Pretty When You Cry



aviso: menção a uso de drogas, relacionamento abusivo e conteúdo sexual.

O pôr do sol escapava pelas frestas da cortina enquanto você finalizava a mala, sentando em cima da mesma para fechar o zíper. Um porta-retrato empoeirado era a única mobília restante no amontoado de caixas. Encarou o rosto do ex-namorado com certa nostalgia e a sua cabeça foi longe, lembrando do quão felizes estavam quando a fotografia foi tirada.

Kuroo havia acabado de comprar um carro novo...vocês estavam mais apaixonados do que nunca. Ele prometeu que a levaria num encontro de verdade naquela sexta-feira, até mesmo vestiu uma camisa social para impressionar os seus pais, e jantaram num restaurante fino.

Você riu dele contando como apanhou para enrolar a manga da camisa e evitou metade do cardápio pelos preços absurdos. Não chegaram na sobremesa, Tetsuro Kuroo ultrapassou uns 3 sinais vermelhos só para rasgar o seu vestido na garagem de casa.

Tudo com vocês era intenso e as brigas não fugiam disso. Largou a foto na cama com um suspiro e levantou para enfrentar o chuveiro gelado, Saeko a proibiu de se atrasar. A sua melhor amiga era especialista em dar festas que saíam do controle, então relutou com a ideia dela organizar sua despedida, mas cedeu quando ela argumentou que seria a última aqui.

Você era apegada em sua cidade natal, tinha ótimas memórias da escola e fez amigos importantes. O problema era que também viveu as suas piores decepções em Tóquio. Você sonhava com um bistrô na Itália desde que visitou a Roma no seu aniversário de 12 anos, porém, mudou o seu foco quando conheceu Tetsuro Kuroo aos 16 anos.

Kuroo vinha de uma família rica e ver um Lexus estacionado numa escola de classe média criou um alvoroço. O rumor era que seria uma punição temporária e logo voltaria para o instituto de elite. Você o achou atraente desde a primeira troca de olhares. Afinal, não conhecia muitos japoneses de 1.87m...e mentiria se negasse que aqueles braços definidos chamavam atenção.

Com 2 semanas na escola, ele entrou pro time de vôlei e impressionou a turma com o desempenho nas aulas. Kuroo era uma mistura inebriante de carisma, beleza e inteligência. Um rosto que certamente acumulava chocolates no dia dos namorados. Você despertava interesse nos garotos, mas nada absurdo. Estava saindo com o Daichi, que conheceu durante um trabalho de biologia, e participando de cursos gastronômicos pela tarde.

Daichi era um bom namorado e vocês se davam bem. Era conveniente...ele não te tirava do eixo e a sua melhor amiga o adorava. Bom, o que Saeko adorava mesmo era ter uma desculpa para frequentar os treinos de vôlei e flertar com os jogadores; você comparecia sempre que podia.

O seu namorado jogava como atacante de ponta e ocupava o posto de capitão do time enquanto Kuroo ganhava destaque no bloqueio central. O time era bem unido e não demorou para que você e Tetsuro encontrassem afinidades nas reuniões. Vocês tinham basicamente o mesmo gosto para comida, vários filmes favoritos em comum e quando começavam a rir, não paravam mais. Terem virado bons amigos não foi surpresa para ninguém.

A temporada em que Daichi viajou para disputar o nacional de vôlei serviu para que se aproximassem de vez. Tetsuro havia sofrido uma lesão nas eliminatórias e vocês passaram a acompanhar as partidas juntos. Quando viu o seu bentô, Kuroo simplesmente cismou que você faria os dele. Você aceitou pelo dinheiro extra...mas teria recusado se soubesse o que provocaria. Em questão de dias, todas as garotas da sala te odiavam por ciúmes e os garotos espalhavam que você traia o seu namorado.

Assim, antes mesmo de Daichi retornar do campeonato, o relacionamento de vocês tinha acabado e Kuroo ofereceu um ombro para chorar. Olhando agora, a situação parecia bem estúpida e você riu na frente do espelho. Terminou de secar o cabelo e apostou num delineado com batom vinho, dando um charme para o vestido de seda preto sem alças. Depois trocou o salto por um coturno meia pata e prometeu esquecer os dramas da sua adolescência.


-— quebra de tempo —-


O metrô estava lotado e você se arrependeu de não ter aceitado a carona de Saeko, principalmente pelos olhares indiscretos que a sua roupa atraia. Respirou fundo, mentalizando que a Itália estava entre os 15 países mais seguros para mulheres, e abriu o Instagram para se distrair. A mensagem que brilhava na tela quase te fez perder o equilíbrio, o seu passado não tinha planos de te liberar tão cedo.

Você guardou o celular na mesma hora e esbarrou em mais pessoas do que o necessário para descer na estação certa. Pegando o atalho que aprendeu para chegar na sua melhor amiga antes do café e sustentar as mentiras que garantiam uma noite com Tetsuro Kuroo. Saeko logo abriu a porta numa calça flare, sutiã rendado branco e um kimono vermelho cobrindo a figura esguia. Estava perfeita, como sempre.

- Finalmente, garota!- Saeko te puxou pra dentro e você nem se deu ao trabalho de esconder o desânimo enquanto ela te escaneava- Amei o vestido. Espera aí...que cara é essa?

- Nada.- replicou no automático, sua melhor amiga detestava qualquer coisa vinda dele- Você também está incrível, gatinha.

- Já até sei o que é, então.- a loira cruzou os braços- O que esse desgraçado fez dessa vez?

- Mandou mensagem dizendo que sabia que eu ia embora e queria se despedir também.- soltou, rodando a sala em passos nervosos.

- Nem fodendo! Você disse que não, né?- Saeko te parou com as sobrancelhas erguidas- Ele não vai entrar na minha casa.

- Eu sei, eu sei...só não respondi ainda.- estalou a língua, irritada- Mas você bem que podia ter chamado menos gente, certeza que foi um dos meninos que contou.

- Ok, agora a culpa é minha por querer comemorar a oportunidade da sua vida.- a loira ironizou, sem acreditar no rumo da conversa.

- Desculpa, nada disso é culpa sua.- você lamentou e ela assentiu com um suspiro- Eu que perco a cabeça quando falam dele.

- Tudo bem, não quero mais gastar tempo com esse homem. Hoje a noite é sua! Se ele aparecer aqui, os meninos resolvem- Saeko prometeu- Vamos arrumar o seu cabelo.

- O meu cabelo?- tateou as mechas devagar, encontrando uma bagunça causada pelo vento da rua- Meu Deus, ainda bem que tenho você.

- Aproveita porque você não vai ter os meus serviços na Itália.- a loira fez bico- E vê se não me troca por um cabeleireiro barato lá.

- Você é insubstituível, Saeko.- você piscou, a seguindo escada acima para o quarto.

- Também te amo!- ela sorriu por cima do ombro.

Colocaram a playlist de festa que dividiam e Saeko te atualizou sobre o professor que estava saindo ao pentear o seu cabelo. A hora voou, você acabou com um rabo de cavalo alto e ajudou a loira na escolha de acessórios. Tiraram algumas fotos e parte de você quis cancelar tudo para ficar mais com a sua melhor amiga. Sentiria muita falta desses momentos.


-— quebra de tempo —-


As pessoas chegaram pontualmente e Saeko fez questão de recepcionar cada um com um shot de vodka, o que garantiu que interagissem sem travas na língua. Você estava feliz por estarem se divertindo, mas não conseguia parar de pensar em Kuroo. O seu coração saltava a cada vez que a campainha ressoava. Encheu o quinto copo e fugiu do ruivo que tentou te beijar; sua melhor amiga havia mesmo perdido a mão na hora de convidar.

- [Nome], vem cá!- Bokuto te cercou animado e você se aninhou no abraço de urso que só ele sabia dar- Nossa, tá tudo bem? Você geralmente não é de grude.

- Hoje tô precisando.- pediu numa tentativa de desacelerar e Bokuto te apertou com mais força.

- Vou autorizar só porque você tá indo embora.- Akashi tossiu no fundo e você se desvencilhou de Bokuto, abrindo um sorriso largo.

- Onde vocês estavam se escondendo?- abraçou Akashi mais brevemente.

- Ficamos presos no beer pong, Oikawa e Iwaizumi são um problema sério nesse jogo.- Bokuto explicou, certamente frustrado e cutucou o namorado em seguida- Akashi, essa é a melhor hora pra falar com a [Nome] sobre aquele assunto.

- O que?- você franziu a testa em curiosidade.

- Ah, a gente queria saber se você vendeu o apartamento.- Akashi perguntou descontraído.

- Pior que não, a mudança tava me enlouquecendo e não tive muito tempo pra anunciar.

- Que ótimo! Nós estamos procurando um lugar pra morar.- Bokuto comemorou eufórico, recebendo um olhar de censura do namorado- Foi mal, amor.

- Vocês vão morar juntos?!- você leu a situação e baixou o tom.

- Sim, estamos noivos.- Akashi confirmaram e você vibrou genuinamente pelos seus amigos- Mas não contamos pra ninguém ainda...quero falar com a minha família primeiro.

- Pode deixar, vou manter em segredo.- mostrou o dedinho em promessa e Bokuto uniu o dele ao seu- Agora vou atrás da Saeko rapidinho. Parabéns, gatinhos!

- Beleza! Depois volta, hein. - Bokuto pediu, você mandou um beijo pros dois.


-— quebra de tempo —-


Passava da meia noite e a bebida não parecia ser o suficiente para calar as suas preocupações. Saeko estava ocupada com o namorado, te deixando a mercê dos outros convidados. Receber a notícia que Akashi e Bokuro iriam morar juntos fez com que refletisse sobre se mudar para Itália. Se estava fazendo tudo errado. Não pôde deixar de pensar que se tivesse insistido um pouco mais, estaria dividindo uma casa com Kuroo agora.

Principalmente depois de tudo o que passaram juntos...a sensação que você tinha era que morreu na praia, a um passo da felicidade. Escorou no corrimão da escada, no mesmo lugar que Saeko e você tiraram as fotos de formatura do ensino médio. Na noite que abandonou o sonho de infância e decidiu que montaria o seu restaurante no Japão para evitar um namoro à distância com Tetsuro Kuroo.

Sorriu ao recordar que Tetsuro subornou o DJ do baile para tocar a música de vocês e disse que te amava pela primeira vez. Em quatro anos juntos, esse foi um dos momentos mais bonitos que dividiram. Algo que te mantinha firme durante as madrugadas que gastava chorando e desejando sumir porque discutiram. Naquela época, ainda não tinha percebido que estar com Kuroo era viver pela calmaria depois da tempestade. Um fenômeno natural que destruía a sua sanidade, pelo menos, mensalmente ao lado dele.

Os pais de Kuroo eram influentes na área jurídica e sempre deram liberdade financeira para compensar a indisponibilidade emocional. A negligência o levou a descobrir um escape nas drogas, que livravam Kuroo da realidade que o engolia numa casa disfuncional. Você demorou a perceber, já que Tetsuro fazia um esforço para ficar limpo nos jogos de vôlei e isso coincidia com a época em que se aproximaram.

Kuroo amava o esporte, mas não se cura dependência química apenas com motivação. Mudar de escola e afastá-lo dos antigos amigos foi uma das tentativas de intervenção feitas. Com o tempo, Tetsuro relaxou nos treinos e foi rebaixado pro banco por custar o ponto decisivo numa partida importante. A decepção praticamente o corroeu...você ainda tinha pesadelos com o momento que flagrou o seu namorado cheirando pela primeira vez.

Ainda lembrava da chuva que molhava seu tênis quando o seu mundo caiu e ligou aos prantos para Kenma Kozume ajudar a tirá-lo da rua. Kuroo passou a ter recaídas frequentes depois disso e você ia do céu ao inferno para amenizar as crises de abstinência dele. Recorrer a uma clínica mancharia o nome da família e aparentemente, uma reputação intacta valia mais do que a vida do próprio filho.

Você perdeu a conta de quantas vezes ele usou e sumiu, te levando a vasculhar os piores cantos de Tokyo em busca de algum sinal de vida dele. Que se deparou com o seu namorado desacordado na beira da privada ou convulsionando enquanto dividiam a cama. De quantas vezes o vício transformou a pessoa que você amava em um desconhecido, quebrando móveis e gritando pelos motivos mais ridículos possíveis. O problema é que nada disso diminuía a intensidade dos seus sentimentos por Tetsuro, terminar foi uma decisão dele.

- Ei, [Nome].- Kenma estalou os dedos, te arrancando das memórias- Tá tudo bem?

- Tá sim.- limpou a lágrima que escorreu com um sorriso e o seu celular vibrou- Devo estar com uma cara péssima, você é a segunda pessoa que me pergunta isso hoje.

- É o Kuroo, né?- Kenma mais afirmou do que perguntou- Vocês deviam conversar, pra encerrar o ciclo de vez.

- Kenma, sei que ele é o seu melhor amigo...mas não tenta defender o Kuroo pra mim.

- Não pretendo.- bebeu um gole da cerveja- Só acho que não custa nada escutar a versão dele, você vai estar em outro continente em menos de 48 horas. É melhor ir sem arrependimentos.

Você sentiu um aperto no peito, a possibilidade de não encontrá-lo evocava mais angústia do que alívio. Ignorou as sirenes que soaram em sua cabeça e deixou que o álcool te empurrasse para fora da festa. Desbloqueou o celular apressada e xingou os dedos que tremiam para digitar uma simples resposta.

Estava na metade da mensagem quando um conversível vermelho parou na frente da casa. Era um carro diferente do que conhecia, mas só podia ser dele. Você baixou a cabeça por nervosismo, a respiração acelerada chegava a ser audível. Tiveram um término horrível e essa seria a primeira vez que se viam em 6 longos meses, você não sabia como se comportar.

- Oi.- a grave voz fez com que arrepios subissem a sua nuca.

- Tetsu?- o apelido escapou por instinto e os estreitos olhos avelãs suavizaram com a recepção.

Ver ele trouxe tudo à tona...uma mistura nauseante de felicidade, raiva, saudade, arrependimento e tristeza. O Tetsuro na sua frente tinha um porte mais saudável, olheiras menos marcadas e parecia sóbrio. Era como ver um fantasma do Kuroo que conheceu no ensino-médio; a questão era que você não possuía mais a inocência de uma garota de 16 anos.

- Você está linda.- Tetsuro sorriu ladino- E deve estar congelando nesse vestido.

- Estou bem, obrigada.- resistiu a vontade de devolver o elogio.

- Você pode até me odiar, mas não vai querer chegar na Itália resfriada.- Kuroo colocou a jaqueta dele sobre os seus ombros e o perfume amadeirado te desnorteou por alguns instantes- Inclusive parabéns...eu sempre soube que conseguiria.

- Não, você sempre foi contra.- você corrigiu, ressentida- Por que você veio?

- Já disse, queria me despedir de você.- Tetsuro suspirou e bagunçou o cabelo escuro que você tanto amava.

- Acabou de fazer...já pode ir.- cortou, restringindo o choro na garganta- É o que você faz de melhor.

- Para, eu sei que você me quer aqui.- Kuroo contornou a situação- Até me chamou de Tetsu.

- Não quero não, eu vou embora na segunda e a última coisa que preciso é de você me confundindo. Essa é a oportunidade da minha vida.

- [Nome], por favor.- Kuroo apelou com um semblante torturado- Preciso me desculpar pela sua formatura.

Por mais que a tristeza contaminasse cada uma de suas atitudes, mencionar a sua graduação foi o estopim para que você estourasse com ele. Você queria colocar para fora, despejar toda a mágoa que envenenou o seu coração no último semestre.

- Não tem como. Você sumiu no dia mais importante da minha vida, Kuroo. Eu que sempre estive aqui pra você. Atrasei a minha entrada te esperando e você não teve nem a coragem de terminar comigo pessoalmente. Os últimos meses foram um verdadeiro inferno para mim.

- Pra mim também.- Tetsuro franziu a testa, baixando a voz- Eu não apareci porque tive uma overdose...te mandei aquela mensagem assim que acordei no hospital.

Uma parte de você morreu com essa informação e a culpa embrulhou o seu estômago, praticamente neutralizando o álcool ingerido.

- Kuroo, eu não fazia ideia- respondeu atônita- Por que ninguém me avisou?

- Eu pedi pra não falarem.- Kuroo suspirou e pegou as chaves do bolso- Tem como a gente conversar em outro lugar?

- Mas como eu vou embora da minha despedida?- você olhou para trás, hesitante- Não sei se ficar sozinha com você é uma boa ideia.

- Deve tá todo mundo bêbado já, não vão nem notar.- Tetsuro te tranquilizou- E eu prometo que te devolvo no segundo que você me pedir.

- Ok.- cedeu, engolindo em seco.


-— quebra de tempo —-


As luzes da grande Tokyo brilhavam efêmeras no céu escuro, Kuroo acelerava como se cada segundo contasse. Tudo gritava despedida. Você alisou o vestido num gesto nervoso e acabou admirando a curva que o nariz dele fazia, sempre brincava que era fruto de cirurgia pelo formato arrebitado. Estar com ele era nostálgico demais. Desviou o foco para as ruas com um coração acelerado, reconheceria aquele caminho até de olhos fechados.

O porteiro liberou a entrada pra garagem e vocês subiram para o décimo andar, a tensão chegava a ser palpável dentro do elevador. No apartamento, tiraram os sapatos e você viu que os móveis continuavam exatamente no mesmo lugar. A única diferença era o quão organizada a casa estava. Agradeceu pela jaqueta que ele te emprestou e a colocou em cima do sofá preto.

- Quer alguma coisa? Água, suco- Kuroo jogou as chaves na mesa, você negou- Então, não vou te enrolar mais. No dia da sua formatura eu misturei muita coisa, [Nome]. Tava feliz pra caralho pela sua conquista, mas ainda tinha medo de você ir embora.

- Poxa, Tetsuro.- lamentou, meio inconformada- Sempre te disse que ficaria aqui com você, que o nosso relacionamento era prioridade.

- Eu sei, fui um idiota por duvidar da sua palavra. Você foi a melhor coisa que já me aconteceu e eu fodi tudo por insegurança.

- Quem achou você?- você desviou do assunto, suando frio.

- Kenma rastreou minha localização. Ele simplesmente programou o meu apple watch para enviar qualquer alteração nos sinais vitais pro celular dele- Tetsuro riu fraco- Tive sorte demais. Se ele não desconfiasse tanto de mim, eu teria morrido.

- É por isso que ele saiu no meio da cerimônia?!- a indagação saiu trêmula, era muita coisa para processar- Eu queria estar lá com você...teria largado a formatura na hora.

- Exatamente por isso, eu não podia arruinar o dia mais importante da sua vida.- Kuroo suspirou, encurtando a distância entre vocês- Kenma quis te falar quando eu acordei, disse que você tinha direito de saber, mas eu não queria te causar mais sofrimento. Ele só aceitou ficar quieto porque prometi que ia me internar...ficar limpo de vez.

Imaginar que se Kenma demorasse um segundo a mais sequer, Kuroo poderia não estar na sua frente era sufocante, você não conseguiu impedir que as lágrimas caíssem entre soluços dessa vez. O delineado se desmanchava pelo seu rosto e você se sentia a personificação do desastre, mesmo que passasse o dorso da mão numa tentativa de amenizar o estrago. 

Kuroo, por outro lado, só conseguia pensar no quão linda você ficava chorando.

A verdade sobrecarregou demais a sua mente e correr para os braços dele foi automático. Independente de todo trauma, o seu corpo ainda se lembrava de como ele fazia você se sentir. Do quanto vocês se entendiam fisicamente. Kuroo sabia exatamente onde te tocar e com as respirações pesadas se misturando, você esqueceu do resto do mundo.

Quando se deu conta, Tetsuro te imprensava contra a parede da sala e vocês descontavam toda a confusão dos últimos meses num beijo molhado. Você ainda chorava um pouco, mas se agarrava ao hálito de menta dele como se fosse morrer amanhã. Passou tantas noites imaginando esse reencontro, pois mesmo que odiasse a situação em que ele te colocou, você amava Tetsuro Kuroo como ninguém. Ele era o dono das suas primeiras vezes e descobrir que não foi rejeitada, fazia com que se sentisse menos culpada por ceder.

Você passou as unhas pelo abdômen definido dele, Tetsuro arfou na sua boca e ergueu os braços para te ajudar a tirar a camisa que ele usava. A diferença de altura de vocês era considerável, então Kuroo te pegou no colo e levou você até a cama dele sem separar o beijo. Ele abriu o zíper do seu vestido impaciente, descendo os lábios para o seu colo.

- Milagre que você não rasgou.- provocou, cercando o pescoço dele com dominância.

- Foi difícil. Você é gostosa pra caralho, sabia? - Kuroo sorriu ladino e você tentou limpar os resquícios de batom que sujaram o rosto dele.

Tetsuro brincou com o seu clítoris por cima da calcinha e as suas pernas tremeram em antecipação. Você arqueou as costas conforme ele afastou a renda para te dedar, atingindo o seu ponto sensível repetidas vezes. Kuroo praticamente te comia com os olhos, ficando mais duro a cada som que escapava da sua boca.

- Me fode logo.- segurou a mão dele, Tetsuro riu fraco e pegou uma camisinha na gaveta. 

Você aproveitou para arrumar o cabelo enquanto ele se livrava da calça moletom, soltando o rabo de cavalo que os últimos minutos destruíram. Kuroo esperou você terminar e te puxou pelo pescoço, iniciando um beijo lento. Tetsuro subiu o seu quadril com um travesseiro e te penetrou devagar para não machucar. Havia vezes em que você sentia dor no começo da relação e o fato dele ter lembrado fez com que quisesse chorar.

- Posso me mexer?- Kuroo intensificou o contato visual.

- Pode.- confirmou, a confiança transparecendo.

Tetsuro mantinha um ritmo constante, parecia gastar todo o autocontrole dele para deixar que se acostumasse de vez. Você agarrou o cabelo dele para sinalizar que queria mais e ele sorriu ladino ao acelerar as estocadas, segurando a sua cintura para te dar mais estabilidade. As suas unhas marcavam as largas costas, sentindo ele bater quase no seu útero. À essa altura, você estava tão encharcada que tudo era gostoso.

- Senti a sua falta, Tetsu.- você alisou o bíceps dele.

- Eu também...muita mesmo- Kuroo disse rouco, enfiando mais fundo em você- Volta comigo, [Nome].

O seu gemido ecoou como um "sim" e Tetsuro te beijou com ferocidade, você rebolava no pau dele tentando estender o prazer que revirava os seus olhos. Estava tão investida que demorou a perceber o seu celular tocando na sala, deviam estar fora há mais de 1 hora e Saeko com certeza já interrogou metade da festa atrás de você. 

- Quer atender?- Kuroo perguntou, apontando o queixo em direção a porta.

- Não.- respondeu ofegante.

As ligações não paravam e Tetsuro te virou com uma mão, jogando o travesseiro que estava no seu quadril para longe com a outra. Você gostava da facilidade em que ele te movia e uma parte sua se excitava em saber que precisava terminar logo. Kuroo te arrancava gemidos cada vez mais descontrolados nessa posição, você chegou a sentir pena dos vizinhos.

- Se ficar me apertando desse jeito, eu vou gozar.- Tetsuro puxou o seu cabelo como um aviso, você o ignorou e contraiu novamente- Filha da puta.

- Continua, Kuroo.- pediu manhosa, ele obedeceu entredentes.

Você estava tão perto...e pelo jeito, iam terminar juntos. Kuroo agora agarrava sua bunda com força enquanto se impulsionava para o orgasmo e você derretia naqueles lençóis. Quando acabaram, ele rolou pro lado para não cair em cima de você.

A poeira baixou e você começou a se vestir apressada, sem acreditar no que tinha feito. Transar com ele depois de descobrir sobre a overdose só provava que vocês eram uma bagunça. Era como se não conseguissem resolver nada sem sexo, nunca sobreviveriam a essa crise.

Você o amava, mas largar a Itália por ele seria um peso no relacionamento, uma mágoa que te afundaria assim que os conflitos aparecessem. Antes, não tinha perspectiva de realizar o seu sonho, hoje você possui uma passagem marcada e um emprego garantido. Esse reencontro te fez perceber que o que você viveu com Kuroo morreu no dia da sua formatura.

- O que foi, amor?- Tetsuro te fitou confuso.

- Tenho que ir.- você passou a mão pelo cabelo, nervosa- Isso...isso foi um erro.

- Eu não to te entendendo.- Kuroo levantou, se vestindo também- Achei que a gente tinha voltado, [Nome].

- Não...eu não posso jogar tudo fora. Por que você demorou tanto pra me procurar?! 

- Eu tava muito ocupado ficando limpo.- Tetsuro replicou, sarcástico.

- E ficou mesmo?- você não conseguiu frear a alfinetada.

- Sim.- ele cruzou os braços, ofendido.

- Por quanto tempo, Kuroo?- você franziu as sobrancelhas.

- Tá vendo, é por isso que a gente não funciona!- Tetsuro se exaltou, você se encolheu com a agressividade no tom dele- Você nunca acredita em mim.

- Eu vou voltar pra Saeko.- rumou até a porta- E vou de táxi, não me segue.

- Não...espera. Desculpa. Eu fui babaca de novo.- ele amansou a voz.

- Foi mesmo.- você destrancou a fechadura.

- Eu preciso de você, [Nome]- Kuroo agarrou na sua perna, o retrato da impotência- Eu só sai daquela clínica porque acredito no que temos. Você me faz uma pessoa melhor e eu prometo que, se me aceitar de volta, vou passar o resto dos meus dias te fazendo feliz aqui no Japão.

- Isso não é justo, Kuroo.- negou com a cabeça, atordoada.

- O que? Se o problema é dinheiro, eu já disse que financio o seu restaurante- Tetsuro questionou e você se irritou com a audácia dele de querer te comprar.

- Não diz que precisa de mim quando você foi embora e iria de novo. Todos os momentos especiais que passei com você não significam porra nenhuma comparados às suas drogas. 

Kuroo não conseguiu responder nada. No fundo, ele sabia que você tinha razão e nunca se odiou tanto quanto agora. O arrependimento queimou o seu peito assim que terminou de falar.

- Me perdoa, Tetsu.- você agachou, passando a mão pelo cabelo dele com carinho- Não sei o que deu em mim, eu não penso assim de você. É que...eu passei meses com raiva por ter ficado na sombra. Ser rejeitada daquele jeito quebrou muita coisa dentro de mim.

- Tudo bem, eu entendo de onde veio, [Nome].- Tetsuro admitiu, te abraçando para afirmar que não estava chateado- Mereci ouvir isso.

- Não, eu fui desnecessária.- você se aconchegou nele.

Kuroo exibia uma feição neutra, mas por dentro, a sua escolha de palavras o atingiu como uma facada. Conforme ele crescia, Tetsuro parecia ter uma certeza: quebrar era o que ele fazia de melhor. Desde os vasos importados de sua mãe quando brincava com a bola de vôlei pela casa às promessas que fazia para você. Precisava te deixar ir.

Ele sempre seria uma extensão dos traumas dele, alguém que inventa mentiras para suprir o vício quando a abstinência falasse mais alto e voltaria de joelhos na sua porta para reiniciar o ciclo. Kuroo te amava mais do que qualquer um, mas vocês nunca tiveram chance...estavam fadados ao fracasso desde o dia que Kuroo cheirou a primeira carreira dele.

No entanto, Tetsuro não tinha direito de estragar o seu futuro por um passado que só te afundava. Então, deixou que você se afastasse e levantou para pegar o celular. Kuroo ligou para a sua melhor amiga, que tinha enchido a caixa de mensagens dele à sua procura; você observou todo o processo com uma expressão confusa, ainda no chão. Saeko atendeu no segundo toque, gastando todos os xingamentos do dicionário antes que ele pudesse proferir uma sílaba sequer. Kuroo aguardou quieto e depois pediu que ela viesse te buscar.

- Ela vai me matar, não vai?- você deduziu que se tratava da sua melhor amiga e foi pro sofá.

- Acho que tenho prioridade na lista dela.- Kuroo coçou a garganta, tentando aliviar o clima.

- É, você vai primeiro.- deu ombros, seguindo a onda dele.

Vocês jogaram papo fora até Saeko buzinar na frente do prédio, evitando a despedida que tanto temiam. Não queriam arriscar infeccionar a ferida que já estava aberta. Kuroo sentia que devia, pelo menos, esses últimos momentos em paz à você.


-— quebra de tempo —-



Tetsuro Kuroo te assistiu ir embora e passou o resto da madrugada na varanda, sentado na poltrona de balanço que costumava dividir com você. Olhou para o céu escuro e reviveu a tarde que roubaram um vinho da adega do pai dele. Você bebeu ao ponto de se declarar com músicas, guiando ele pra varanda para fazer uma serenata completa. Lana Del Rey era uma das suas artistas favoritas e Pretty When You Cry estava no seu repeat há semanas.

"Todas as belas estrelas brilham por você, meu amor"

Ele riu com a lembrança e teve ainda mais certeza que você é a garota dos sonhos dele. Tetsuro jogou baixo ao te procurar na véspera da sua viagem, ele sempre soube que tinha muito mais a ganhar do que pra oferecer nesse relacionamento. Te perder era um dos maiores medos de Kuroo, porém, preferia ver você longe do que sofrendo as consequências dos vícios dele.

A questão era que sem você, a motivação dele praticamente desaparecia. Então Tetsuro nem se sentiu muito culpado em abrir a garrafa de uísque que escondia no topo do guarda roupa, e se embriagar com a ideia de que esperar por você era tudo o que ele podia fazer.




nota da autora:

não esqueça de votar e comentar, por favor


apesar do final trágico, estou orgulhosa do meu primeiro desafio na rebelião dos autores! sempre quis mergulhar em tópicos mais pesados, mas tinha receio de não ter habilidade o suficiente pra desenvolver com o cuidado necessário.

pegar essa música da lana veio como uma oportunidade de ampliar meus horizontes na escrita e o resultado superou minhas expectativas. pensei que não ia passar das 2 mil palavras e acabei com quase 5 mil. então, espero que tenham gostado da história tanto quanto eu.

não deixem de apoiar a rebelião seguindo a nossa conta e lendo os trabalhos das outras brilhantes autoras <3 tenho certeza que não vão se arrepender.

por último, queria pedir uma ajudinha...meu cover de "all too well" saiu há uns dias e o algoritmo não entregou pra ninguém. se puderem assistir, ficaria feliz demais. anexei ele na capa desse capítulo, desde já, muito obrigada!!


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