Capítulo 26 - Irai-vos e não pequeis

 Ariel estava muito irado, andando de um lado para o outro como um leão enjaulado! Seus pensamentos eram conflitantes e ele tentava a todo custo se lembrar que deveria se acalmar, mas era em vão. Nunca em sua vida fora violento ou rancoroso, mas naquele momento estava sentindo uma raiva muito grande e isso o deixava numa miscelânea de sentimentos, mas não podia evitar.

Diante da Celeste, esforçou-se e conseguiu demonstrar uma calma que absolutamente não possuía. Apesar das mãos encrespadas o tempo todo, o coração acelerado e aquele sentimento de impotência diante da forma que aquele, aquele... incircunciso agia em relação à Celeste, ele conseguiu se mostrar impassível. Após a conversa que tiveram, ele não se demorou no apartamento das amigas e logo se despediu.

Ao entrar no seu carro, passou a mão pelos cabelos diversas vezes, frustrado. Respirou fundo tentando manter a calma e dirigiu até a sua casa. Assim que entrou, as palavras da Celeste voltaram com tudo à sua mente e ele não conseguiu mais fingir que não estava sendo afetado pelo relato da moça.

Ele estava assim, inquieto e sentindo-se um inútil por não poder proteger a Celeste, fazendo com que aquele sentimento de vulnerabilidade dela desaparecesse, quando Matheus chegou. De imediato, o ruivo não disse nada, além de ficar estático ainda com a mão na maçaneta da porta, observando aquela cena. Ele estava perplexo, pois do tempo que em que conhecia o loiro nunca o havia visto em tal inquietude. Sem saber como reagir, Matt finalmente entrou na sala, foi até a cozinha, tomou água e retornou percebendo que Ariel nem o tinha visto entrar.

Ficou ali ainda, por uns momentos em silêncio, aguardando. Como o loiro ainda parecia fora de si, Matheus resolveu se fazer notar. Pigarreou; nada. Pigarreou novamente; nada ainda. Num ato infantil, ele voltou até a cozinha, encheu um copo com água e quando chegou na sala jogou no amigo. Ariel o olhou estupefato e Matt sorriu satisfeito por ter conseguido a atenção do amigo.

— Qual era a necessidade disso, Matt? — Ariel perguntou, enquanto tentava enxugar o rosto e pondo o cabelo molhado para trás.

— Eu tentei chamar sua atenção, porém, você estava concentrado em algo. Nem mesmo me viu entrar, foi por um motivo de força maior. — Matheus se defendeu. — O que houve para te deixar tão inquieto? Você não é assim, confesso que fiquei um pouco assustado.

Ariel, nervoso, abriu e fechou a boca várias vezes, mas não conseguia emitir nenhum som. Então, de repente, com o dedo em riste, saiu da sala por um momento e voltou com o rosto seco. Suspirou e começou a andar de um lado a outro novamente, falando palavras desconexas e deixando o Matt ainda mais confuso.

O ruivo tentou acompanhar o ritmo do amigo e entender todo o teor da confusão de palavras que saíam da boca dele.

— Ariel! — Matheus se fez ouvir. — Você precisa falar devagar, eu ainda não entendi sua inquietação.

— Desculpa! Celeste, me contou uma situação que se acometeu com o chefe dela, isso me deixou indignado. Me senti totalmente impotente. — O loiro suspirou depois do desabafo.

Matheus sorriu como se soubesse de algo e Ariel o olhou sério, fazendo o ruivo mudar sua postura.

— O que exatamente ele fez? — Ariel se remexeu no sofá deixando claro seu desagrado com os relatos da moça.

— Prefiro não repetir o que ouvi. Celeste disse que ia resolver, mas eu quero ajudar. Ou melhor, eu vou ajudar. — Ele levantou do sofá, deu um tapinha no ombro do amigo e seguiu para o quarto, torcendo para que no dia seguinte estivesse calmo.

Matheus o observou e balançou a cabeça negando, ver o amigo tão agitado era algo raro, no entanto, o que ele se perguntava era quando Ariel entenderia seus sentimentos.

Ariel não sabia como havia chegado tão rápido ao escritório do Miguel. Só sabia que estava diante da porta do escritório do Doutor Tiago Guimarães, homem que teve a audácia de assediar a Celeste. Apenas a menção do ato inapropriado do advogado o deixava com o sangue fervendo. Com muito esforço, conseguiu bater à porta e assim que o outro homem abriu, ele não viu mais nada à sua frente, apenas fechou a mão e acertou diretamente no olho do infeliz. Surpreso com o golpe vindo sem esperar, o advogado deu dois passos para trás, mas não deu tempo de se recuperar, pois logo o loiro levantou o punho e acertou o advogado novamente.

Arfante e suado, Ariel percebeu que a mão doía e começou a balançá-la enquanto dizia, apontando o dedo ao Tiago, que nunca mais ele deveria tratar uma mulher como tratou a Celeste, porque poderia ser pior.

Foi neste momento que ele começou a ouvir a voz do Matt chamando-o e ao abrir os olhos, percebe que está em seu quarto, e seu amigo chamando a sua atenção.

— O que houve, Ariel? Você está me preocupando, de verdade! Ouvi um barulho no meu quarto, pensei que não era nada, mas depois ouço novamente um barulho de algo batendo na parede e venho correndo ver se está bem... olha só a sua mão! — o ruivo estava muito preocupado com o amigo.

Sem saber o que responder, Ariel olha para a mão e percebe que a mesma está machucada. Ele havia esmurrado a parede! Envergonhado, resolveu não dizer nada ao amigo no momento.

— Eu... Eu tive um sonho... — o loiro não conseguia prosseguir sem dizer algo, não queria dizer a verdade, mas também não conseguia mentir.

Matheus revirou os olhos e bufou, impaciente.

— Está pensando em bater no cara, o chefe da Celeste, não é? Pelo visto a situação foi grave. — Ao ver o loiro apenas baixar a cabeça, em silêncio, Mateus entendeu e não quis pressionar o amigo. — Ei, não se preocupe! Venha aqui na sala e vamos fazer uma oração para que você mantenha o foco e volte a ser o Ariel calmo e ponderado de sempre.

Ao refletir no que Matt disse, a ficha de Ariel caiu e ele percebeu que cometeu pecado ao pensar em agredir Tiago. Ele tinha certeza que se visse o advogado no estado em que estava, era capaz de desfigura-lo. Em sua mente uma voz sussurrou, o lembrando da passagem de Efésios 4:26 "Irai-vos, e não pequ eis; não se ponha o sol sobre a vossa ira." De repente o loiro lembrou-se de todo o capítulo de Efésios 4. Sentiu uma profunda amargura em seu ser; suas atitudes iam entristecer o Espírito Santo e isso era algo que Ariel queria evitar a qualquer custo.

O arrependimento bateu a porta do coração do loiro que, logo que chegou a sala junto com o Matt, se ajoelhou e chorando pediu perdão a Deus. Ariel abriu o coração ao Pai celestial; confessou seu pecado, seus sentimentos, aquilo que estava o afligindo e pediu Sua Graça para ter as virtudes do Espírito novamente.

Depois de um tempo, Matt o abraçou e orou por seu amigo. Sabia que no interior de Ariel uma guerra entre os sentimentos foi travada, mas o Espírito Santo o tocou, e o ruivo sabia que Ele ia ajudar e guiar seu amigo.

Logo que acordou, Ariel percebeu que sua mão estava muito dolorida. Aquilo foi como um lembrete do que ele era capaz de fazer em completo estado de fúria. O loiro dispersou tais pensamentos. Se levantou e ajoelhou-se para iniciar o diálogo diário com o Pai das luzes. Logo após, pegou uma Bíblia que já estava gasta e foi meditar nas Escrituras Sagradas. Em dado momento, lembrou-se da passagem ao qual se recordou na noite anterior, abriu a Palavra em Efésios 4 e refletiu na passagem por um tempo.

Sentiu-se com o espírito renovado; logo se aprontou para o início daquele dia, ao qual tinha ciência que tinha uma assunto pendente para resolver com certo advogado. Mesmo tendo que estar cedo no trabalho, Ariel, passou primeiro no escritório Bretas & Guimarães. Coincidiu de encontrar-se com o Miguel assim que chegou e o advogado logo percebeu que o rapaz estava um pouco inquieto.

— Aconteceu alguma coisa, Ariel? — quis saber Miguel, solícito.

Após seu encontro com Deus, Miguel iniciou uma amizade com o jovem, onde conversavam muito acerca da salvação. O advogado aprendeu a respeitar e admirar o jovem à sua frente.

Ariel travou uma luta interna, ponderando se seria prudente mencionar o assunto com o Miguel, mesmo sabendo que ele havia oferecido ajuda à Celeste.

— Na verdade, eu precisava falar com o Doutor Tiago. Será que ele já chegou? — perguntou.

Miguel observou o rosto do amigo por um momento e de repente um brilho de entendimento foi percebido em seus olhos e ele sorriu.

— Sim, já chegou, ele sempre chega bem cedo. Venha, vou introduzi-lo à sala dele. — Dito isso, Miguel dirigiu-se à porta do escritório do colega, deu duas batidas e abriu a porta.

— Bom dia, Tiago! Está aqui um jovem querendo falar com você. É Ariel Oliveira, estudante de Direito. Você pode atendê-lo agora? — Ariel não ouviu a resposta do outro, mas percebeu quando Miguel se afastou da porta, olhando em sua direção. — Ele irá atender você, Ariel. Não deixe de passar na minha sala antes de ir embora, sim?

Ariel suspirou e se aproximou do escritório do Tiago, ouvindo um sussurro do Miguel antes de entrar: "Se precisar de mim, minha sala é esta em frente".

Ao entrar na sala do advogado, Ariel observou o homem à sua frente, simpático que se levantou para recebê-lo, com as mãos estendidas para cumprimentá-lo. Ariel apenas olhou as mãos estendidas por um tempo, mas não retribuiu o cumprimento de imediato. Tiago franziu a testa e seu sorriso vacilou por um momento.

— Então, Ariel, né? O que posso fazer por você? — perguntou Tiago indicando-lhe uma cadeira para se sentar e dando a volta à mesa para sua poltrona.

— Doutor Tiago, é sobre um caso de assédio. Uma amiga vem sofrendo importunações de seu chefe, que insiste em manter um relacionamento com ela, mesmo contra a sua vontade. — Disse o loiro olhando intensamente os olhos escuros do advogado.

— Certo. Assédio... Aqui, o Miguel me disse que você é estudante de Direito, correto? — após o rapaz assentir, Tiago continuou. — Então você sabe que o primeiro passo é denunciar o assediador. A moça pode ligar para o 180 que é a Central de Atendimento à Mulher ou fazer a ocorrência numa delegacia local. Se está sendo perseguida pelo assediador, podemos solicitar uma medida protetiva.

Tiago calou-se e esperou uma resposta vinda do Ariel.

— Então, você já conversou acerca disso com ela? — quis saber o advogado.

— Não, mas vou conversar.

— Você conhece o assediador? — perguntou Tiago.

— Sim, na verdade acabei de conhecê-lo e inclusive fiquei reticente quanto a apertar a mão que ele me estendia.

Ao ver as implicações da frase de Ariel, a expressão do advogado fechou-se completamente.

— O que pensa que está insinuando, rapaz? — disse entredentes. — Você sabe com quem está falando?

— Ah, infelizmente eu sei sim! Estou falando com um covarde que não hesita em usar o que ele pensa se tratar de um charme, para enganar moças ingênuas e simples. Ou que usa de sua posição para exigir que uma moça tenha um relacionamento com ele, mesmo contra a sua vontade... Que nome damos a isso, Doutor Tiago?

Neste momento, Tiago levanta-se da sua poltrona e aproxima-se do Ariel, os olhos em chamas, irado!

— Está tentando defender uma namoradinha que me deu atenção, rapaz? Eu não tenho culpa se as mulheres se jogam aos meus pés. — Ariel também havia se levantado e continuou ali, firme, diante do advogado com os olhos semicerrados.

— Não, ela não te deu atenção. Você que não é homem suficiente para admitir quando uma moça não quer nada com você! Está aqui me aconselhando como minha suposta amiga deve agir, mas você não passa de um hipócrita!

— Já entendi tudo, está com raiva porque virou corno! Se a moça está disposta, sinto muito, mas não perco tempo perguntando se ela tem namorado! — disse zombeteiramente o Tiago levantando as mãos como quem se desculpa.

— A Celeste não tem namorado! Ela é uma moça piedosa e gentil, não a compare com as mulheres que está acostumado a sair! Ela é diferente e não, você não é digno sequer de respirar na presença dela, quanto mais de insinuar um relacionamento que não existe! — explodiu o Ariel, mas sem elevar o tom de voz, o que o deixava ainda mais assustador.

Ao ouvir o nome da secretária, Tiago arregalou os olhos em pânico e tentou dizer algumas palavras, mas não conseguia organizar uma frase coerente.

Ariel fechou os olhos por um instante, lembrando-se que não poderia agir como um homem sem fruto do Espírito, como mansidão, domínio próprio... ao abri-los, olhou diretamente, com o dedo em riste como em seu sonho e disse enfaticamente, sem alterar o tom de voz:

— Agradeça por eu ter vindo e não o pai dela com a Betina... aí sim, eu teria certeza que NUNCA mais você assediaria outra moça! Mas para a sua sorte — ou não — eu vim. Entenda, você não vai mais dirigir a palavra à Celeste, inclusive nem olhar na direção dela, estamos entendidos?

Tiago parecia muito assustado e apenas assentiu, sem dizer nenhuma palavra. Ariel virou as costas e se dirigiu para a saída, mas antes de transpor a porta, voltou-se e completou:

— Ah, esqueci de uma coisa: prepare-se! A Celeste vai denunciar você, tenha certeza que vou me certificar pessoalmente disso!

Antes que o advogado respondesse, Ariel saiu da sala, encontrando-se novamente com o Miguel, que parecia que estava ali já há um tempo.

— Está tudo bem, Ariel? — perguntou Miguel observando as emoções no rosto do amigo.

— Inacreditavelmente, está! Apesar de... — neste momento, Ariel se deu conta de que o Miguel sabia exatamente o que ele estava fazendo ali. — Você já sabia! Realmente, lembro da Celeste me dizendo que você ofereceu ajuda... — não completou porque não sabia quantas informações acerca do assunto que ele possuía.

Miguel sorriu e balançou a cabeça.

— Desculpe-me, mas vi o modo como chegou e imaginei. Ele não irá mais importunar a Celeste, pois está indo para São Paulo, vai abrir um escritório lá. Fiz de tudo para a Celeste denunciá-lo, inclusive me dispus a testemunhar a favor dela.

— Ela é tão teimosa quando quer! Mas também na maioria das vezes é doce, tão compreensiva, nunca conheci uma jovem como ela... Quando ela me contou ontem a noite sobre o ocorrido com o Doutor Tiago, nossa, nem sei explicar como me senti... — falou Ariel rapidamente e parando assim que viu o olhar no rosto do Miguel. — O que foi?

Miguel aumentou o sorriso e balançou a cabeça.

— Nada! Melhor deixar você descobrir sozinho, já que está me fazendo essa pergunta... mas aqui, ótima escolha, viu? — vendo a expressão confusa do rapaz, deu-lhe alguns tapinhas em suas costas e perguntou à queima-roupa — O que acha de trabalhar aqui comigo, quando fizer o exame da Ordem?

Ei, pessoal! Hoje é terça e cá estamos nós novamente!

E que capítulo foi esse? Comentem o que acharam por favor..

O próximo será bem revelador! 

Ansiosas para sexta e o capítulo 27.

Bjs,

Produção PDC


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