Capítulo 8 - Dose Dupla
Ariel havia chegado há pouco de viagem, estava visitando a mãe e a irmã no interior nos dias de recesso escolar.
Cibele praticamente não o deixara respirar pedindo, ou melhor, implorando para que ele ficasse uns dias na cidade, mas não seria tão fácil assim. Ele ainda estava um tanto ressentido com as atitudes da irmã na festa de aniversário de uma amiga dela. Portara-se tão levianamente, que por um pouco ele não a levou arrastada dali, mas, ao contrário disso, levou-a a um lugar reservado e lhe deu um sermão, só esperava que ela tivesse ouvido ao menos uma parte.
Antes de voltar, havia tido uma longa conversa com a mãe, porque ela precisava mudar de atitudes em relação à Cibele. Sua mãe não tinha culpa da morte de seu pai, pois tal acontecimento havia sido um acidente. Ninguém imaginaria que o pai, tão experiente e cuidadoso, fosse sofrer um acidente com o trator na fazenda onde prestava serviços como Engenheiro Agrônomo. Infelizmente foi uma fatalidade!
Estando Cibele com a idade de 6 anos, a mãe se sentiu mal por ela ser tão pequena e sentir falta do pai que começou a mimá-la, tentando compensar a ausência do progenitor. Porém, por mais que tivesse se esforçado para isso, Cibele acabou crescendo com uma ideia equivocada e agora, aos 16 anos, a moça não conhecia limites. O fato de Ariel ter saído de casa para estudar foi um complicador, pois a mãe era muito condescendente com a sua irmã. Ele, como irmão mais velho, agia como suporte e norteador para Cibele, mas infelizmente apesar de tentar, era difícil conter o ímpeto da irmã caçula que geralmente tinha a aquiescência da mãe.
Enquanto pensava nisso, o loiro balançou a cabeça e pediu mais uma vez ao Senhor pela vida da mãe e da irmã, para que as guardassem na Sua presença. Ele sabia que a curiosidade juvenil aliada à crueza espiritual podiam ser muito nocivas.
Ariel terminou o banho e se aprontou com esmero, havia combinado com Matheus e ambos iriam no culto onde um amigo, que era líder de jovens da igreja, os tinha convidado para a reunião. Ele já havia pregado lá algumas vezes e aos poucos a lembrança da última vez que lá estivera voltou à sua mente: a jovem chorando, cujo rosto havia achado semelhante ao da Rebecca.
Era tão gratificante para o loiro pensar em Rebecca e não sentir mais a aquela ferida aberta como há alguns meses. Ariel ainda sentia dor, mas sabia que o Pai estava tratando com bálsamo e aliviando devagar.
Ele suspirou enquanto ajeitava a gravata e saiu do quarto encontrando Matheus já pronto aguardando-o sentado na sua poltrona.
- Finalmente a noiva ficou pronta. - Matt debochou ao ver o amigo.
Ariel revirou os olhos, mas sorriu. Sabia que não estavam atrasados, pois a pontualidade era um hábito que sempre buscou cultivar: herança do senhor Leandro, seu pai. "Filho, a pontualidade faz parte do caráter cristão, pois demonstra respeito e consideração pelo próximo." Uma das pérolas que Leandro Oliveira sempre distribuía onde quer que estivesse.
- Há quanto tempo você está aí? - perguntou Ariel observando os dedos impacientes do ruivo baterem sincronizados no encosto da poltrona.
- Há quase vinte... - ao ver a sobrancelha erguida do amigo, deu uma risadinha e tratou de reconsiderar - Quase vinte segundos. Acabei de chegar.
- Imaginei, você não é do tipo que consegue esperar pacientemente. Coitado de você quando for se casar, se a noiva se atrasar, estará perdido! - comentou o loiro rindo, apontando em seguida para o amigo - E você ainda está com a camisa sem nenhum friso, então...
Mattheus achou graça no espírito investigativo do amigo.
- Qual é, Sherlock! Vai ficar me analisando agora? Vamos acabar nos atrasando de verdade!
- Não. Já estou pronto, vamos.
Saíram em direção ao carro de Ariel, fato previamente acordado entre ambos, e foram em direção à igreja.
- Algo me diz que será um dia especial hoje - Matheus disse após um tempo em silêncio.
Ariel apenas o olhou de soslaio e voltou a atenção ao trânsito. Assim que chegaram num sinal fechado, olhou para o amigo.
- É um instinto ou um desejo particular que isso ocorra? - quis saber o loiro.
Por um momento, o ruivo nada respondeu. Acariciou devagar a barba rala e ponderou.
- Acho que instinto. Sinto algo diferente!
- É porque estamos indo adorar a Deus. Tem que ser único e especial - disse Ariel enquanto Matt revirava os olhos.
- É óbvio, senhor Ariel Oliveira. É óbvio, mas tenho certeza que você entendeu o que eu quis dizer.
Ariel nada disse, mas seu sorriso demonstrou que o ruivo tinha razão. Logo retomaram o caminho até chegarem à igreja. Assim que estacionou, Ariel admirou a fachada do templo, fechou os olhos e sua mente voltou à última vez que esteve ali. Imediatamente aquele rosto voltou com clareza impressionante em seus pensamentos. Não soube quanto tempo ficou ali, naquele devaneio, mas foi interrompido pela cutucada nada discreta que o amigo lhe deu.
- Vamos mesmo nos atrasar hoje? - perguntou Matt impaciente.
O loiro balançou a cabeça afastando os pensamentos e entraram no templo. Era a primeira vez que Mattheus comparecia ali. O jovem Ricardo, amigo de Ariel que liderava os jovens dali, havia conhecido Mattheus há algumas semanas e o havia convidado para ministrar louvor naquele dia.
Chegaram e se acomodaram no meio da nave da igreja, dobraram seus joelhos e agradeceram ao Senhor pela oportunidade de estar ali, para adorá-lo juntamente com aquela congregação.
Quando se levantaram, uma jovem se aproximou deles e Ariel notou tratar-se da mesma da outra ocasião. Percebeu quando ela o reconheceu e novamente o intimou para sentar-se com a juventude.
O loiro pigarreou olhando em direção ao amigo e a moça ao relancear o olhar na direção do Mattheus, arregalou os olhos e ficou vermelha. Ariel achou graça da situação, mas não quis demonstrar nada para não constranger ainda mais a moça.
- Qual o seu nome? - perguntou tímida, diferente da moça despachada que recepcionava com segurança aos visitantes. Ariel não resistiu e levantou a sobrancelha em direção ao ruivo.
- Mattheus Durães, eu vim... - não conseguiu terminar, pois a moça bateu com a mão na testa e o interrompeu.
- Matheus, o cantor. Que descuido o meu, me perdoe. Você também deve me acompanhar até o grupo de jovens. Desculpe-me novamente.
Rapidamente ela os conduziu para seus lugares previamente reservados e os deixou ali com outros rapazes. Ricardo, ao vê-los se aproximando, foi encontrá-los e cumprimentou-os efusivamente, ratificando a alegria de tê-los ali.
Durante o culto Ariel fez questão de olhar em direção à nave da igreja para ver se conseguia visualizar aquela jovem novamente. Não que estivesse interessado, dizia a si mesmo, apenas por curiosidade.
Infelizmente não a encontrou. O rapaz sentiu-se um tanto decepcionado, mas ignorou o sentimento. Num certo momento do culto, foi convidado a trazer uma saudação. Ele subiu pressurosamente, para não desperdiçar tempo, cumprimentou a igreja e leu Filipenses 4.7,8.
"E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus. Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai"
Assim que levantou os olhos para explanar rapidamente acerca dos versículos lidos, direcionou seu olhar ao grupo de jovens presentes ali e surpreso percebeu que a jovem estava ali, no meio deles.
Sem deixar que a surpresa o distraísse, falou o que precisava e desceu do altar. Ao sentar-se, o loiro vislumbrou os cabelos da moça - que graças ao Henrique sabia que se chamava Celeste - alguns bancos à frente do seu.
Ele não soube precisar o momento, mas percebeu que a moça que estava ao seu lado olhou rapidamente em direção a ele e o Matheus, para em seguida dizer algo para a Celeste que balançou negativamente a cabeça. O loiro não sabia o que esperava, mas torcia para que ela lançasse um olhar em sua direção, o que definitivamente não ocorreu.
Matheus foi convidado a ministrar o louvor e a atenção do Ariel voltou para o culto e lá permaneceu até o final.
Terminando o culto, Ariel não perdeu tempo, foi diretamente em direção à moça que havia despertado a sua atenção. Não queria parecer invasivo e pelo caminho ia cumprimentando os jovens que estavam ao seu redor. Assim que se aproximou das duas moças que pareciam estar juntas, o loiro as cumprimentou.
Percebeu que Celeste não o havia visto e notou que a sua amiga, após dar-lhe um aperto de mão, cutucou a moça para que se voltasse na direção do rapaz. Assim que o fez, Celeste olhou-o atentamente e arregalou os olhos, parecendo reconhecer o loiro.
- Olá! - disse o Ariel estendendo a mão na direção dela - Sou o Ariel. Acho que já a vi na faculdade, ou estou enganado? - perguntou como quem não quer nada.
Por um momento, a morena apenas olhou a mão estendida em sua direção e Ariel pensou que ela não o responderia. Mas após alguns segundos, ela o olhou nos olhos e retribuiu o gesto.
- Sou a Celeste e esta é minha amiga Isabella. Sim, pode ser. Eu já o tinha visto quando pregou aqui uma vez, mas não me lembro de tê-lo visto na faculdade - colocou a mão no queixo, fitando-o atentamente como se buscasse a memória na mente.
Antes que o jovem pudesse responder, uma mão apareceu do nada na direção da Bella e a voz do Matheus se fez ouvir:
- E eu sou o Matheus, mas podem me chamar de Matt! - falou sorrindo sem tirar os olhos da moça, que o encarava de igual forma.
Ao ver que os dois não quebravam a conexão, Ariel revirou os olhos e se viu flagrado pela Celeste que o olhava divertido. Ambos olharam em direção aos amigos e dando os ombros, se afastaram juntos, achando graça da situação, deixando os dois envolvidos no que parecia uma bolha particular.
Ei, pessoinhas!
Surpresa na madrugada, mas afinal é terça-feira, dia de PDC!
Estávamos ansiosas para este encontro, nos digam o que acharam.
Beijos e até sexta!
Produção PDC
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