Insegurança

Jeongguk não soube ao certo o que lhe passou pela cabeça, no momento em que o viu, vindo em sua direção com um sorriso no rosto. Para ser sincero, foram muitas coisas, tantas que não conseguia enumerá-las e muito menos lembrar de algumas delas com clareza.

Mas sabia que estava hipnotizado. Enquanto acompanhava os movimentos de Jimin, concluiu que ele precisava ser também chamado de deus da beleza, porque era, de fato, muito belo.

Quando voltou a si, caindo na dura realidade, buscou apoio e ajuda no irmão, entretanto, para sua surpresa e desespero, encontrou ao seu lado, uma única poça de água no chão. Namjoon tinha o abandonado!

Aquela constatação de fatos fez o sangue do deus da morte ferver. Por um segundo, Jeongguk sentiu um impulso de ir atrás do deus dos mares, apenas para puni-lo com suas próprias mãos, por abandoná-lo em meio aquela situação. Todavia, antes que pudesse escapar, indo atrás de sua vítima, o deus da primavera chegou, o alcançando rapidamente.

— Jeongguk... — Ouviu a doce voz chamar seu nome, fazendo seu corpo inteiro se arrepiar no processo — Não sei se lembra-se de mim, mas...

— Jimin — pronunciou de supetão, cortando a fala do outro e logo tratou de se desculpar. — Perdão! — pediu sincero. —  Lembro-me bem de ti — confirmou, sentindo aquela estranha sensação no abdômen.

— Oh, verdade? Fico feliz! — Jimin admitiu, sorrindo ainda mais. —  Espero não ter lhe dado uma má impressão a meu respeito... naquele dia...

— Não se preocupe com isso.

— Certo, tudo bem... — Ele disse, abaixando o tom da voz, no entanto não se moveu. Decidiu se aproximar mais um pouco do outro — Fiquei muito surpreso, quando nos encontramos no bosque... não imaginei que te encontraria ali.

Jeongguk respirou fundo, muito agradecido pelo outro deus continuar a conversa, porque ele mesmo não era de muitas palavras, contudo, ao menos queria se esforçar para ser participativo. Afinal de contas, apesar do nervosismo, ainda estava feliz por estar falando com Jimin e queria prolongar aquele momento.

— É um bom lugar para ficar sozinho. — falou sem pensar e, quando notou o semblante atordoado de Jimin, repreendeu-se internamente, corrigindo-se em seguida — Quero dizer, é um lugar perfeito para pensar.

— Sinto muito, acredito que acabei descobrindo seu ponto de reflexão. 

O deus da morte negou veementemente, balançando a cabeça força para ambos os lados.

— Não precisa sentir! Fico contente em saber que outro alguém, além de mim, também aproveita as graças daquele local. — pronunciou um pouco afobado, fitando-o.

— Sim, posso dizer que aproveitei bastante! — Jimin afirmou, gentil. — Visitei o bosque outra vez, na esperança de encontrá-lo, mas não tive sucesso. 

O moreno sentiu o corpo gelar, ao ouvir as palavras do outro deus. Jimin tinha tentado encontrá-lo? Ele queria conversar com ele novamente? Aquilo era muita informação. Jeongguk não estava sabendo lidar com tudo que estava acontecendo e, por um rápido momento, sentiu-se fraco, porém, tratou de permanecer firme no lugar, fingindo que não sentiu-se abalado.

— As guerras do norte têm se tornado cada vez mais violentas... há muitas almas para serem guiadas. — Explicou, ocultando o fato de que passava a maior parte do tempo atrás do loiro, observando-o de longe.

— Sim... — O loiro concordou pesaroso. — Eu vi todos os horrores que estão acontecendo por lá, ao passar para abençoar as terras com florescimento das flores e das outras plantas... estava tudo devastado, queimado e transformado cinzas.

Jeongguk, ao ouvi-lo, sentiu pena pelo deus da primavera ter que presenciar cenas como aquelas. Por ser quem era, o deus da morte, estava acostumado com calamidades e desgraças, entretanto, mesmo com toda sua trajetória, a imagem de horror, presenciada no norte, ainda permanecia em sua mente. Nunca tinha presenciado tamanha carnificina. 

— Tente evitar aquelas áreas — Aconselhou. — Acredito que vá ficar ainda pior, com o passar do tempo. 

— Meu trabalho lá está feito! — Contou, Jimin, quase que orgulhosamente — Apesar do solo ter sido destruído, por causa do fogo, consegui devolver um pouco da vida natural àquelas terras.

— Tenho certeza que deve ser reconfortante para aqueles que sobreviveram. — disse, sorrindo fracamente.

De fato, alguns humanos achavam a vista da natureza reconfortante, e o Jeongguk podia imaginar o sentimento. Quando a guerra assombrava um lugar, tudo se tornava cinza e melancólico. Então, imaginava que para aqueles seres tão frágeis, ver as flores nascendo de um chão, que antes tinha sido banhado em sangue, era um sinal de esperança e espera por dias melhores.

— Eu espero sim... — o deus da primavera falou, esperançoso. — Deve ser muito difícil pra você presenciar essas cenas.

— Estou acostumado — Jeongguk negou, após um tempo de reflexão. — Faz muito tempo que faço isso. Infelizmente, além da pouca vida, os humanos ainda insistem em exterminar seus iguais. 

— Eles são primitivos... ainda precisam evoluir muito. — Jimin declarou seriamente. 

Jeongguk maneou positivamente e ficou em silêncio. A conversa estava fluindo normalmente, fazendo diminuir todo seu nervosismo. Julgava até mesmo estar se sentindo confortável ao lado dele e isso era interessante, tendo em vista que, para ele, estar perto de outros deuses era incômodo.

O deus da morte, aproveitou a oportunidade de estarem próximos, para se atentar aos detalhes daquele rosto bonito. Jimin tinha os olhos bem redondos e suas íris eram em um azul tão claro, que assemelhava-se ao céu da manhã, eram olhos tão bonitos que Jeongguk jurou que se perderia na imensidão azul dele.

O nariz era pequeno, na verdade, Jimin era pequenininho e o deus da morte achava muita graça. A diferença de estatura entre eles era bem considerável, porque mesmo lado a lado, o deus da primavera lhe alcançava apenas na altura dos ombros. 

Contudo, estranhamente, por uma razão desconhecida, sua atenção se voltava para os lábios cheios e carnudos dele. Eles eram atrativos e enquanto admirava-os, sentiu pela primeira vez em toda sua existência uma nova sensação: desejo. Ele desejou muito tocar aquela bela boca.

Jeongguk não era ignorante ao ponto de não saber o que era luxúria e que até mesmo os deuses a sentiam, rendiam-se a ela. 

E quis render-se à vontade de tocá-lo. 

Queria poder tocar com cuidado aquela pele alva, sentiu ímpeto de acariciar os cabelos e, por uma fração de segundos, quis beijá-lo para saber o quão macios eram aqueles lábios. 

Sentiu-se engasgado com o ar. Aquelas sensações e aqueles pensamentos eram tão genuínos que o deixavam confuso. O que eram aqueles sentimentos? Era apreço? Curiosidade? Gostar? Amar

Então, como se uma mão o puxasse com força de dentro da própria mente, Jeongguk  voltou à realidade, no momento que ouviu a risada de Jimin soar, ao seu lado.

Interessado em saber o que o fazia rir, acompanhou o olhar dele, encontrando outros dois homens — quem ele não conhecia, diga-se de passagem —, eles dançavam abraçados e um pouco desengonçados. Uma grande vergonha.

Mas, mesmo que os julgasse internamente, agradeceu mentalmente pela falta de pudor deles, pois por causa disso, seu acompanhante não deve ter percebido sua fitada lascívia sobre ele.

— Eles são engraçados, não são? — Jimin inquiriu, quando percebeu que olhavam na mesma direção. — Taehyung e Hoseok são sempre tão alegres.

— Os conhece? 

— Sim! — respondeu, olhando-o rapidamente — Surgimos na mesma época. 

Jeongguk assentiu lentamente, pensativo.

O surgimento de um deus menor era algo muito significativo e especial, mas ele mesmo, não achava assim. Sendo sincero, as únicas vezes que participou de uma comemoração de boas vindas, tinha sido quando era mais jovem.

O nascimento de um deles sempre acontecia inesperadamente, no momento em que era decidido pelo próprio pai de todos, Deus.

Eles só sabiam que uma nova vida tinha chegado, quando as camaras do templo da criação, brilhavam em uma luz dourada muito forte, anunciando o "nascimento".

Diferentemente dos humanos, eles nasciam com um propósito divino e eram abençoados pelo pai. Assim, seu tempo de infância era menor do que qualquer outro ser, seu crescimento para atingir a idade adulta, era de poucas semanas.

— Está muito quente. 

Jeongguk saiu de seus devaneios e olhou confuso para o outro. O clima estava um pouco frio, como ele podia sentir calor? Ele quis perguntar, entretanto não teve a chance, pois Jimin desatou-se em falar.

— Poderia me acompanhar? Gostaria de tomar um ar lá fora. — Jimin pediu timidamente, e talvez, um pouco esperançoso.

O outro fitou-o surpreso com o pedido, mas não negou. Isso fez o mais novo respirar aliviado, então, com um sorriso no rosto, guiou o caminho até a saída do local.

Jimin queria ter permanecido na festa, mas imaginou que Jeongguk estivesse incomodado por estar tão cercado. Foi pensando nele, em seus sentimentos, que inventou aquela mentira para que pudessem sair juntos. 

— Estava muito cheio, não é? —  indagou, enquanto andava em direção a uma pequena fonte no meio do jardim.

— Sim, um pouco.

Jimin sentou-se na borda da fonte e molhou um pouco as mãos na água fria, sorrindo sozinho com a sensação gelada que lhe atingia.

— Imaginei que estivesse desconfortável, por isso pedi para sairmos de lá... — Confessou, sentindo-se constrangido.

Jeongguk admirou-se pelo cuidado dele, sentiu o peito esquentar e as mãos suarem, assim como, novamente, aquela vontade de tocá-lo acometeu seu ser. Foi preciso toda sua força para lutar contra aquele ímpeto.

— Eu... agradeço a consideração. — disse sincero, sentindo uma leve cócegas na bochecha e quando deu-se por si, um sorriso estava estampado em sua boca. 

— Não precisa me agradecer! Mas fiquei surpreso quando o vi chegar, mais cedo.

— Ah sim... acredito que todos não esperavam minha presença.

— Eu esperava — Jimin rebateu rapidamente. — Estava torcendo para viesse hoje.

O deus da morte o olhou atordoado, por causa daquelas palavras; não compreendia ao certo o significado delas, no entanto, ficou contente por ouvi-las, todavia, não pode deixar de perguntar:

— Por quê?

Jimin ficou boquiaberto com a indagação dele. "Por quê" ele questionou? Bem, nem ele tinha uma resposta para essa pergunta. No entanto, se fosse para ser sincero diria que sempre tivera curiosidade sobre ele. O achava interessante e sempre ficava intrigado, quando o via passando sozinho, além é claro, de admirar a beleza dele, porque Jeongguk era, de fato, muito belo. 

Falar com Jeongguk era um desejo interno e secreto, tentou de todas as formas reunir coragem para conversar com ele, entendê-lo, estar ao lado dele. Verdade seja dita: estava apaixonado.

No momento em que Jimin colocou os olhos nele, deitado na grama, com suas mãos para o céu, brincando com os vagalumes, naquela noite quente de verão, o deus da primavera teve a certeza de que seu coração tinha sido roubado. E desde então, ele tentava de alguma forma se aproximar.

Na primeira tentativa de aproximação, o deus da morte estava junto de Seokjin e eles andavam pelos jardins. Pensou em se apresentar, mas então, Taehyung surgiu e o levou para longe como uma de suas travessuras.

Na segunda vez, o encontrou por acaso observando alguns esquilos que viviam por ali. Teve a brilhante ideia de pegar algumas frutas para quem sabe, pudessem alimentar os animais juntos? Assim o fez. Porém, quando voltou Jeongguk já não estava por ali.

Durante a terceira vez, Jimin estava muito decidido a ir atrás dele, de uma forma ou de outra. Queria muito ouvir o som da voz dele, ao menos uma vez, pois estava cansado de imaginar como ela era; procurou-o em todos os lugares possíveis e impossíveis! Até mesmo olhou em uma caverna popular por seus mitos no mundo humano! 

Era como se não simplesmente não fosse para ser. Desanimado e entristecido, apenas se contentou por admirá-lo à distância, quando as poucas chances surgiam.

Um dia, após uma discussão com seu amigo Taehyung, ele vagou sem destino enquanto tentava esquecer as palavras duras do mesmo e por uma casualidade, seu alvo de admiração simplesmente veio em sua direção e trocaram poucas palavras.

Aquele tinha sido o seu momento mais especial! Foi a primeira vez que pôde vê-lo tão próximo, sentiu-se imensamente feliz, tão feliz que no dia seguinte, saiu florescendo todas as flores de Octaeria mesmo que não fosse o tempo delas ainda, não importava! Jimin queria que Jeongguk pudesse apreciar suas flores, não importando o caminho que ele seguisse! Era uma forma pessoal de estar ao lado dele.

— Eu queria vê-lo. — Confessou, sentindo a face esquentar. — Sempre quis falar com você, mas era difícil

Jeongguk o olhou abismado. Sentindo as pernas fraquejarem por um instante.

— O quê?! — indagou de supetão, olhando-o. — Não consigo entender... como é possível? Por que eu? Sou tão...

— Admirável. — Jimin o cortou, rindo baixo. — Sempre lhe admirei muito.

— Mas eu sou... 

— Incrível. — Cortou-o novamente, maneando a cabeça levemente para os lados. — Jeongguk está nas minhas primeiras memórias desta vida... foi  impossível, não me interessar por você.

O deus da morte, ouvindo aquilo, prendeu a respiração com toda força que tinha, arregalandos os olhos em choque. Jimin estava confessando que gostava dele? Ou estava entendendo tudo errado? 

— Sinto muito... não sou bom nisso...

— Em quê? — Jimin indagou, curiosamente.

— Em tudo. — Murmurou, bufando em seguida. Porque era tão difícil se entender e se expressar? Jeongguk não queria ser péssimo, não na frente dele...

— Na minha concepção, você é bom em tudo. — Jimin declarou, enquanto se levantava da borda da fonte para se aproximar do outro. — Eu, verdadeiramente, lhe admiro muito, Jeongguk.

A respiração de Jeongguk foi se tornando cada vez mais pesada e acelerada à medida que a distância entre eles se encurtava. E novamente, percebeu que seu corpo estava agindo sem controle, deixando-o totalmente tonto, enquanto assistia ele se aproximar cada vez mais. 

...

Penúltimo capítulo dessa three, espero que tenham gostado!
O último será lançado na semana que vem 💜

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