Capítulo 5 - Ela é diferente
O semestre se aproximava do fim e o Ariel estava tranquilo com seu desempenho. Tinha se saído bem em todas as disciplinas e estava a poucos passos de se formar, mas estava com uma pequena pendência com uma disciplina e segundo orientações da professora de Estágio Supervisionado, seria interessante para sua carreira fazer um estágio numa firma de advocacia. Não seria o Estágio Obrigatório, pois já o tinha concluído numa Agência Jurídica vinculada a sua faculdade, que atendia aos menos favorecidos enquanto seus alunos exercitavam a prática jurídica.
Ele se lembrou da conversa com a professora, que indicou-lhe algumas firmas que estavam com programa de trainee para estudantes de Direito. Uma em especial chamou a sua atenção, inclusive ele tinha a impressão que conhecia o pessoal de lá. Resolveu não tomar nenhuma decisão, mas marcou a empresa que havia parecido propícia e claro, iria pedir orientação ao Senhor, como o fazia em tudo em sua vida.
Mesmo crescendo frequentando a igreja com seus pais, vendo o exemplo de homem de Deus e mulher de oração em casa, ele precisou sentir na pele a necessidade de um contato mais íntimo com o Senhor. Com sua experiência pessoal com o Pai, havia entendido que Deus estava no controle de tudo, inclusive de sua vida, e que seus passos deveriam ser guiados pelo Senhor e sua vida dedicada a Seu louvor.
Ao sair do quarto, deparou-se com o Matheus sentado no sofá, dedilhando distraído o seu violão e cantarolando baixinho uma música. Ariel encostou-se no batente da porta e ficou observando o amigo, imaginando tudo que ele havia passado enquanto morava com os pais e como devia se sentir solitário às vezes. Ele havia deixado a família para morar com o amigo devido às constantes implicâncias de seu pai pela sua fé.
Alguns minutos depois, o amigo levantou o olhar e viu-o ali parado a observá-lo e deu um sorriso triste.
— Pensando na sua família, Matt? — disse Ariel se aproximando e sentando-se na poltrona em frente ao seu amigo.
Matheus suspirou e deixou o violão de lado.
— Bem, não tem como não pensar. Meu pai me ligou há pouco me intimando a comparecer no almoço de família amanhã, disse que tem uma proposta a me fazer.
— E você vai? — Ariel quis saber.
— Ainda não sei. É certo que a minha mãe ficará muito feliz com a minha presença no tradicional almoço da família Durães Silva, mas meu pai...nem quero imaginar o tipo de proposta que ele me faria a esta altura.
Ariel colocou as duas mãos juntas, unindo os indicadores e batendo suavemente com eles nos lábios. Ficaram em silêncio por um momento.
— E está tudo bem com você? Reparei que está muito calado ultimamente... ainda pensa muito naquela moça com quem estava orando? — Matheus falou enquanto observava o semblante taciturno do amigo.
— Com a graça de Deus ficarei melhor, mas não estou pensando na Rebecca. Pensava num advogado que ministrou uma palestra para nossa turma no ano passado, lembra? O Doutor Miguel Bretas...
— Acho que sim... mas por que seus pensamentos estão nele? Você o viu recentemente?
— Não... eu estou pensando nisso há alguns dias já. Sinto o Espírito Santo me incomodando, mas quando faço planos de ir visitá-lo mesmo no escritório, Ele muda minha direção. Estou aguardando, mas isso não me sai da cabeça.
— Obedeça, então, Ariel! E não fique ansioso, Deus tem o tempo certo para tudo.
— Com certeza, com certeza! Vamos colocar esses assuntos na nossa oração de hoje a noite, que tal?
— Esses? Qual o outro? — quis saber o ruivo.
— Como assim qual o outro? A intimação do seu pai para o almoço de amanhã. Confia no Senhor, Matt, Ele está no controle de tudo.
O amigo anuiu e ainda ficou pensativo por um momento.
— E não podemos esquecer da nossa causa especial — disse num rompante o ruivo.
— Sim, nossa causa especial — o Ariel entendeu logo do que se tratava — O trabalhar de Deus vai ser tão lindo na vida do Henrique que quando ele perceber, já estará dando glórias a Deus e Aleluias conosco.
Mattheus riu da brincadeira do amigo, mas intimamente pedia a Deus que salvasse o Henrique, que por fora parecia tão forte e arrogante, mas era uma alma sofredora e muito valiosa para Deus.
O domingo passou sem muitas surpresas, o Ariel ligou para a família: sua mãe e irmã. Sentia muita saudade delas, por muito tempo foi um amparo emocional para as duas, mesmo tendo recebido o encargo tão cedo, mas o Senhor até ali os estava ajudando.
— Filho, sua irmã está insistindo para ir visitar você, que você prometeu levá-la não sei onde é que como está quase formando, já vai analisando as opções aí na capital. — A mãe disse mais uma vez e ele tentou não revirar os olhos.
— Ela insiste sempre, mãe, mas não podemos ceder. Eu moro com o Matheus, não seria prudente hospedá-la aqui. Sabe como a Cibele reagiu quando meus amigos estiveram aí em casa, lembra? — inquietação e indiscrição foram o ponto alto das atitudes da irmã adolescente, sendo razoável.
— Eu sei, meu amor. Jamais permitiria isso. Mas você poderia organizar um final de semana, um domingo que fosse para ver se ela se acalma um pouco — tentou negociar a mãe.
— Prometo pensar em algo, mas não creio que seja a melhor atitude a tomar. Inclusive se, e é um enorme se, eu concordar com isso, será nos meus termos e não terá negociação quanto a isso, tudo bem? — falou imaginando que teria que arranjar um jeito para atender ao pedido da mãe sem deixar a irmã tão à vontade para seu próprio bem.
A mãe concordou e após mais alguns minutos de conversa, encerrou a ligação. Ficou ali, por um tempo, pensando no quanto a perda de seu pai afetou toda a família de formas diferentes. A mãe era uma linda mulher, que mesmo tendo enviuvado tão nova não quis contrair novas núpcias. Como o primogênito ele sabia que não fora por falta de opção. Mas a prioridade da mãe era os filhos e ele não sabia o que pensar acerca disso.
No outro dia, saiu mais cedo de casa para ir devolver alguns livros na biblioteca da faculdade.
Ao entrar na sala, viu que Henrique já tinha chegado e estava com um semblante suspeito enquanto teclava no celular.
Aproximou-se devagar do mesmo, planejando surpreendê-lo, mas o amigo levantou o olhar justo no momento em que o Ariel estava mais próximo.
— Tentando me pregar uma peça de novo, Ariel? Você não é silencioso o suficiente — disse as últimas palavras com o olhar novamente no celular.
— Sim, mas eu sempre tento, vai que numa dessas eu consigo.
Sentou-se e enquanto se acomodava, percebeu que seu amigo sorria enquanto manuseava o celular.
— Garota nova no pedaço, Henrique? — ao ver a expressão confusa do amigo, Ariel apontou para o aparelho celular — Está teclando aí desde que cheguei e o sorriso em seu rosto é muito suspeito...
Ariel mal terminou de pronunciar essas palavras e foi interrompido pela gargalhada do amigo. Não pôde se furtar de sorrir com ele.
— Por que você acha que tem a ver com mulher? — Henrique indagou com o sorriso torto no rosto.
Ariel apenas cruzou os braços e ergueu uma sobrancelha. Imediatamente Henrique levantou os braços como quem se rende.
— Eu sei, eu sei! Já estou tão previsível assim?
— Sou seu amigo, Henrique. Natural que o conheça pelo menos um pouco. Mas me diga quem estava colocando um grande sorriso no seu rosto, fiquei curioso.
Henrique se aproximou do amigo como quem conta um grande segredo.
— Ela é estudante de administração. Pensa numa gata... — já ia começar descrevendo os atributos físicos da garota, mas Ariel fez um gesto com a mão pedindo para não prosseguir.
— Calma, não preciso desse tipo de detalhe. Pelo visto aquela garota de Direito que estava tirando seu sono já é coisa do passado.
Assim que disse essas palavras, Ariel percebeu o semblante do seu amigo mudar. Ele parecia... triste?
— O que houve, Henrique? Disse algo errado? — Ariel perguntou preocupado.
Antes que o amigo pudesse responder, o professor entrou na sala e não puderam mais continuar o assunto.
No intervalo, saíram da sala e encontraram com Matheus. Como de costume, seguiram para a área comum de convivência. Lá chegando, o Henrique foi direto ao assunto:
— Caras, ela é perfeita, mas quase não consigo vê-la mais. Como se não estudasse mais aqui. Tento falar com ela há meses, até descobrir seu nome...
— Como ela se chama? — quiseram saber os amigos.
— Ela se chama... — Antes que concluísse sua fala, Henrique arregalou os olhos, mirando em algo atrás dos amigos.
Imediatamente o ruivo e o loiro olharam na direção em que um mudo Henrique olhava tão atentamente.
Antes mesmo de ver de quem se tratava, Ariel sentiu algo diferente. Percebeu o motivo quando viu a moça sentada a uma distância considerável deles.
Era a moça que ele havia visto na igreja!
Enquanto Ariel tentava assimilar a coincidência da presença dela ali, Henrique passou a mão nos cabelos, soprou na palma da mão e cheirou para detectar se o hálito estava ok e começou a ir em direção à moça.
Antes que o amigo se afastasse mais, Ariel caiu em si e percebeu que seu amigo mulherengo estava indo jogar seu charme para a moça que estava cultuando ao Senhor tão entregue e sentiu que não podia permitir.
De repente, Ariel segurou o braço do Henrique, impedindo-o de prosseguir. Ao notar a mão do amigo em seu braço, Henrique olhou-o com uma pergunta no olhar.
— Não faça isso, Henrique. Por favor!
— Por que não? Agora que a viu, decidiu que a quer pra você? — debochou o moreno.
— Não é isso. É que ela é... diferente. Não a envolva em seus joguinhos. — Implorou o loiro.
— Você a conhece?
— Sim, quero dizer, não exatamente, mas...
Antes que o Ariel concluísse o que ia dizer, o amigo puxou o braço com força.
— Que bom então que ela é diferente, já estou cansado do mesmo de sempre.
Seguiu firme em direção à moça e no momento em que o Ariel ia novamente tentar impedi-lo, foi retido pelo a Matheus.
Ao olhá-lo inquisitivamente, o loiro percebeu o intento do amigo. A muito contragosto ficou observando à distância enquanto o amigo se aproximava da moça, percebendo a sutil rejeição na linguagem corporal dela e exultando internamente com isso.
Ele permaneceu, juntamente com o Matheus, atentos a interação dos dois para intervir prontamente, caso fosse necessário.
Hoje é sexta-feira, Huhuuuullll - Dia de PDC!
E claro, cá estamos com o capítulo 5.
O Henrique xavecando a Celestes hein?! Acho que isso vai dar pano pra manga, o que vcs acham?
Bjs,
Equipe PDC
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