⌚FOUR
솔직히, 보고 싶어요.
하지만 이젠 널 지울 거야 그게 널 원망하는 것보다 덜 아프니까
[Sinceramente, tenho saudades tuas
Mas agora vou apagar-te. Porque isso doerá menos do que
te culpar]
✿✿✿
Ele andou por dias. Jungkook perdeu-se nas terras que ele um dia reinou ao lado da sua amada. Foram dias a fio a caminhar. A fugir do passado, a ser assombrado pelo sangue que ainda escorre entre os seus dedos. Por mais que ele lavasse as mãos, o sangue de Yoohyeon ainda ali estava.
O antigo rei de toda a Coreia perdera a conta de quantas luas já tinham passado desde que renunciou a coroa. Agora quem tem de suportar tal peso na cabeça é o seu irmão.
A vergonha corrói-o por dentro, o arrependimento ainda acorrentado aos seus pés, pesa mais que toneladas. Já a culpa, ele coloca-a sobre aquela que já nem pode caminhar ao seu lado. O dia à dia de Jungkook passa-se com ele a culpar Yoohyeon pelo que aconteceu e a magoar-se com tais pensamentos. Culpá-la dói mais que o corte da própria espada.
Jungkook caminhou para longe. Depois de entregar o trono ao seu irmão ele partiu.
Saiu da capital com a intenção de nunca mais voltar, e foi exatamente isso que fez. Jungkook partiu de vez. O reino foi deixado sobre os cuidados de alguém mais adequado ao cargo e o reinado de Junghyun foi, de facto, marcado na história como um dos melhores reinados da Coreia. Conhecido como o melhor rei da dinastia Jeonghwa.
Após tanto andar, Jungkook finalmente achou um sítio para descansar. Uma gruta. A tempestade de neve, obrigou-o a procurar um local para se abrigar. Sem muitas escolhas adentrou a gruta, juntou uma quantidade generosa de lenha e, com óbvia dificuldade, usou a fricção entre os paus para acender o fogo. O frio da rua e a humidade do local não eram as melhores condições para se fazer uma fogueira, mas Jungkook decidiu ser teimoso e acender o fogo.
Depois de um ano a viver pelos bosques, Jungkook teve de aprender algumas coisas para sobreviver. E o coelho que caçou mais cedo seria o seu jantar, ele precisava do fogo para o assar.
- Vá lá... - murmurou enquanto aplicava mais força, tentando causar mais fricção - Isso! - exclamou, a ponta do pau finalmente estava em chamas.
Foi então que reparou nas escrituras nas paredes da caverna, eram simples desenhos. Ele não era o primeiro a ter ficado naquela gruta. Jungkook sentiu a necessidade de também deixar a sua pegada para trás, por isso molhou os dedos na terra humida e começou a desenhar a sua amada. A figura feminina, caída no chão foi desenhada com tamanha delicadeza e amor que, qualquer um que visse o Jeon a desenhá-la, nunca pensaria que ela tinha sido morta por aquelas mesmas mãos.
Quando terminou, deixou uma lágrima escapar.
Jungkook ficou curioso, há mais desenhos? Com essa pergunta em mente levantou-se e adentrou mais a caverna. As gravuras nas paredes eram muitas. Tantas que Jungkook nem conseguia contar com os dedos. Houve alguém que desenhou um cão, outro tinha desenhado um sol, também uma flor e uma criança. Eram tantos e variados que Jungkook acabou por se perder neles, o Jeon continuou a adentrar a gruta.
Só parou quando pisou algo. Não era uma pedra. Não era um pau, mas sim algo que ele nunca vira antes. Um relógio de bolso.
Curioso, o antigo rei pegou nele. O metal bem trabalhado estremeceu na sua mão. Os ponteiros estavam parados, congelados. O fogo, trêmulo e fraco foi se a baixo. A rajada de vento levou consigo a fonte de calor e luz.
- Aish... - resmungou, chateado por ter perdido o seu fogo. Contudo, o relógio nas suas mãos não tardou em brilhar. A luz dourada, reluziu por entre os seus dedos, fazendo a curiosidade de Jungkook aumentar. Os seus dedos roçaram no objeto, agarrando a chave que existe na parte de trás do relógio e rodando-a, era como se o relógio fosse um brinquedo de corda.
A cada volta que ele dava, maior era a intensidade do brilho do relógio. Foi então que um 'click' o impediu de continuar a rodar.
O que aconteceu depois foi muito rápido. O chão abaixo dos pés de Jungkook partiu-se e ele viu-se a cair num buraco negro. Vários fios dourados o rodearam e um ser que Jungkook nunca vira na sua vida apareceu à sua frente.
O relógio na sua mão tremia, a corrente presa nele, moveu-se como uma serpente e rodeou o antebraço de Jungkook. Agarrou-se com firmeza ao humano, apertando com demasiada força. O ser diante dos seus olhos era pequeno. Um gorro esticado e comprido tapava por completo os seus olhos, o corpo era pequeno e entre as suas mãozinhas ele segurava um pergaminho. Lembra um gnomo.
O nariz do ser era empinado e a boca era larga. As orelhas pequenas e a cabeça maior que o normal. A pele num tom enferrujado era característica dele e a roupa dourada sobressaía-se no seu pequeno corpo.
Ele era estranho e apenas assustava mais Jungkook. Os cabelos compridos do Jeon estavam completamente de pé, apenas mais uma prova de que estava a cair num buraco infinito. Ele tentou largar o relógio mas este estava agarrado a si.
- Eu, Oru, o representante de Samay, venho por este meio encaminhar-te na tua viagem temporal - o ser desconhecido esticou o pergaminho e leu o que lá estava escrito. Jungkook franziu o cenho, como ele via com o gorro à frente?
- Desculpa! O que está a acontecer? Eu quero voltar! - tentou ser ouvido, mas Oru ignorou-o.
- Para se viajar no tempo existem regras que precisam ser seguidas, passo a ditar: primeiramente, NÃO podes lembrar de ABSOLUTAMENTE NADA do que viveste durante a tua vida neste tempo histórico; Segundo, não deves, EM HIPÓTESE ALGUMA, viajar mais que uma vez no tempo; Terceiro, é PROIBIDA a tentativa de alteração técnica ou química do objeto de transporte e muito menos a sua danificação; Por último, mas não menos importante, DEVES aceitar a vida que te dão e é PROIBIDA a sua alteração! Tens de seguir o roteiro! - o homenzinho exclamou, usando toda a potência dos seus pulmões.
Jungkook bem que tentou intervir mas não valia a pena.
- Compreendes? - Oru abaixou o pergaminho e virou-se para o humano. Jungkook não soube como se sentir. Ele estava a olhar para si, conseguia vê-lo? Escutá-lo? E o que raios ele queria dizer com 'viagem temporal'?
Conforme mais tempo ali ficavam mais fios dourados os rodeavam, criando uma esfera ao seu redor.
- Eu... eu acho que sim... - murmurou, assustado com a postura que Oru tomava. Jungkook não conseguia ver os olhos dele, mas conseguia senti-los sobre si.
- Muito bem... - o homenzinho voltou a sua atenção para o pergaminho - Tu, Jeon Jungkook, anteriormente rei da nação humana, irás viajar do ano 1674 para o ano 2018. És o filho de um pasteleiro, nasceste em 1997 e serás professor de ciências. O teu nome será mantido o mesmo e não casarás. Samay escolheu para ti uma vida solitária, apenas terás a companhia do teu melhor amigo e da filha que mais tarde vais adotar - finalmente fechou o pergaminho.
Oru atirou o testamento para cima, fazendo-o desfazer-se em pó e colocou as mãos atrás das costas.
- Isso quer dizer que eu não vou lembrar de nada? Já não vou ser o Jungkook... o rei que matou a sua mulher, não é? - questionou, tentando ter certeza de que percebeu o que Oru quis dizer com tais palavras.
- Aaah... sim. Tecnicamente - o homenzinho pareceu revirar os olhos - Agora, repita depois de mim - pede. Oru coça a garganta e enche os pulmões antes de voltar a exclamar - Eu, Jungkook!
- Eu, Jungkook!
- Juro, pelo bem da linha temporal e pelo meu bem, não quebrar nenhuma das quatro regras antes recitadas!
- Juro, pelo bem da linha temporal e pelo meu bem, não quebrar nenhuma das quatro regras antes recitadas... - repetiu meio incerto, não sabendo se deveria fazer aquilo. Seria melhor para todos, não é?
- Muito bem, faça uma boa viagem alteza - o ser, vestido de dourado fez uma breve vênia antes de desaparecer no meio de todos aqueles fios dourados.
O relógio na sua mão começou a tocar e Jungkook sentiu-se girar. De repente ele já não lembrava de nada, os seus cabelos são curtos e não há vestígios da longa barba que decorava a sua cara. O Jeon está deitado numa cama, ao seu lado, na cabeceira está um relógio, ele toca alto. É um despertador.
- Jungkook! Vamos acorda, o teu pai vai-se atrasar por tua culpa! - a voz da mulher ecoou do outro lado da porta.
- Estou a ir mãe! - ele nem precisou raciocionar.
Agora ele não lembrava de nada. Não existia mais sangue nas suas mãos, qualquer vestígio de ressentimentos tinha desaparecido e não existe mais culpa para colocar sobre Yoohyeon. Ela também desapareceu, desfez-se em cinzas assim como todas as outras memórias.
Jungkook não estava mais em 1674. Ele agora está no século XXI [vinte e um].
✿✿✿
As lágrimas escorrem sem limite pelo seu rosto. Ele fez o que não devia ter feito. Jungkook lembrou, as mãos ainda estão sujas com o sangue da Kim e a culpa ainda existe, o arrependimento ainda está acorrentado aos seus pés.
- Sr.Jeon... o senhor está bem? - a guia ajoelhou-se ao seu lado e agarrou-o pelos os ombros. Jungkook respira com dificuldade, o seu coração queima, pulsa de forma ardente. Desesperado para voltar atrás e impedir-se de cometer tal erro. Ele quer voltar atrás e parar a lâmina de perfurar a sua amada.
- Eu... eu preciso sair daqui - num gesto brusco, Jungkook livrou-se das mãos da guia e correu para fora do palácio. As memórias que partilhou com ela naqueles mesmos corredores invadem a sua mente sem piedade.
Os momentos partilhados com o seu irmão também pesam na sua consciência.
Ele abandonou todos. E só agora, a tristeza no olhar do irmão inferniza a sua mente, Junghyun chorou a sua alma quando Jungkook pousou na sua cabeça a coroa.
Ele entra dentro do carro, as mãos tremem e dificultam a sua condução. No entanto, chegar à sua moradia não demora muito, as chaves caiem diversas vezes no chão, mas o Jeon também consegue abrir a porta com sucesso. Ele entra na própria casa aos tropeções, vai contra os móveis e são muitas as coisas que caiem no chão. O Jeon invade o escritório, na secretaria dentro de uma das seis gavetas está o relógio que o fez viajar no tempo.
O objeto ainda é dourado e brilhante. Está intacto.
Desde o dia em que se mudou da casa dos seus 'pais', Jungkook nunca mais tocou nele. Guardou-o na gaveta e nunca mais se preocupou com ele.
Sem hesitar, Jungkook roda a chave até ouvir aquele 'click', no entanto, nada acontece. O chão não se partiu abaixo dos seus pés e nenhuns fios dourados o rodearam.
Irritado Jungkook voltou a tentar rodar a chave.
- Vá lá! - deu um soco na mesa para descontar a sua frustração. As lágrimas escorrem sem uma única interrupção e ele não tem qualquer tipo de sucesso na sua tentativa de viajar para o passado.
A raiva acumula-se em si. Raiva de tudo. De si mesmo, de não conseguir voltar atrás, por ter escolhido fugir, por ter abandonado a sua família, por ter morto a sua mulher e por todos os outros erros que já cometeu. Cego, os olhos vermelhos, cheio de ódio. O Jeon perdeu todo o controle sobre si. Quando reparou já foi tarde demais, ele não conseguiu parar tal movimento.
O relógio chocou contra o chão e a explosão dourada arrastou-o para um sono profundo.
Não há previsão para que ele sequer volte a acordar.
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