Capítulo trinta e quatro
Os olhos castanhos prestavam atenção em como Mina a olhava ansiando uma resposta e a daria, sem dúvidas. Confiaria aquilo à sua namorada, mesmo sabendo que se descobrissem a verdade ela apanharia muito.
— Como assim? — Mina indagou. — Vai me dizer que é uma infiltrada do governo para acabar com a corrupção daqui? — Perguntou rindo baixinho e Chaeyoung suspirou.
— Não, Mina. — Ela disse rindo nervosamente. — Antes fosse, assim eu desistiria dessa merda de missão e iria ter uma vida com você lá fora. — Falou.
— E então?
— Confio em você, mas precisa me jurar não contar nada a ninguém, por favor. — Ela pediu e Mina assentiu freneticamente, sentindo a curiosidade aflorar em sua pele através dos poros de seu corpo.
— Prometo. — Mina falou e Chaeyoung assentiu.
— Bem, quando eu entrei aqui eu estava arrasada pelo medo de meu avô me odiar. — Ela começou. — Passei dias e mais dias de pânico com cantadas inapropriadas de detentas veteranas e, quando eu achava que não podia piorar, me avisaram que meu avô havia falecido. — Os olhos castanhos se arregalaram ligeiramente antes da maior fazer uma pequena careta.
— Céus, deve ter sido um inferno. — Mina disse e Chaeyoung assentiu.
— Mas tenho muita sorte de sempre aparecer anjos na minha vida. — Ela disse com um sorriso triste em seus lábios.
— O que quer dizer? — Mina questionou confusa.
— Que a detenta que estava na minha cela se tornou minha amiga. — Mina paralisou seu olhar no de Chaeyoung. Nay havia comentado sobre essa mulher com ela, se bem se lembrava.
— O que, uh, houve com ela? — Chaeyoung riu e a fitou.
— Te contaram, não é? — Mina corou levemente e assentiu.
— Mais ou menos. — Confessou com uma careta e Chaeyoung assentiu.
— Bem, seu nome era Donna e ela era a antiga líder. — Explicou. — Ela notava a constante luta que eu vivia com o assédio neste lugar e no dia que apareci com o olho roxo após três dias na detenção, ela ficou irritada, afinal havíamos nos tornado amigas.
— Por que foi para a detenção? — Mina perguntou curiosamente.
— Não deixaria que me tocassem facilmente e acabei brigando feio com uma delas. Ambas fomos para a detenção.
— Eu posso entender esse sentimento. — Ela disse e Chaeyoung sorriu, umedecendo os lábios.
— Sim, ainda lembro de você dizendo que eu poderia mandar minha "capacho" te arrebentar que mesmo assim eu não tocaria em você. — Chaeyoung falou rindo.
— O engraçado é que hoje eu faço questão de que toque. — Mina disse mordendo o lábio inferior e a menor suspirou.
— Não sei o que eu fiz para te merecer, mas não estou reclamando em absoluto. — Chaeyoung disse e Mina a puxou para um beijo rápido antes de a fitar com ansiedade.
— Mas e então? — Perguntou curiosamente.
— Bem, fomos nos tornando cada vez mais íntimas e resolvi lhe contar o porquê de ter vindo presa. Nessa época Donna começou a vomitar com frequência e a cuspir sangue constantemente e eu sempre a ajudava lavando seu rosto, a levando comida, sabe? — Perguntou retoricamente. — Depois de levar mais uma surra aleatória ela me contou que tinha pouco tempo de vida. Tinha um câncer em um estágio avançado e me confessou que fui a única que se importou com ela em todo seu tempo de cadeia. — Chaeyoung disse, limpando a garganta. — Um dia estávamos no pátio tomando sol e ela cuspiu sangue em uma de suas tosses. Foi tudo muito rápido, no momento seguinte ela mandou eu bater nela.
Chaeyoung fitava a parede com um olhar nostálgico, perdida nas lembranças de infelicidade daquela trágica semana.
— Não aceitei, mas ela me implorou e disse que era para meu bem. Decidi a empurrar de leve, mas ela mesma se jogou com força contra a parede e me puxou, falando para eu fingir que a batia. Foi tudo confuso e me lembro de tê-la obedecido.
— Assim virou líder? — Mina indagou.
— Ainda não. Ela pediu para que eu a desafiasse no dia seguinte, mas eu não queria. Ela estava fraca e pálida, porém ela era teimosa. — Disse e fitou sua namorada. — Assim conheci Tzuyu, porque naquele dia Donna mandou Tzuyu ir buscar alguns remédios para ela, porém quando voltava ouviu a conversa e Donna a fez jurar jamais contar nada a ninguém.
— E houve a falsa briga nesse dia?
— Sim, o sangue que ela cuspia fez tudo parecer mais real e ela gritou ter perdido o posto para mim diante de quase todas. —Chaeyoung falou antes de suspirar. — Ela fez todas me temerem e pediu para uma de suas garotas me ensinar a lutar de verdade, porque apesar de ser a nova líder, e ter várias que estariam lá para mim na hora da pancadaria, ainda assim talvez eu precisaria lutar.
— Não sei o que dizer. — Mina disse abismada e Chaeyoung lhe deu um beijo casto.
— Ela me pediu para jamais conversar com ninguém, não mostrar vulnerabilidade, falar como se eu não tivesse medo de ninguém e jamais desmentir um boato sobre algo ruim que fiz. — Chaeyoung disse rindo com escárnio. — Naquela semana ela faleceu e todo o presídio achou que eu a matei na cela enquanto dormia. Tenho certeza de que isso foi ideia dela. — Falou rindo tristemente. — As únicas que sabem disso aqui dentro são três pessoas, além de você. — Mina a fitou com anseio.
— Younggi e Tzuyu eu já sei, mas quem seria a outra? — Mina questionou e Chaeyoung riu.
— Você não vai acreditar.
— Odeio essa merda de suspense. Você o faz desde que cheguei. — Mina reclamou e cruzou os braços, fingindo chateação. Chaeyoung a puxou mais para seus braços e riu com vontade.
— Quanto dengo, coisa linda. — Ela murmurou e Mina suspirou ao sentir um beijo de Chaeyoung contra a pele de seu pescoço.
— Diz, para mim, amor... — Mina pediu e Chaeyoung assentiu.
— Digo tudo o que quiser. — Ela disse sorrindo. E lá ia ela novamente, abrir seu coração e sua história completamente para Mina. Bem, completamente não, ela jamais contaria sobre o pequeno segredo que guardava com Younggi.
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