Elena já conhecia Luana e Gustavo. Na vida real eles eram o inverso do jogo. Luana era grande demais e gostaria de ser pequena, já Gustavo muito pequeno e gostaria de ser grande. Justamente por eles serem amigos da mãe de Hana há muito tempo Elena os conhecia. E conforme as coisas foram esclarecidas, eu me sentia cada vez mais tolo. Cada vez mais idiota. Estava tão obvio o tempo todo, se eu tivesse percebido antes eu não deixaria Hana logar de forma alguma.

Ice não estava tomando Hana de mim em uma perseguição na compulsão de sua vingança. Na primeira vez que ele a sequestrou se quer sabia que eu era o verdadeiro DeathKiller, eu não deveria ter pensado que eu era o centro o tempo todo... Hana era o verdadeiro alvo.

Elena me contou sobre Artur Miranda. Ele era amigo de infância de Hana, mas nos últimos tempos ele havia pisado na bola demais, até chegar o ponto que ela o cortou de sua vida.

Artur era Chad, que também era Ice, que também era Armi. Os itens de Chad foram comprados junto com a conta de administrador. Sua vingança já havia sido feita, ter roubado minha conta era o que ele mais queria para cobrar o que eu fiz durante a guerra da carnificina.

Quando ele apareceu como DeathKiller ele queria tirar Hana do Saito que derrotou Chad, era uma empreitada diferente. Eu já não era mais o centro do problema... eu não percebi... estava tão preocupado com Ice que Hana ficou de lado... eu sou um idiota completo. Tudo foi culpa minha...

Elena tentou me aconselhar, dizendo que Artur sempre foi possessivo e que seria muito difícil que eu ligasse as coisas sem saber o contexto. Nem mesmo ela sabia de tanto.

Gustavo também revelou-me que não tinha tanto contato com Artur e que nas últimas semanas ele nem tinha respondido suas mensagens. Gustavo também não poderia me dizer onde Artur morava porque ele se mudou há muito tempo.

Tudo que eu mais queria agora era encontrar aquele desgraçado. Foda-se se ele estivesse no jogo ou não, eu arrancaria o Neural Aceptor dele sem dó. Hana estava sozinha em algum lugar e precisava da minha ajuda. Aquele desgraçado poderia estar falando tanto na cabeça dela agora... Sinto repulsa só de imaginar...

— Então o único jeito de salvar ela é derrotando Ice no evento? — Luana perguntou.

— É, só que eu não consigo fazer isso sozinho... eu sabia até mesmo quando era o DeathKiller que no lançamento desse evento conquistá-lo sozinho seria praticamente impossível.

Ela assentiu com a cabeça.

— Nós até ajudaríamos, mas não podemos deixar nosso filho sozinho, e meu marido já não tem mais a conta dele.

Eu engoli em seco naquele momento. Não sabia como ela iria reagir, mas eu precisava tentar, não tinha outro caminho.

— É por isso que eu pergunto... por favor, empreste a sua conta para Elena — Eu me curvei — Ela era uma conta muito poderosa... sozinho eu não vou conseguir, eu imploro, faço qualquer coisa.

Era possível ver que algumas lágrimas saltavam de meu rosto reclinado. Elena ao ver também se curvou. Alguns segundos se silencio se passaram. Luana e Gustavo se olharam e riram.

— Se você queria isso era só ter falado antes.

Rapidamente levantei a cabeça, incrédulo, eu esperaria mais resistência, se fosse eu não passaria minha conta com tanta facilidade.

— S-sério?

Ela disse que sim com a cabeça.

— Não tem muito mais como eu jogar... e também eu confio na Elena, se ela está com você tão desesperada desse jeito, eu confio que deva ser verdade.

Meus olhos se encheram, se não fosse pela gravidez eu com certeza assustaria ela em um abraço repentino. Eu e Elena logo disparamos para a casa. Com os Neural Aceptor equipados, nós entramos no jogo.

De inicio Elena sentiu a dificuldade que todo novato sentiria. Estava cruzando as pernas constantemente, não tinha muita noção de profundidade ou direção. Mas aos poucos ela conseguiu se habilitar nas funções.

Eu tinha um único dia para treinar Elena em um evento importantíssimo, não tinha tempo para brincadeira. Um dos desafios era treinar a mira dela, precisava conseguir utilizar as habilidades de longa distancia que eram em projétil. Porém para minha surpresa, ou não, ela simplesmente conseguia acertar com precisão os monstros em movimento.

— Isso é bem mais fácil que atirar! — Ela dizia soltado gritinhos de comemoração. Isso quando não parecia uma sádica se aproveitando do prazer em destruir monstros.

Outra tarefa que ela pegou rapidamente foi o esquema da árvore de habilidades. Elena foi capaz de oscilar muito bem entre os tipos diferentes de magias, mas por outro lado seu tempo era terrível.

Enquanto Hana seria capaz de lançar cinco habilidades no tempo perfeito, Elena só conseguia mandar duas. Mas não podia culpá-la, tinha começado hoje, era impressionante ter progredido tanto.

Após terminar de ensinar o último ponto em relação aos sistemas, nós seguimos para comer algo dentro do jogo.

Entramos na mesma cafeteria que Hana me levou no início de tudo. Elena ficou encantada ao saber que era possível sentir fome aqui e se alimentar. Passou a entender porquê Hana sempre passava dias jogando comigo. Era um jogo magnifico.

— Não posso julgar mais a Hana por ficar horas jogando — Ela suspirou — Ei ela consegue andar nesse jogo?

— Sim. Eu não sabia que ela era cadeirante, mas isso não faz diferença para mim, ela continua sendo alguém muito importante que eu tenho que proteger.

Elena soltou um sorriso fechado.

— Muito obrigada, de coração.

— Por quê?

— É que eu vi essa garota crescer sabe... sempre acompanhei as vitórias dela, seja ganhando corridas ou gabaritando provas... ela sempre foi muito boa... mas desde de que perdeu os movimentos das pernas ela ficou muito para baixo. Nem mesmo Artur apareceu no hospital para ajudar ela, estar do lado... eu vi o quão triste ela estava... mas aí ela começou a ficar feliz de repente. Passou a conversar mais, ser mais alegre... voltou a comer bem. Até que um dia ela me disse que tinha se apaixonado por alguém, e que ela queria um conselho de como contar.

— Acho que eu consigo perceber o quanto você gosta dela. Ela também serviu de suporte para você não é?

— Sim. Eu não sei o que seria minha vida sem ela.

— Nós iremos salvá-la, nem que eu tenha que enfrentar o servidor inteiro!

Elena sorriu e disse que sim com a cabeça. Após comermos ela se levantou e me abraçou.

— Eu não sei se eu vou conseguir te ajudar no evento como você gostaria, mas eu confio em você e vou dar o meu melhor, por favor, faça o que for preciso, mas salve Hana.

Quando ela se afastou eu sorri.

— Eu vou salvar!