês não acham que tudo está muito arrumado para uma simples entrevista? — perguntei de esguelha a Gregória e Ivy.
Elas me olharam também sem entender.
Lucas me viu, mas não me permiti sorrir, entretanto suavizei o olhar. Sei que o plano devia ser me manter ofuscada, mas... escolhi estrategicamente esse vestido, pois não posso deixar uma certa pessoa assumir os holofotes, também não posso deixar de ser tão bonita.
Pensando nela, Margot chegou em um vestido dourado, cheio e bordado. Seu olhar foi até a fenda do meu vestido e a pele exposta. Ela desviou o olhar. Camila conversava com algum guarda, seu vestido era vermelho de cetim e um corset bordado com dragões dourados. Despina bebia vinha que contratava com seu vestido azul-celeste decorado com plumas em branco gelo.
Senti o olhar de muitos queimarem minha pele, mas principalmente quando o rei chegou. Me servi de vinho e macarons, Ivy me sugeriu s quitutes salgados, mas recusei. Procurei em volta a procura de Watson, ele estava num canto, atento a tudo, mas sua equipe não havia vindo consigo. Lucas desceu do pedestal e foi cumprimentar as pessoas presentes, principalmente as princesas.
Ele conversou animadamente com Camila, certamente a mais simpática do grupo. Depois foi até Margot e tentei reparar em como conversavam normalmente. A conversa com Despina já parecia mais séria, mas eles pareciam acostumados com isso, Anelin e Glacieis tinha uma longa parceria. Percebi que eu seria a próxima. Preparei meu psicológico e terminei a taça de vinho, coloquei de volta a mesa. Gregória e Ivy fingiram um interesse repentino na decoração da sala, enquanto Lucas caminhava até mim.
— Alteza — me reverenciei.
O olhar de Lucas brilhou e certamente deve ter se lembrado de como usei o termo na noite passada.
— Gregória se superou dessa vez — ele disse, os olhos perpassando pelo vestido — Mas temo que meu pai ache uma afronta.
Revirei os olhos. Tinha sempre alguém no caminho.
— Eu não ligo — respondi e ele ergueu as sobrancelhas — E você não deveria, resolvi me arrumar porque quero ter chance.
— De quê? — ele indagou.
— De ser a escolhida. Quero fazer parte do seu sonho — respondi.
O que era em parte verdade, por isso soou tão convincente. O príncipe pareceu perder a voz, parecia um peixe fora d'água buscando fôlego.
— Merda — ele falou baixinho — Se não houvesse ninguém presente eu te abraçaria e te rodopiaria por esse salão.
— Mas...
— Sele, eu te amo — ele disse e prendi a respiração — Quero te dizer isso antes de tudo que possa acontecer. Eu dividiria meu sonho com você, eu... quero dividi-lo com você, não consigo imaginar ele com outra pessoa.
— Então divida! Quero te ajudar, não me importo com os contras.
Ele parecia não acreditar, mas eu precisava que ele me ouvisse. Nesse momento parecia que só havíamos nós no salão, e eu queria que fosse verdade. Então ouvimos as portas se abrirem e Lucas se virou espantado, quase todos, na verdade, com exceção do rei. A rainha Tória entrou no salão com um vestido denso e branco, bordado com pingos cintilantes dourados, sua capa parecia flutuar e se arrastava pelo tapete vermelho, como leite e sangue. Ela estava majestosa, sua coroa brilhava cravejada com pequenos diamantes. A boca tinha um tom vinho e sua expressão era séria, encarava o trono. Seu berço de ouro.
Lucas se despediu de mim com um beijo em minha mão e se dirigiu a mãe. Olhei para Camila que parecia já entender a situação, ela permaneceu concentrada na rainha.
— Mãe — Lucas disse — O que faz aqui?
— Iremos adiantar a coroação. A união planejou um ataque no dia que marcamos. Depois faremos uma apresentação ao povo da escolhida. O castelo já foi trancado — informou ela.
O silêncio reinou. Tória seguiu para o pedestal, abraçou Annie e beijou o rei. Os guardas permaneceram atrás da família real. Ouvi o rinchar de armaduras vindo do lado de fora, a porta da sala se fechou. Observei bem e antes que fechasse, pequenas coisas brilhantes voaram em direção à rainha. Eram pequenas fadas, com asas transparentes de contorno verde, tinham vários tons de pele, cabelo e roupa. Mas quase não dava para reparar os detalhes, elas deviam ter uns cinco centímetros. Eram seres extremamente poderosos, só obedeciam à rainha da Luz, criadores ou pessoas abençoadas com seu poder.
Uma das fadas parou ao ver que eu a observava e a suas amigas, seus cabelos eram laranjas e sua roupa também. Seus olhos se estreitaram, a fadinha me encarou, suas asas batiam levemente, seu olhar pareceu brevemente desconfiado, mas ela continuou voando, seu brilho caindo no tapete.
Era ensurdecedor o silêncio. A rainha Tória se virou de frente para todos, o semblante de sereno de uma guerreira determinada.
— Me desculpem a entrada dramática, vamos continuar com a confraternização.
A família real foi para os fundos da sala do trono, com exceção de Annie que ficou para representar. Dylan entrou no salão e se aproximou dela.
— O príncipe vai decidir agora — disse Gregória ao se reaproximar.
Observei que todos estavam apreensivos, exceto Margot que assumia uma postura elegante, estava preparada para ser a escolhida, é claro. Comecei a me sentir ansiosa novamente.
Eu senti que Lucas estava sendo sincero e queria ter me aproximado antes para que tivéssemos tido mais tempo. Ivy segurou minha mão, Bell segurou a outra. Estava fria como gelo. Nunca ninguém havia dito que me amava, pelo menos não em palavras ditas em alto e bom som como Lucas fez. Será que ele se lembraria do que conversamos? Suspirei. Meu coração batia rápido e estava começando a ter dificuldade para respirar.
Peguei uma taça de água e bebi. Eu estava aflita. Será que meu pai sabia dessa mudança? Pedi as minhas sombras que o avisassem e então senti elas se esvaziando de mim. Meu olhar encontrou o de Dy, que observava tanto a mim quanto ao meu vestido, em senti envergonhada, mas dei-lhe um aceno com a cabeça. O que será que ele pensava disso tudo? É claro que agora está na cara que eu tinha pelo menos um pouquinho de vontade de virar rainha e também de me envolver, mais, com o príncipe.
Respire.
A família real retornou. Lucas assumiu pela primeira vez o meio, em frente ao trono do rei, os pais ficaram ao seu lado e Annie se postou ao lado da mãe. Então a rainha Tória chamou as candidatas, Margot, Camila e Despina, me deixando de fora, de repente o vestido me pareceu errado demais, tudo pareceu errado, mas uma voz interior me dizia "não depende dela, não depende dela."
Respire.
Ninguém reparou em mim, a rainha nem se deu ao trabalho de olhar em minha direção, apenas disse:
— Parabéns as três por chegarem até aqui. Representaram seus reinos, sua nobreza, sua classe. Vocês lutaram pela ordem e prosperidade, mantendo a luz e Anelin acima de qualquer coisa. Vocês demonstraram serem capazes de se tornar a próxima princesa da Luz. Sei que a escolha de meu filho será sábia — ela deu um sorriso que parecia uma lâmina. Uma lâmina que me cortou no meio.
Respire.
Lucas então veio mais adiante, a mãe colocou as mãos em seu ombro, parecia um gesto de carinho, mas eu sabia que era um aviso. Seu semblante estava sério, como o de um rei, até e seu olhar se cruzar com os meus olhos quase úmidos de um sentimento inexplicável. Quão difícil era escolher entre o amor e uma coroa?
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