O castanho mais belo que o verde

Hana pareceu querer chorar quando eu levantei, por um momento deve ter pensado que eu deixaria de amar ela por ser paraplégica, mas ela ser ou não, não faria diferença. O que me deixou perplexo foi saber que o motivo do sofrimento dela ter sido culpa minha. Se naquele dia eu não tivesse em crise isso nunca teria acontecido com ela.

— Me desculpa... é culpa minha você nunca mais conseguir andar...

Muita confusão se instaurou na mente da menina, mas quanto mais eu explicava e sua mente processava, mais as coisas passavam a fazer sentido, e depois que ela entendeu, Hana balançou a cabeça, satisfeita.

— Eu faria de novo se fosse necessário... ainda mais conhecendo você hoje em dia. Faria milhares de vezes se não fossem o suficiente.

— É que mesmo assim... se eu não tivesse em crise, se eu não fosse tão problemático... agora você vai ficar o resto da vida em uma cadeira de rodas por culpa minha...

Algumas lágrimas ousaram escorrer dos meus olhos. Naquele momento Hana se levantou e me abraçou, aninhando minha cabeça em seus peitos. Consegui ouvir o suave bater de seu coração, estava tão calma.

— Não se culpe por ter problemas... todos nós temos. O que importa não é o jeito que caímos, é como levantamos. Por você não desistir naquele dia eu consegui te ver na televisão, e você me inspirou a conhecer esse mundo maravilhoso, que apesar de algumas pessoas ruins, continua sendo um bom mundo... vai parecer estranho o que eu vou dizer agora, mas eu agradeço por ter sido atropelada, porque se isso não tivesse acontecido, eu nunca teria conhecido a pessoa maravilhosa que você é. Eu estaria triste e sozinha hoje em dia, mas graças a esse acontecimento eu estou feliz, porque eu encontrei alguém que eu amo de verdade!

As lágrimas teimosas finalmente caíram. E eu chorei. Chorei muito no conforto dela. Já tinha quebrado diversas vezes antes, como desta vez, mas nunca havia ninguém para me amparar, e Hana estava lá, por mim, esquentando a minha tristeza com seu calor agradável. Quando eu me acalmei, Hana decidiu que deveríamos dar um novo passo. Nós já havíamos nos beijado de uma forma tão intensa que revelava nossos desejos um pelo outros. Nós até mesmo confessamos nosso amor. Então ela quis que eu a conhecesse na vida real.

Como ambos morávamos na mesma cidade era só ela mandar a localização, e foi o que aconteceu. Eu tentei pegar as minhas melhores roupas naquele momento, mas não havia um conjunto bom para utilizar, apenas roupas desgastadas ou manchadas. Eu me repreendi por causa daquilo, nunca havia considerado que precisaria me vestir bem para sair, podia pagar minha casa de dois cômodos com os bicos de sábado e domingo e os auxilios. Também nunca precisei de ir para uma festa ou algo do gênero, mas para impressionar Hana eu precisava, no mínimo, comprar algo descente.

Peguei as sobras dos lucros e comprei uma calça preta, uma blusa vermelha e um tênis branco com preto. Simples, mas melhor que minhas roupas arregaçadas. Por fim um perfume que julguei adequado.

Eu poderia ir andando até onde ficava a casa dela. Era em um complexo fechado de condomínio. A principio o segurança não queria me deixar passar. Uma mulher teve que ir até a entrada para que eu pudesse finalmente entrar. Chamava-se Elena, ela me guiou até a casa enquanto me fazia algumas perguntas.

— Então você é o Saito? Esse nome é bem peculiar.

— De fato, é um pouco... e você é alguma coisa da Hana?

— Sim. Já fui uma babá, mas hoje sou apenas uma cuidadora/segurança — De repente ela me deu um leve empurrão com o ombro — Ela anda falando bastante de você.

Minhas bochas coraram com aquela frase.

— E o que ela fala?

Ela colocou uma das mãos no queixo e olhou para cima, tentando se lembrar das palavras.

— Bom ela diz como você é gentil, que sempre faz companhia para ela. Que passam juntos muitos dias dentro do jogo, e eu fiquei sabendo que dá para fazer muita coisa naquele mundo virtual... vocês já passaram das preliminares?

Meu corpo cravou no chão como uma flecha, o aperto no peito surgiu intenso. Que tipo de pergunta era aquela? Uma armadilha?

— Pode me contar, não vou te julgar, quero mais é que ela seja feliz! — Deu uma risadinha.

Eu cocei a nuca, pode ser apenas um disfarce para tentar extrair algo de mim, por sorte nunca chegamos a esse ponto.

— A gente já se beijou e dormimos na mesma cama.

— E você fez algo com ela?

— Não eu juro! — Respondi rapidamente, levantando as mãos.

— Calma não estou sendo agressiva com você! Só quero saber se minha menininha já virou uma moça... só não sei se num jogo conta. Em fim, vou parar de te constranger.

Nós finamente chegamos na frente da casa. Uma imensa mansão moderna, era absurdamente linda. A casa por si só era grande, mas havia uma área externa no mínimo três vezes maior.

— A Hana está no jardim esperando por você — Ela cheirou meu pescoço de repente, assustando-me — Bom! Ela gosta de caras cheirosos, já ganhou pontos por isso!

— Ah, obrigado, eu acho...

Ela deu mais uma risada.

— Ok, agora eu parei. Vou deixar você ir lá para que fiquem a sós, vai ser a primeira vez que você verá ela, então deve ser um pouco especial. Nos vemos em breve — Ela estendeu a mão, com um grande sorriso no rosto. Parecia gente boa, gostei dela. No momento que apertei a mão, o peso de um prédio pareceu amassar ela, um olhar assassino no rosto de Elena. O quão forte essa mulher é? — Só não ouse magoá-la, entendeu? Queira ter o diabo como seu inimigo, não eu.

— Entendi, entendi!

O semblante dela mudou da água para o vinho, e aquele olhar assassino desapareceu. Parecia até uma mulher normal agora.

— Agora vai lá!

Apenas segui sem dizer mais nada, enquanto ela acenava alegremente em despedida. Eu dei a volta na área exterior e vi a ponta do pequeno canteiro. Lá estava ela, do outro lado do muro de folhas. Ela me olhou ao ouvir meus passos, seus cabelos verdes eram castanho escuro, e os olhos de Jade eram caramelo. De fato era muito mais linda na vida real.

Quando parei na frente dela pude ver que ela estava em um banco, sua cadeira de rodas preta logo ao lado.

Ela deu leves tapinhas do lado, pedindo para eu sentar.

— Oi — Eu disse, ainda admirando cada pedaço. Ela estava usando um vestido branco com flores azuis espalhadas pela estampa. Muito fofinha. Sua altura era a mesma de dentro do jogo, mesmo sentada dava para perceber. Ela realmente espelhou suas feições, mas com certeza o verde perdia para seu castanho original.

— Oi, parece que você se arrumou bem, acho que eu deveria ter pego um vestido melhor — Ela soltou um risinho.

— Ah, que nada. Você tá linda com este vestido. Só é um pouco estranho porque estou acostumado a te ver com placas de armadura.

— É, eu também, você é igual, mas a realidade sempre é mais bonita que gráficos aparentemente — Ela tocou minha bochecha — Mas realmente é estranho, não dá para diferenciar as sensações, isso é igual...

— Será que todas as sensações são iguais?

— Como assim? — Ela me perguntou, curiosa.

Eu não respondi, apenas dei-lhe um beijo, tomando cuidado para não derrubá-la. Quando nossos lábios afastaram eu tive certeza.

— É igual, mas saber que estou de sentindo de verdade é um bom diferencial.

— Sim... mas você realmente não se importa de eu estar paraplégica? Isso quer dizer que quando casarmos você vai ter que cuidar mais que o normal de mim... — De repente os olhos dela arregalaram quando Hana se ouviu. Todo o rosto ficou vermelho e ela tentou se esconder com suas mãos — Ah desculpa eu estou pensando à frente demais!

Eu sorri.

— Você é muito fofa, mas não se preocupe. Isso só quer dizer que vou te amar ainda mais, porque vou estar cuidando de você.

Hana baixou as mãos e olhou-me, olhos levemente marejados.

— Você jura?

— De dedinho — Falei mostrando ele. Nosso dedos entrelaçaram e outro sorriso lindo apareceu.

De repente Hana se deu conta de algo importante, mas quando percebi que era sobre o Prime Live eu apenas balancei a cabeça, negando. Estava no inicio do dia, ainda tinhamos muito tempo para pensar sobre isso e tudo que eu mais queria agora era passar um tempo no mundo real com ela.

— Vamos deixar isso para depois, agora vamos nos divertir!

Os olhos caramelo de Hatsumi brilharam com as minhas palavras. Com a permissão de Elena nós saímos para nos divertir. Primeiro um piquenique em um belo parque, de frente para um lago. Estava fresco, o vento suave corria sobre a grama leve. Eu havia preparado alguns sanduiches com pasta e outros com presunto e manteiga, todos feitos com muito carinho.

— Estão saborosos! — Hana disse de boca cheia.

Logo após fomos tomar sorvete, Hatsumi enchei o copo com varias bolas de diferentes sabores, enquanto eu optei por algumas de chocolate. Ela riu de mim, alegando a falta de vida do meu sorvete. Olhando o dela, era possível perceber que tinha vida até demais, jujubas quase caindo, confete, calda de chocolate, um bombom no topo e amendoim com granola na calda. Estava tão cheio que foi engraçado quando ela tentou retirar e grande parte caiu sobre a mesa. Hana fez uma cara de choro muito fofa quando eu disse que não compraria outro, pois avisei que isso aconteceria. Todavia eu não consegui resistir, acabou que comprei um novo para ela, deixando-a satisfeita enquanto apreciava o sorvete.

Quase finalizando o dia, levei-a para um restaurante japonês onde Hatsumi saboreou sushi, sashimi e diversos outros pratos movida apenas pela gula, afinal seu estomago estava longe de estar vazio.

Agora em uma das avenidas que seguida para o condomínio, voltava para casa com o som dos carros nas ruas.

— Hoje foi maravilhoso — Hana disse, satisfeita — Espero que tenhamos mais dias como esse!

— Nós vamos ter! Varios!

Hatsumi me respondeu com um belo sorriso que logo se finalizou em um semblante triste. Seus olhos varriam os arredores, averiguando aquela mesma rua que era familiar tanto para ela, quanto para mim. Era o mesmo local do acidente que retirou seu maior sonho de si.

— Sabe existe uma sensação que não é igual ao jogo — Ela disse.

— Qual seria?

— A corrida. Por mais que eu goste da sensação de correr no Prime Live, acaba não sendo a mesma coisa. Não é mesmo prazer de sentir o vento contra o meu rosto, os braços ao ar, a velocidade das passadas... são como nuvens no céu que eu apenas posso ver e nunca consigo sentir.

Um brilho escorreu pelo canto do seu rosto, meu coração se tornou mil pedaços ao pensar na do que ela estaria sentindo.

— Olha, eu sei que não vai ser a mesma coisa, mas vou tentar aliviar essa sua saudade.

Hana me olhou confusa, nada que sua mente era capaz de pensar poderia solucionar como eu disse que faria. Pedi para que Hana cruzasse seus braços em meu pescoço, então levantei-a, segurando em minhas costas. Seu olhar conseguiu ver o final da descida da rua, era o lago que ficava próximo de sua casa, refletindo a luz das estrelas. Aquelas memorias vieram, da corrida que fazia ao descer essa rua íngreme. Então tudo se tornou tão próximo que as nuvens de memorias poderiam ser tocadas por suas mãos. Eu corri o máximo que fui capaz, descendo em um único tiro. O vento bateu no rosto de Hana, lançou seus cabelos para trás, era uma sensação tão similar, o ar frio que colidia com seu rosto... os braços se esticaram, uma risada, a mais sincera que Hatsumi realizou em muito tempo. Ela estava correndo, mesmo que em minhas costas. Suas bochechas coraram, algumas lágrimas ficaram para trás com o vento. Hana conseguiu afirmar em sua mente, sentido o balançar do meu corpo pela corrida. Ela estava mais feliz do que nunca.

— Saito, eu te amo!



Cheguei casa de Hatsumi praticamente exausto. Ainda tive que voltar para pegar a cadeira de rodas, mas valeu apena. Ver a felicidade de Hana foi uma das experiências mais  agradáveis da minha vida, mesmo que tenha quase colocado um fim na minha, pois pareceu que eu iria infartar depois que parei de correr. Logo tomei um banho e encontrei com Hana, que me esperava na sala já vestida com seu pijama confortável. Agora, depois de relaxar em uma dia agradável, ainda tínhamos que resolver o problema do falso Deathkiller.

— Então, há muitos dias atrás eu fui desafiado por Ice Warrior em um duelo definitivo que eu não tive escolha de fazer... O duelo apenas iniciou. Ainda assim eu saí na frente e consegui subjugá-lo... só que eu não esperava que de alguma forma ele acabaria com a durabilidade da minha espada.

— Então ele era um cheater de fato?

— Tudo indica que sim. O problema é que o arquivo da luta foi corrompido e a equipe do Prime Live disse que é impossível existir um cheater no jogo. Só não sei como acreditar nisso, por causa da minha experiência contra aquele cara.

— Eu entendo o que você está falando. Eu também nunca vi ninguém voando, ou com velocidade infinita, nem mesmo relatos... meu pai já me passou alguns conhecimentos de programação, então eu sei que para trapacear em um jogo você tem que alterar os arquivos dele, só que o Neural Aceptor não pode ser modificado porque ele não salva nenhum arquivo, o jogo está alocado na nuvem, qualquer coisa apenas poderia vir do servidor.

— Então não existe um cheater, e sim alguém que alterou as configurações do jogo direto no servidor, ou seja...

— Um desenvolvedor — Hana completou minha frase — Tem algum desenvolvedor que queira se vigar de você?

Eu pensei por um momento, até que lembrei-me do começo disso tudo... todos sabiam que minha conta é a coisa mais importante para mim, apesar de agora ter se tornado a segunda, mas bastaria tirar isso de mim para me impactar... e Ice disse que queria se vingar... logo só poderia ser o diretor que eu ajudei a derrubar!

— Se lembrou de algo? — Ela perguntou, percebendo minha mudança de feição.

— Sim, tem um cara que se chama Paulo Marques, ele era um dos diretores de desenvolvimento. Paulo foi demitido depois que eu expus o esquema de propina.

— Então temos que começar achando ele. Vou pedir para Elena descobrir onde ele mora.

Eu assenti. Como Elena era uma ex militar, tinha contatos dentro da inteligencia que deviam alguns favores. Estes poderiam ajudar a encontrar com facilidade onde Paulo poderia estar morando. Era uma grande possiblidade de me dar a resposta. 

Depois que falamos com Elena, ajudei Hana a voltar para sua cadeira de rodas e empurrei ela para dentro de casa, afinal eu precisava conhecer a mãe dela. E para minha surpresa ela era divertida. Sempre tive o estereótipo de uma sogra cascavel, mas até piadista a mulher era e me espantou o quanto era parecida com Hana. Obviamente pelo fato de ser mãe tinha que ter alguma similaridade, mas era de assustar.

A única diferença das duas era a pele de Madalena, que era um pouco enrugada e a postura, já castigada pela idade.

— Eu queria te agradecer muito por trazer um sorriso pro rosto da minha filha — Ela disse, tomando uma taça de vinho — Só Deus sabe como essa menina ficou mal.

— Mãe não precisa falar assim também... — Ela reclamou baixinho.

— Não há de quê, Senhora...

— Sogra — Ela me cortou, mudando a palavra que eu usaria.

— Não há de quê, sogra — apesar de um pouco desconfortável pela situação, eu até que gostei de pronunciar aquela palavra. Qualquer coisa que reforçasse o relacionamento entre eu e Hana me alegraria, pois era como um sonho.

Hatsumi posteriormente contou que sua mãe estava mais descontraída naquele momento por conta da bebida. Ela acabou encontrando refugio naquilo quando sua filha descobriu não conseguir mais andar. Quando deu meia noite eu me direcionei para um dos quartos de hospedes. Pensei que voltaria para minha casa, mas Madalena fez questão que passasse a noite no local. Bom, uma mansão era muito mais confortável que uma casa de dois cômodos. Hana queria por um momento dormir comigo, na mesma cama, mas minha sogra não sabia que já havíamos feito isso, então não adiantava nem pensar em tentar, ainda mais porque os quartos de Hana e Madalera eram no mesmo corredor.

No outro dia eu fui até a cozinha, já acostumado com a casa, e lá me deparei com café e biscoitos para comer. Hana estava acordada e sobre sua cadeira de rodas ela fazia seu desjejum.

— Bom dia.

— Sua voz grave de manhã é musica para os ouvidos, sabia? — Ela deu uma risadinha — Bom dia.

Nós conversamos bastante durante o café da manhã e depois de terminar, Hana se lembrou de algo.

— Ah é! Vai até um escritório que tem do lado do portão da casa, o de fora. A Elena quer falar com você sobre o Paulo.

Eu assenti e fui até lá. Era uma pequeno posto de guarda que havia no local. Após bater eu abri a porta, foi como entrar no polo norte, uma onda de ar frio atravessou o corpo arrepiando todos cabelos do corpo.

— Bom dia, Saito! Não se importe com o frio, por favor, eu sou uma criatura das neves, gosto da sensação! Consegui achar o cara. Ele mora em uma rua do outro lado da cidade, não é muito difícil de chegar, se quiser eu vou com você, por segurança.

— Mas e a casa? Você não é a guarda daqui?

— Foi um pedido da Hana — Ela deu uma piscadinha.

— Então eu já não tinha escolha mesmo antes de você perguntar?

— Exatamente! — Ela disse sorrindo.

Demorou mais de duas horas para atravessar a cidade, o transito foi horrível, mas nós finalmente chegamos. Era uma casa simples em uma área mais pobre da cidade, parecida com a que eu moro.

Eu apertei interfone e depois de alguns segundos eu ouvi uma voz grave de um homem adulto.

— Boa tarde, falo com Paulo?

— Sim, por quê?

— Vai parecer estranho, mas eu sou o Deathkiller, preciso urgentemente falar com você, e se você não abrir minha amiga militar vai derrubar a entrada.

— Eu não vou derrubar nada.

Olhei para ela com uma expressão incrédula. Custava botar pilha?

— O que você quer?

— De você só quero saber o porquê de quer se vingar de mim.

— Vingar? Não quero me vingar de você, de onde tirou isso?

— É claro que você quer se vingar de mim, eu tirei seu emprego!

— Não, eu sei que você fez a coisa certa.

Ou ele estava fingindo muito bem, ou realmente não tinha nada haver com esse cara.

— Desculpa, você pode abrir pra conversarmos melhor?

Paulo não respondeu, apenas acionou o botão, liberando a porta. Eu pedi para que Elena esperasse na entrada e subi para falar com ele. Quando a porta do 201 abriu, eu vi um homem baixo gordinho e de cabelos lisos penteados para o lado. Em seu rosto um óculos quadrado de grau altíssimo e bochechas gordas e vermelhas. Sua casa era simples, tão simples quanto a minha. Para onde foi todo aquele dinheiro que ele recebeu?

— Então, o que você quis dizer com vingança? — Paulo perguntou após rapidamente preparar uma mesa com café.

— É que quando eu estava no meu castelo um cara apareceu falando que queria se vingar de mim e que iria tomar minha conta. Então começou um duelo definitivo do nada... e ele ainda destruiu minha espada tirando a durabilidade dela, era um cheater eu acredito.

Paulo ficou sério naquele momento.

— Mas é impossível.

— Como?

— É impossível ser um cheater. O jogo foi feito de um jeito que nenhum jogador consegue acesso aos arquivos. Ninguém consegue alterar nada pelo Neural Aceptor, por isso nosso jogo não tem nenhum hacker.

— Mas... eu vi ele quebrou a durabilidade da minha espada!

Paulo parou para pensar por um momento, então um possibilidade veio à sua mente.

— É culpa minha. Que droga... eu vendi itens por dinheiro, seja itens de drop raro e outras coisas para diversos jogadores anônimos... mas teve uma coisa que eu vendi que foi mais cara...

— E o que seria? — perguntei, engolindo em seco.

— Uma conta de administrador.

Bati as mãos na mesa e me levantei surpreso, de olhos arregalados. Paulo se assustou.

— Por que você vendeu uma conta dessas?!

— Desculpa... é que eu não tenho muito dinheiro... tenho três filhos de três mulheres diferentes que se divorciaram comigo. Por isso não tenho muito normalmente...

— Desculpa, mas não tinha o que fazer —  disse, sentindo-me um pouco culpado — Mas onde foi parar todo seu dinheiro? Já era pra você ter até uma casa própria, foi tudo para pensão?

Ele sorriu para mim naquele momento e seguiu até algo com grande volume encoberto por um grande pano. Quando o retirou, diversos aparelhos para musica surgiram, inclusive um piano que seria o mais caro de todos.

— Como eu disse quase não sobra dinheiro por causa da pensão, mas eu sempre tive o sonho de criar uma banda de rock! Estava usando o dinheiro da propina para comprar os instrumentos e me aventurar pelo mundo! Já não estava mais suportando meu emprego, então mesmo que fosse demitido não veria problema, é mais um livramento.

Contive com toda vontade do meu corpo o impulso que eu tive de rir.

— Que bom que você está seguindo seu sonho, eu acho... mas me diz, você não tem nada em mente que possa me ajudar a achar esse cara que roubou minha conta? 

— Posso te passar o contato de um amigo meu que ainda está no jogo, ele pode te ajudar a achar esse cara — Paulo me passou o contato de administrador que eu poderia usar dentro do jogo — Eu só te pergunto uma coisa: essa conta é tão importante assim para você querer recuperar? É só você conseguir o que você já tinha.

— É que deixou de ser um problema de apenas recuperar minha conta. Ice cruzou uma linha com alguém que jamais deveria ter cruzado e eu irei caçá-lo!

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