Capítulo 13 - Surpresas
Celeste ainda estava preocupada com a Raquel. Já haviam se passado alguns dias de sua conversa com o Miguel e a amiga estava cada vez mais arredia, o que a deixara em alerta.
No dia em que Miguel a procurou no shopping, a amiga não voltou cedo para casa e quando chegou parecia transtornada. Celeste queria perguntar diretamente sobre o ocorrido, mas a sua prima Jane estava em casa e como Raquel escondeu o que a estava deixando mal, achou melhor esperar a prima ir embora. Desde então, a amiga tem feito de tudo para se esquivar dela.
Ficou relembrando a conversa que tiveram pela manhã — quando finalmente conseguiu confrontá-la — e a morena com muito custo conseguiu que marcassem de almoçar juntas naquele dia para que pudessem conversar.
Celeste ficou pensando em várias coisas que poderiam estar acontecendo com a amiga e nenhuma delas era algo bom. Ela já estava orando pela amiga há algum tempo pedindo ao Senhor, fazia semanas que não tinha notícias do Jonas e estava descansada quanto a isso. A menos que... ela balançou a cabeça em negação, não queria nem pensar na hipótese do calhorda estar novamente atrás da Raquel.
A morena queria resolver logo aquela situação com a amiga e garantir a presença dela no apartamento aquela noite, pois receberiam a visita do Ariel para estudarem acerca do trabalho que estavam fazendo juntos. Não pôde evitar o sorriso espontâneo que surgiu em seu rosto e que já estava se tornando um costume ao pensar no loiro. Balançou a cabeça: era apenas amigos e isso já era algo valioso.
Celeste ficou pensando no dia em que mandou mensagem para Ariel informando seu endereço e a mensagem dele no outro dia adiando a sua ida. Deu-lhe a notícia maravilhosa que havia conseguido estágio na empresa do Dr. João Lucas e ela não pode evitar ficar feliz por ele.
Quase no horário de sair, o Dr. Tiago a chamou em sua sala e sentindo um calafrio, Celeste foi até lá. O advogado repassou-lhe algumas orientações acerca de um cliente e ela nem percebeu que seus ombros relaxaram quando se virou para sair. Antes porém, que alcançasse a porta, ela ouviu-o chamar seu nome. Alerta, Celeste virou-se, mas não se aproximou, vendo-o levantar e cruzar os braços encostando-se na grande mesa de madeira.
— Então, você pensou sobre a minha proposta? — Tiago perguntou e ela revirou os olhos mentalmente.
— Não havia o que pensar. Eu já te dei a minha resposta. Por que insiste nessa loucura? — reunindo toda a coragem que possuía, a morena respondeu, ainda próxima da porta, pronta para sair a qualquer momento caso precisasse.
O advogado sorriu e fez menção de se aproximar dela, mas ao vê-la arregalar os olhos, mudou de ideia.
— Acho que usei a abordagem incorreta com você — enquanto Celeste pensava que já estava quase na hora da sua amiga chegar para irem almoçar, Tiago parecia pensativo enquanto mantinha as mãos no queixo — Vou ser claro: eu preciso de uma namorada, mas não quero uma.
Celeste tentou entender o que seu chefe havia lhe dito, mas apenas aguardou o que ele poderia querer dizer com sua frase.
— Eu gosto de mulheres. Não de uma específica, mas de todas. Infelizmente, minha mãe não entende isso e me pressiona para apresentar-lhe uma moça para que possa chamá-la de nora.
— Não entendo o que isso possa ter a ver comigo, se a minha resposta permanece a mesma. — quis saber a morena na defensiva, deixando clara a sua posição.
— Então, eu meio que já falei com ela que estamos juntos... — falou Tiago deixando a frase incompleta e observando a reação da secretária.
Inicialmente, ela não esboçou nenhuma reação. Após um instante de hesitação, ela semicerrou os olhos e o fuzilou com o olhar.
— O senhor o que? — perguntou ela aborrecida.
— Não me chame de senhor, eu sou...— ela não o deixou completar a frase.
— Não! Não, por favor. Eu sinto informar, mas não serei conivente com uma mentira, principalmente em algo que não existe.
— Por favor, pense nisso, Celeste! Você é uma moça muito bondosa e leal, por favor, me ajude.
Celeste balançou a cabeça em negação e sem responder saiu da sala do chefe. Ainda nervosa, pegou a sua bolsa para pegar o celular e mandar mensagem para a Raquel, quando a viu sair da sala do Dr. Miguel. A morena ainda um tanto nervosa com o ocorrido nos minutos anteriores apenas levantou a sobrancelha em direção à amiga que apenas fez um gesto com as mãos indicando que contaria tudo posteriormente e saíram para o almoço.
Após o almoço com a amiga, Celeste mal conseguiu se concentrar no que precisava fazer no escritório. A sua sorte era que aquele dia estava tranquilo e os advogados não estavam presentes, pois ainda estava estarrecida com o relato da Raquel. O Jonas ainda era uma preocupação.
Celeste desejava ajudar a amiga, mas Raquel estava cega. Nada do que dissesse seria absorvido pela ruiva, iria continuar orando, certamente Deus estava no controle de tudo. Respirou fundo e desviou a atenção daquele assunto por um tempo para prosseguir o trabalho.
A tarde findava e Celeste organizava suas coisas para ir embora. Estava feliz por ter concluído tudo, mesmo com todas as preocupações permeando sua mente. Colocou a bolsa sobre o ombro e fechou a porta da sala ao sair.
Dirigiu tranquila enquanto cantarolava a música que tocava no carro. Estacionou, e recolheu sua bolsa que estava no banco do passageiro. Desceu do mesmo e ligou o alarme. Correu um pouco e conseguiu adentrar o elevador antes que o mesmo fechasse.
Após entrar no apartamento jogou-se no sofá, esquecendo-se momentaneamente da visita de Ariel. Seu corpo pedia descanso, porém, sua mente a alertou do trabalho que faria. Juntou o último resquício de coragem que tinha e seguiu para o quarto, arrumou o material que iria usar e tomou um banho.
Deu uma leve arrumada no apartamento e se sentou para apreciar o café que acabara de passar. Olhou a hora e suspirou, Raquel não havia chegado e estava quase no horário de Ariel chegar, sabia da pontualidade britânica do amigo, ele nunca se atrasava para a aula, certamente não se atrasaria para fazer o trabalho.
Tudo aconteceu exatamente como Celeste previa, a campainha tocou no horário marcado e ela foi abrir. Deu de cara com um sorridente Ariel, mas também encabulado.
— Oi, pode entrar. — Ela afastou um pouco mais e deu espaço para o loiro entrar.
Ariel parecia um pouco deslocado, contudo a hospitalidade de Celeste fez com que o rapaz relaxasse.
— Preparada? — disse o loiro entrando devagar no apartamento. Não queria ser invasivo e reparar, mas notou que parecia um lar aconchegante.
Assim que Celeste fechou a porta, percebeu que ele se mantinha ao seu lado, aguardando instruções. Ela esfregou as mãos sobre a calça num gesto nervoso, inibida pela presença dele em sua casa.
— Bem, vamos descobrir assim que analisarmos nosso caso. — riu e Ariel correspondeu.
Um pouco mais à vontade, Celeste indicou-lhe o sofá, no qual o jovem sentou-se olhando para os lados e deixando sua pasta ao seu lado.
— Está tudo bem? — quis saber ele, pensando na ausência da amiga dela.
— Sim. A minha amiga se atrasou um pouco, mas logo chega. Enquanto isso, prefere tomar algo ou vamos direto para o caso de nosso cliente?
Ariel ficou um pouco preocupado com a ausência da amiga, mas como Celeste garantiu que a moça já estava chegando, relaxou um pouco.
— Quero um copo d'água, se não for incomodar, e acho que podemos ir direto ao trabalho. — disse o loiro.
Celeste apenas assentiu e rapidamente pegou a água e o serviu. Como a sala era anexa com a cozinha, não demorou nada e ela o estava indicando a pequena mesa no canto da sala onde costumava estudar para que iniciassem o trabalho.
Quando Ariel retirou o trabalho da pasta, trouxe junto uma Bíblia de Estudo muito bonita e isso chamou a atenção da Celeste, que não conseguiu desviar o olhar. Ariel percebeu o interesse dela e antes de guardar, pegou-a e mostrou à amiga.
— Bonita, né? — enquanto falava, girava a Bíblia mostrando todos os seus ângulos.
Celeste não resistiu e a tomou nas mãos. As laterais douradas, a capa preta com as letras trabalhadas, ela estava encantada!
— Bonita? Ela é perfeita! — seu entusiasmo e o brilho de seus olhos trouxeram um grande sorriso ao Ariel.
— É a minha companheira! Tenho outras, mas esta é meu xodó. — disse orgulhoso.
— A minha é linda também, mas nem se compara... — disse naturalmente a Celeste.
Ariel achou muito interessante que ela possuísse uma Bíblia e de repente passou pela sua cabeça que eles poderiam ter a mesma fé em comum. Preferiu não ir direto ao assunto e sondar um pouco.
— E você a lê com que frequência? — perguntou como quem não quer nada.
— Todos os dias. É um hábito que adquiri e não consigo mais largar. Cada vez que a leio me sinto alimentada da palavra. — enquanto falava ela não tirava os olhos da Bíblia do Ariel e não percebeu o brilho intenso no olhar dele.
— É um ótimo hábito por sinal! Eu também a leio todos os dias. — disse ele e aguardou, mas como ela não disse nada, resolveu perguntar. — Você é cristã? — Celeste pôs uma mecha do cabelo atrás da orelha e sorriu.
— Sim, faz poucos meses. Foi a melhor coisa que me aconteceu. — Celeste suspirou, sua vida sofreu muitas mudanças depois de conhecer Jesus. Sua mente se transformava dia após dia.
— Sei exatamente do que fala! — ele falou empolgado. — Quanto mais aprendo de Cristo, mais quero aprender.
— Eu sou bem curiosa, apesar de não entender muita coisa no início, procurei ler a Bíblia todos os dias, desde então não parei, procuro ir aos cultos de ensinamentos sempre que possível. — Celeste declarou tão empolgada quanto o rapaz.
— Isso é bom, o importante é não abandonar o hábito da leitura. O Espírito Santo nos dar o entendimento da Palavra. — Celeste balançou a cabeça concordando, porém, manteve-se um tanto pensativa.
— Nossa! Fico cada dia mais encantada com o cuidado de Deus. — Ela coçou levemente a cabeça e o olhou. — Como percebemos a presença do Espírito Santo? — a moça expôs seu pensamento e corou envergonhada.
Ariel tentou conter o entusiasmo diante da pergunta da Celeste. Se tinha algo que fazia o loiro falar, falar e perder a noção do tempo era sobre Cristo, salvação, Deus, Espírito Santo!
— Celeste, lembra do que sentiu quando foi impelida a entregar a sua vida a Cristo? — ao ver a afirmação da moça, continuou. — Esse sentimento nada mais foi que a presença do Espírito Santo convencendo-a de sua necessidade preemente de estar em Cristo, de ser dependente Dele. A partir daí, o Espírito Santo faz morada em você, como está aqui, olha só, em I Co. 6.18 — apontou-lhe a citação em sua Bíblia e leram juntos. — "Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?
Celeste lia embevecida com a sabedoria do Ariel acerca dos assuntos espirituais. Ele não percebeu o olhar de admiração dela e prosseguiu.
— Sendo assim, senhorita, o Espírito Santo, que é uma pessoa, está sempre com você, instruindo-a como deve proceder, falar e até pensar. Vede aqui o que nos diz o apóstolo Paulo aos Romanos. "Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito." Andar segundo o Espírito, guiados por Ele. Seguindo, temos aqui "Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito." Somos direcionados por Ele para o que lhe apraz, rejeitando as obras da carne, até porque a continuação é: "Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz... vós porém não estais na carne, mas no Espírito."*
— Deixa ver se eu entendi — disse a moça pensativa. — Quando eu me regozijo por estar na presença de Cristo e repudio as obras do mundo que antes me satisfaziam e agora me causam repulsa...
— Sim, é o Espírito Santo agindo em você. — Completou sorridente o Ariel.
— Nossa, que interessante!
— Sim! Eu bem que gostaria de continuar falando e falando sobre o Espírito Santo, de como Ele é uma pessoa, que fala conosco — viu a morena abrir os olhos surpresa. — Sim, é um vasto assunto e eu já estou me empolgando. — Ariel suspirou e em tom desanimado completou. — Vamos voltar ao assuntos jurídicos. Uau, tão interessantes quando comparados com os assuntos espirituais.
Celeste riu do modo como ele falou e guardou em seu coração todas as palavras que havia aprendido naqueles em poucos minutos. Ariel pegou a Bíblia com cuidado e a guardou na pasta. Suspirou e se direcionaram às anotações.
— Então, somos representantes da empresa Belix, nosso cliente está sendo processado por direito de propriedade intelectual. A outra empresa, Vertox, criada por um ex funcionário, está alegando que nosso cliente se apropriou de sua invenção. — Ariel concluiu seu raciocínio e levantou a cabeça.
Celeste ouviu um ruído e olhou na direção do barulho, Ariel imitou seu gesto e surpreendeu-se ao ver Raquel. A ruiva deixou claro sua felicidade em reencontrá-lo quando deu um grito empolgado e jogou-se nos braços do rapaz. Celeste, observava a cena tentando entender o que estava acontecendo, os dois pareciam se gostar demais.
Era uma interessante coincidência: Raquel, sua colega de apartamento era amiga de infância do Ariel!
*ROMANOS 8.1-9
Oi, gente!
Hoje viemos um pouco mais tarde, mas cá estamos com um capítulo novinho em folha!
Nos digam o que acharam, gostamos de saber a opinião de vocês.
Beijos,
Produção PDC
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