- Todo mundo prestando bastante atenção agora! – A professora de Biologia chamou a atenção da turma. – Faltam quinze minutos para acabar a nossa aula, então quero que vocês aproveitem esse tempo para formar grupos de três ou quatro alunos e comecem a conversar sobre o trabalho que expliquei para vocês no início da aula de hoje.

Na mesma hora o falatório começou. Barulho de cadeira arrastando, alunos falando alto para fechar os grupos, algumas reclamações de alunos que queriam fazer grupos maiores e, até mesmo, um aluno que não gostava de conversar com ninguém, pedindo à professora para fazer o trabalho sozinho. Eu continuei parado encarando o ponto que vinha chamando a minha atenção desde que mudei de colégio.

Quando terminei o Ensino Fundamental, meus pais me matricularam no mesmo colégio que o meu irmão Rafael pediu para estudar no terceiro ano do Ensino Médio dele. Quando meus pais me comunicaram a decisão que tinham tomado eu fiquei um pouco chateado porque sabia que ia acabar perdendo contato com vários colegas. Minha turma do Fundamental era unida, mas sempre que alguém saía, após um tempo, o contato acabava. Por outro lado, eu gostei da notícia. Assim como o meu irmão, eu gostava de estudar e queria passar para a Universidade Federal, então quanto mais forte fosse o colégio, maior seria a minha chance.

Além disso, foi nesse colégio que o Rafael conheceu a Carla. Nunca vou esquecer da primeira vez que a ela foi a nossa casa. O Rafael precisava tomar conta de mim para a minha mãe poder trabalhar, só que ele tinha oferecido ajudar a Carla a estudar Matemática. Eu não sabia disso, então, quando ele chegou em casa, fui empolgado para a sala para a gente jogar videogame, mas dei de cara com a garota mais linda que eu já tinha visto. Na mesma hora eu quis que ela fosse a namorada dele e torci para encontrar uma menina tão bonita e legal quanto ela quando eu fosse mais velho.

Continuei encarando o cabelo cor de fogo que sentava duas cadeiras à frente na fila a minha direita. Ela continuava de cabeça baixa anotando alguma coisa na apostila. Quando terminou, fechou a apostila e começou a guardar o material. Como sempre, ela começou arrumando o estojo. Guardou a caneta azul que estava usando, lapiseira, borracha e as canetas coloridas que ela sempre usava para colorir tudo o que tinha que anotar no caderno.

A Mariana era apaixonada por artes! Já tinha visto alguns desenhos dela e ela realmente arrasava! Talvez esse fosse o motivo por ela gostar de deixar o caderno tão colorido. Eu não tinha como afirmar já que eu não conversava muito com ela. A verdade é que parecia que o destino tinha resolvido brincar comigo.

Durante todo o meu Ensino Fundamental eu fui tímido e era um dos mais quietos da sala. Por algum motivo, que eu ainda não sei explicar como, quando eu mudei de colégio eu me enturmei com os garotos que se davam bem com os mais populares da sala, então o pessoal mais quieto, como a Mariana, não trocava muitas palavras com a gente, o que incluía a minha pessoa!

Quando ela virou para guardar o estojo dentro da mochila, o cotovelo esbarrou na apostila e a derrubou no chão. Já estávamos quase no final do ano e eu precisava tomar uma atitude. Levantei sem pensar no que estava fazendo para não perder a coragem de falar com ela e andei na direção da carteira dela.

- Ei, cara, onde tu vai? – O Marcus me perguntou, mas eu nem me dei o trabalho de responder.

Ela já estava virando para frente quando me abaixei, peguei a apostila dela do chão e estendi para ela.

- Aqui! – Olhei para ela e encarei os olhos castanhos que eu tanto tentava criar coragem para olhar mais de perto.

- Obrigada! – Ela deu um sorriso tímido e pegou a apostila. Queria que tivesse acontecido comigo o que sempre acontece nos filmes adolescentes em que as mãos dos dois se encostam e a garota se apaixona pelo cara, mas a mão dela ficou bem longe da minha.

- Mariana! – Chamei quando ela já estava se virando para guardar a apostila dentro da mochila. Ela parou o movimento e voltou a me encarar. – Você tem grupo? Será que eu posso entrar no seu? Eu tô sem grupo ainda...

Ela me encarou desconfiada e olhou na direção da minha carteira. Continuei a encarando. Eu não precisava olhar para trás para saber o que estava acontecendo. Eu sabia que os caras já tinham montado um grupo comigo junto. O mesmo grupo desde o início do ano. E eu podia sentir que os três estavam nos encarando desde que eu levantei.

- Desculpa, eu já tenho grupo. – Ela voltou a me encarar e apontou para as duas meninas e o menino que também estavam parados olhando para nós. – Já temos quatro, então não dá mesmo. – Ela levantou os ombros se desculpando e eu me apaixonei um pouco mais por ela. – Mas acho que você pode ficar tranquilo, seus amigos devem ter se reorganizado e parece que estão só esperando você voltar para lá. – Ela olhou de relance para eles e eu fiz o mesmo dando de cara com os meus três amigos sorrindo para a gente.

- É melhor eu ir lá para poder resolver o trabalho. – Levantei, mas antes que eu me virasse a ouvi falando comigo.

- Ok.

- Na verdade, - voltei a me abaixar e arranquei um sorriso dela. A encarei e sorri de volta. – é que eu não queria fazer com eles!

- Foi mal não poder te ajudar, então! – Ela ainda estava sorrindo e eu fiquei feliz por saber que aquele sorriso era para mim.

- Tranquilo. – Dei de ombros sem desviar meus olhos dos dela. – Da próxima vez eu tento ser mais rápido.

- É.

- Tchau! – Levantei antes que a professora chamasse a nossa atenção.

- Tchau! – Percebi que ela continuou me olhando, mas quando sentei de volta na minha carteira, ela já estava de costas conversando com o grupo dela.

- Cara, o que foi aquilo?! – O João pegou no meu pé antes mesmo que eu me virasse para ele.

- Não sei do que você tá falando. – Tentei desconversar.

- Ah! Sabe, sim! – O Marcos deu corda.

- Só fui ajudar! A apostila dela caiu, será que vocês não viram isso?!

- Tá... Mas e o tempo que vocês conversaram? Estavam falando sobre o quê?! Eu vi que ela olhou para a gente... – O João sempre era o que mais gostava de pegar no pé de todo mundo.

- João, dá um tempo! Não percebeu que o Gabriel tá apaixonado?! Deixa ele desenrolar a vida dele! – O Pietro começou a rir assim que terminou de falar. Ele também gostava de fazer piada com qualquer coisa.

- Dá pra gente dividir logo esse trabalho?! – Perguntei irritado.

- Vamos falar de Biologia porque agora ele se irritou! – O Pietro me encarou debochado, mas parou de falar da Mariana e focou no trabalho.

O que acharam do primeiro capítulo?

O Gabriel, assim como o irmão, sempre foi fofo e do tipo mais quieto... Acham que ele vai ter dificuldade para convidar a Mariana para sair?

Quem aí tá com saudade do Rafael e da Carla????

Próximo capítulo está repleto deles! S2

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Até mais!