Capítulo quarenta e seis
Os olhos da mulher mais velha e rechonchuda reluziam satisfação ao verem Mina tão entretida e aparentemente tão apaixonada como estava por Chaeyoung. Ela riu baixinho e se serviu do café fresco, afinal tomava seu café da manhã ali todos os dias.
— Querem mais, senhoritas? — Gamri perguntou, vendo as orbes castanhas se voltarem em sua direção.
— Eu não, mas obrigada, Gamri. — Mina respondeu sorrindo gentilmente. — E você, quer mais? — Indagou, se inclinando em sua cadeira para deixar um estalado beijo na bochecha de Chaeyoung.
— Não, obrigada. — Chaeyoung replicou, vendo Mina se levantar.
— Vou me pentear e escovar os dentes, tudo bem? Já volto, com licença. — Ela disse, dando um selinho em Chaeyoung antes de se retirar dali. Chaeyoung então sentiu o clima pesar em sua mente, afinal estava envergonhada pelo episódio de mais cedo, por tal razão fitou a mesa até Mina voltar para o ambiente e apenas se deu conta de sua presença por sentir os braços lhe rodearem por trás, os enlaçando em seu pescoço.
— Hmm... Cheirosa. — Chaeyoung disse, sentindo os lábios de Mina se pressionarem contra a pele de seu pescoço sem malícia.
— Usei esse perfume só porque você ama. — Mina confessou rindo. — Preciso ir, está bem? — Chaeyoung apenas assentiu. — Gamri, cuide dessa mulher aqui, hm? Porque ela é o amor da minha vida.
— Pode ficar tranquila, senhorita. — A mulher respondeu sorrindo.
— Ela está ficando aqui em casa comigo, então pode dar a chave reserva para ela. Nos vemos amanhã. — Mina disse, mandando um beijo no ar para Gamri e puxando Chaeyoung pela mão até a porta. — Amor, sei que você não gosta... — Ela disse ao parar e se virar para Chaeyoung, abaixando o tom de voz apenas para a garota escutar, afinal não queria deixá-la desconfortável. — Mas se precisar de dinheiro para algo... Currículo, comida, roupa, táxi... Qualquer coisa, viu? Deixei na primeira gaveta de sua cômoda, acho que aquilo deve dar, eu não ando com dinheiro, mas saquei ontem pensando exatamente nisso.
— Minari... — Chaeyoung começou, fazendo uma careta.
— É só por agora, juro. — Ela esclareceu e Chaeyoung coçou a nuca. — Olha só, sei que deve ser chato isso para você, mas você precisa refazer sua vida e, bem, para isso precisa de algum dinheiro.
— Bem, para os currículos eu aceito por agora. — Ela respondeu sem graça.
— Não precisa me dizer para o que é. — Mina disse docemente, mudando, de repente, sua expressão para algo sapeca. — Nos vemos a noite e se prepara... — Sussurrou sorrindo maliciosamente. — Porque temos algo pendente. — Disse, mordendo ligeiramente o lábio inferior antes de se inclinar e esbarrar seus lábios nos de Chaeyoung.
— Já estou ansiosa. — Chaeyoung disse, liberando um sorriso que até então estava ausente de sua face.
— Eu também. — Mina disse rindo. — Te amo! — falou, ouvindo um "Eu te amo" de volta antes de desaparecer de vista.
— A menina Myoui está bem feliz. — Gamri comentou assim que Chaeyoung fechou a porta, fazendo-a se assustar e se virar a tempo de ver a mulher jogando o pano de prato em seu ombro antes de sorrir e levar sua xícara até a altura da boca. — Isso me alegra. — Falou antes de bebericar um pouco do líquido.
— É. Parece que ela acordou de bom humor. — Chaeyoung disse levemente enrubescida, o que causou graça em Gamri.
— Mina é minha princesinha diferente. Fico profundamente satisfeita de ver que ela finalmente achou o seu final feliz na história.
— Só não soa muito como um conto de fadas devido à como se iniciou. — Chaeyoung disse levemente cabisbaixa.
— Não é porque não está escrito em algum livro que deixe de ser considerado algo mágico. — Gamri respondeu, vendo Chaeyoung lhe olhar com tristeza.
— É incômodo, sabe? — Chaeyoung começou. — Não ter nada e depender dela quando eu deveria impressioná-la. — Confessou. — Ela começou como a mocinha em apuros, mas parece que o jogo virou. — Falou rindo decepcionada pelas condições de sua vida.
— Quando ela era criança ela costumava me dizer que uma linda princesa apareceria em sua vida. — Gamri disse rindo nostálgica. — "Vovó... Vουό... Εu não quero um príncipe." Ela dizia. — Um suspiro se esvaiu de seus pulmões. — Não sou a avó dela, mas ela me chamava assim quando criança. — Explicou sorrindo ao ver a expressão confusa no rosto de Chaeyoung.
— Estou mais para sapo. — Chaeyoung brincou, vendo Gamri bebericar algo em sua xícara.
— Ela dizia que queria ser aquela que subia no cavalo e iria resgatar a princesa. — Gamri disse sorrindo docemente. — Parece que ela manteve a essência da ideia.
— Ela vem me salvando há tantos anos que eu realmente acredito que ela manteve a essência. — Chaeyoung disse sorrindo de canto e Gamri assentiu.
— A alma dessa criança é incrível. Você tirou a sorte grande. Aproveite. — Gamri disse. — Agora vou começar com a limpeza, com licença.
— E eu vou me arrumar para entregar alguns currículos. — Chaeyoung replicou animada. — Sinto que hoje será meu dia de sorte.
— Boa sorte com isso, senhorita.
— Eu precisarei. — Chaeyoung disse, vendo Gamri assentir antes de migrar para a cozinha.
[...]
Mina iria para seu trabalho, porém em um lapso de coragem decidiu adiantar o que precisava fazer naquele mesmo dia, por esse motivo ela mudou a rota de seu caminho, indo em direção à casa de sua mãe. Assim que ela estacionou, um longo suspiro se esvaiu de seus pulmões antes de descer do carro e caminhar até o local, entrando na casa sem mesmo bater.
Seu coração estava acelerado, afinal ela não costumava ter voz ativa em sua casa, porém dessa vez as coisas seriam diferentes. Seus olhos automaticamente foram para a cozinha, fazendo seu coração se comprimir ao lembrar de seu irmão caçula estirado no chão apenas alguns meses atrás.
— Filha? — A voz de Sachiko a tirou de seu momento de dor, fazendo a garota fitar sua mãe pela primeira vez após aquele trágico dia. A mulher abriu um enorme sorriso e se aproximou de Mina, abraçando-a. — Por onde esteve? Sana disse que você está namorando. Por que não veio nos visitar mais?
— Eu... andei ocupada. — Mina disse com profundo pesar, abraçando fortemente sua mãe.
— Você e o Niki andam sumidos. Precisamos marcar um dia para nos reunirmos todos. — A mulher disse animada, se separando de sua filha para fitá-la ternamente. — Por que sairam de casa para morar juntos, querida? — Sachiko indagou confusa. — Você e seu irmão são teimosos demais.
— Foi isso que a Sana te disse?— Ela indagou, olhando em volta. — Onde está Sana ou Mia?
— Estão lá em cima. Sana não aguenta a Mia, diz que não tem disposição para brincar com ela. — Sachiko disse rindo. — Querida, você vai trazer sua namorada para eu conhecer?
— Mãe, precisamos conversar. — Mina disse seriamente.
— O que houve? — A mulher perguntou preocupada.
— Você vai ter que entrar no meu carro comigo e irmos em um lugar, está bem? Aqui não é seguro eu te contar algumas coisas.
— Por que não? — Sachiko perguntou franzindo o cenho.
— Por causa de sua reação. — Ela foi sincera. — Eu não sei que droga a Sana andou te falando, mas preciso que saiba o que você fez alguns meses atrás.
— Foi outro lapso? — Sachiko perguntou levando uma mão ao seu peito e Mina comprimiu os lábios assentindo.
— Você precisa de ajuda, mãe. — Ela disse, sentindo seus olhos marejarem conforme proferia as palavras.
— Mas os remédios surtem efeito. — Sachiko disse confusa e Mina negou.
— Não. — Ela respondeu baixinho. — Não como deveriam. Precisamos de um especialista nisso para evitar que... — Ela paralisou e encontrou o olhar perdido de sua mãe. — Que coisas ruins aconteçam.
— Está dizendo que eu vou ao médico agora? — Sachiko perguntou e Mina assentiu quase chorando.
— Sim. — Sussurrou engolindo em seco. Não queria enganar sua mãe enquanto ela estava na fase boa, porém ela não sabia como ela reagiria se contasse que seria internada, então preferiu para deixar para contar quando chegasse na clínica. Mina não arriscaria contar algo a ela enquanto Mia estava no mesmo local.
— Então vou me arrumar e vamos. — Sachiko disse e Mina assentiu.
— Você não vai levá-la a lugar algum! — A voz imponente de Sana vinda das escadas fez Mina lhe fitar. Seus olhos castanhos encontraram os de sua irmã e descobriram que neles havia a promessa de que ela realmente não levaria a sua mãe.
No entanto, os olhos de Mina também diziam algo: Ela levaria sua mãe custe o que custar.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top