Capítulo 28 - Mulheres do Ariel

Depois daquela noite conturbada, seguido do dia intenso, a última coisa que Ariel pensava era em lidar com aquela situação.

— Ariel, meu filho! Que bom que você chegou!

— Mãe? Aconteceu alguma coisa? — o coração do loiro estava disparado, sem saber o que pensar da presença da sua mãe em sua casa, sem avisar.

Rapidamente, correu ao encontro da mãe e ao abraçá-la, se sentiu tão seguro envolto nos braços de sua progenitora que por um momento não pensou em nada. Mas logo a urgência de sua presença o atingiu e afastando-a um pouco, enquanto segurava em seu rosto e olhava fixamente em seus olhos, ele quis saber.

— Mãe! Está tudo bem? Aconteceu algo para vir me visitar assim de repente, sem avisar? — inquiriu ele.

— Sem avisar? Filho, eu só vim porque você concordou. — ao ver os olhos confuso do filho, a testa da mãe se franziu, ela semicerrou os olhos e se voltou em direção à responsável por aquele mal entendido. — Cibele Fernanda de Oliveira! Pode me explicar por que o seu irmão não tinha ideia da nossa vinda?

Olhando ao redor, Ariel viu a irmã sentada ao lado de um sem graça Matheus no sofá, com um sorriso que ele já conhecia como o da espertinha que sempre tentava enrolar a todos para se dar bem.

— Ari! Meu lindo irmão! Estava com tantas saudades! — levantou-se e foi em direção ao irmão para abraçá-lo.

Mesmo querendo explicações, Ariel abraçou a irmã, mas logo quis saber.

— Bele, não acredito que você inventou uma história para a mamãe apenas para vir aqui! Quantas vezes já conversamos sobre mentir para alcançar seus objetivos? — a irmã baixou o rosto, envergonhada por um momento. — Me sinto muito decepcionado, muito mesmo.

Imediatamente a irmã começou a chorar.

— Desculpe, Ari! Eu queria tanto vir aqui ver você e passear, não pensei muito na hora! Sei que é errado, mas você pode me culpar? Nossa cidade é tão chata, não tem nada de novo e você não estava querendo marcar um dia para eu vir! Mas tudo bem, você não queria que eu viesse, afinal, sou a irmã que só decepciona, não é mesmo? — Matheus revirou os olhos, sentado no sofá. Os dramas da adolescente já eram famosos.

— Cibele! Chega, chega! Sente-se e vamos conversar muito seriamente! A situação de hoje mostra claramente que você ignora todos os limites! — disse exasperado Ariel.

Matheus, visivelmente aliviado, levantou-se do sofá e dirigindo-se a ninguém em particular, disse:

— Opa, esta é a minha deixa. DR de família não é a minha praia, fui! — virando-se em direção à mãe do Ariel. — Dona Olívia, não deixe Ariel pegar muito pesado com Cibele, ele tem estado com seus limites testados ultimamente. Ah! E seja bem vinda! Nos falamos depois.

Nem bem terminou de falar e saiu apressado, como se ali fosse o último lugar onde ele poderia querer estar.

Assim que o Matheus deixou o recinto, Ariel respirou fundo algumas vezes antes de se virar em direção à mãe.

— Então, mãe! Me diga o que houve. — Antes que a mãe dissesse alguma coisa, Cibele ameaçou se levantar e falar, mas a um gesto do Ariel percebeu que não seria uma boa ideia e voltou a sua posição inicial.

A sua mãe, contrita, começou o relato.

— Sua irmã me disse eufórica que havia conseguido te convencer a deixá-la vir. Eu não podia acreditar e tentei te ligar para confirmar, mas seu telefone chamava e não atendia. Mandei uma mensagem, mas você não respondeu. Belle estava quase me enlouquecendo, dizendo que precisávamos vir antes que você mudasse de ideia e, bem, você sabe como ela é insistente. Portanto, cá estamos nós. Me desculpe, filho! Eu deveria ter sido mais firme com ela.

— Não se preocupe, mãe, não precisa se desculpar. Conheço a irmã que tenho — disse isso olhando firme em direção à irmã. — Mas a senhora disse que ligou e eu... — o loiro estava verificando o celular naquele momento e viu três ligações perdidas da mãe. — Nossa, eu realmente não vi as ligações! Eu que peço desculpas. Mas quanto a mensagem, estou verificando e não recebi nenhum mensagem.

Confusa, a mãe pegou o próprio aparelho para mostrar ao filho a mensagem enviada.

— Aqui, filho! Te mandei a mensagem, olha só.

Ariel aproximou-se da mãe para verificar a mensagem que ela lhe mostrava no telefone e riu sem poder acreditar: a mãe havia digitado a mensagem, mas não chegou a enviá-la, ela estava na Caixa de saída!

— Ah, mãe! A senhora não enviou a mensagem, veja — mostrou à sua mãe, que ficou com o rosto claro muito rubro.

— Meu Deus! Nem acredito nisso! Desculpe filho, quando eu penso que sei lidar com essas coisas, me surpreendo! — Ariel balançou a cabeça e abraçou a sua mãe.

— Não se preocupe, dona Olívia! Eu entendo, não é culpa sua, talvez fosse mesmo importante a sua presença aqui hoje... — O loiro suspirou, enquanto a mãe colocava a cabeça do filho em seu colo e acariciava seus cabelos, como fazia quando era criança.

— Está tudo bem, meu filho? Sei que você se tornou responsável tão cedo, precisou crescer antes do tempo e tem dificuldades de se abrir. Mas saiba que eu estou aqui para o que precisar, ok? — dizia baixinho sua mãe, fazendo carinho no filho mais velho.

Ariel, por um momento, apenas ficou com os olhos fechados, imaginando que a vida era tão simples como quando era criança. Mas sua relativa tranquilidade durou pouco, pois logo a sua irmã inquieta onde estava de castigo se levantou.

— Esqueceram de mim aqui? Você tem que admitir que foi uma ótima ideia a gente ter vindo, né, Ariel? E nem foi uma mentira tão grande assim! Não dá para relevar? — perguntou Cibele com as mãos na cintura, sentido-se dona da razão.

Ariel entendendo que seu pequeno momento sob os cuidados maternos havia finalizado e novamente deveria voltar a ser o adulto responsável, cheio de problemas e com uma adolescente malcriada para lidar, suspirando frustrado, levantou-se passando as mãos pelo cabelo e dirigiu-se à sua irmã.

— Cibele, entendo a sua vontade de vir pra cá, mas não era um bom momento. Eu estou no final do semestre, fazendo estágio e passando por tantas outras situações — neste momento o loiro não pôde evitar que a sua mente fosse até a Celeste. — E não teria como eu dar a atenção que você merece. Sua ansiedade não justifica ter mentido para a mamãe! Não existe mentira grande ou pequena, mentira é mentira! Você é tão inteligente, mas não consegue entender que há momento para tudo e que mentir para conseguir o que quer pode te colocar em situações complicadas? Mentir nunca é a solução, sem contar que vai contra a Palavra de Deus, que é a Verdade! Você me entende, Belle? — perguntou mais calmo, enquanto a moça, envergonhada, mantinha a cabeça baixa.

— Desculpe, Ariel! Eu... eu não pensei em nada, apenas fui impulsiva — o loiro revirou os olhos porque não era nenhuma novidade a impulsividade da irmã. — Me perdoa? Por favor! — perguntou com lágrimas nos olhos.

Ariel hesitou por um momento, para dar a adolescente um vislumbre de suas ações e das consequências dela, que inclusive resultariam na decepção de seus entes queridos, mas logo rendeu-se.

— Vem cá, dê um abraço no seu irmão — a irmã correu feliz para seus braços, mas após alguns segundos Ariel afastou-a um pouco e olhando nos seus olhos, foi incisivo. — Eu te perdôo, mas por favor, não quero mais saber de mentiras, mocinha! Porque pode acabar com a perda da nossa confiança em você e tenho certeza que você não quer isso, certo? — ao ver irmã assentir vigorosamente a cabeça, voltou a abraçá-la. — Ótimo!

A mãe sorriu ao ver os dois filhos se abraçando. Ela sabia que a caçula podia ser difícil, tão diferente do primogênito que sentia que tinha que resolver tudo, ser responsável e cuidar das duas. Por um breve momento em que ela o sentiu em seu colo, ela, como mãe, percebeu que havia algo não resolvido, que deixava o filho preocupado.

— Ariel, Cibele! Venham cá, vamos conversar um pouco, colocar o papo em dia! — disse Olívia apontando para o seu lado.

Os dois filhos imediatamente foram ao seu lado e o loiro atualizou-as dos últimos acontecimentos, deixando de fora, claro, seu encontro com o advogado Tiago naquele dia e sua conversa com seu chefe, Juca.

Sem saber porque, os pensamentos do loiro foram em direção à morena que devagar e talvez sem perceber, tornara-se tão importante na sua vida. Ali, rodeado das mulheres da sua vida, sentiu o peito aquecido ao perceber com a Celeste somaria àquela reunião.

De repente, o telefone tocou e ao olhar na tela Ariel surpreendeu-se ao ver que se tratava da Celeste. Pareciam em conexão!

Ariel pediu licença e atendeu.

— Celeste! Tudo bem? — perguntou um tanto ansioso.

— Oi, Ariel! Desculpe ligar a essa hora, só queria me certificar que estamos prontos para a apresentação amanhã e pedir desculpas novamente por não ter colaborado tanto no trabalho nas últimas semanas...

— Pára, Celeste! Eu mais que ninguém sei do que você estava passando e mesmo que você ache pouco, você ajudou sim! Estamos prontos para a apresentação, mas se quiser podemos combinar de chegar mais cedo para a gente repassar.

— Sim, acho uma ótima ideia! Mas por que amanhã? — quis saber a jovem, que ia sugerir que ele fosse até a faculdade para repassarem o trabalho. Ela teria ainda mais uma aula e poderiam estudar na Biblioteca do campus.

— Então, meio que minha família chegou de repente e estou tentando resolver a questão da hospedagem delas. — Disse Ariel baixo para que as duas não ouvissem.

— Sua família? Sua mãe e sua irmã? E por que elas não podem ficar na sua casa? — Celeste não entendia.

— É complicado! Matheus agora mora comigo e minha irmã é meio inconsequente, não seria legal, já que não fico em casa a maior parte do tempo. — falou quase sussurrando.

— Entendo! — disse a moça meio constrangida por tê-lo feito confessar aquilo acerca da irmã. Mesmo tendo falado sobre ela e suas "armações", era estranho. — O que você pretende?

— Bem, não tenho muita certeza. Queria sugerir uma pousada aqui perto, mas mesmo assim seria complicado. — Ariel passou a mão pelos cabelos, sem saber o que fazer — Estou meio perdido quanto a isso.

Celeste teve um ideia, mas ficou com receio de sugerir e parecer invasiva. Ariel era muito protetor com relação à sua família e muito discreto. Suspirando, um ato súbito de coragem, fez a proposta.

— Ah... se quiser, elas podem ficar aqui em casa. A Raquel voltou para os pais, eu não estou trabalhando ainda... er, bem, vai ser bom para eu não ficar sozinha em casa. Elas vão me fazer companhia...

Os olhos do loiro se arregalaram pela sugestão e brilharam pela generosidade de sua amiga. Amiga que fazia seu peito se aquecer, mas ainda uma grande amiga.

— Celeste, jamais poderia pedir isso a você...

— Não se preocupe, Ariel. Você não está me pedindo nada, fui eu quem deu a ideia. — Ela foi incisiva.

— Hum, me sinto desconfortável de impor a presença delas a você e minha irmã pode ser bem impetuosa... — ainda tentou ele.

— Para com isso, Ariel! Estou fazendo uma oferta de coração. Vai ser bom pra mim também, não ficar sozinha depois de tudo que aconteceu. Vai me distrair um pouco.

— Não sei... tem certeza que não será uma imposição para você? — foi sua última tentativa.

— Claro que não! Não se preocupe!

— Tudo bem! — concedeu ele. — Vou conversar com elas e as levo para sua casa, ok? — Celeste vibrou internamente, mas não conseguia entender porque aquilo era tão importante para ela.

— Está bem, espero vocês! Ainda bem que minha geladeira está abastecida, estou à espera de vocês.

Ariel desligou o telefone e ficou ali ainda por algum tempo olhando para o aparelho e se perguntando o que teria feito para merecer uma pessoa tão incrível como a Celeste em sua vida. Saindo de seu devaneio, seguiu em direção à sua mãe e irmã para informar-lhes da combinação acerca da hospedagem das duas. No fundo, torcia para que as três se dessem bem, isso seria quase que... balançou a cabeça, deixando a ideia em repouso.

Uma hora depois, estacionaram em frente ao prédio da Celeste. Suas duas vidas se chocando e misturando e o loiro estava se sentindo muito bem com isso!

Olá, cá estamos com o capítulo extra desta semana!

O que foi isso, minha gente? Esse arranjo da mãe e irmã do Ariel na casa da Celeste vai dar certo?

Nos vemos na quarta.

Produção PDC



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